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domingo, 30 de dezembro de 2007

Entre 2007 e 2008: escolhas de ideias...

A Quadra de Natal é um excelente momento para fazermos “greve” às rotinas que nos consomem dia após dia, que nos obrigam a fazer repetidamente as mesmas coisas e da mesma forma, que nos deixam muito pouco tempo para uma pausa para com tranquilidade fazermos as nossas escolhas.
A Quadra de Natal deve ser um momento de recolhimento junto das nossas famílias e dos nossos amigos, em que a generosidade e a solidariedade nos tocam mais de perto e nos despertam para pensarmos mais nos outros, como que corrigindo um pouco do individualismo e do egoísmo com que comandamos e executamos as tais rotinas. É também um tempo que favorece uma certa vontade de reconciliação connosco próprios, com os outros e com o mundo.
A Quadra de Natal pode, pois, constituir uma pausa importante para reflectirmos sobre as nossas escolhas. Não sobre o que vamos vestir hoje ou amanhã, sobre se vamos ao cinema à sessão da tarde ou à sessão da noite, sobre se vamos almoçar ou jantar ao restaurante A ou B, sobre se vamos ver o DVD que descobrimos no interior da revista que comprámos há uns tempos atrás ou se vamos à procura de um qualquer canal televisivo com uma proposta mais tentadora. Refiro-me a outro género de escolhas, a escolhas de ideias sobre como por exemplo contribuir ou participar em iniciativas cívicas que impliquem darmos um pouco de nós, e porventura dispensando algumas das nossas "coisas", de uma forma voluntária e responsável com a motivação de ajudarmos a sociedade em que nos inserimos a melhor cumprir os seus objectivos, a melhor viver os seus anseios ou a melhor satisfazer as suas necessidades. É também uma forma de sermos mais exigentes, de estarmos mais vigilantes, de sermos mais críticos, de conhecermos melhor os problemas, de nos valorizarmos, de testarmos as nossas capacidades e os nossos sentimentos, de descobrirmos alguns dos nossos talentos por aí escondidos, enfim, de sermos úteis a muitas causas que precisam de nós.
Em Portugal o fenómeno da pobreza é uma realidade cuja fotografia, pese embora a brutalidade dos indicadores económicos, parece tirada de uma qualquer máquina fotográfica com a lente fragmentada. Os números são bastante claros e evidentes. Como não quero debitar mais números, aliás sobejamente conhecidos, embora pareçam às vezes esquecidos, lembro que Portugal é o país da União Europeia com maior desigualdade na distribuição do rendimento, com maior fosso entre ricos e pobres. Preocupante, mas mais ainda quando sabemos que esta situação se tem vindo a agravar.
Aproveitemos, pois, para reflectirmos sobre como podemos ser actores mais solidários da sociedade civil e sobre como podemos contribuir para o desenvolvimento de uma cultura social independente do Estado, organizada e eficiente, que seja a expressão de uma consciência social permanentemente viva e vigilante.
Claro que existem outros domínios muito importantes que requerem também uma maior intervenção cívica. Mas fica aqui esta via possível e desejável!
As dificuldades também podem constituir oportunidades. Por isso, temos um desafio pela frente em 2008 que poderá, muito bem, fazer parte das escolhas das ideias da pausa desta Quadra Natalícia.
Votos de Bom Ano Novo e desejos de que todas as nossas esperanças sejam realizadas em 2008…

4 comentários:

Massano Cardoso disse...

Cara Margarida

Ao ler a sua nota, com a qual me identifico, não queria deixar de frisar que estamos a viver uma grave epidemia depressiva, medica e socialmente falando. Com este estado de espírito será muito difícil resolver os inúmeros problemas que nos afligem. De qualquer modo, desejo ardentemente que todos os nossos compatriotas tenham um 2008 mais alegre e mais composto, e com mais saúde...

Bartolomeu disse...

Olá cara Margarida, começo por concordar com o seu desafio, não cedo à tentação de desejar para todos um novo ano próspero, mas sim por dar força ao seu apêlo de congregação e de acção. Construamos um ano, construamos o futuro que desejamos. Afinal está tudo ao alcance da nossa capacidade de juntar energias.
Neste sentido, não pretendendo contrariar o pragmatismo, entendo que a acção humana caminha num sentido errado e é esse sentido que cria as diferenças sociais e a pobreza. Pobreza, é o contrário de riqueza, este paradígma que todos preseguem, só é alcançado por alguns, aumentando desse modo o número daqueles que não o conseguem alcançar.
A ação humana, movida pela inteligência e pela energia, pode alterar os limites da condição humana, dando ênfase à verdade e ao sentido prático.
Refiro-me queridos amigos, àquilo que de mais simples e natural existe no ser humano, igualdade e fraternidade. São estas a meu ver as armas mais valiosas que possuímos para combater a pobreza e aumentar a prosperidade e, nunca o aumento da riqueza.
Muitas felicidades para todos e... o mais tardar, até para o ano!!
;))

Suzana Toscano disse...

Concordo com o Massano cardoso, há um sentimento de ameaça latente que não deixa as pessoas sentirem-se felizes, mesmo quando não lhes falta nada de importante. Dizia-me alguém há pouco tempo que as pessoas têm vergonha de pensar que são felizes, falta sempre qualquer coisa que impede esse sentimento, como se o inconformismo fosse uma obrigação permanente e cada um carregasse o mundo às costas. O problema é que quando as pessoas são infelizes têm muito pouco interesse pelos outros, sobra pouco ânimo para si próprio quanto mais para dedicar a quem tem falta dele, por isso, Margarida,há tanto quem queira e tão poucos para dar!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Foi rápido, cá estamos no dia 1 de Janeiro de 2008. Muitas felicidades!
Compreendo bem as suas palavras. Não tem que haver confronto entre a riqueza e a pobreza, mas antes uma melhor distribuição da riqueza. É uma grande responsabilidade que temos. Podemos e devemos fazer melhor. Aqui neste jardim plantado à beira mar precisamos, para utilizar as suas palavras, de mais "igualdade" e "fraternidade".

Caro Professor Massano Cardoso,
Estamos a viver uma "epidemia depressiva". Os portugueses vivem amargurados e muitos deles estão a passar muitas privações. Todos podemos dar uma mão e ajudar, sobretudo aqueles que não conseguem sair do ciclo de desgraça em que se encontram.

Suzana
O pouco interesse que as pessoas despertam pelas outras tem que ver, a meu ver, com a dose de egoísmo e de individualismo que marca a nossa sociedade. Em cada um de nós pode haver sempre bocadinho de generosidade que pode ser muito para alguém que precisa.
Justamente porque estamos a atravessar uma situação de grandes dificuldades económicas, as pessoas estão mais sensíveis e estão agora mais disponíveis para ajudar. Ajudar tem que ver com solidariedade e fraternidade, que não têm que ver com felicidade ou infelicidade.