Medina Carreira voltou à carga numa entrevista ao Diário Económico colocando o dedo em várias feridas. O seu realismo e frontalidade na análise dos problemas do País acabam por se sobrepor a uma certa dose de dramatismo e pessimismo a que nos vem habituando e que, particularmente, não aprecio.
A entrevista, mais do que debitar números e indicadores económicos e financeiros, incontornavelmente preocupantes, foca-se numa análise de natureza mais qualitativa sobre as nossas realidades política e sociológica, enfim sobre os alicerces culturais que explicam muitas das nossas inércias e “fugas para a frente”.
Do que foi dito, retive uma passagem interessante que mereceu uma paragem. Segundo Medina Carreira “ O problema não está em ser ou não ser reformista. Há um equívoco neste Governo, nos anteriores e provavelmente nos próximos: para venderem programas eleitorais e comprarem votos são tentados a prometer bons resultados e muito depressa. A classe política induz a ideia de que a situação vai mudar rapidamente e isso não pode acontecer. No curto prazo não há condições para mudar significativamente nem o desemprego, nem a economia.”
Esta técnica de intervenção política de vender o que não está à venda ou estando tem um custo incomportável é causadora de uma grande descrença em relação à classe política e à política em geral. Mais do que a desilusão colectiva, perfeitamente legítima, de anos e anos de promessas por concretizar e uma certa revolta silenciosa pela exigência de sacrifícios não compensados, é o País que não avança, que se vai deixando ficar para trás, que vai acumulando dificuldades em fazer as mudanças necessárias, que vai perdendo força e alento, que vai deixando de acreditar em si próprio, que duvida das suas reais possibilidades ou que espera por um “milagre”. É um círculo vicioso que se instalou no qual ao aumento das dificuldades corresponde um aumento de resistências ou ao aumento das promessas corresponde um aumento de descrédito! Tudo aspectos sociológicos que se vão enraizando no nosso código genético e como tal difíceis de ignorar.
A mentira enquanto instrumento de estratégia de acção política esconde a verdadeira verdade. Ora, a intervenção política recorrendo também à mentira, por receio que a verdade traga consequências negativas ou perdas, ou pela necessidade de obter ganhos e vantagens que a verdade não permitiria obter, dificulta as mudanças que precisamos de fazer. Verdade e gestão de expectativas não têm que estar de costas voltadas. Nunca será tarde para falar verdade, para explicar às pessoas as reais dificuldades e os reais benefícios que podem colher com as mudanças que urge fazer. Falar verdade é formar, é ensinar. Valores que se precisam, cada vez mais…
Em Outubro escrevi aqui no 4R uma reflexão sobre “Pensamentos de mudança…” (ler mais em: http://quartarepublica.blogspot.com/2007/10/pensamentos-de-mudana.html#comments) e em Novembro uma outra reflexão sobre “A verdade da mentira política…” (ler mais em: http://quartarepublica.blogspot.com/2007/11/verdade-da-mentira-poltica.html#comments), numa tentativa justamente de abordar a qualidade da “intervenção política” . São dois textos que fui reler para melhor situar este meu comentário àquela passagem da entrevista…
A entrevista, mais do que debitar números e indicadores económicos e financeiros, incontornavelmente preocupantes, foca-se numa análise de natureza mais qualitativa sobre as nossas realidades política e sociológica, enfim sobre os alicerces culturais que explicam muitas das nossas inércias e “fugas para a frente”.
Do que foi dito, retive uma passagem interessante que mereceu uma paragem. Segundo Medina Carreira “ O problema não está em ser ou não ser reformista. Há um equívoco neste Governo, nos anteriores e provavelmente nos próximos: para venderem programas eleitorais e comprarem votos são tentados a prometer bons resultados e muito depressa. A classe política induz a ideia de que a situação vai mudar rapidamente e isso não pode acontecer. No curto prazo não há condições para mudar significativamente nem o desemprego, nem a economia.”
Esta técnica de intervenção política de vender o que não está à venda ou estando tem um custo incomportável é causadora de uma grande descrença em relação à classe política e à política em geral. Mais do que a desilusão colectiva, perfeitamente legítima, de anos e anos de promessas por concretizar e uma certa revolta silenciosa pela exigência de sacrifícios não compensados, é o País que não avança, que se vai deixando ficar para trás, que vai acumulando dificuldades em fazer as mudanças necessárias, que vai perdendo força e alento, que vai deixando de acreditar em si próprio, que duvida das suas reais possibilidades ou que espera por um “milagre”. É um círculo vicioso que se instalou no qual ao aumento das dificuldades corresponde um aumento de resistências ou ao aumento das promessas corresponde um aumento de descrédito! Tudo aspectos sociológicos que se vão enraizando no nosso código genético e como tal difíceis de ignorar.
A mentira enquanto instrumento de estratégia de acção política esconde a verdadeira verdade. Ora, a intervenção política recorrendo também à mentira, por receio que a verdade traga consequências negativas ou perdas, ou pela necessidade de obter ganhos e vantagens que a verdade não permitiria obter, dificulta as mudanças que precisamos de fazer. Verdade e gestão de expectativas não têm que estar de costas voltadas. Nunca será tarde para falar verdade, para explicar às pessoas as reais dificuldades e os reais benefícios que podem colher com as mudanças que urge fazer. Falar verdade é formar, é ensinar. Valores que se precisam, cada vez mais…
Em Outubro escrevi aqui no 4R uma reflexão sobre “Pensamentos de mudança…” (ler mais em: http://quartarepublica.blogspot.com/2007/10/pensamentos-de-mudana.html#comments) e em Novembro uma outra reflexão sobre “A verdade da mentira política…” (ler mais em: http://quartarepublica.blogspot.com/2007/11/verdade-da-mentira-poltica.html#comments), numa tentativa justamente de abordar a qualidade da “intervenção política” . São dois textos que fui reler para melhor situar este meu comentário àquela passagem da entrevista…
14 comentários:
A propósito do seu texto lembrei-me desta frase:
"A verdade é que politicamente tudo o que parece é, quer dizer, as mentiras, as ficções, os receios, mesmo injustificados, criam estados de espírito que são realidades políticas: sobre elas, com elas e contra elas se tem de governar."
António de Oliveira Salazar, 22 de Março de 1938
Pézinhos, aceita um desafio?
Se Salazar fosse actualmente 1º ministro de Portugal, sendo ainda a pessoa que foi, em carácter, em atitude e em pensamento. Qual seria, na sua opinião a reflexão que Salazar faria, acerca da verdade ou da mentira política?
Acho que Salazar não diria que está tudo bem, quando todos sabemos e sentimos que "o Rei vai nú"...
Mas permita-me que lhe diga, Caro Bartolomeu, que se Salazar ressuscitasse, eu gostaria de vê-lo a governar (novamente !), uma área específica: as Finanças Públicas.
Tenho a certeza que o problema do défice, se resolveria, rapidamente, mas muito "boa gente", do sector público, passava a andar a pé, o que até faz muito bem à saúde. Em bom rigor !
Isto só para citar, um dos muitos MAUS exemplos, de gastos desnecessários (e portanto nocivos !) do Erário Público.
Verdade ?
Bom Dia, Bartolomeu !!!!
Verdade! Pézinhos.
Aliás, uma verdade tão evidente que não admite qualquer escamoteamento.
Se perguntarmos a quem decide a escolha dos modelos de viaturas que são adquiridas para o "SERVIÇO" do estado, o porquê dos modelos topo de gama. Atiram-nos com a representatividade do estado.
Nesse caso estamos perante uma ambiguidade, pois se o estado está depauperado, como se não inibe de declarar, irreverentemente demonstra-o adquirindo os BM's, os Audi's, os Mercedes, etc.
Quanto ao ressurgimento de Salazar e o equilíbrio das finanças...acho que apoio o raciocínio dos meus vizinhos da aldeia "eram precisos dez Salazares", por minha conta, acrescento-lhe outros dez, mesmo assim...
Bom dia Pézinhos!
Ora aí está !!!
as viaturas é só um pequeníssimo exº., e não é só no sector dos topos de gama e nos altos cargos dirigentes.
Por exº, aqui na minha terra, o Senhor Comandante da Divisão da PSP, todos os dias, é transportado, com motorista, (N0TE-SE !)de sua casa, para o trabalho, ou seja, para o Comando da PSP, na viatura que lhe está distribuída.
Devo dizer que tem sido sempre a tradição.
Mais ... até um Sub-Comandante, também vinha de casa (e voltava), de carro patrulha, para o Comando.
Com que direito ?????
É que aqueles carros são um bocadidnho de todos nós.
Então estes senhores não sabem usar o autocarro, ou o transporte pessoal para se deslocarem para o trabalho ?
Não tenho nada contra a PSP, bem pelo contrário. Admiro e aplaudo o esforço que fazem com os parcos meios de que dispôem.
Mas se estas mordomias diárias de transporte de chefes e coiso e tal, acabassem não se iria obter um pouco mais de receita, para comprar mais viaturas, mais radios, mais armas ... ? enfim..
Volta Salazar, que estás perdoado ...:-))))))
Ah !!! não sou de direita, nem de esquerda.
Sou por um Portugal livre, justo e desenvolvido.
E estou um bocadinho (grande) farta de ser enganada.
O Serviço Público não pode ser um meio.
Tem de ser um fim.
Caro Pezinhos n' Areia e Caro Bartolomeu,
Não quero interromper o "diálogo". É só uma pequena "bicada"...
É tudo tão complicado que corremos o risco de não termos quem nos queira governar. Haverá sempre quem queira, claro! O problema é saber se são efectivamente os mais bens preparados e formados. Com tantos enganos e desenganos é cada vez mais difícil a arte de governar mas também há cada vez mais "artistas"! É assim...
.......... e que "artistas" !!!
Não interrompe nada, Cara Margarida. É uma honra !
E como diz um "artista" bem nosso conhecido:
Para si, um 2008 ... "porreiro, pá" !!!
:-))))))
Por quem sois cara Margarida, bicai a todo o vapor, se ha aqui um interruptor, so pode ser o Bartolomeu!
;))
Este interlocutório (sem pleito) entre mim e a amiga Pézinhos, prova que afinal as conversas são tal e qual as cerejas, vêem presas umas às outras (pelo pézinho).
Diz muitíssimo bem cara Margarida, é tudo muitíssimo complicado. Tão intrínsecamente complicado, que a falta de quem nos governe é uma evidência. Desgovernam-nos, governando-se e dando governo àqueles que lhes garantem a manutenção das condições para desgovernar. A estratégia, já foi dividir para governar, mas, nessa época, governar tinha um sentido, um significado diferente do actual.
Os actuais "artistas", "malabaristas" do desgoverno, revelam-se exímios executantes da arte, preparadíssimos para fazer crer aos incautos que quanto mais impostos pagarem, mais benefícios alcançarão.
O mais incrível é que uma boa fatia deste povo que já negociou com toda a ásia, toda a áfrica e boa parte da américa, está a pagar para ver, ou... a pagar, na esperança de ainda ver, ou... ou sei lá já de que é que esta cambada de céguinhos está à espera...
Bahhh!!!!
Andou Afonso Henriques a bater na mãe, para dar este lindo resultado, já viram ???
francamente ...
:-))))
Cara Margarida
Longe de mim querer interromper o diálogo,de resto até interessante porque a saudade da segurança a todos os níveis, é uma boa perspectiva para julgar os políticos,de dois comentadores dos textos desta 4ª Républica, mas apenas queria dizer que, independentemente do que nos vai suceder estando no governo um desgoverno, ou o que nos sucederia se voltassem à cena o Prof.Salazar ou o D.João II, ou mesmo o Marqûes de POmbal, trazidos em valores actuais, há o mérito, a coragem, e a honradez de homens como o Prof.Medina Carreira,um dos poucos que não se bandeia, nem prima por gostar de ser governador do banco de Portugal! Sobretudo, não é mentiroso.O problema grave deste país é não termos os chamados "homens de estado".Onde estão que não os conheço? Se meditarmos um pouco neste alerta, então sim, é de começar a refletir e do mal o menos, haja ao menos pão para comermos,que a farinha, até essa vai aumentar e de que maneira !
Caro António (com elas... as iscas), devo citar a frase do Dr. Pinho Cardão, num comentário colocado na sala do lado, onde referia a liberdade de opinião que se verifica neste blog, pelo que, não será de todo a sua intervenção uma interrupção. Convém contudo esclarecer que a minha crítica e penso que a dos demais comentadores, não tem o propósito de generalizar aos políticos nacionais as atitudes deploráveis que alguns, desprezívelmente têm para com a população deste país.
Não seria, penso eu, ético nem moral, medir a todos pela mesma bitola. Porém, esse motivo não é inibidor de reconhecer naqueles que nos enganam que nos traem e ainda pretendem que lhes sejamos gratos, a falta de carácter de honestidade e de dignidade.
A fotografia que escolheu para este seu post lembra-me os dias que passei em Roma onde encontrei tal preciosidade.
Disseram-me que antes de se colocar a mão na boca da estátua incrustada na parede tem que se pedir um desejo. Se o pedido não fôr feito com sinceridade ou convicção, tal desejo não se concretiza.
É curioso, não é? ... e qual foi o seu segredo?
O autor do blog
Caro Princípe Encantado
Seja muito bem vindo ao 4R!
A "Bocca della Virità" é de facto uma preciosidade. Já li várias lendas sobre a famosa Boca da Verdade. Não sei qual delas conta a verdade!
Diz-se que os maridos levavam as suas mulheres a esta cara de "poucos amigos", obrigando-as a meterem a mão dentro da boca. Se a boca fechasse com a mão lá dentro então é porque lhes tinham sido infiéis. A lenda não conta o que se seguiria. Mas podemos imaginar!
A versão actual do "desejo" é bem mais doce. Curioso como se fazem lendas em função das necessidades ou dos desejos!
Caro Bartolomeu
Achei o seu comentário bem revelador de um sentido de justiça,cada vez mais afastado do
espírito observador comum. Na realidade julgo pertinente a sua observação, não vá o diabo tecê-las e levarem todos pela mesma medida, ainda que os todos sejam quase todos, tal a pobreza de democracia em que vamos vivendo, cheia de mediocridade e de corrupcão. Amistosos cumprimentos
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