Os números desta vez não enganam e provam que a lógica não é uma batata. Se até o governador do Banco de Portugal, sempre muito cauteloso quando se refere a indicadores pouco favoráveis, assumiu que o nível de endividamento das famílias atingiu níveis preocupantes, então a taxa de poupança dos portugueses bateu bem no fundo. O INE veio agora confirmá-lo ao sublinhar que desde Março deste ano a taxa de poupança tem caído a pique, atingindo mínimos históricos.
Incapacitadas as famílias de apoiar a economia através do aforro, as empresas terão se financiar cada vez mais com recurso a crédito caro.
Para além das miragens do discurso oficial, a realidade do País é esta. Que explica porque estamos a ficar para trás. Porque empobrecemos todos os dias. Porque agravamos o fosso da desigualdade na distribuição do que é gerado. Porque, afinal, o investimento é baixo e concentrado nos poucos grupos económicos que temos.
6 comentários:
Desculpe, dr. Ferreira de Almeida, a impertinência de uma dúvida que sempre me assalta quando leio os diagnósticos acerca das nossas desgraças:
Que fazer então?
Uma das prescrições que vejo mais citadas (Pacheco Pereira, Vasco Valente, entre outros) é a redução do perímetro do estado social em Portugal.
No seu último(e longo) artigo sobre a greve da função pública, Pacheco Pereira afirma que a pobreza é incontornável em Portugal e as greves são a manifestação dessa situação de crescente pobreza.Remédio,segundo PP, reduzir o estado social.
É por aí que vamos lá?
Caro Ferreira de Almeida:
E quando, perante este quadro, seria de todo conveniente baixar impostos, a política do governo vai no sentido de aumentá-los, agravando a situação!...
Caro Pinho Cardão,
Imperdoavelmente, tinha-me esquecido dessa outra medida que pode reerguer a economia e reduzir as desgraças que afligem grande parte dos portugueses: reduzir os impostos.
Lamentavelmente, tens de reconhecer, não há muita gente a concordar contigo. Qualquer que seja o lado para onde te voltes.
Porque caímos sempre na mesma: Reduzimos os impostos e reduzimos do outro lado o quê?
Os funcionários públicos? Os ordenados dos funcionários públicos? O estado social, como preconizam alguns?
O muro das lamentações, só por si, não nos resolve grande coisa.
Pois é, meu caro Rui Fonseca, por muito céptico que o meu Amigo seja, tem de se render à evidência que foi por aí que paises que nos anos 80 ombreavam connosco ou nos ficavam atrás, recuperaram e estão hoje no pelotão da frente.
Reduzir os impostos, sim senhor, para libertar recursos em benefício das famílias e das empresas, que podem ser aplicados em investimento reprodutivo.
Reduzir o peso do Estado sim, revendo o modelo social como outros o estão a fazer. Com dor certamente, mas para evitar a dor maior de um futuro de pobreza acentuada onde os portugueses felizes serão os que vendem lá fora as suas competências e capacidades.
Mas também desenvolver políticas activas que incentivem o investimento em sectores, há muito identificados, portadores de futuro. Desenvolver sustentadamente o turismo, actividades ligadas à produção de bens transaccionáveis de maior valia tecnológica, designadamente aqueles que têm procura externa, fazendo-o sem a preocupação propagandística que sempre prepassa pelos anúncios do poder instituído.
Está aí a receita, como o Rui Fonseca que, pelo que intuo dos seus comentários, melhor do que eu sabe.
Se não nos desenvolvermos economicamente julga que algum dia nos desenvolveremos socialmente, por muito esforço que o Estado faça para acorrer às necessidades gerais de saúde, de educação, de cultura...?
Sem mais riqueza criada, bem pode o Estado procurar debaixo das pedras e nos exauridos bolsos dos portugueses os meios que sempre faltarão para alimentar este modelo de Estado.
Acresce que, como sabe, só aumentando o produto - e para isso é necessário, estou convicto, inverter a actual asfixia fiscal - é que o Estado pode ambicionar ter mais recursos.
Estou consciente que a questão tem um lado pouco abordado, que é o da capacidade ou incapacidade da sociedade civil para alavancar o desenvolvimento, mesmo se o Estado se retirar de alguns dos sectores onde não deve estar (ou onde deve rever o seu papel). Ou seja, a prblemática da competência dos nossos empresários, dos nossos gestores, a posição do sector financeiro face ás necessidades de apoio das empresas, designadamente as de inovação e de capital de risco.
Tenho sobre isso algumas dúvidas, confesso, mas necessito de acreditar que o Estado que temos não é o reflexo da sociedade civil. E vice-versa...
Deixe-me, por fim, que lhe diga que pior do que a lamentação, meu caro Rui Fonseca, é o estado de submissão a este fatalismo que prepassa por muito do que escrevem e comentam aqueles que, sem o afirmarem, acreditam que este é um País sem futuro.
Não alinho.
"Se não nos desenvolvermos economicamente julga que algum dia nos desenvolveremos socialmente, por muito esforço que o Estado faça para acorrer às necessidades gerais de saúde, de educação, de cultura...?"
Claro que julgo que não.
O problema, contudo, não é esse, salvo melhor opinião.
Que precisamos de baixar os impostos penso que ninguém contesta, a começar pelo Ministro das Finanças. O problema é se eles podem ser reduzidos sem ser reduzida a despesa. E parece que não. Ainda que, por razões eleitorais, eles venham a ser, provavelmente, reduzidos durante 2008.
Mas é a questão da redução da despesa que deveria ser debatida: Onde, Como e Quando. Tem no entanto um grande inconveniente: é poticamente incorrecta.
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