De facto, isto de olharmos para os números do crescimento, da produtividade e da riqueza, sem tratarmos de saber outra informações sobre o modo como se vive em cada país, pode dar um ideia bem errada do modelo que deve seguir-se. Por alguma razão se fala já em substituir o conceito do PIB por outros parâmetros que dêem uma ideia da felicidade dos povos e não apenas do seu desenvolvimento económico.
A Revista Pública de hoje conta que há no Japão uma autêntica “corrida ao divórcio” por parte daquelas transparentes criaturas que costumavam ser as mulheres dos japoneses. Na sequência da alteração da lei, que passa agora a permitir que metade da reforma dos maridos fique para as mulheres que pediram o divórcio, eis que os homens descobrem que afinal “as mulheres não vão tomar conta deles para sempre, tal como fizeram com os filhos” e que só a dependência económica as fazia suportar a infelicidade e o abandono. Perante esta “revolução silenciosa” das doces e submissas esposas, parece que já se constituiu uma espécie de clube dos maridos arrependidos, ou seja, de homens que se sentem em pânico por ficarem sem a casa limpa e o jantar na mesa e, ao mesmo tempo, com metade da reforma a voar…Para evitar o pior, dispõem-se agora a fazer o que nunca lhes ocorrera antes: tratar as mulheres com um mínimo de afecto, dedicar algum tempo à família e, nos casos mais extremos, mandar-lhes umas flores com umas palavrinhas de amor. Muitas das felizes contempladas manifestam total surpresa, em anos e anos de casadas nunca o marido lhes dirigira duas palavras a direito. Vamos ver se vêm a tempo.
Mas o modo como as jovens japonesas olham o casamento é talvez o retrato mais expressivo da ruptura cultural que se deu: sete em cada oito jovens licenciadas estão solteiras aos 29 anos e quase 30 em cada 100 declara não querer casar, enquanto a idade média de casamento passou dos 24 para os 28 anos. O número de idosos japoneses e o decréscimo da natalidade são já um grave problema no Japão, a que se juntam agora exércitos de homens divorciados que tinham como certa uma reforma desafogada e amparo incondicional que lhe foge por entre os dedos…
Mas o modo como as jovens japonesas olham o casamento é talvez o retrato mais expressivo da ruptura cultural que se deu: sete em cada oito jovens licenciadas estão solteiras aos 29 anos e quase 30 em cada 100 declara não querer casar, enquanto a idade média de casamento passou dos 24 para os 28 anos. O número de idosos japoneses e o decréscimo da natalidade são já um grave problema no Japão, a que se juntam agora exércitos de homens divorciados que tinham como certa uma reforma desafogada e amparo incondicional que lhe foge por entre os dedos…
Sinais de um desenvolvimento desumanizado, se as pessoas contam pouco cada um trata de si, no Japão ou noutro lado qualquer.
10 comentários:
Cara Suzana Toscano,
Pensou e caracterizou bem o problema, com este pequeno mas interessante texto.
Lembro-me de, em tempos de estudante, ter lido no livro do famoso economista Samuelson, então muito recomendado nas Universidades,que havia outros modos de avaliar o bem-estar das sociedades, que não apenas o do PIB per capita.
Nos últimos 4 ou 5 lustros, a euforia do economicismo, do capitalismo financeiro, grandemente especulativo e pouco produtor de riqueza, ainda menos gerador de emprego, tem-nos conduzido para verdadeiros absurdos de vida.
Se ninguém se dispuser a contestar este rumo, sem que seja para restaurar outros absurdos ainda piores já fracassados, caminharemos para um enorme e amargo logro civilizacional.
É preciso que mais gente, inspirada em melhores ideais, em valores mais próximos da nossa matriz cristã, surja a questionar o presente estado de coisas,no País,como no Mundo.
Agora, que estamos em quadra propícia a este tipo de reflexões, pode ser boa altura para todos revermos as perspectivas de vida que temos andado a perseguir, antes que o comboio descarrile, de vez.
Boa semana e renovação de felicitações pelo texto aqui deixado.
Cara Dr.ª Suzana Toscano,
é por essas mesmas razões que, embora pouco qualificado para tal juízo, faço convicção de que a china não sustentará o crescimento económico exarcebado que tem vindo a ter. E não a sustentará porque não tem as condições de fundo que o permitam.
Na minha óptica, que é a de um social-democrata, de nada serve a prosperidade económica que não seja posta ao serviço do bem-estar. Bem-estar social, bem-estar humano.
De resto, nos dias que correm, o divórcio passou a ser condição obrigatória. O divórcio, estou em crer, é a real funcionalidade do matrimónio hodierno. "Até que o registo nos separe", dirão.
Eis mais uma prova da diferença entre a cultura Oriental e ocidental. Uma mais virada para o espiritualismo a outra para o materialísmo.
É verdade cara Drª. Suzana! Enquanto os Japoneses passaram a investir metade da reforma (se não cederem muito ao entusiasmo) em flores e edílicas frases amorosas, os ocidentais, preocuparam-se em investir a mesma meia reforma em P.P.Rs. Mas, cara Doutora, acabou de me dar uma ideia para um negócio, quem sabe vou passar a exportar para o mercado Japonês umas edições poeticas, intituladas "Recupere a sua cara-metade... pense na sua meia-reforma!!!" Vou começar a juntar uma colectânia de poemas amorosos e fazer umas fotocópias. Só preciso de encontrar um agente...no Japõe ;)))
Afinal, já para lá levamos a espingarda que lhes permitiu grandes vitórias fece aos inimigos, além da supremacia relativamente aos povos da perifería, o que me dá alguma credibilidade junto dos "litle Jap" e credibilidade pode ser o melhor cartão de entrada.
Vou projectar melhor este negócio.
;)))
Suzana
Depois de uma vida a trabalhar para os seus maridos as mulheres japonesas já se podem "reformar" de uma vida infeliz com direito a uma pensão para recomeçar uma nova vida!
Nada disto faz sentido. No campo puramente material as mulheres japonesas vão poder ver-se livres dos maridos que durante uma vida as abandonaram e delas receberam "casa, comida e roupa lavada". Mas o mal está feito. A medida tem um carácter reparador que não resolve o problema de fundo, muito bem tratado pelo Caro António Viriato.
Não será por certo com medidas justiceiras deste tipo que se sossegam e curam as "cinzas" de um PIB preocupado com um per/capita rendimento esquecendo o per/capita felicidade.
E não será, por certo, sob a espada de um divórcio "material" que os maridos japoneses vão mudar o seu estilo de vida, imposto por uma economia de 18h horas diárias de trabalho, fazendo poemas e oferecendo flores às suas "mal" amadas esposas!
A instituição casamento se já estava em crise, em crise continuará... Os afectos não se compram com dinheiro!
Um seguro de casamento para os maridos japoneses é capaz de ter um campo grande de negócio. Os japoneses adoram seguros! Por isso, Caro Bartolomeu coloque a sua veia poética ao serviço dos maridos japoneses, que não resistirão à compra de poemas amorosos para encantarem as suas mulheres! Via ser um sucesso...
"A instituição casamento se já estava em crise, em crise continuará... Os afectos não se compram com dinheiro!"
Excelente reflexão cara Margarida!
Agora, não resistindo a uma pequena brincadeira, vamos pegar na 1ª rima de um poema (?) do Bartolomeu e traduzi-lo para Japonês tradicional...
Em portugalês:
Coloca o teu vestido de estrelas e vem dançar
Deixa-me guiar os teus passos, sente a musica
Nesta valsa que faz o meu e o teu corpo vibrar
Sente neste momento a nossa existência unica
Em Japonalês:
請問您打扮的明星是舞照跳
讓我引導你的步驟,感受音樂
這圓舞曲這是我和你的身體顫動
現在有我們獨特的存在
Haverá esposa que não se declare incondicionalmente sujeita aos caprichos do seu marido-reformado depois de ele lhe oferecer um papiro de folha de arroz com estes edílicos arabescos impressos?
Caros António Viriato e Luis Guerreiro, é facto que essa verdade indesmentível de que não há dinheiro que valha se as pessoas forem infelizes para o ter está a ficar fora de moda. Mas que se paga uma factura pesada, isso paga, e vai levar muito tempo até que se recupere alguma sensibilidade para isso.
Caro Bartolomeu, sempre inspirado, agora mostrando também uma grande veia para o negócio, acho que essa sua ideia de "exportar" declarações de amor vai ter mercado garantido. E, se calhar, cá também não iria mal, é só aguardar mais uns tempos e haverá quem queira arrepiar caminho.
Margarida, às vezes para corrigir grandes erros é preciso criar um elemento que abra os olhos, neste caso será a reforma partilhada de pleno direito que veio despoletar a crise. Não é mau, para começar, que os maridos japoneses percebam que muitas mulheres só ficaram em casa porque não tinham como sobreviver. Não será culpa deles, como diz e acredito, é um sistema de trabalho absurdo, desumano, os pobres também não teriam grande alternativa, mas individualmente não conseguiam suster o drama. Agora, se for um problema social, talvez seja mais fácil emendar para o futuro. É uma boa lição para os países que gostam de copiar sucessos sem ver o reverso da medalha, vivemos de modas, aqui e noutros países, afogados em números e estatísticas que só mostram um lado das coisas. será difícil fazer diferente? Admito, ser pobrezinho e feliz também não resulta lá muito bem, mas temos que ter consciência dos fenómenos sociais que se vão instalando, a pouco e pouco, e que persistem muito para além dos problemas económicos. Como diz muito bem, quando se vai ver, o mal está feito.
A "síndrome do marido aposentado" foi descrita pelo médico Nobuo Kurokawa, "que nos últimos dez anos vem tratando um fluxo crescente de mulheres japonesas de uma certa idade com os mesmos sintomas, incluindo depressão, problemas de pele, úlceras, asma e pressão alta.
Kurokawa, que tem uma clínica em Osaka, acredita que 60% das mulheres mais velhas são afectadas pela SMA e diz que se a doença for ignorada, os sintomas tendem a piorar.
Se o marido não for compreensivo, a doença se torna incurável”, diz ele"...
O melhor é ler a notícia.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/11/061114_japonesassindromerw.shtml
Peço ao Prof. Massano Cardoso desculpa, mas vou ter de brincar um bocadinho com este assunto.
Mas, para aligeirar um pouco a brincadeira, vou-me chegar um cadito aqui pró lado do sô Freud, não sei, mas acho que me sinto mais apoiado...
A brincadeira é que, para resolver estes problemas quase geriátricos que o caro professor refere e que é referida na síndrome do Dr. Kurokawa, um outro japonês, Akira Kurosawa no seu "O Império dos Sentidos" apresentou a fórmula ideal, sem versos nem flores, mas com muita imaginação.
(Sou tão parvinho... benza-me o Altíssimo)
;))))
Creio haver um ditado popular que vem mesmo a propósito:
'Não há mal que sempre dure, nem bem que se não acabe'
Digamos que às mulheres japonezas diz respeito a primeira parte e, aos homens, a segunda. Desejo longa vida a elas para que tirem o maior partido do dinheirinho da reforma e possam esquecer os "sapos" engolidos em toda a vida anterior. Quanto a eles...que se danem...
Óh minha amiga Maria Amélia, onde é que fica o sentido de humanidade, generozidade e abenegação que tão bem caracteriza desde o início dos tempos a mulher no mundo?
Esqueçamos o dinheiro, Maria Amélia, valorizemos o carinho e o respeito que são devidos a ambos os sexos, na juventude como na velhice. Pois viver de vinganças, não será melhor que viver de angústias e recalcamentos. Saibamos investir nas relações, sejam maritais ou de amizade, mas saibamos sobretudo valorizar a nossa auto-estima e os nossos direitos, sem atropelar os daqueles que amamos, de um modo ou de outro. Não lhe parece mais razoável?
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