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quinta-feira, 20 de março de 2008

Há cerca de 2000 anos!...


“…Tu queres deixar impune o homem que pregou a insurreição, declarando-se rei numa província de César?…Bem! Mandaremos emissários a Roma, levando a nossa sentença e a tua recusa e, tendo salvaguardado perante César a nossa responsabilidade, mostraremos a César como procede na Judeia aquele que representa a lei do Império!...
…Pôncio baixara a face, perturbado. Decerto imaginava já ver além, num claro terraço junto ao Mar de Cáprea...todos os seus inimigos, falando ao ouvido de Tibério e mostrando-lhe os emissários do templo... César, desconfiado e sempre inquieto, suspeitaria logo um pacto dele com esse "Rei dos Judeus", para sublevarem uma rica província imperial... E assim a sua justiça e o orgulho em a manter podiam custar-lhe o proconsulado da Judeia! Orgulho e justiça foram então, na sua alma frouxa, como ondas um momento altas que uma sobre outra se abatem, se desfazem. Veio até ao limiar da porta, devagar, abrindo os braços, como trazido por um impulso magnânimo de conciliação - e começou a dizer, mais branco que a sua toga:
- Há sete anos que governo a Judeia. Encontrastes-me jamais injusto, ou infiel às promessas juradas?... Decerto, as vossas ameaças não me movem... César conhece-me bem... Sempre vos fiz concessões! Mais que nenhum outro procurador, desde Copônio, tenho respeitado as vossas leis...
Um momento hesitou; depois, esfregando lentamente as mãos, e sacudindo-as, como molhadas numa água impura:
- Quereis a vida desse visionário? Que me importa? Tomai-a... Não vos basta a flagelação? Quereis a cruz? Crucificai-o... Mas não sou eu que derramo esse sangue…”!


Eça de Queiroz em A Relíquia

10 comentários:

Bartolomeu disse...

Não faço a menor ideia, se alguma vez, Cristo se declarou rei de alguma coisa... a insurreição, pois sim, no ponto de vista daqueles que subjugavam, que limitavam. Aquilo que Aquele Homem pregou, chega hoje ao nosso conhecimento com um entendimento diferente. No entanto, uma dúvida é para mim incontornável. No século XXI o ocidente continua a ocupar o médio oriente, os interesses de hoje não são o controle das rotas de comercio, mas sim do ouro negro, hoje, tão ou mais importante para a economia dos paises de todo o mundo. Em nome da manutenção da paz nestes países, tal como ha 2 milénios, tropas de paises ocidentais, ocupam os territórios, elegem e mantêm os presidentes, tal como no tempo do império Romano.
E se aparecesse um homem, que se afirmasse filho de Deus e o provasse operando milagres e, que encorajasse os povos a lutar pela sua liberdade e conseguisse seguidores...
é esta a minha dúvida!

Anónimo disse...

Afinal dos fracos reza a história.

Suzana Toscano disse...

Só sabemos deste fraco porque ele cruzou a vida de um forte, não entra por direito próprio mas por reflexo...
Belo texto, caro Pinho Cardão, a história de Cristo, mil vez contada, é sempre emocionante.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Dr. Pinho Cardão
Maravilhoso o texto que aqui nos trouxe.
Jesus Cristo com a sua mensagem ditou a sua condenação à morte. Ao longo da história da Humanidade as denúncias da mentira e da injustiça e a defesa da igualdade e da solidariedade com os mais pobres causaram o desprezo, e até a morte, de homens bons que as proclamaram e delas fizeram a sua força de viver.
A história de Jesus Cristo é sempre muito comovente. É eterna...

jotaC disse...

Com o devido respeito por todas as opiniões, Pilatos é um "ícone" que simboliza a nossa indiferença perante actos de injustiça.

Anónimo disse...

Bem observado, Suzana.

Anónimo disse...

Bem observado tambem, JotaC.

Anónimo disse...

E já que estou nesta maré, oportuno, bem oportuno este trecho, Pinho Cardão. Pela época que vivemos, e pela intemporalidade do enredo.

Capuchinho disse...

Belo texto, oportuna lembrança, bons comentários.

PA disse...

onde está, ó morte, a tua vitória?
onde está, ó morte, o teu aguilhão?
(1 Co 15, 55-57)

Santa Páscoa, Caro Dr. Pinho Cardão.