Lendo de forma articulada muitas das notícias de ontem – algumas requentadas do fim-de-semana – fica-se com a impressão de que nos encontramos em clima de euforia económica.
Vejamos apenas alguns exemplos:
1) Compras pela Internet em Portugal disparam 50% em 2007, contrariando a ideia de que se regista um abrandamento no consumo privado...
2) Défice do Estado diminui quase 30% no 1º semestre de 2008, sendo irrelevante que tenham sido consideradas as receitas de uma nova concessão do Estado à EDP sem inclusão na despesa dos encargos do pagamento à REN (fica para mais tarde)...
3) Saldo positivo da Segurança Social quase duplica até Maio - não interessando que uma parte significativa desse saldo consista em aumento de transferências do Orçamento do Estado...
4) Financiamento das Autarquias foi negativo em € 274 milhões (até Maio), significando que as Autarquias foram capazes de reduzir dívida financeira no mesmo montante, apesar do agravamento generalizado da sua situação de tesouraria...
5) Receitas do Estado aumentaram 4,48% nos primeiros 6 meses do ano, com a EDP, o BP e a CGD a darem uma ajuda decisiva, sendo indiferente que a receita fiscal continue a abrandar...
6) Indústria farmacêutica exporta € 400 milhões em 2008, demonstrando que o sector dos bens transaccionáveis se encontra de boa saúde...até exporta factores de produção para serviços de saúde...
7) Pagamentos por Multibanco aumentaram 10,5% nos primeiros 6 meses de 2008, desmentindo também as notícias de arrefecimento do consumo...
8) Empresas de cobrança de dívidas empregam cada vez mais pessoas, mostrando como o suposto agravamento do endividamento das Famílias e Empresas pode ter, a final, um efeito positivo sobre a economia ajudando à redução da taxa de desemprego...
9) Despesas com subsídio de desemprego diminuem 13% nos primeiros 5 meses do ano, podendo concluir-se que os desempregados/deserdados em Portugal podem finalmente – já não era sem tempo – viver sem a ajuda do Estado, bastam-se com a ajuda de Deus...
10) Como corolário de todos estes dados positivos, o índice PSI-20 da Euronext-Lisboa registou mais uma subida, de 1,63%...
Querem melhor? Não há nada como ter uma eficiente, bem lubrificada (com os nossos impostos, convém lembrar) e permanentemente disponível industria de notícias rosa...
A oposição que se acautele, pois ao contrário do que estará a pensar somos capazes de chegar a 2009 com a percepção de que temos uma das economias mais prósperas do Mundo, fazendo inveja não só aos nossos parceiros da zona Euro e da União Europeia, mas até aos "tigres" da Ásia...
É o País que temos, dirão os habituais pessimistas.
É só propaganda, dirá Medina Carreira...
Mas é o que vai ficando no ouvido e na memória da legião de pobres incautos, acrescentarei.
Vejamos apenas alguns exemplos:
1) Compras pela Internet em Portugal disparam 50% em 2007, contrariando a ideia de que se regista um abrandamento no consumo privado...
2) Défice do Estado diminui quase 30% no 1º semestre de 2008, sendo irrelevante que tenham sido consideradas as receitas de uma nova concessão do Estado à EDP sem inclusão na despesa dos encargos do pagamento à REN (fica para mais tarde)...
3) Saldo positivo da Segurança Social quase duplica até Maio - não interessando que uma parte significativa desse saldo consista em aumento de transferências do Orçamento do Estado...
4) Financiamento das Autarquias foi negativo em € 274 milhões (até Maio), significando que as Autarquias foram capazes de reduzir dívida financeira no mesmo montante, apesar do agravamento generalizado da sua situação de tesouraria...
5) Receitas do Estado aumentaram 4,48% nos primeiros 6 meses do ano, com a EDP, o BP e a CGD a darem uma ajuda decisiva, sendo indiferente que a receita fiscal continue a abrandar...
6) Indústria farmacêutica exporta € 400 milhões em 2008, demonstrando que o sector dos bens transaccionáveis se encontra de boa saúde...até exporta factores de produção para serviços de saúde...
7) Pagamentos por Multibanco aumentaram 10,5% nos primeiros 6 meses de 2008, desmentindo também as notícias de arrefecimento do consumo...
8) Empresas de cobrança de dívidas empregam cada vez mais pessoas, mostrando como o suposto agravamento do endividamento das Famílias e Empresas pode ter, a final, um efeito positivo sobre a economia ajudando à redução da taxa de desemprego...
9) Despesas com subsídio de desemprego diminuem 13% nos primeiros 5 meses do ano, podendo concluir-se que os desempregados/deserdados em Portugal podem finalmente – já não era sem tempo – viver sem a ajuda do Estado, bastam-se com a ajuda de Deus...
10) Como corolário de todos estes dados positivos, o índice PSI-20 da Euronext-Lisboa registou mais uma subida, de 1,63%...
Querem melhor? Não há nada como ter uma eficiente, bem lubrificada (com os nossos impostos, convém lembrar) e permanentemente disponível industria de notícias rosa...
A oposição que se acautele, pois ao contrário do que estará a pensar somos capazes de chegar a 2009 com a percepção de que temos uma das economias mais prósperas do Mundo, fazendo inveja não só aos nossos parceiros da zona Euro e da União Europeia, mas até aos "tigres" da Ásia...
É o País que temos, dirão os habituais pessimistas.
É só propaganda, dirá Medina Carreira...
Mas é o que vai ficando no ouvido e na memória da legião de pobres incautos, acrescentarei.
6 comentários:
Caro Tavares Moreira,
Leio o seu comentário e interrogo-me: Mas será assim tão difícil desmontar um logro, ou um conjunto deles, que se suportam em informações de fontes diversas? Está tudo mancumunado para favorecer o marketing rosa e inibir o esclarecimento do marketing laranja?
"1) Compras pela Internet em Portugal disparam 50% em 2007, contrariando a ideia de que se regista um abrandamento no consumo privado..."
É informação de fonte rosa? Pode ser confirmada?
Pela minha parte o que lhe posso dizer é que ontem recebi telefonema de um call center do Santander propondo-me o pagamento de apenas 5% do saldo do meu cartão de crédito. Rejeitei. Mas estou certo que muita gente aceitará. No Público leio que a Abreu está a oferecer viagens ao estrangeiro (Palma de Maiorca, Varadero, Tunísia, Agadir, a prestações em juros, a partir de 37euros mensais). Que pode o governo (se deve) fazer contra isto? Tributar pesadamente as vendas a crédito?
2 -" Défice do Estado diminui quase 30% no 1º semestre de 2008, sendo irrelevante que tenham sido consideradas as receitas de uma nova concessão do Estado à EDP sem inclusão na despesa dos encargos do pagamento à REN"
Não compreendo como é que a receita possa ser inscrita sem que estejam a ser contabilizados os encargos assumidos pelo Estado no âmbito da limitação adminitrativa dos preços da electricidade. A REN não contabiliza esses proveitos? Sendo uma empresa com capitais privados pode a REN deixar de contabilizar? E o Estado deixar de pagar? Devo confessar-lhe que não percebi, quando o ministro M Pinho decidiu quais seriam os preços a facturar aos consumidores como é que seriam contabilizadas as diferenças (e que diferenças) entre os preços que o regulador propunha e aqueles que foram efectivamente estabelecidos. Tratando-se de empresas cotadas, como é que estas coisas funcionam?
"Saldo positivo da Segurança Social quase duplica até Maio - não interessando que uma parte significativa desse saldo consista em aumento de transferências do Orçamento do Estado..."
Neste caso, e no que respeita às transferências para a SS e o défice, o resultado é uma soma nula. Fica tudo em casa, se bem entendo. Não?
"4) Financiamento das Autarquias foi negativo em € 274 milhões (até Maio), significando que as Autarquias foram capazes de reduzir dívida financeira no mesmo montante, apesar do agravamento generalizado da sua situação de tesouraria..."
A presidência da APM (do PSD) pode contraditar, se for caso disso. Não?
"5) Receitas do Estado aumentaram 4,48% nos primeiros 6 meses do ano, com a EDP, o BP e a CGD a darem uma ajuda decisiva, sendo indiferente que a receita fiscal continue a abrandar..."
Temos mais uma vez a EDP na berlinda. Ora eu sou um infinitamente pequeno accionista da EDP. Mas, de qualquer modo, accionista, pelo que o assunto me interessa na dupla qualidade de cidadão e accionista. Está a EDP a proceder à distribuição antecipada de resultados e não me antecipa nada a mim?
"6) Indústria farmacêutica exporta € 400 milhões em 2008, demonstrando que o sector dos bens transaccionáveis se encontra de boa saúde...até exporta factores de produção para serviços de saúde..."
Informação do Largo do Rato ou da corporação respectiva?
"7) Pagamentos por Multibanco aumentaram 10,5% nos primeiros 6 meses de 2008, desmentindo também as notícias de arrefecimento do consumo..."
Idem, aspas.
"8) Empresas de cobrança de dívidas empregam cada vez mais pessoas..."
Quando a actividade aumenta, costumam aumentar também as cobranças difíceis.E, pelo que nos diz neste seu post, o crescimento tem sido notável.
"9) Despesas com subsídio de desemprego diminuem 13% nos primeiros 5 meses do ano, podendo concluir-se que os desempregados/deserdados em Portugal podem finalmente – já não era sem tempo – viver sem a ajuda do Estado,"
Pode resultar de uma acção mais bem sucedida de controlo das situações de falso desemprego.
Não?
"É só propaganda, dirá Medina Carreira..."
Não penso que a invocação de MC possa validar uma qualquer afirmação quantificada. Ou é ou não é.
Não é?
Excelente síntese exegetica, meu caro Rui Fonseca - como meu Amigo facilmente entenderá, nenhum leitor "comum" se vai dedicar a esse tipo de trabalho próprio de quem lê as notícias para além dos títulos...
E é desses que eu me ocupo, no último parágrafo do texto, não dos que possuem mentes mais-do-que-esclarecidas como é o seu caso...
Abraço.
Caro TM,
.
Um destes dias vai ser tão difícil tapar todas as frinchas por onde emergirá a realidade crua e dura, que o primeiro sinal, vai ser o regresso de Peres Metelo novamente a Timor, por falta de mais argumentos cosméticos.
Caro Tavares Moreira,
Há um Portugal com estado e um Portugal sem estado. O Portugal sem estado anda ao sabor da conjuntura externa, como o resto do mundo aliás. O Portugal com estado vai vivendo da martelada contabilística enquanto pode. Por isso, as notícias do consumo são verdadeiras sobre uma realidade verdadeira. As do estado são verdadeiras sobre uma realidade falsa.
Agora, será que o Portugal sem estado liga alguma coisa ao Portugal com estado? Faltará assim tanto para que o Portugal com estado comece a funcionar em circuito fechado?
Caro CCz,
O adamascado personagem de que fala é um dos mais elegantes produtores de notícias rosa...é uma maravilha observa-lo a preleccionar na defesa do oposto da evidência - com uma convicção quase perfeita!
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