Temos assistido, nos últimos dias, a uma patriótica movimentação de alguns dos mais distintos teóricos do Programão – com o grande Ideólogo do betão M.L. à cabeça, como lhe cumpre – em defesa desse ambicioso e salvador desígnio nacional.
Esta movimentação começou de forma algo “caceteira”, tentando pelas mais diversas formas zurzir M.F.L. pela ousadia em por em causa tão audacioso como providencial Programão.
“Não conhece os dossiers...ou não tem assessores capazes”, foi a primeira e certeira crítica dirigida a MFL pelo Ideólogo do betão.
Tem toda a razão o Ideólogo: se todos nós, contribuintes, conhecemos os “dossiers”, sabemos das enormes e indiscutíveis vantagens do Programão, como admitir que MFL os não conheça e tenha a ousadia de se voltar contra um rol de projectos que só nos vai trazer “benefícios” (leia-se impostos mais elevados)?
O que estão a fazer os “seus” 30 a 40 assessores, pagos pelo Orçamento do Gabinete MOPTC?
Hoje, por exemplo, outro grande teórico do progresso, talentoso responsável do Departamento da Agricultura – por algum motivo a nossa dependência alimentar tem aumentado - vem afirmar que MFL “precisa de ser mais consistente”...quer dizer, quase à letra, precisa de se inspirar mais no betão cuja consistência é de todos conhecida.
Mas o contributo mais elaborado teoricamente é-nos também hoje apresentado por um distinto economista do regime que, sob o pseudónimo Vital Moreira (VM), nos esclarece de que “Para haver investimento em infra-estruturas não é necessário ter dinheiro público disponível...”
Ora aí está! Não é preciso o Estado ter dinheiro na gaveta, no Banco, em aplicações financeiras off-shore ou onde que quer que seja...
Para quê os recursos financeiros ou o “dinheiro disponível” se, como explicava há dias o Ideólogo do betão, o Programão não envolve custos? Se do Programão, mesmo na fase de investimento – e a seguir, na fase de exploração – só podem esperar-se receitas?
Ao ponto de já se admitir inscrever as “despesas” do Programão nas receitas do Orçamento, começando em 2009, ajudando a cumprir os objectivos da redução do défice e da consolidação orçamental?
E mesmo que assim não fosse, ainda que o Programão por absurdo envolvesse custos, não era preciso ter poupança disponível explica-nos agora o grande economista VM, pois há uma imensa fila de espera de financiadores externos ávidos por emprestar fundos à economia portuguesa sem qualquer garantia do Estado, com projectos tão promissores...
Por alguma razão as taxas de juro em Portugal estão bastante mais baixas do que nos outros países do Euro, as obrigações do Tesouro português apresentam um “spread” negativo em relação à dívida pública alemã, as acções dos Bancos portugueses sobem em flecha ao contrário dos bancos estrangeiros, a nossa dívida externa diminui todos os dias...
Como é que MFL não entende estes conceitos elementares e reconhece esta evidência que põe em causa sua tese anti-Programão?
Ou será que MFL está certa e quanto ao Programão já entramos na fase de delírio avançado?
10 comentários:
Caro Dr. Tavares Moreira
Para lá das matérias abordadas, sempre na ordem do dia, os seus textos têm sustentadamente um sabor jocoso que me fazem gozar e deliciar-me de uma maneira simpáatico, com as aleivosias económicas que este governo, claro está como Programão à frente, vai anunciando. Isto, se não estivessemos a falar de coisas sérias, ainda dava um excelente tema para uma revista do Parque Mayer.
Sou levado a concordar com o Vital "Goebbels" Moreira (podia mudar de pseudónimo). De facto, para haver investimento em infra-estruturas não é preciso dinheiro público disponível. Nem inteligência. Nem conhecimento. Nem vergonha na cara. Haja aqui um palerma como eu para pagar isso que tudo se resolve.
Magnífica sugestão, caro antoniodasiscas, uma revista no Parque Mayer, na rentrée, tendo como título de cartaz O PROGRAMÃO, poderá ser um enorme sucesso!
É claro que não será fácil arranjar um elenco que represente bem as grandes figuras do PROGRAMÃO, a começar no Ideólogo do betão - terão que ser actores de singular talento para representarem condignamente criaturas tão virtuosas - mas com a ajuda dos portugueses pode ser que se consiga um resultado final muito jeitoso...
O primeiro cenário poderia ser o do projectado Aeroporto da Ota, em versão fantasmagórica, com os passageiros/almas penadas caminhando erraticamente por terminais quase desertos e um cobrador de impostos, vestido com uma casaca esburacada, apanhando todos os incautos, sacando a torto e a direito uma suposta taxa para uma Empresa dos Aeroportos, chamada "contribuição de serviço aéreo"...
Um enorme sucesso em perspectiva - quer o antoniodasiscas propor a La Feria a ideia e encarregar-se do script?
Mas não é uma das assinaturas que valida o Programão a da própria MFL? e do DB mais o PP? ou seja a centro-esquerda toda reunida?
Ilustre caodeguarda
Esse argumento das assinaturas (onde estão, em que documento?) é "useless" para dizer o mínimo!
Nós estamos a discutir a total (ino)portunidade de um Programão de obras públicas à entrada do 2º semestre de 2008 e suas consequências para a economia portuguesa!
Se, por hipótese que admito sem conceder, MFL deixou assinatura nalgum papel aceitando projectos - em relação a alguns dos quais na altura nem se falaria, de resto - honra lhe seja que mudou de opinião, tanto mais que as circunstâncias mudaram também e para muito(íssimo) pior.
Saber mudar de opinião, quando as circunstâncias mudam e de que maneira, é sinal de algum bom senso - que nesta matéria me parece ser a qualidade mais em falta, meu Caro!
Caro Tavares Moreira,
Se MFL mudou de opinião, bravo. Mas as circunstâncias (conjunturais) são sensivelmente as mesmas, os projectos continuam a ter o mesmo valor económico negativo. Se tivessem o valor económico que o Lino pensa (ou quer que eu pense) que têm os juros não seriam problema.
Aliás, lembro-me bem de uma frase de MFL dessa altura que retive e que deveria repetir várias vezes: "Parem de chamar investimento público às rotundas!", para lembrar que gasto público e investimento público são coisas diferentes.
Delírio irreversível, caro TMoreira!...
Infelizmente tendo a concordar com o comentário que o Pinho Cardão põe neste tópico. O Programão parece-me já irreversivel.
Há, no entanto, coisas engraçadas. O Estado tem anualmente um encargo de cerca de 750 milhões de EUR com as SCUT. Por causa deste encargo já se procedeu à desorçamentação das despesas com as restantes estradas nacionais e a sua concessão à Estradas de Portugal por uns curiosissimos 67 anos ou número igualmente quadrado muito semelhante. Ora, estes 750 milhões de EUR representam despesa do estado que é financiada com os nossos impostos. Já existe a noção do erro feito. Portugal é um país com uma carga fiscal elevadissima. Ora, a pergunta que faço é a seguinte: se neste momento já temos que pagar erros do passado, porquê persistir em fazer erros exactamente iguais? Será que no futuro os impostos ultrapassarão os 50% do rendimento das familias e empresas para pagar toda esta loucura? Ficarei a reflectir.
Entretanto, a oportunidade, o momento específico, não tenhamos ilusões. O actual governo quererá efectivamente deixar essa marca e irá deixa-la, não tenho dúvidas. Situação conjuntural é uma mera circunstância que não se irá intrometer no caminho, de todo. Nada aponta para uma inversão de marcha, por aquilo que vamos vendo.
Irreversível provavelmente, Pinho Cardão, mas nem por isso menor delírio - ou mesmo maior, envolto na perversão da irreversibilidade!
O grande economista-matemático Pierre Massé, pai do planeamento económico em França nos idos anos 50/60, referia-se ao Plano como a "aventura calculada".
Por antinomia, o Programão, segundo Massé, seria a "desventura incalculável".
Que bem entregues nós estamos...razão tem o Tonibler!
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