Uma notícia que li no Jornal de Notícias dá conta que a Câmara Municipal da Maia vai lançar o chamado “caderno digital” no próximo não lectivo. Os primeiros beneficiários serão os alunos das escolas primárias da Maia.
O “caderno digital” vai acabar com os cadernos de papel, os lápis, as canetas, as borrachas e todo o material necessário à escrita manual. Acaba assim a escrita de uma redacção numa folha de papel pautado ou as contas e a prova dos nove numa folha de papel quadriculado.
O “caderno digital” vai acabar com os cadernos de papel, os lápis, as canetas, as borrachas e todo o material necessário à escrita manual. Acaba assim a escrita de uma redacção numa folha de papel pautado ou as contas e a prova dos nove numa folha de papel quadriculado.
Não percebi se acaba também a leitura do livro. É possível que sim, que com o novo sistema os alunos passem a aprender a ler no ecrã informático. Porque não? E acabam também as mochilas que as crianças transportam com os seus haveres escolares. Não têm mais que carregar tais incómodos. A mochila é transformada pelas novas tecnologias numa levíssima pen-drive. É só colocar no bolso. Formidável!
É claro que o “caderno digital” pressupõe que os alunos tenham computador em casa, facilitando, segundo dizem os entendidos da Câmara da Maia, um melhor acompanhamento da evolução escolar dos alunos por parte dos pais.
O sistema vai custar 400.000 €, incluindo as pen-drives e a instalação em todas as salas de aula de quadros virtuais e interactivos que permitem visualizar o sistema. Uma espécie de ecrã de computador em tamanho grande. Os velhos quadros de ardósia, os paus de giz e os apagadores têm, portanto, os dias contados.
Esta mudança abrupta de hábitos escolares e de modos de ensinar e de aprender, em particular quando falamos da escola primária e, portanto, de crianças de tenra idade que aqui percorrem os primeiros anos de vida escolar, levanta-me as maiores dúvidas quanto aos efeitos positivos que pode provocar na sua educação e formação.
Não seria mais aconselhável procurar conciliar o “caderno físico” com o "caderno digital”? Será que são incompatíveis ou não será que se poderiam completar porque desenvolvem aptidões diferentes e possibilitam o contacto e o desenvolvimento de sensibilidades diferentes no modo como o conhecimento pode ser apresentado e utilizado? Será bom para crianças tão pequenas não terem contacto físico com uma folha de papel, não sentirem o percorrer das folhas de um caderno ou de um livro? Será bom para as crianças não descobrirem e aprenderem a “desenhar” a sua própria letra?
Enfim, existem muitas outras perguntas e dúvidas, tal é a dimensão que pode ter o efeito guilhotina sobre o “caderno físico”! Já agora a pen drive poderia também incluir a malfadada máquina de calcular, não é?
8 comentários:
JSD Almada
**************Acção de rua***********
Temática: ECALMA
mais info em:
www.jsdalmada.blogs.sapo.pt
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Se calhar daqui a uns anos já ninguém precisa de saber escrever com a sua mão, tal como já não precisam de saber a tabuada de cor! Talvez seja uma evolução inevitável, a desmaterialização do equipamento escolar, nunca tinha pensadon isso mas, vendo bem, já hoje muitos jovens têm dificuldade em fazer um texto manuscrito, e então quando se trata de perceber o que outros escreveram à mão ficam completamente bloqueados. A escola digital já está a meio caminho, os portáteis são praticamente um acessório indispensável na universidade,o wireless espalhou-se porque só se comunica pela net. As escolas primárias estão em linha com isso... Se é bom ou mau, acho quenunca vamos saber,provavelmente não haverá escolha.
As tecnologias disponibilizam-nos ferramentas, que em si próprias não são produtivas. O que se faz com elas é que interessa, e pode fazer a diferença. Se um aluno não compreende um texto ou não consegue fazer uma conta de cabeça, dificilmente o aprenderá só porque lhe meteram um computador nas mãos.
Pensar que se podem queimar etapas assim e que os nossos problemas históricos em matéria de educação se resolvem num passe de mágica, lançando dinheiro e TICs para cima, é ser-se ou muito ingénuo ou muito desonesto (pela actuação dos responsáveis do ME, inclino-me para a 2ª opção). O problema está acima de tudo, a meu ver, na atitude da sociedade em relação à educação, nomeadamente na incapacidade de largas faixas da população compreenderem que sem esforço e exigência, o percurso educativo dos nossos jovens fica vazio de conteúdo. Infelizmente, o que muitos pais querem é que o filhinho tenha um canudo (seja qual for, assim já o podem tratar por doutor). Tendo em conta o percurso educativo de algumas figuras do Estado (e.g. o "engenheiro" Sócrates), é natural que a população não queira uma verdadeira educação, mas sim um simulacro desta (basta ver a adesão aos CEFs, RVCCs e afins, cujos percursos são poucos mais do que meia dúzia de formalismos para se obter um curso rapidamente).
Cara Dra. Margarida Aguiar:
Pelos vistos, lá pela Maia a coisa está acelerada!
Eu também acho, tal como a Dra. Suzana que estes "modernismos" são inevitáveis...
Mas comungo consigo no que concerne à preocupação sobre implementar novos procedimentos tendo por base um corte assim tão radical com os métodos anteriores... O melhor era seguirem em paralelo e depois logo se aferia do seu interesse.
Pois, meus caros, mas o futuro será, seguramente, muito próximo do que a Câmara da Maia quer antecipar. Por muito que nos custe a imaginar.
Cara Margarida
Num país a cair de anémico e em vésperas provavelmente de um avc, tais os problemas gravíssimos que nos afectam a todos, acho de uma coragem inaudita o lançamento de uma iniciativa destas, que custa baratinha e que sobretudo nesta altura, com a substituição de uma série de material escolar pela maravilha em causa, pode, se a moda pega, lançar mais uns tantos no desemprego ; eu sei, é o desemprego tecnológico que é imparável a bem da produtividade e da competitividade. Só que, talvez fosse indispensável lançar uns estudozitos para apreciar os resultados de tamanha bondade, quer no plano social, quer ao nível da chamada educação nacional. A propósito gostava de saber a opinião da nossa querida Milú a este respeito, sobretudo na perspectiva de aparecerem uns robozitos por aí, salvo seja, que se calhar pelo andar da carruagem, têm desde logo a cabeça invertebrada. É evidente que para lá se caminhará inexoravelmente, mas já ?
Caros Comentadores
Como seria de esperar temos reacções diferentes perante iniciativas do tipo "caderno digital", melhor dizendo perante o caminho para a "digitalização escolar". Alguns de nós encaram o fenómeno como sendo uma inevitabilidade e outros olham para a mudança com preocupação.
Os "modernismos" até poderão ser inevitáveis mas está nas nossas mãos escolhê-los e doseá-los.
Não me custa imaginar as crianças, e um dia mais tarde adultos, não desfrutarem do prazer de folhear um livro porque em seu lugar estarão entretidos com os olhos em frente de um ecrã, em que a função page down se encarregará de passar à página seguinte.
Já me custa imaginar que esta troca seja saudável. Tenho a sensação que alguma coisa ficará a faltar!
O que será por exemplo levarmos um computador debaixo do braço para lermos um livro na praia? Terá o mesmo sabor? Como será?
Margarida, isso também já está ultrapassado, pode levar só o PDA, assim leva o livro, o telemóvel e o escritório, todos juntos a apanhar sol e ar do mar! O que pesa mesmo é a toalha, essa ainda não é digital...
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