Ontem divulgados, os dados provisórios das contas com o exterior até Julho mostram claramente que o principal desequilíbrio da economia portuguesa não só não se resolve como continua a agravar-se...
Com efeito, no período de Janeiro a Julho de 2008, o défice corrente com o exterior aumentou quase 40% sobre período homólogo de 2007.
Com a contribuição dos capitais da EU, o ritmo do agravamento "reduz-se" para 34%...
Temos pois que o endividamento externo da economia portuguesa está imparável...
Com a actividade praticamente estagnada, um agravamento destes significa que deixou praticamente de existir possibilidade de solução para esta espiral de endividamento.
Vamos endividar-nos indefinidamente até que os mercados nos tapem a boca?...
Continuamos apostados em afectar mais e mais recursos aos “sectores protegidos” da economia – (i) Estado - Administração Central e suas Empresas nos mais diferentes sectores desde os transportes à saúde, (ii) Estado – Administração Local e suas centenas (milhares?) de empresas, desde o saneamento básico até ao lazer, (iii) Estado – Administrações Regionais e suas muitas empresas desde os transportes até ao saneamento básico, (iv) sectores monopolistas ou oligopolistas.
O famoso Programão – cujo anunciado infanticídio, a confirmar-se, seria uma benesse – é um bom exemplo de uma política económica cujo insucesso é assustador.
É nestes sectores protegidos, em que a produtividade é tema menor ou inexistente, que a parte de leão dos escassíssimos recursos disponíveis continua a ser aplicada, recursos que ou geram mais dívida (sobretudo) ou são retirados via fiscal das empresas que operam nos sectores expostos à concorrência doméstica e internacional e que, como se compreende, vão tendo crescente dificuldade em suportar a concorrência.
E depois queixamo-nos de que a produtividade da economia portuguesa não melhora e que sem essa melhoria não conseguimos corrigir este imparável desequilíbrio externo...
Com cinismo freudiano, apelida-se o desequilíbrio de “insustentável” e proclama-se a necessidade de o “reduzir”...
Seria bem mais sincero dizer que os desequilíbrios são insustentáveis - de acordo - e que por isso se estão tomando medidas para os agravar...
Curiosamente este tema está praticamente ausente do debate público...as culpas e as desculpas de todos os males vão agora para a crise financeira internacional e mais concretamente para os USA/Bush, transformados em perversos autores dos problemas que somos incapazes de solver...
Quando, manda a verdade dizer, entre a chamada crise financeira, com epicentro em Wall Street, e os nossos problemas, não existe qualquer nexo de causalidade...
Acontece que essa crise vem por a nu, com maior evidência, os equívocos fundamentais da política económica que teimamos em prosseguir...
Se fossemos capazes de entender os sinais da crise, até poderiamos aproveita-la a nosso favor, mudando as opções...mas não, tudo indica que a vamos usar somente como "excuse" das nossas próprias incapacidades e erros.
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