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sábado, 31 de janeiro de 2009

A Ética e a falta dela...


Barak Obama, ao acusar as grandes empresas americanas de agirem com “arrogância e ganância” por distribuírem bónus aos seus gestores depois de recorrerem a ajuda com dinheiro público, colocou, a meu ver, o dedo na ferida da actual crise.
Com efeito, a crise brutal que vivemos não é apenas financeira e económica, é também o espelho da ausência de um padrão de valores tradicionais na condução das actividades financeiras, designadamente bancárias, e das actividades económicas.
A situação a que chegámos funda-se em dois objectivos que passaram a guiar o comportamento das pessoas e das organizações: a maximização do lucro imediato sem restrições éticas e a realização do prazer imediato. Vive-se o primado do ter, relegando para segundo plano o ser. As pessoas são avaliadas pelo que têm e não pelo que são!
Os gestores das empresas, e não apenas das instituições bancárias, induziram na vida das organizações a maximização do lucro imediato, pela urgência de rapidamente aumentarem as suas remunerações, sem quaisquer preocupações de sustentabilidade e com elevado risco de gerar quebra de valor social. O que deveria ser entendido como uma transgressão, transformou-se numa norma. É impressionante como fomos caminhando para o abismo com a ilusão do sucesso, sem nos questionarmos ou duvidarmos sobre a sustentabilidade da maximização do lucro imediato.
O excesso de tudo modelizar - na actividade bancária, nos mercados financeiros, na economia - também está presente na crise que estamos a viver. Os modelos são úteis, mas podem ser perigosos, se neles nos centrarmos e esquecermos a necessidade de observarmos com sentido crítico os comportamentos e as decisões das pessoas e das instituições.
Parece-me urgente e importante estabelecer restrições que quebrem estas práticas, para o que são fundamentais novas regras de supervisão e de regulação. Afigura-se também importante que um novo modelo de funcionamento das instituições seja introduzido com muito bom senso, no sentido de que há que encontrar o justo equilíbrio entre o mercado e a regulação para prevenir, corrigir e suprir falhas de mercado, num quadro em que é preciso retomar valores éticos e mobilizar as pessoas para com os mesmos se identificarem e os acolherem.

5 comentários:

Tonibler disse...

"distribuírem bónus aos seus gestores depois de recorrerem a ajuda com dinheiro público"??? Que amadores, os deputados portugueses fazem isso há décadas e conseguem que o presidente bata sempre palmas. Que amadores...

Bartolomeu disse...

É verdade cara Drª. Margarida, Barak Obama, demonstra possuir grande coragem e vontade de compor aquili que está mal na economia americana. Espero sinceramente que a persistência e a vontade que o animam, não enfraqueçam, assim como os apoios de todos os que acreditaram no seu sonho, que é afinal o "sonho da América" e neste momento, passa por ser o do mundo.
"A situação a que chegámos funda-se em dois objectivos que passaram a guiar o comportamento das pessoas e das organizações: a maximização do lucro imediato sem restrições éticas e a realização do prazer imediato"
Estas são sem dúvida as duas causas primeiras que conduziram à actua crise económica em que o mundo se encontra "atolado".
Porem, este modelo de economia, está esgotado. Estou mesmo convencido que todas as injecções de capital que venham a ser ministradas a este moribundo, não vão conseguir reanima-lo.
Isto porque as sociedades atingiram um volume e uma dependência de "ter" completamente incompatível com qualquer tipo de sustentebilidade, onde não se preveja a obtenção do tal lucro imediato.
O lucro imediato, tornou-se uma droga, da qual dependem os investidores e da qual não pretendem desintoxicar-se, assim como os consumidores se tornaram dependentes do vulgar possuir, só por possuir e pela vã gloria de consumir.
Ética é sem dúvida nenhuma um valor a que os governos e as sociedades terão de passar a prestar toda a atenção e respeito. Só a partir daí, se poderá encontrar o modelo de economia capaz de substituir o actual capitalista-morto.

Capuchinho disse...

Pertinente análise, com a qual concordo plenamente. Aliás, deixe-me mesmo salientar a sua coragem em colocar a questão como a coloca, pois, exige alguma coragem falar em valores de solidariedade e de justiça nos dias que correm, em que o lucro e "o prazer imediato" - independente da realização de cada um e dos outros - constitui o comportamento espontãneo e padrão.

Deixe-me, no entanto, dizer que essa postura - mesmo na área económica e financeira - não se altera apenas - nem em minha opinião - sobretudo com regulações ou proibições.

O campo de afirmação desses valores deverá estar na sua transmissão pela prática dos que o defenderem e na sua afirmação às gerações mais novas, nas escolas. O lucro fácil e o prazer imediato , a modelização dos esquemas como se fossem a realidade é o produto de uma certa escola e de um certo ensino, inodoro, incolor e light.

Suzana Toscano disse...

Concordo totalmente com o comentário do Capuchinho.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Amadorismo, Caro Tonibler? Intolerável, diria eu!

Caro Bartolomeu
Tocou numa palavra muito importante: sustentabilidade. Um termo que anda na "boca" de governantes, empresários, gestores e financeiros.
Se há coisa que esta crise veio mostrar é a insustentabilidade dos modelos de "desenvolvimento" económico e social.
Com efeito, ao crescimento económico não correspondeu um desenvolvimento económico sustentável e a eficiência económica não cuidou da equidade social.
E o resultado da falta de sustentabilidade está aí com o aprofundamento das desigualdades sociais.
Esperemos que a crise coloque na ordem do dia a questão da redistribuição do rendimento e a reabilitação da economia real.

Caro Capuchinho
Agradeço as suas palavras, de incentivo também.
Sem dúvida que o restabelecimento de uma tábua de valores passa pele seu ensinamento às gerações mais novas. Mas não esqueçamos que são os mais velhos que são chamados a fazê-lo, pelo que é fundamental que as referidas "restrições éticas" sejam adoptadas, sem tibieza, na prática.