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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Tristeza

Ao longo da vida acabamos por penetrar, sem autorização, nas almas das pessoas, mesmo naquelas que põem trancas nas portas com receio de que a intimidade seja escalpelizada. Mas não conseguem. Há sempre algo no semblante, na postura, no olhar, na indecisão momentânea, na emissão meio rouca dos pensamentos, na confusão ligeira, no tropeçar do esquecimento, no resfolgar da respiração, na moleza do aperto de mão, na lentidão dos passos, a refletir a imagem da tristeza.
Tristeza, sentimento tão velho como o homem e que deverá ter constituído um dos principais fatores de evolução, que, afinal, não se restringem apenas às agressões físicas, químicas e biológicas. O interior do ser humano comporta em si a necessidade de se adaptar e nada melhor do que a tristeza para o efeito.
A tristeza ajuda-nos a aprender com os nossos erros. A tristeza permite-nos interromper, momentaneamente, o decurso da nossa existência, obrigando-nos a pensar. Ao mergulharmos na tristeza, fugimos do stresse crónico e da própria morte. A tristeza liberta-nos do quixotismo e de muita loucuras. A tristeza obriga-nos a ser criativos. A tristeza alimenta a esperança em melhores dias. A tristeza torna-nos mais aptos a lidar com os desafios da vida. A tristeza empurra-nos para altos desígnios. A tristeza é vital à evolução humana. Sempre foi. Resta saber se continuará a ser. A nossa sociedade privilegia os felizes e enaltece a ventura. Ai de quem fique triste, porque constitui um sinal de fraqueza e de infortúnio. Face aos mínimos sinais e sintomas, é-lhes oferecido, desde que paguem, claro, a felicidade sintética: medicamentos. Ofertam-lhes as pílulas da felicidade. A maioria acaba por ser rotulada de doentes e não são. São apenas seres humanos que, periodicamente, necessitam de se entristecer e de se sentir miseráveis para conseguirem ver a vida na sua plenitude, e, a partir daí, poderem contribuir para novas conquistas e descobertas.
Arte, ciência, religião, estão repletas de seres que, através das suas misérias, mudaram a face do mundo originando revoluções a vários níveis. Mas agora querem, teimosamente, acabar com a tristeza. “Don´t worry, be happy”, seria melhor substituída por “Don´t happy, be worry”, que condiz mais com a nossa condição.
Medicar excessivamente a tristeza é muito perigoso, porque interrompe a nossa capacidade de abraçar o lado miserável da existência e, consequentemente, impedir a motivação para o amadurecimento. A estabilidade emocional passa pela tristeza. Poderão dizer: - E os que se sentem deprimidos? Estes, de acordo com o grau de depressão, deverão ser tratados. Cerca de 25% da população sofrerá, pelo menos, durante a sua vida uma crise depressiva e cerca de 5% da população está permanentemente deprimida.
Os fatores sociais constituem hoje as principais causas de tristeza. Avizinham-se situações particularmente graves que irão originar muita dor. Se originarem apenas tristeza, nada de mal advirá ao mundo, pelo contrário, o pior é os que se afogam nela, neste caso estaremos perante uma grave tragédia...

4 comentários:

Bartolomeu disse...

Magnífico texto... ao que aliás já nos habituámos de si, excelso amigo.
E que tal iniciarmos o dia cantando? que é como quem diz em linguagem Oba mística... Let´s sing a lot.
;)
The Doors "Baby Light my Fire"
http://www.youtube.com/watch?v=M_yWyBjDEaU&feature=related
;))))
Muitas vezes, precisamos sangrar para termos a certeza de estar vivos.
Este "princípio" tem-se revelado ineficaz desde ha três anos e picos, em Portugal.
O governo liderado pelo Sr. Socrates (perdoe-me o plágio, Dr. Alberto) tem sangrado insistentemente o pobõe e nem por isso se notam sinais de que se esteja iniciar alguma retomada de ânimo. Desconfio que o sangrador só vai desistir quando vir saír a última gota do precioso e vital líquido. Não nos bastava este nosso luso barbeiro, armado de bacia e navalha, temos agora um "sapateiro" de conluio montado no nosso cachaço.
E a culpa toda de quem é?
A culpa não morre solteira, como muito bem afirma a sapiência popular e neste caso é atribuível a diferentes personagens desde D. Afonso Henriques que assinou em Zamora, no ano de 1143, com o rei de Castela e Leão, D. Afonso VII, um tratado que básicamente conferia a indepêndência do reino (do nosso, não sem que antes, D. Afonso Henriques os tivesse desancado em Ourique. Depois foi a vez de O Príncipe Perfeito "dar a volta" a los Reys Católicos Espanhueles Ernando e Isabel, levando-os a assinar o tratado de Tordesilhas, convencidos que o menino Colombo o Genovês que o José Rodrigues dos Santos descobriu que afinal não é nada Genovês, mas sim Alentejano de Cuba e que a Cuba do Fidel, afinal, se chama Cuba porque o Genovês não é Genovês, mas sim Cubano da Cuba do Alentejo. Phiuuuu, fiquei cansado.
;)
Mas como sempre, não ha bela sem senão, e o primeiro dos senãos é que a esperteza do Principe Perfeito, a que contribuíu o facto de um Bartolomeu ter dobrado o cabo da Boa Esperança (ha sempre uma ovelha ranhosa em todas as histórias, o qué co homem foi fazer pá ponta meridional de Àfrica? Se queria navegar, que fosse fazer a viàgem de circum-navegação à volta das Berlengas, bahh) fez com que o nosso Rei D. Duarte, tivesse perdido a oportunidade de ter sido ele a mandar calar aquele Venuzuelano que agora é como se fosse rei tambem, ou então... mandar calar... até parece que já o estou a ver... fleumático, aristocrático, dizer a sua esposa real: Isabelinha, filha, mandai silenciar esse ignóbil servo da plebe!!!
Bom, com tantas rasteiras, que os nossos espertíssimos reis pregaram à nuestros hermanitos, é natural que agora um sapateiro inconformado se queira vingar... A menos que... o nosso primeiro, com a estória do TGV tenha na manga escondido um estratagema para dividir espanha ao meio e "abarbatar" uma das metades...
às tantas...
;))
(Bartolomeu... tens-te esquecido de tomar os comprimidos, pá)

Suzana Toscano disse...

Adorei este texto, caro amigo, deveria ser afixado em todos os locais públicos e talvez mesmo constituir leitura obrigatória no âmbito académicoa, parece que a "depressão" já atinge oficialmente um levado número de crianças.
Esta era da felicidade que fomos construindo tem, a meu ver, e conforme o seu texto tão bem descreve, duas consequências terríveis: a primeira é que as pessoas se isolam, quer porque não querem aparecer aos outros como vencidas, quer porque os outros têm muito pouca paciência para aturar desgraças uma vez que eles próprios estão concentrados em "to be happy". A segunda é que o facto de a tristeza ser um estigma, arquivado na prateleira "doenças", mina a coragem para enfrentar o desânimo e leva a que as pessoas fiquem à espera que alguém tome conta delas, as trate, as olhe com a condescendência que se concede aos fracos, e desistem por muito pouco. De certa forma, esta cultura da felicidade torna as pessoas muito mais vulneráveis à infelicidade.

Suzana Toscano disse...

..elevado número de crianças, queria eu dizer.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso
Gostei muito do seu texto. A felicidade é algo que não tem uma definição única. Na época em que vivemos a felicidade anda muito ligada a um querer material que tem que ser igual ao que nos mostram e que os outros exibem. É uma felicidade que acaba por estar pouco alicerçada em laços afectivos, que tem pouca profundidade íntima.
Não espanta portanto que a felicidade seja muito volátil, alternando com a tristeza que corre o risco de se banalizar.
Mas os problemas sociais que o Professor Massano Cardoso fala são muito sérios, pois quando estão em causa mínimos de bem estar, que, por exemplo, dependem de um Pai que de um momento para o outro não tem como, ainda que temporariamente, sustentar os seus filhos, a tristeza pode ser muito grave, conduzindo realmente à depressão.