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domingo, 25 de janeiro de 2009

Poluição hídrica e infertilidade masculina

Acabo de elaborar um parecer sobre um projecto de dissertação de doutoramento, que uma aluna minha vai desenvolver, focando a presença e os efeitos dos estrogénios no meio ambiente.
O lançamento de certas substâncias no meio ambiente pode ter consequências muito desagradáveis para várias espécies, inclusive a nossa. Muitas dessas substâncias são dotadas de efeitos de disrupção endócrina, facto que pode contribuir para os desequilíbrios ecológicos, favorecendo o aparecimento de tumores, alterações comportamentais, compromissos do desenvolvimento, infertilidade e, até, sobretudo nas espécies mais sensíveis, modificações sexuais muito importantes.
O uso de estrogénios sintéticos, através dos contraceptivos orais, constitui um risco nada discipiendo. Basta ver o número de mulheres que os utilizam por esse mundo fora. Quase que poderíamos dizer que a Natureza anda a “engolir” pílulas de proporções gigantescas. Resta saber se os meios de que dispomos hoje, caso das estações de tratamento de esgotos, conseguem impedir ou minimizar o impacte ambiental. A ver vamos!
O estudo poderá esclarecer um pouco mais sobre esta matéria ao analisar os diversos estrogénios, os de origem natural e os sintéticos, assim como os seus efeitos nos batráquios, animais muito sensíveis a estes químicos. Parece que estes andam muito “perturbados” e não é razão para menos.
Importa referir que outras substâncias lançadas no meio ambiente são, também, suscetíveis de provocar infertilidade masculina como é o caso de pesticidas e medicamentos anti-androgénicos, no último caso destaque para a flutamida e a ciproterona usados no tratamento do cancro da próstata.
Ao redigir o parecer, lembrei-me, naturalmente, da publicação de um artigo de um médico espanhol, no L´Osservatore Romano, no qual foca o papel dos contraceptivos como tendo um efeito devastador no meio ambiente, constituindo “uma das principais causas de infertilidade masculina no Ocidente”. O que é curioso, é o facto de invocar a encíclica Humanae vitae como uma “profecia científica”. Este documento, como é sabido, proíbe o uso de contraceptivos, incluindo os orais. De acordo com o médico espanhol, a contaminação ambiental provocada pela libertação de hormonas, através da urina das mulheres que usam a pílula, “é um dos motivos pelos quais o homem no Ocidente produz cada vez menos espermatozóides”. Sendo assim, se as mulheres não usassem a pílula, os homens não corriam riscos de ficar inférteis!
Resta saber o que é que o meu douto colega diria se soubesse - às tantas até deverá saber -, que as mulheres menarcas excretam diariamente cerca de 3,5 mcg de estradiol, 8 mcg de estrona e 4,8 mcg de estriol. Se já entraram na menopausa então as doses diminuem para 2,3 mcg, 4 mcg e 1 mcg, de estradiol, de estrona e de estriol, respectivamente. No entanto, durante a gravidez eliminam, em média, 259 mcg de estradiol, 600 mcg de estrona e 6.000 mcg de estriol! Quanto ao estrogénio sintético, as que tomam as pílulas, a eliminação estimada é da ordem dos 35 mcg/dia. Mas não se pense que os homens não eliminam estrogénios! Eliminam pois, um pouco menos que as mulheres na menopausa, mas eliminam!
Quando se comparam as excreções de estrogénios durante a gravidez, face aos outros períodos na vida da mulher, verificamos que as quantidades eliminadas durante aquele estado são muito elevadas. Se não houvesse contracepção eficaz, o número de gravidezes aumentaria e os estrogénios lançados na Natureza também. Pergunto: Neste caso não haveria contaminação ambiental susceptível de provocar infertilidade masculina?
É preciso de facto esclarecer melhor estes problemas, independentemente da forma como se pretende utilizar o conhecimento.
O artigo de Castellví tem o condão de estimular e despertar o interesse por estas áreas. A sua formação levou-o à Humanae vitae, o presente estudo vai levar a minha doutoranda às ETARs...

2 comentários:

Bartolomeu disse...

Lembro-me de em criança me perguntarem com alguma frequência "o que queres ser quando cresceres"?
Não sei, respondia invariávelmente. Alguns exibiam um sorriso meio amarelo, que identificava um pensamento: "coitado do miudo, deve ser parvo", outros insistiam: "mas não ha assim alguma coisa que gostes mais"?
Nessas alturas o meu olhar perdia-se num mundo indefinido e o meu pensamento percorria galopante um monte de profissões que me agradavam, por último estacionavam numa, médico. Quando comecei a manifestar essa vontade, começaram imediatamente a surgir os avisos, como quem anuncia um castigo: "para isso vais ter de estudar muito".
Oh c'um raio. Mas para curar pessoas, é preciso estudar assim tanto!?
Só por volta dos meus 14 anos, quando um médico especialista de otorrino que morava no andar ao lado, a casa de quem ia com frequência me mostrou uns "calhamaços" com descrições de diferentes doenças bocais e nasais, acompanhadas de fotos ilustrativas, é que tomei a consciência aproximada do que seria necessário aprender para poder um dia ser médico.
A partir dessa altura, "mudei de agulha" e decidi que afinal ía ser veterinário. "azar das Antas", para isso iría ter de estudar práticamente tanto, como para ser médico. Conclusão: das duas uma, ou estudava, ou mudava novamente de rumo, como me mantive desde início de relações cortadas com os livros e os discursos dos professores me causavam uma sonolência dos diabos, nem médico, nem veterinário.
Mas, como é natural, todos estes contratempos têm uma razão de ser.
É que se tivesse estudado e conseguido atingir o lugar da sua aluna, caro Professor, o Senhor iria ter um péssimo aluno para corrigir.
;))
Ou talvez não... não, estou convencido que se tivesse sido "bafejado" pela força de vontade, ía ser um bom médico, pelo menos um médico com um bom sentido de humanidade. Aliás, acho que tinha sido um bom operador, ainda hoje me seduzem as reportagens nos canais da cabo onde mostram a forma como decorrem certas operações. Em minha casa ninguem fala comigo quando assisto a esses programas. Vai ver que um dia ainda consigo operar por simpatia.
;)))))

Suzana Toscano disse...

Quando li "O Perfume"de P. Suskind, vi que nunca tinha pensado no modo como eram feitos os curtumes ao longo dos séculos, até a indústria química ter soluções menos naturais. Aí se descreve que a urina utilizada para curtir as peles vinha dos hospital perto do local escolhido, ou o local era escolhido por causa dessa proximidade. É claro que a matéria prima não faltava, porque os operários que cheiravam e mexiam no ácido engrossavam a curto prazo as enfermarias do hoapital! A natureza e os seus ciclos de reciclagem, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma...para o bem e para o mal!