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domingo, 14 de junho de 2009

O futebol, a ética e a lógica económica...

Não percebo nada de futebol, nem do negócio nem das técnicas. Sou capaz de acompanhar em casa um jogo de futebol, em especial quando joga a selecção de Portugal e estou na companhia de pessoas que gostam e vibram com o futebol. Acho piada que levem a sério esta ou aquela jogada, o jogador que deveria ter corrido pela esquerda mas que afinal passou a bola para o centro perdendo-a para a outra equipa, a falta marcada ou indevidamente assinalada pelo árbitro, o golo mais ou menos jeitoso ou espectacular, os “frangos” de algumas jogadas, o cartão amarelo que sabe a pouco ou o cartão vermelho indignadamente mal aplicado.
Sei que o futebol é um espectáculo que move grandes quantidades de dinheiro, mas fiquei surpreendida com o montante a que ascende a transacção comercial de Cristiano Ronaldo – cerca de 100 milhões de euros – e com a remuneração anual que lhe está prometida durante seis anos – 10 milhões de euros.
Um futebolista que vale todo este dinheiro é com certeza um génio, é alguém com um talento superior, capaz de grandes feitos e de fantásticas vitórias, capaz de mobilizar milhões de paixões e milhões de euros. O mundo do futebol tem a sua própria lógica económica, investindo milhões de euros em ídolos na expectativa da sua multiplicação. Tudo em nome da glória dos clubes mais poderosos do mundo.
Ainda assim, penso que montantes daquela grandeza são desproporcionados e injustificáveis num momento em que uma crise económica já enviou para o desemprego milhões de pessoas. Sei que muitas pessoas não pensam assim, dizendo que uma coisa nada tem que ver com a outra.
Há pouco ouvi na televisão o presidente do Real Madrid dizer o seguinte, quando questionado sobre o que explica o preço pago pelo Cristiano Ronaldo:
"Estamos numa altura muito sensível, mas o futebol continua a ser um produto fantástico. Não para comprar e vender, mas um produto que dá às pessoas aquilo que elas querem - emoções. Elas querem as estrelas".
Fiquei esclarecida!

10 comentários:

Bartolomeu disse...

Ficou esclarecida!?
A sério, cara Drª. Margarida!?
Bom, se o diz...
;))
Mas olhe, futebol interessante, foi aquela partida disputada ontem entre a fundação Figo e outra que agora não me consigo lembrar.
Um jogo que foi bastante jogado, apesar de calmo e que teve acima de si mesmo o ideal da causa social.
Um jogo com golos engraçados, sem faltas, apesar da marcação de uma grande penalidade. Um jogo em tudo igual áqueles que os miudos do tempo em que fui criança, jogavam nos largos e nos campos baldios dos bairros.
A assistência vibrou com as jogadas, com os ídolos, com a apresentação após o balneário do cantor Toni Carreiras, etc. foi uma mão-cheia de coisas boas, que extravasou do rectângulo para o mundo. Um excelente espectáculo televisivo e desportivo, mesmo para quem não entende népia de futebol nem das jogadas financeiras ou (e) políticas que o fazem ser um desporto tão comentado, amado e... odiado.

Rui Fonseca disse...

Compreendo as suas interrogações, que também subscrevo.

Mas eu colocaria a bola noutro canto do terreno.

Acerca deste assunto, coloquei ontem no meu caderno de apontamentos, um comentário que não transcrevo para aqui por ser longo demais.

Mas que, se a sua paciência for tanta, pode ler em

http://aliastu.blogspot.com/2009/06/acerca-da-irresponsabilidade-ilimitada.html

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Rui Fonseca
Estive a ler o seu apontamento "ACERCA DA IRRESPONSABILIDADE ILIMITADA".
Sem dúvida que "Em princípio não há razões para criticar os bancos que preferem conceder crédito para as transacções futebolísticas a financiar projectos direccionados para o aumento da competitividade das produções de sectores transaccionáveis".
Estando em causa a gestão de riscos, nada haverá a dizer se os bancos acautelarem prudentemente os créditos e garantias que prestam, ou seja, as poupanças que lhe são confiadas, não fazendo perigar o risco sistémico.
Mas não deixa de ser preocupante que a actividade creditícia bancária não privilegie o financiamento da economia real. É que no limite é a economia real que permite que os "cristianos ronaldos" sejam transaccionados e pagos pelos montantes em causa.
É justamente desproporcionado e inquietante que assim aconteça. Quando 100 milhões de euros poderiam matar a fome a 8 milhões de pessoas em África não consigo ficar indiferente...
Mas é como o Caro Rui Fonseca diz: "Nada a fazer: mais valem as emoções de cá que as refeições de lá".

jotaC disse...

Cara Dra. Margarida Aguiar:
Confesso que gosto de ver um bom jogo de futebol sentado no sofá da minha sala. Salvo erro fui até hoje meia dúzia de vezes assistir a jogos do Benfica e do Porto. Dá-me mais gozo ir a uma discoteca levar com aquele “sound” maluco do que suportar os gritos e os encontrões dados no assento por aquelas pessoas que berram que nem cabras, desejando serem escutadas, lá em baixo, pelos seus ídolos (sem ofensa, obviamente, a quem gosta de futebol). Portanto, não sou um adepto incondicional de tudo o que se passa naquele nebuloso mundo, nomeadamente, nos valores astronómicos que envolvem as transferências dos jogadores.
Por exemplo, consigo entender muito bem que o objecto diamante xpto, valha não sei quantos milhões, pois, dizem, é único, a sua beleza e características são eternas, o seu valor não sofre depreciação, bem pelo contrário…
Neste conturbado mundo do futebol em que a lei da oferta e da procura é exacerbada, atribuir valores desta grandeza a um jogador de futebol é, dizem já alguns comentadores espanhóis, um passo demasiado grande mesmo para o Real Madrid.
Apesar do nosso compatriota Ronaldo ser "alheio" a este negócio, e não ser o objecto diamante xpto mas um simples mortal com dois pequenos diamantes pendurados nas orelhas, desejo-lhe todo o sucesso de modo a justificar aos espanhóis e ao mundo o porquê do valor desta transferência…

Suzana Toscano disse...

Concordo consigo, Margarida, parece que quanto mais crise mais absurdos destes encontramos, o futebol tornou-se um negócio gigantesco que só voltará ao normal quando mais esta "bolha" rebentar. O que me deixou boquiaberta foi um apelo que ouvi, acho que de um empresário de futebol, a dizer que "é precisa regulação" do futebol para que estes desvarios acabem. Regulação? Do futebol? Valha-nos Deus, de que mais se irão lembra?

Guilherme Machado disse...

Foi o presidente da Fifa, não o do Real Madrid.
Assim como assim esse dinheiro há de sair do Manchester para o mercado...

Guilherme Machado

Adriano Volframista disse...

Cara Margarida Aguiar

Tinha prometido a mim mesmo que não comentava, em Portugal, nada que se relacionasse com futebol, mas vou fazer uma excepção porque considero que este assunto do Ronaldo está, como sempre em Portugal, tratado de acordo com a metodologia do "Eu acho".
Factos
Os € 93/94 Milhões vão, suponho, em 80/85/% para o clube do jogador, que, amortiza o que gastou e ainda paga a outros.
O jogador se ficar, fica com uma pequena parte que tem de repartir com o seu agente.
Nos próximos dez anos, o Sr Ronaldo vai ganhar +/- € 72 Milhões que ainda tem de pagar impostos, +/- 20%.
No final de uma carreira curta,que não dura mais do que entre 20 e 25 anos, o Sr Ronaldo deve, sem grandes problemas ganhar/amealhar entre € 120 e 170 Milhões. Desta carreira, apenas nestes 10/12 anos é que vai amealhar 80% da sua fortuna.
(Ninguêm se recorda que, nos próximos seis anos o risco do Sr Ronaldo ter uma lesão grave é 50D vezes superior aos dos comuns dos mortais e cerca de 30 vezes mais do que qualquer dos seus colegas de profissão)
Dir-me-á é um homem rico, sim; voltará a dizer, ganha mais do que a média,sim;
Vamos a comparações:
O Sr Tiger Woods é o melhor golfista da actualidade e, dentro em breve de todos os tempos, dentro em breve é nos próximos 4/5 anos.
O Sr Tiger Woods vai ter uma carreira desportiva, se assim o desejar entre 35 e 55 anos, dos quais mais de metade, isto é 20/25 pode manter-se no pico de forma.
O Sr Tiger Woods ganha de patrocínios, por ano entre USD$ 20 e 30 milhões, a amioria dos contratos são por 10/15anos;
Ganha de prémios de jogo por temporada, em média +/- tem ganho, nos últimos dez anos +/-USD$ 12 MIlhões por ano. Nota o Sr Tiger Woods tem +/- 26 torneios por ano e o Sr Ronaldo tem, em época fasta, +/-70 jogos por ano.
O Sr Tiger Woods, contas por baixo já ganhou +/- USD$ 600 milhões e alcançará o bilião (americano) dentro de +/- 4/5 anos.
Ora o Sr Tiger Woods ainda tem, pelas contas dos analistas mais 20 anos pela frente a uma média de USD$ 15 Milhões por ano, o que acha que vai arrecadar?
Ah Sim o Sr Tiger Woods, não tem qualquer clube, apenas uma agência profissional. (Ah sim as possibilidades do Sr Woods contrair uma lesão incapacitante são 400 vezes inferiroes às do Sr Ronaldo).
No golfe profissional os primeiros quarenta melhores do PGA (o circuito professional norte americano, ganham na carreira entre 50 e 500 milhões de USD$)e o 125º pode bem fazer sem problemas USD 500/600.000
No futebol só uma pequeno número de jogadores ganha alguma coisa semelhante ao último dos jogadores profissionais de golfe.
Já reaparou que assim, o Sr Ronaldo até nem ganha nada de especial.
Declaração de interesses: não gosto especialmente de futebol, nunca o pratiquei com regularidade e para desporto de contacto, o lacrosse é, fisicamente mais violento e mais técnico e não podemos desculparmo-nos com o árbitro ou a relva.
Cumprimentos
João

antoniodosanzóis disse...

Cara Margarida
Considero um ultraje a quem passa mal e são muitos entre nós, este "passe" de capitalismo selvagem, traduzida por uma aplicação cujos resultados em termos empresariais gostava de conhecer no final do contrato.Mas é na perspectiva social que mais me choca esta alucinante operação e a falta de disciplina que tudo isto exibe no quadro de uma uefa. Por outro lado, tratando-se de capitalismo selvagem, julguei que ia assistir a paradas sensacionais de protesto contra esta provocação social, da parte do Partido Comunista e sobretudo dos inefáveis B.E., estes com o Dr. Louçã à frente, lembrando os tempos da sua propensão política para um regimen
que a pobre Albania suportou. Enfim, falando mais a sério, anda tudo numa de loucura incontrolável, que espero bem que neste caso, não crie problemas graves financeiros graves ao distinto Real Madrid.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Gostei muito da iniciativa do Figo. O futebol tem grandes potencialidades de contribuir para causas sociais. Haja pessoas que tenham vontade e talento para o fazer.
Caro jotaC
O problema é que são poucos os "cristianos ronaldos". É a lei da procura e da oferta a funcionar. Pouco oferta para uma maior procura leva à inflação dos preços. Ainda assim, os montantes em causa são um absurdo.
Suzana
As "bolhas" especulativas não são eternas. É como a Suzana vaticina, o negócio só voltará ao normal quando a "bolha" estoirar.
Caro joao
Vejo que sabe imenso de golfe. Os números que apresenta são impressionantes!
Sendo o risco de lesão de um futebolista muito elevado, bem maior do que no caso de um golfista, o risco de não rendibilizar o preço pago deveria crescer com o aumento deste. Sendo assim, não se compreendem os montantes em causa porque o risco é muito elevado.
Acha que estou a ver bem o problema?
Caro antoniodosanzóis
Alucinante é um excelente qualificativo para caracterizar o ponto a que chegou o negócio dos "passes"!

Adriano Volframista disse...

Cara Margarida Aguiar

Duas notas:
a) Concordo com o seu post. O comportamento do Real de Madrid é de risco, tanto económico, como político, como social. Não existem mecanismos de regulação que permitam limitar estes montantes, como sucede em Inglaterra.
b) No quadro mais geral dos desportos profisionais, os futebolistas de elite nem são os mais bem pagos, correm (comparativamente) mais riscos que outros desportos e nem sequer tem um tempo de carreira muito diferente dos outros; daí a minha comparação com o golfe, mas pode fazer com o automobilismo, o basebol ou, ainda, o basquetebol.

Cumprimentos
João