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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Simples para um Deus...

Perante a perda de alguém, as reações variam de pessoa para pessoa: dor, indiferença, tristeza, estupefação, raiva, ódio, desespero e incompreensão.
Um pouco de tudo ou muito de nada? Não interessa. Dificilmente qualquer um poderá passar em frente sem olhar, sem ler, sem rezar, sem lamentar, enfim, sem sentir algo...
De todas as mortes que já presenciei ou tomei conhecimento, a que mais me dói, a que mais me aflige, a que é a mais injusta, é aquela em que os pais são confrontados com o desaparecimento de um filho. É a situação mais antinatural das mortes quer sejam elas gratuitas ou não, e que grassam por aí sob o olhar divino de quem se esqueceu ou ignora a dor da perda. Deve ser a única circunstância em que um ser vivo tem consciência da própria morte. Um “vivo-morto”, um corpo sem alma.
Mesmo que já tenham passados longas décadas, é líquido ver aveludados olhares a escorrerem pelas faces, sempre que haja um recordar. Passar em frente de uma fotografia amarelecida, tocar num brinquedo sacralizado, acarinhar uma peça de roupa cuidadosamente guardada numa arca, ouvir o nome na boca do vento, olhar para o sorriso de uma criança ou sentir a inquietude e a aspiração de um jovem, tudo serve para avivar as feridas da dor e a nostalgia de uma vida cheia de esperança ceifada, prematuramente, pelo anjo da morte a mando do seu senhor. Que raio senhor! Por que fazes isso? Por que deixas que tal aconteça? Não queres responder? É isso! Ou será que nem tu sabes o que fazer ou dizer?
Dizem, mas eu não acredito, que tiveste a inteligência de “desenhar” os seres vivos e, entre estes, nós. Olhando bem à volta, parece-me mais ser o resultado de um “design imperfeito” do que outra coisa. O melhor é admitires que o aparecimento da vida foi um mero acaso, que te surpreendeu, e que a sua evolução, cheia de imperfeições, de compromissos, de beleza e de dor, arrasta-nos, penosamente, para o inferno dos deuses. Mas se quiseres participar na evolução, ainda vais a tempo, ao menos não os leves antes dos pais. Haverá coisa mais simples para um Deus?

3 comentários:

PA disse...

Caro Professor, é verdade, sem dúvida, os filhos deveriam morrer sempre depois dos pais.

A perda de um filho é uma dor infinita que fica para sempre.

Conheço situações de pessoas que nunca mais recuperaram dessa irreparável perda.

No fundo, morreram com o filho que perderam.


Respeitosos cumprimentos com Amizade.

Unknown disse...

Caro Professor
Concordo que é um desgosto contra-natura.
Concordo que nenhum progenitor deveria ser sujeito a tal dor.
Vi a semana passada a minha irmã confrontar-se com essa dor, vi o sofrimento que Deus lhe infligiu pela segunda vez.
Se a primeira filha que perdeu tinha 3 dias, a que perdeu agora tinha 43 anos.
É uma dor que nem quem é pai ou mãe, pode avaliar.
Na Igreja onde a minha sobrinha foi velada e no altar que estava em frente da minha irmã, estava uma imagem de N.ª Sr.ª das Dores.
Nunca tinha “visto com olhos de ver” essa imagem com o punhal cravado no peito e o sofrimento nos olhos.
Não sei quem foi o autor da imagem, nem do culto a essa face de N.ª Senhora, mas a verdade é que para quem acredita que Jesus veio dar-nos um exemplo de vida, Ele próprio infligiu essa dor à Sua Mãe.
Com os meus cumprimentos

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso
É um desgosto desumano. É uma perda irreparável, que muitos pais não suportam, transformando a sua vida numa verdadeira "condenação à morte".
Ainda no Sábado passado caminhava com a minha Mãe e encontrámos uma amiga de infância que estava irreconhecível. Sentimos a "vergonha" de nos contar que tinha perdido a filha. As palavras foram poucas porque numa situação destas é pouco tudo o que se possa dizer...