Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 28 de julho de 2009

Doutorado em improvisação!....

Hoje de manhã, o noticiário de uma estação de televisão apresentava uma qualquer senhora que, segundo ia ouvindo com pouca atenção, explorava tendências artísticas muito pessoais. Mas fiquei desperto quando, no fim da notícia, o jornalista referiu que a senhora era doutorada em improvisação!...
Para fazer jus ao nome, certamente que se trata de um doutoramento improvisado, noblesse oblige...mas talvez não muito diferente dos doutoramentos em série e por atacado, sonho que facilmente as Universidades satisfazem a qualquer recente mestre de Bolonha.
E mestre bolonhês doutorado obviamente não fica por aí. Improvisará de imediato um pós-doc como alternativa digna ao Fundo de Desemprego, mas que lhe garante uns anos de sobrevivência.
Afinal de contas, doutorados em improvisação é o que mais há. Mesmo sem queimar as pestanas a estudar tal arte!...

11 comentários:

Bartolomeu disse...

Caro Dr. Pinho Cardão, ha muito que não tinha o gosto de o "ver" em forma de post (é o mal que tem a época de veraneio).
Essa "coisa" do improviso, tem muiiiiiito que se lhe diga. No tempo da minha mãe, improvisar era sinónimo de aproveitar com maestria inultrapassável a carne ou peixe que sobrara do almoço, juntar-lhe ingredientes mágicos e transformar o conjunto num prato muitas vezes mais apetitoso que aquele que lhe tinha dado origem. Ou então, transformar em calções umas calças que devido à minha permanente irrequietude tinham adquirido um rasgão na zona do joelho. Improvisar era também adaptar uma camisa de colarinhos já gastos, a pegas de cozinha, ou a panos de pó, ou a sacos para o pão, que se usavam naquela época, porque conservavam melhor o pão macio.
Por todas estas e mais uns centos de outras improvisações em que as mulheres daquele tempo eram doutoras pela Real Universidade da Vida, mereciam todas elas que lhes fosse atribuido o título de catedrática. A minha já é!!!

jotaC disse...

Pois há, caro Drº Pinho Cardão, e estão em todo o lado, com total sucesso nas suas carreiras, pagas pelo Estado, obviamente.
Interrogo-me, muitas vezes, o porquê de tanto sucesso de quem visivelmente pouco ou nada se colhe; e encalho sempre no mesmo beco: são atrevidos ao ponto de perceberem de que, quem sanciona, demitiu-se de exercer o seu poder, talvez por preguiça ou talvez por conveniência, não vá a formiga ter catarro! E mesmo que assim não seja, qualquer "improvisador" pode, à face da actual legislação, ocupar, por exemplo, um lugar na carreira de técnico superior, sem qualquer licenciatura. Basta apenas que a madrinha prepare o enxoval, porque o padrinho, esse coitado, é sempre o último a saber, e acaba sempre por acreditar...
Por isso caro Drº, ou acertamos o passo com eles, com estes improvisados, ou acabamos por nos tornarmos as suas vítimas.

João Pais disse...

Santa ignorância, Dr. Cardão. Normalmente os seus comentários são mais inteligentes que isto. O senhor não disse claramente (era mais importante dizer mal), mas imagino que a tal senhora improvisa na área da música. Diga-me, alguma vez já ouviu uma peça de jazz? Que acha que seria deste tipo de música sem improvisação? Ou já ouviu algum músico de "música antiga" a executar uma peça barroca? Sabe que importância tinha a improvisação na altura?
Ou será a sra. era pintora? Já reparou que Kandinsky tem vários quadros chamados "Improvisação ..."?
Será a sra. uma musicóloga ou investigadora? É que já há muitos anos que existem teses de doutoramento sobre vários tipos de improvisação. Já haviam antes do Bolonha, e haverá mais depois - mas o Sr. também não disse quando é que a tal sra. completou o seu grau. Foi recentemente, ou já há mais tempo?

Enfim, Dr. Cardão, espero que da próxima vez se esforce mais um pouco. Não improvise tanto - no mau sentido. É que há muitos improvisadores interessantes.

Tonibler disse...

Caro Pinho Cardão,

Todos os MSc e todos os PhD desta vida o são no "modelo bolonhês", como por exemplo o PR e isso não o impediu de dar aulas (numa universidade privada, é certo) durante muitos anos. Aliás, só alguns países de sucessos científicos "notáveis" como Portugal e Espanha é que não seguiam essa modelo, porque todos os países de Leste, todos os países debaixo da tradição inglesa seguiam esse modelo. De fora do modelo na história da ciência fica...nada. Por isso, falar de forma depreciativa do modelo não me parece correcto(até porque muito em breve acabarei o meu primeiro MSc e não será o último)

Pinho Cardão disse...

Caro Bartolomeu:
Bela e bem real a sua improvisação. Ela ainda existe,heróica, no silêncio de muitas vidas, que procuram bastar-se a si próprias. Mas a maioria improvisa na rua, sempre à espera que outros resolvam o seu problema. E obrigado pelas suas palavras...

Caro JotaC:
De facto há por aí uns artistas improvisadores de altíssimo coturno que sabem levar a água ao seu moínho, ou, mais exactamente, que conseguem que nós levemos gratuitamente a água ao moínho deles...

Caro João Pais:
Onde o meu amigo vai!...
Deixe-se lá de melindres e não leve as coisas tão a sério e à letra.
Como disse que não estava com atenção à notícia, eu sei lá em que é que senhora improvisa!...
Fiquei é fascinado por ter sido dito que era doutorada em improvisação. Aqui no ano passado, soube de uma outra senhora, ou senhor, doutorada ou doutorado em pronomes possessivos, pela Faculdade de Letras de Lisboa.
Acho piada, que quer?
Ah, e pensava cá na minha que os nomes grandes do jazz, de Nova Orleães ou Nova York, improvisadores por excelência, não eram doutorados na arte, apesar de catedráticos. E também sei que os manos Pinto Barbosa, praticantes da arte, até são doutorados, não em jazz, mas em economia. E improviam bem numa e noutra.
Vá lá, olhe que desgraças já chegam, não seja assim susceptível. E nada de confundir cultura com improvisação...

Pinho Cardão disse...

Muito bem, caro Tonibler, mas desta vez não concordo nada consigo.
As empresas precisam quem domine os agora denominados "hard skills" da profissão, mas começam agora a reparar que os "soft skills" da gestão não são menos necessários.
Os bachareis, com aprendizagem, poderão dominar alguns dos mais imediatos "hard skills". É certo que muitos doutorados também não dominam muitos dos "soft skills".
Mas uma Universidade digna desse nome deve propiciar pelo menos a introdução e a sensibilização para essa aprendizagem. E isso não se faz em cursos acelerados.
Deixe-se isso para os Institutos Tecnológicos.

Tonibler disse...

Mas, caro Pinho Cardão, mestrado é mestrado e doutoramento é doutoramento. Não houve alteração nenhuma com Bolonha, tirando o facto de hoje haver muito mais gente a fazer mestrados, com tudo o que isso tem de positivo. Se há soft e hard a apreender, pois estão aí milhares de vagas em mestrados para preencher. Mais, até hoje toda a gente elogiava muito os mestrados e doutoramentos feitos no estrangeiro que, por sinal, já cumpriam com a nova filosofia. Passamos a ser nós a ter esse modelo, e agora são "mestrados bolonheses".

E das área que conheço melhor, que são as que interessam :), 3+2+2+... é sempre muito melhor que 5+0. Sempre. Como aliás a tremenda evidência dos números que fazem a nossa história demonstram.

Suzana Toscano disse...

Caro Pinho cardão,eu não sabia que já há doutoramentos em improvisação nem que essa arte já é reconhecida como uma ciência, ora isso dá-me um grande alento porque conheço um jovem (por sinal é grego...)que vive dessa arte na Holanda, fazendo espectáculos que têm imenso sucesso.Devo dizer-lhe que sou testemunha do intenso trabalho de preparação, que inclui profundos conhecimentos de história, da cultura dos povos, da actualidade política e social e além disso desenvolve uma extraordinária capacidade de observação dos hábitos e das reacções das pessoas, que aproveita magistralmente quando está a actuar em público. E é um conversador interessado e muito atento. O que tenho visto é que este autodidacta precisaria de alguma orientação para não perder tempo com curiosos que pouco lhe podem ensinar, há imensas conferências, work shops, concursos e cursos de escrita criativa e sei lá mais o quê.É um mundo interessante e, para nós, habituados ao ensino "estruturado", absolutamente surpreendente.Mas que possa dar doutoramentos, enfim, pelos vistos já houve quem tenha organizado as matérias que interessam e assim aproveitar a criatividade e os dons dos artistas, parece-me um progresso, e talvez com essa roupagem do título académico essa arte venha a ter o reconhecimento que, a meu ver, é bem merecido.Na Holanda, os espectáculos de improvisação são um sucesso, sobretudo entre os jovens, que dão motes para o desenvolvimento da peça de teatro e são críticos ferozes.

Ruben Correia disse...

Caro Tonibler, pode elaborar sobre a afirmação que faz de serem iguais os mestrados pré- e pós-Bolonha? Do que vejo, bacharelato (3 anos) passou a licenciatura e licenciatura (5 anos, estou a falar de cursos sérios...) passou a mestrado (3+2 anos). Isto para não falar no custo global para se atingir os tais 5 anos, que podem ser bem superiores no actual cenário.
É que sei de casos em que para passar a licenciado/"mestre" de Bolonha bastou o pagamento de propinas. Ou será que está tudo no nome que se usa?

Tonibler disse...

Caro rxo,

Os MSc do Imperial College deixaram de ser bons agora? Não deixaram, pois não? E, no entanto, sempre foram frequentados por BSc. Então porque é que os da FCUL ou da FCTUC passam a ser maus de repente?

Esse caso não sei. Sei do meu caso que me deram equivalência a 3 cadeiras. 3! A razão foi simples, há 20 anos as coisas eram completamente diferentes. Como quis dizer aí em cima, se o nosso sistema era tão bom, porque é que os resultados eram tão maus? E se o sistema dos outros era tão mau, porque é que os resultados deles eram tão melhores que os nossos???

Claro que nos próximos 5 anos, uma licenciatura pré vai ser valorizada pelo mercado de trabalho como um mestrado, mas daí para a frente não vale nada. Imagine um licenciado em Eng Informática há dez anos, para que é que serve hoje se não acrescentou nada à sua formação?

Wegie disse...

Tonibler o rxc precisa que alguém lhe explique que de facto Bolonha só alterou a duração do 1ºCiclo, Lic, BSc.Os mestrados ou MSc anglo-saxónicos mantiveram a mesma duração. Quanto ao PhD é uma verdade o que disse relativamente ao PR e muitas outras pessoas que se doutoraram em UK ou USA. De facto são elas as docentes das nossas universidades públicas actualmente. Por outro lado desafio aqui a uma consulta a inúmeras teses de doutoramento feitas em Portugal e que nunca foram públicadas. Existe obrigatoriamente um exemplar na BNP. Poderão ter surpresas chocantes e descobrir por exemplo que uma tese da FLUP sobre a questão religiosa na 1ªRepública não passa de um amontoado de fotocópias de jornais da época. Assim. Sem mais nada. Aprovada com Louvor e Distinção.Este é um exemplo entre muitos. Poderia passar aqui dias a fio a discorrer sobre o assunto.
Tudo isto sem deixar de encarar com reservas os mestrados em gestão de campos de golfes e afins da UAlg. Mas a licenciatura em lazer e recreação da UTAD já é relativamente antiga.