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sábado, 25 de julho de 2009

"Sexta-feira sem carne"...

Ao começar esta crónica tenho que fazer uma declaração de interesses: sou um adepto de carne. Reconheço o papel da carne no nosso bem-estar e desenvolvimento. Se não fosse esta apetência, provavelmente ainda viveríamos paredes meias com os macacos e com um cérebro pequeno demais para poder pensar, criar e decidir. Acontece que nos dias atuais, falando do mundo ocidental, consome-se carne em demasia. Ao comermos carne em excesso, provocamos doenças nos nossos corpos e doenças no ambiente. Começando pelas últimas sabe-se que um dos principais gases com feito estufa tem origem nas vacas. Cada vez há mais vacas, logo, aumenta a produção do metano, o gás mais poderoso em termos de efeito estufa, mais de vinte vezes superior ao dióxido de carbono. As vacas eliminam-no de três maneiras: arrotando, deixando-se ir... e através de bostas fumegantes. Quem já teve oportunidade de “conviver”, por alguns momentos, com estes animais sabe do que estou a falar!
A necessidade de aumentar a produção de carne de vaca, de porco, de carneiro, as ditas carnes vermelhas, leva, também, a outras alterações ambientais, nomeadamente através da produção de cereais e diversos produtos vegetais com o objetivo de os alimentar, traduzidas na desflorestação e queimadas em várias partes do globo. Podemos comer um bife de vaca produzido com proteínas vegetais oriundas de um terreno agrícola nascido de uma queimada lá para as bandas da Amazónia! Daqui se infere outro tipo de perturbação ambiental, agravado, ainda, pelo facto de ser necessário muitos quilogramas de proteínas vegetais para produzir um quilograma de carne. Os cálculos da F.A.O. permitem afirmar que o setor agropecuário emite mais gases com efeito estufa que o setor dos transportes.
Face a esta realidade, alguns movimentos têm vindo a terreiro no sentido de reduzir o consumo de carne, e a produção agropecuária, promovendo um dia da semana sem carne. Na Inglaterra, o próprio Paul McCartney já aderiu ao programa “Segunda-feira sem carne”.
A par das doenças ambientais, acresce os problemas na saúde humana. Não deveríamos comer mais de meio quilo de carne por semana, dois quilos por mês, vinte e quatro por ano. No entanto, verificamos que os portugueses consomem, em média, 86 kg de carne por ano! Se atendermos ao facto de muitos nem de perto nem de longe atingem aqueles valores, então, é porque há pessoas que ultrapassam aquela cifra, já por si elevada, embora não tanto como os nossos irmãos espanhóis, verdadeiros lambões na matéria, com uma capacitação anual de 121 kg! Notável! Mas, afinal, quais são as complicações do excesso de ingestão de carne vermelha? Cancro dos intestinos. Esta praga é mesmo diabólica e, de ano para ano, tem vindo a aumentar de forma assustadora, tornando-se numa das principais causas de morte. Além do cancro dos intestinos, cuja importância é tal, que já começaram, e bem!, a fazer rastreios, as doenças cardiovasculares devem em parte a sua origem neste alimento, para não falar na sobrecarga que os pobres rins têm que suportar.
Face a estas evidências, faz todo o sentido, informar, esclarecer e educar as pessoas no sentido de terem mais juízo quando têm que lutar com um bom naco de carne. Os excessos pagam-se!
A tentativa de criar um dia sem carne é de incentivar, embora haja, como seria de esperar, reações opostas provenientes dos que têm interesses neste tipo de negócios. Mas isso é o habitual, seja tabaco, bifes, genéricos, pasta de dentes, vinho, etc. Quando se põem em causa interesses económicos há quem estrebuche, insulte e ameace. Depois, acalmam e calam-se!
A Inglaterra escolheu a segunda-feira e a cidade de Gante, Bélgica, a “terça-feira vegetariana”. Portugal, ou melhor Coimbra, podia associar-se a esta iniciativa promovendo um dia da semana sem carne, com o objetivo de ajudar a saúde do planeta e a nossa. Para o efeito, estive a pensar qual seria o melhor dia e conclui que deveria ser a sexta-feira. O nosso país, de tradição católica, caracterizou-se até há alguns anos por não se comer carne às sextas-feiras, mesmo fora da Semana Santa. Recordo que em pequeno a minha avó dava-me peixe frito, pescada ou bacalhau nesse dia. Torcia o nariz às sextas-feiras, porque não era amante de peixe. Safava-me o bacalhau, mas só se fosse assado! Ora aqui está uma medida a reativar adaptando uma tradição religiosa numa tradição ecológica.
Confesso que não estou muito seguro do sucesso de uma iniciativa destas, entre nós. São poucas as pessoas que irão ler esta proposta. Mas como começo a ser atrevido, proponho que os candidatos dos diferentes partidos à autarquia de Coimbra, adotem medidas desta natureza, simples, objetivas e suscetíveis de contribuir para a saúde do planeta e das pessoas. De qualquer modo vou tentar que cá em casa seja decretado a sexta-feira como dia sem carne. Uma espécie de casual friday gastronómica, em vez de não se usar gravata, deixar-se-ia de usar carne... Mas tenho que convencer o pessoal!

7 comentários:

Henrique Pereira dos Santos disse...

Por mim, já dei o meu apoio em http://ambio.blogspot.com/2009/07/sexta-feira-sem-carne.html
henrique pereira dos santos

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso
Cada vez mais como menos carne porque tenho consciência do muito mal que faz.
Muitos dos problemas de saúde da sociedade moderna têm que ver com estilos de vida, entre os quais os hábitos alimentares. Educar e informar as pessoas sobre o que faz bem e o que é perigoso para a saúde será um caminho necessário. As pessoas enquanto consumidores têm o direito de estar informadas e prevenidas.
Estando em causa questões de saúde pública, os governos e a sociedade civil em geral deveriam empenhar-se na informação e na prevenção.
Os interesses económicos são um obstáculo, mas não são invencíveis. Vejam-se os progressos que, ainda assim, aconteceram com o tabaco.
Vai ver Professor Massano Cradoso que não terá resistências na sugestão do casual friday gastronómico. Sendo médico leva uma grande vantagem!

Bartolomeu disse...

Não está o caro Prof. MC, muito seguro da eficácia desta medida, não estou eu e não estarão muitos outros seres pensantes e se quisermos... carno-dependentes, ou flash-adicted, ou... bem isso agora não interessa nada.
Ao ideólogo eu perguntaria, (sem desprimor para a sua ideia) se um dia sem consumir carne, mesmo que a nível do globo fosse possível concertar-lhe a aderência, equivale a um dia sem vacuum-emissões de gás metanon e sem queimadas. E se nesse dia concertado, os espaços desmatados se voltarão a reflorestar...
Ao mesmo ideólogo perguntaria ainda se: sendo possível "converter" ao vegetarianísmo, 50% da população mundial (não mais, só para podermos fazer contas de merceeiro) eleminar-se-ia a necessidade de desmatar para criar espaços onde produzir o acréscimo de vegetais necessários para alimentar os tais "desertores"?
Ou seria necessário cortar ainda mais árvores, desmatar ainda mais por forma a conseguir produzir os milhares de toneladas das diversas espécies de vegetais que os tais 50% de almas que saltavam fora da genealogia?
Cada grão de cada pedra que constrói uma catedral, tem uma horigem, um percurso e um destino.
Pode não ser esse destino, o final, não será certamente, contudo, unido aos grãos de rocha que o cercam, ele consegue manter firme a empena que suporta toda a estructura, suportando ainda a força das tempestades, ou o calor tórrido do sol.
Talvez seja mais eficaz reformular a incontornável e irredutivel lei Lavoisierana e tentar que na natureza, nada se perca, na se crie e ajudar (com inteligência) a que tudo se transforme.

Massano Cardoso disse...

Chamar a atenção para a necessidade de reduzir o consumo de carne e não continuar no crescendo da exploração agropecuária é benéfico e muito positivo. Se hoje as vacas emitem muito metano, amanhã, com aumento da procura e agravamento da exploração ainda aumentará mais, logo, o problema vai-se acentuar. A medida enunciada permite prevenir situações de atentados ambientais e de doenças nos humanos. Tudo se transforma é verdade, mas os recursos naturais têm limites, a não ser que um dia consigam levar as vacas a pastar para Marte ou outro qualquer planeta. Até onde é lícito ir? O que fazer quando se ultrapassar os “pontos de não retorno”? Temos ou não temos o dever de contribuir para que não ocorram catástrofes que possam por em causa o equilíbrio e o desenvolvimento sustentável? É uma medida simples? provavelmente até é! Mas não é através de medidas simples que podemos resolver problemas complexos?

Bartolomeu disse...

Perdoe caro Professor, a brutalidade da minha ignorância, mas, em minha opinião, todas as medidas que a humanidade "julga, ou imagina" que tomou por sua livre iniciativa, com o fim de resolver ou alterar qualquer "problema" quer ambiental, social, político ou outro, nunca, mas mesmo nunca foram da sua exclusiva vontade.
Com este raciocínio, recaímos na lei de Lavoisier.
Aquilo que manda e comanda, são sempre as leis inequívocas mas invisíveis da natureza.
A Terra move-se numa conjuntura de planetas, galáxias e via lácteas, que a influenciam de todos os modos imaginários, nós, ínfimos seres humanos, não passamos de ínfimos, microscópicos peões-executantes no meio desta imensidão, de uma também ínfima parte dessa incomensurável grandeza.
Pensamos que temos a força e o poder suficientes para alteral aquilo que a nossa vontade, em conjunto com as restantes, desejar modificar, mas, mesmo quando sucede essa ilusão, não deixamos de ser o instrumento para que ela aconteça.
Ilusions, meu caríssimo Professor, são elas contudo que alimentam a nossa existência, porque se, este monumental caleidoscópio ilusionário, deixasse de funcionar e toda a humanidade baixasse os braços... a Terra morreria, se a Terra morresse, morreira todo o sistema solar, and so, and so, and so.
E já agora, para animar um pouco a nossa conversa:
http://www.youtube.com/watch?v=iiiWzVkdosU
;)

José Meireles Graça disse...

Não me leve a mal, caro Prof., mas o que eu anseio é um por um dia sem ser dia de qualquer coisa. Já há tanta gente a dizer-nos o que devemos e não devemos fazer para salvar as baleias, e para não engordarmos, e para não aumentarmos o buraco de ozono (ai, é verdade, este não, esqueci-me de que já começou a tapar) e para não apanhar a gripe suína e para...
Nesse dia pelo qual almejo e que não é dia de coisa nenhuma, vou jantar com os companheiros do costume e espero que, por uma vez, todos comam o que lhes apeteça, sem culpas e sem teorias nutricionistas ou outras. E se algo assentar mal, conto com um médico benigno para resolver o problema, tal como conto com o mecânico para me consertar o carro quando avaria - não para me ensinar a conduzir. Desculpe o tom um bocadinho ácido - é sem acinte.

Ilda Massano disse...

Por mim está combinado! Casual friday gastronómica, lá em casa, à sexta-feira!