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domingo, 5 de julho de 2009

Portugal, esse imenso centro comercial

Apesar do descontentamento nacional que se manifesta nos estudos sobre felicidade, nas estatísticas sobre pobreza e nos índices de confiança reduzida quanto ao futuro, os portugueses podem contar com alguns recordes que indiciam a nossa prosperidade, por isso ou andam distraídos ou afinal andamos a bater os máximos nas coisas erradas. Já temos a maior densidade de autoestradas da Europa, já ultrapassámos as metas nas energias renováveis, como se vê pela paisagem que nalguns pontos do País já parece um paliteiro, temos um mais que confortável índice de telemóveis e agora sabemos que, se precisássemos de nos abrigar todos dentro de centros comerciais, não ficava ninguém de fora. Não deixa de ser uma perspectiva curiosa, com um país tão bonito e um povo em regra amistoso e hospitaleiro, corremos em asfalto de modo a chegar mais depressa e sem passar por almas vivas, encafuamo-nos em edifícios horrendos, com luz artificial e onde raramente se vislumbra uma abertura para a rua, gastamos os feriados e os dias de sol a ver lojas que se repetem invariavelmente de uns centros comerciais para os outros. E depois andamos deprimidos, pudera!
Uma vez, há mais de 20 anos, ouvi uma palestra na América que tratava de explicar quais eram os sinais de identidade americana, e o orador encontrou como pontos comuns a todo o território...o McDonalds e a Pizza-Hut! Talvez tenha sido uma visão um tanto redutora, mas lembrei-me disso hoje quando li no Expresso esse exercício deprimente que nos mostra que os centros comerciais estão prestes a engolir-nos, que há mesmo 40 mil pessoas por dia num deles, que espera, com toda a razão, mobilizar 18 milhões de visitantes por ano!
O mais extraordinário é que parece que ainda vão continuar a construir-se mais gigantes do comércio, certamente como contributo para animar o desânimo lusitano. De facto, se os supermercados foram uma forma prática de por as pessoas a comprar muito mais do que pensavam que precisavam, como se prova hoje pela quantidade de conselhos para se fazer listas prévias ou mesmo para encomendar pela net para não haver tentações, os centros comerciais são supermercados de lojas, um verdadeiro exercício de “ainda mais difícil resistir”... Já repararam que, por mais que se compre, sai-se sempre frustrado por, mesmo no último minuto, terem caído os olhos em mais uma coisita que era tão giro se tivéssemos? É ver as famílias, cheias de sacos, a arrastar os garotos que ainda se voltam para trás, a cobiçar a montra que ilumina as escadas rolantes a caminho do estacionamento.E, já em casa, ao mesmo tempo que se mostram as novidades, relata-se com um queixume as hesitações ou lamenta-se não ter esperado para ver a loja seguinte porque aí , aí sim, estava uma coisa muito mais gira... O prazer da compra submerge à frustração de não se ter podido comprar ainda mais.
Que tal um passeiozinho ao ar livre, no campo ou à beira mar, em vez de se passar os dias de descanso a remoer nas tentações expostas em corredores e corredores de lojas, e que a crise financeira não deixa comprar (nem mesmo a abundância)? Talvez houvesse um significativa redução do endividamento das famílias e dos antidepressivos....

10 comentários:

Anónimo disse...

Cara Suzana, BRAVÔ, BRRRAAAVVVÔÔÔÔ, BIS!!! Aplaudo de pé este seu texto!

Pese embora saber que é assim, que os centros comerciais têm uma popularidade em Portugal que não têm noutros países, até mesmo como sítio de passeio, sempre me fez alguma confusão assim ser. É daquelas coisas que sei ser a realidade e portanto que remédio tenho eu senão aceita-la. Mas não deixa de fazer-me confusão que assim seja!

Pessoalmente não gosto de centros comerciais, nem sequer para fazer compras. Gosto dum certo tipo de atendimento e calma para fazer os meus consumos que nas lojas destes espaços não existem. Mas ainda sou capaz de entender que seja razoavelmente practico ir a um espaço destes quando se quer comprar uma série de coisas e que, no comércio tradicional, obrigariam a perder uma tarde entre várias lojas. Não o faço mas compreendo a lógica de quem o faz duma perspectiva de gestão do tempo. Até aqui eu ainda sou capaz de entender. O que já não entendo e enche-me de pasmo é ir-se passear para o centro comercial. Já é algo muito para além da minha capacidade de entendimento. Diria até que é o oposto do meu conceito de passear.

Daqui que, cara Suzana, quando li o seu texto, fiquei cheio de alegria por ver que, afinal, eu não sou o único a quem a centro-comercialite faz confusão. Como diria o Almirante Américo Tomás, "só tenho um adjectivo: gostei!".

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Temos que nos questionar porque razão os portugueses gostam, se é que gostam, de passar os seus tempos supostamente livres, nas catedrais do consumo em lugar de se interessarem por actividades mais saudáveis, quer de um ponto de vista físico quer de um ponto de vista intelectual.
Porque é que as pessoas preferem andar a consumir-se, num exercício tantas vezes de pura alienação, criando ilusões e frustrações, porque a verdade é que o rendimento familiar não chega para todos os fins-de-semana percorrerem quilómetros de lojas a comprar tudo o que à frente aparece.
Mais uma vez a educação (ou a falta dela) tem aqui grande responsabilidade. Não cultivar desde pequenino o interesse em actividades culturais ou desportivas, o gosto pela natureza ou pelo voluntariado ou o simples hábito de ler, só para dar uns exemplos, é meio caminho andando para que as pessoas não se saibam entreter e se refugiem nos centros comerciais. Um verdadeiro desperdício!
Nunca percebi como é que há tanto dinheiro para tanto centro comercial!

Luís Bonito disse...

Também aplaudo.
Vivo há quase 3 anos na Alemanha e posso dizer que esta gente passa o tempo todo que pode lá fora, ao ar livre, em contacto com a natureza, a andar, a pé ou na bicicleta, nos parques, nos rios ou canais, etc.
Logo que chega a primavera e aparece um pouco de sol as ruas enchem-se de esplanadas e as pessoas aproveitam o ar livre. Quase sempre os cafés e restaurantes têm almofadas e cobertores para as pessoas poderem ficar nas esplanadas com mais conforto, mesmo com temperaturas menos quentes.
Por isso também gostei deste texto. É preciso dizer às pessoas que há outras formas de vida para além dos centros comerciais, especialmente num país de sol como Portugal.

Bartolomeu disse...

Subscrevo inteira e incondicionalmente aquilo que sugere no final de mais este excelente texto, cara Drª. Suzana.
Fez-me recordar o tão contestado e estudado calendário Inca.
Aqele povo regia-se por um calendário construído até à data de Dezembro do ano de 2012. Mais precisamente 12-12-2012. Isto porque, segundo as suas observações astronómicas, os Inca perceberam que nesta data, todos os planetas do sistema solar se encontrarão alinhados, o aque causará a mudança do eixo da tera, ocasionado pela atracção magnética entre os planetas e o sol. Esta alteração na inclinação do eixo da tera, produzirá por sua vez a mudança das estações do ano, dos climas e da sequência dos dias e das noites. Ou seja, o ano passará a ter uma contagem diferente de dias, deixando de existir anos bisextos, assim como meses de 28, 29, 30 e 31 dias. Segundo os astrónomos e matemáticos daquela época, será a altura em que a terra e quem a habitar, irá entrar num ciclo de existÊncia equilibrada. Mas... ha sempre o raio de um mas para sobressaltar o pessoal... antes deste acontecimento, é inevitável, segundo afirmam os Inca (e não só) que ocorra uma guerra mundial, a mais destructiva de todas e, segundo os mesmos, ela acontece, precisamente devido à influência astral que provoca os desiquilibrios políticos e sociais a que assistimos.
Como dizia a minha avó... «o futuro, a Deus pertence» como em minha opinião, Deus somos todos nós, ou seja, Deus resulta de reunião de todas as partes espirituais... vamos ter de esperar para ver, mas também podemos construir, ou contribuir na construção daquilo que desejamos ver.
Curiosamente Einstein tambem vaticinou a inevitabilidade de uma terceira e impiedosa 3ª guerra mundial e ainda de uma 4ª, com uma interessante visão de futuro... Einstein dizia que a 3ª guerra mundial seria catastrófica, mas que a 4ª seria travada com paus e pedras.
Podemos entender este "aviso" como um regresso ao passado!?
;)

Félix Esménio disse...

Também eu subscrevo o seu post, cara Dra. Suzana Toscano, pela sensibilidade impressiva que revela, pelo seu humanismo.
O enquadramento inicial remete-nos para o conceito estratégico de desenvolvimento sustentável – Que país estamos a construir? Quais as prioridades? Que investimentos podem contribuir mais para melhorar o bem-estar e a felicidade dos portugueses?
Depois opta por uma abordagem mais sociológica e psicológica, convidando-nos a reflectir sobre os comportamentos e motivações dos consumidores e das famílias.
Parece-me interessante, no entanto seria desejável articular estas questões com as políticas de arquitectura e urbanismo, isto é, com o papel dos municípios no tal desenvolvimento sustentável.
Os centros comerciais são espaços públicos construídos em terrenos privados. Todos os espaços públicos, principalmente os de maior dimensão, deveriam obedecer a planos desenvolvimento integrado, a uma ideia de cidade, a um conceito de sociedade.
Será legítimo os centros comerciais serem plantados como cogumelos, numa lógica puramente económica e mercantilista, divorciados do tecido urbano e distantes dos serviços públicos e lúdico-culturais da cidade? Quais ícones do consumo em massa, alheados das demais dinâmicas sociais?
Os centros comerciais correspondem, em certa medida, à ágora grega ou à praça pública dos tempos modernos. E, como tal, têm que ser atractivos, animados, sedutores (pela motivação económica)... mas também espaços de encontro entre pessoas, de inovação, de cultura (por imperativo social).
Seria melhor para todos, creio eu, que os espaços comerciais fossem abertos para jardins, com espaços cobertos e ao ar livre, com ginásios e piscinas, com ateliês de artistas – com rendas sociais (em função da facturação) e abertos ao público, com cinemas e teatros, com espaços de exposição, de circo, de dança, de música e de outras artes performativas (em interacção com as escolas de ensino artístico), com parques infantis exteriores e interiores (por causa do temperamento da meteorologia), com lojas do cidadão ou lojas sociais (centros de emprego e de segurança social), com centros de juventude e cibercafés, com espaços seniores (“universidades”, ateliês, etc.),…
Tudo isto, aliado a um conceito de negócio, porventura menos intensivo mas mais atractivo e humano. Penso que seria possível e viável. Mas haverá alguém preocupado em pensar sobre isto nas Câmaras Municipais portuguesas? Sim. Acabei de ver na SIC-N um documentário sobre Óbidos que me impressionou pela lucidez dos responsáveis autárquicos, pela criatividade e inovação e pela capacidade de realização. Pena que estes exemplos não contagiem as grandes metrópoles e os seus concelhos periurbanos ou os arrabaldes.
É possível fazer diferente, é possível fazer melhor!
Desculpem-me a extensão do comentário.

Fartinho da Silva disse...

Julgo que quando decidirmos ter centros históricos como aqueles existentes em Espanha, os hábitos passarão a ser outros. Enquanto não percebermos que a maioria das pessoas não vai a uma esplanada no centro da cidade pela simples razão de poder apanhar uma depressão com as paredes grafitadas, as frentes dos prédios a cair, as ruas esburacadas, a iluminação uma vergonha; além do sentimento de insegurança por não se verem polícias na rua, etc., etc., julgo que nada resolveremos.

Considero, aliás, curioso como a esquerda moderna se refere ao vandalismo de grafitar todos os espaços urbanos como... arte!! Ainda não percebi bem se esta conversa muito gira e muito romântica é uma crença, ou apenas uma forma de demonstrar a sua incapacidade de resolver o problema.

Podemos continuar a achar que a culpa é do povo, mas enquanto assim pensarmos nada resolveremos....

PS: também não sou um grande entusiasta dos centros comerciais, mas percebo como este negócio consegue ser tão lucrativo em Portugal. Como dizia o outro, quando o Estado não faz o que lhe compete aparece sempre alguém a resolver o problema da melhor forma que conhece, podemos não gostar mas o problema é resolvido. Agora compete ao Estado fazer o seu trabalho... e aqui tenho muuuuuuuuuuuuuuuuuitas dúvidas que o faça e tenho muuuuuuuuuuitas certezas que continuará a chutar a bola para o povo, é muito mais fácil e os resultados populistas são garantidos.

jotaC disse...

Salvo melhor opinião arquitectura de alguns centros comerciais mais modernos já é mais agradável, com bastante luz natural e espaços amplos. Pessoalmente gosto de fazer compras nos grandes espaços, entendo que só tenho a ganhar. Perdoem-me a franqueza, acho que não devo ser só eu, senão a coisa não existia! Concordo que existe um número excessivo de centros comerciais, mas, se repararmos bem, por cada centro que abre há um outro que começa a degrada-se. Não nos iludamos, nestas coisas não há milagres, o dinheiro não estica.
Às vezes questiono-me sobre o que leva os empresários a investirem milhões em negócios deste tipo, sabendo eles que isto funciona um pouco como o mercado de habitação. Será que o investimento é amortizado naquele espaço de tempo em que dura a novidade!? Será que neste país não há mais nada rentável em que investir!? Ou será que aqueles investidores são tontos e esbanjam dinheiro!?
É verdade que há muita gente que usa e abusa dos centros comercias, é tudo uma questão cultural…

Anónimo disse...

O fenómeno não pode ser explicado por uma pulsão consumista que ali se acentua. No sábado à noite, num jantar de amigos, um dos convivas contava que no dia a seguir à passagem do ano, estando os estabelecimentos do bairro fechados, resolveu ir tomar o café ao centro comercial mais próximo. Também ali as lojas estavam quase todas encerradas. A multidão era a mesma de sempre.

Suzana Toscano disse...

Caro Zuricher, o que me parece é que cá no burgo quando uma ideia resulta passa logo à categoria de ovo de Colombo (sem querer fazer trocadilhos com o do Centro Comercial que ditou o gigantismo dos Centros)e então mata-se tudo à volta para que essa ideia possa progredir. Também acho muito prático fazer compras por atacado sem sair do mesmo sítio, mas era muito mais simpático ir à Baixa e ter lojas de todo o género nas mesmas ruas, comércio de porta aberta que dava vida e animava os lugares. Agora as ruas são desertas e há um aglomerado de carros à volta dos espaços comerciais. Podia até haver alguns, em locais estratégicos, de dimensão humana,como os que estão a ir à falência, mas não, são verdadeiras catedrais, um inferno para quem tem dificuldade em mexer-se e uma desorientação para quem não é cliente assíduo.
Margarida, parece que estão previstos mais 12 (DOZE!) até 2011,não sei o que sobrará se a crise for mesmo o que parece, talvez uns edifícios gigantes, fechados, à espera de melhores dias, no meio dos bairros que contavam com eles para se animar...
Caro Luis Bonito, é isso mesmo, vamos a outros paises, muito mais frios e chuvosos,e é o culto do sol,com jardins, ruas cobertas ou centros de comércio, esplanadas e espaços de convívio, é realmente absurdo que aqui só haja desertos de ruas vazias e centros comerciais onde se juntam multidões que não têm onde se sentar, salvo naqueles espaços inóspitos de fast food que fazem as cantinas parecer um restaurante de 1ª categoria.
Caro Bartolomeu, também não vou tão longe, o fim do mundo às vezes parece que está próximo pela falta de imaginação para as coisas belas e tranquilas, mas o hino ao consumo foi (está a ser) uma época de riqueza,de bem estar, vamos lá a ver é se não a estragamos com a fartura...
Caro felix Isménio, é de facto uma pena que as autarquias sejam tão pouco cuidadosas com os equipamentos que deixcam instalar, também vão atrás de modas, as pessoas pelos vistos gostam, as que não gostam acabam por não ter outro remédio e pronto, é o que se vê pelo País fora, ainda bem que já há autarcas com outra sensibilidade que não olhe apenas o lucro imediato e o investimento seja lá do que for no concelho, mas deve ser difícil resistir.
Caro Fartinho da Silva, basta ir a Espanha e em qualquer terreola há comércio nas ruas, esplanadas e cafés, não somos menos civilizados que eles, talvez o problema seja que o espaço público é mesmo sentido por todos como sendo para a colectividade usufruir e aqui é só para passar e depressa...
Caro jotac, isso todos gostamos, ir fazer compras no CC é irresistível, mas não era preciso secar as alternativas, tudo o que é demais enjoa, creio que a fase seguinte é os CC gigantes teram bicicletas ou carrinhos eléctricos para podermos percorrer os corredores maiores do que os dos aeroportos, e salas com lâmpadas para bronzear e lagos artificiais para molharmos os pés doridos :)
Pois é, ferreira d'Almeida,isso acontece de facto, creio que as pessoas já não sabem conversar, sentadas numa cadeira com amigos à roda ou a família, a beber uma laranjada. Já só sabem mesmo vaguear pelos corredores a ver montras, cada um a olhar o sector que mais lhe interessa e depois vão para casa cansados, com o programa cumprido. Umas coisas levam às outras.

Unknown disse...

eu conheço uma missão social para a terceira idade... quem quiser participar que se mostre interessado... e não é em centros comerciais, já que são todos tão opositores dos investimentos sona sierra e nao só...
entao preferem passar o fds na geriatria ou na "pizza hut"??? rsrs