1. Há quem considere o PEC um programa “credível, ambicioso e exequível” merecedor de um “consenso político alargado”...
2. Até se compreendem estas opiniões, sobretudo num momento em que importa que a Europa e a zona Euro em especial não tenham por ora mais problemas do que aqueles que a Grécia lhes impõe e que por si SÓS ocupam demasiado espaço na agenda de trabalho...se houver mais problemas, daqui por um ou dois anos se verá, por agora uma trégua é indispensável.
2. Quanto ao PEC e à sua primeira emanação, o OE para 2010, convém salientar que não conseguiram escapar, apesar das promessas em contrário – que até dou de barato terem sido inicialmente formuladas com toda a boa vontade – ao “inevitável” agravamento da carga fiscal, vulgo “aumento de impostos”...
3. Esta componente marca indelevelmente este PEC na minha opinião...e marcam-no de forma profundamente negativa, condenando ao insucesso a política que lhe subjaz, da mesma forma que marcou e condenou a política financeira dos últimos anos.
4. Num ponto em que a superação das debilidades estruturais da economia portuguesa reclamavam (para começar) uma política fiscal audaz, capaz de romper com um passado de insucessos, a repetição da formula “mais recursos para o Estado à custa das Famílias e das Empresas” torna impossível qualquer mudança, aprisionando a economia a um modelo de definhamento absoluto e relativo, sem quaisquer perspectivas de recuperação...
5. Não é com mais recursos afectos ao Estado e retirados aos sectores produtivos, que se poderá pensar na mudança estrutural da economia: não se entenderá que o Estado já consome recursos em excesso e que se lhe forem atribuídos ainda mais recursos os crónicos problemas da economia de que todos falam – produtividade, competitividade – continuarão a agravar-se, sem solução?
6. Nem é preciso lembrar que o Estado é um típico “drogado”, um viciado em despesa, quanta mais lha derem, mais gasta/consome e mais precisa...
7. E as previstas privatizações para um período de 4 anos, anunciadas como uma componente essencial do PEC, com o argumento de reduzir a dívida ao exterior (a final sempre importa?!) potencialmente geradoras de receitas da ordem de € 6 mil milhões, o melhor que se pode dizer - passando por cima da controvérsia política que não deixarão de suscitar - é que “não cabem na cova de um dente das necessidades”...
8. Basta recordar que o aumento anual do endividamento da nossa economia ao exterior se cifra em cerca de € 16 mil milhões...o que quer dizer que em 4 anos teremos mais de € 60 mil milhões em dívida ADICIONAL ao exterior.
9. Estas privatizações – se forem concretizadas, o que não é líquido por diversas razões, políticas e outras – reduziriam assim em 10% o aumento de endividamento ao exterior...que já não seria de € 60 mil milhões, mas de € 54 mil milhões – será que isto faz alguma diferença?
10. P or E ste C aminho...não vamos lá.
20 comentários:
Caro Tavares Moreira
Alguns apontamentos laterais:
a) Não querendo assacar reserva mental ao Governo, mas duas questões:
- A dívida total, pública, é para continuar, manter ou reduzir?
- Onde está assegurado que poderemos aumentar a dívida, desde que se diminua o défice?
O pacto de estabilidade impõe uma dívida pública de 60%; esta imposição deixou de se aplicar, é para esqueçer? Então porque um comentador internacional (não me recordo onde) veio demonstrar que tardaremos (a zona Euro) 16 anos para cumprir os critérios de Maastricht?
b) Em cinco anos, este governo falhou, sistematicamente, nas previsões para as exportações, como supor que, numa conjuntura mais incerta, vai passar a acertar nas mesmas? Nesse sentido, até que ponto podemos confiar nas previsões do governo quanto ao saldo da balança externa? Não estamos a correr um risco de, aumentar a dívida externa privada ou contrair o consumo privado, obrigando a aumentar os impostos para manter o défice?
Mas, possivelmente é mais uma manifestação de "neo botabaiximo"
Cumprimentos
joão
Nasrudin, um grande sábio muçulmano do séc. XII, foi encontrado certa noite, agachado junto a uma lanterna de rua, tacteando o solo. Perguntou-lhe um amigo que passava, o que fazia, ao que ele respondeu: -Perdi uma chave, e estou a tentar encontra-la, podes ajudar-me?
Certamente, respondeu o outro, começando imediatamente a procurar também.
Passado pouco tempo, novo amigo chegou e perguntou e rápidamente se dispôs a juntar-se à busca.
Algum tempo após, já vários amigos acocorados, tacteando o chão, procuravam a chave perdida por Nasrudin.
Como ninguem desse com a chave, o grupo começou a mostrar-se inquieto, era impossível que ao fim de tanto tempo, tantas pessoas a procurar, ainda não tivessem encontrado a chave perdida, então resolveram perguntar ao sábio se estava seguro de ter perdido a chave naquele local, ao que ele terá respondido:
-Não, de forma alguma, perdi-a dentro de casa, mas como lá está tão escuro, optei por procura-la aqui, que ha mais luz.
Este paradoxo, contem um significado: Apesar de sabermos que a verdadeira solução para os nossos problemas se encontra dentro da nossa própria casa, preferimos muitas vezes procurá-la fora... convencidos que a luz aí, é mais forte.
;)
Caro Tavares Moreira
Concordo em absoluto!
O país chegou ao estado em que aceita qualquer coisa que pareça feita para nos tirar da crise.
O Primeiro-Ministro não merece ser levado a sério? Não importa, é preciso segurá-lo!
O Governo pode cair? Nem pensar porque as consequências serão desastrosas!
O orçamento não presta? Não digam isso que os credores internacionais estão a ouvir-nos!
O PEC só contribui para nos afundar ainda mais? Não pensem nisso porque se ficarmos sem PEC ainda é pior!
Há um ditado popular que reproduz o estado a que chegámos: "Quando um trabalho está mesmo mal feito, qualquer tentativa de melhorá-lo só o piora".
Agora que o sol dá a sua graça, tapam-no com a peneira.
Um castelo encartado
ruiu estrondosamente,
qual feito fundamentado
num programa deprimente.
E assim fica certificada
com as devidas assinaturas
a política putrificada
feita de deploráveis farturas.
A luz assaz fortalecida
pode, muitas vezes, ofuscar
quem tem a mente esquecida
e que muito faz por encrencar.
Este caminho tão encolhido,
após tanta e tanta asneira,
deixará o cidadão tolhido
ao tapar o sol com a peneira.
Belíssima pérola, meu amigo Manuel Brás!!!
Realista esta análise, como sempre, meu caro Tavares Moreira.
Por aqui não temos de considerar conveniências de Estado. Para lá das conveniências do momento, que aliás assinala, importa formar na opinião pública a ideia de que tem de existir limite para os recursos que o Estado consome. Só quando existir esta consciência colectiva é que o poder se convencerá que esta política é um estímulo ao empobrecimento.
Caro Bartolomeu, aonde vai descobrir todas estas “estórias”? Essa memória é um “poço sem fundo” ou continua a ser uma esponja!
Posso dar-lhe um cognome? Bartolomeu, o Enciclopédico!
O que acho mais espantoso é a forma como o Teixeira dos Santos diz as maiores enormidades com a imprensa a dar-lhe crédito.
Então o sujeito vem dizer hoje que só entra um funcionário depois de saírem dois e que ideal seria saírem três. Isto significa que por cada um que sai, há outro cujo trabalho é completamente inútil. Mas a solução "equilibrada" que o anjinho arranjou foi que pagássemos mais pelos três lançando no desemprego outro desgraçado qualquer que era produtivo.
É sempre bom ter um ministro que sabe que sabe somar e um PM que sabe inglês técnico...Que gente!!..
Muito bem encontrado este título, a condizer com o desenvolvimento, está lá tudo na sigla.
Já várias vezes me lembrei de ilustrar o que se ouve, os diagnósticos, depois os enganos e por fim os alegados remédios com a anedota que o caro bartolomeu aqui tão oportuna nos conta (embora na versão das mil e uma noites, eu conheço na versão mais prosaica de um bêbado que procura uma moeda junto a um candeeiro, que é onde há luz...). Assim é difícil compreender o que devia ser bem entendido por todos os que vão ter que participar no ambicionado renascer do País.
Caro amigo Bartolomeu, agradeço as suas palavras. Como reparou, com certeza, em parte, inspirei-me na "sua" história de Nasrudin.
Catarina, posso dar-lhe um cognome?
Catarina, A Cognominante!
;)))))))))))))
Não sou, nem possuo capacidade para vir a ser algo que se aproxime de uma enciclopédia. Mas sim, adoro reflectir sobre as questões, tentar entende-las dentro de um plano, o mais amplo e abrangente possível e se possível, encontrar uma solução... equilibrada.
Caro Amigo Manuel Brás, excelso Vate do "Quarta", agradeço a sua manifestação de apreço, e a atenção que dedicou ao meu escrito.
;)
Concordando com o texto, não posso deixar de referir que o problema não é apenas o Estado! Os "salários" pagos aos gestores de topo em Portugal são obscenos, deixo apenas um exemplo que apareceu hoje na comunicação social - um dos gestores de topo da PT ganhou o ano passado 1,5 milhões de euros!!!!! Este salário está apenas ao alcance de alguns (poucos) jogadores de futebol...
Se alguém considera isto normal, julgo que ninguém se poderá espantar que um dia destes apareça o Bloco de Esquerda e/ou o PCP, a governar o país!
Não tenho qualquer dúvida que há muita gente a brincar com o fogo; e quem brinca com o fogo...
Caros Comentadores,
Registo vossas utilíssimas observações - nomeadamente na forma de poesia - e proposições para a dilucidação deste complexo tema do excesso de recursos apropriados pelo Estado e que concorrem para o definhamento da nossa economia.
Infelizmente apercebo-me de que vai ser muito difícil inverter este ciclo de absorção cada vez maior de recursos pelo Estado...
A grande questão é que existe uma tendência generalizada, a que quase ninguém escapa (não é só o Governo, são largos sectores da nossa sociedade) de "empurrar" para o Estado mais e mais obrigações quando as dificuldades económicas se acentuam...
E isso, paradoxalmente, em vez de aliviar as dificuldades acaba por agrava-las - é um circulo vicioso que não sei se teremos capacidade para quebrar...
Vamos insistindo, certamente, mas com a noção de que estaremos, muito provavelmente, pregando para o deserto...
Talvez não estejamos a pregar para o deserto, meu caro Tavares Moreira. Estou em crer que se calados estiverem os que devem falar, então sim tornar-se-à verdade absoluta o fundamento das actuais políticas.
Aos poucos e poucos se vai abrindo os olhos a muito boa gente.
Caros Drs. Tavares Moreira e José Mário, eu não acredito que em todo o Portugal, só existam iluminados no "Quarta".
Partindo do pressuposto que consegue ver o que é evidente, aquele que for bafejado pelo dom da visão, sem necessitar do dom esotérico da vidência.
Caro F. Almeida,
Mesmo que pregando para o deserto, a minha sugestão vai no sentido de continuarmos, como terá reparado...
Só insistindo, persistindo, será possível manter a chama (ainda que frágil) acesa...
Caro Bartolomeu,
Peço-lhe encareidamente que dispense a expressão "iluminados"...
Não temos seguramente tal pretensão, estou plenamente convicto das limitações das nossas análises...
Embora possa dizer que as nossas opiniões são expressas de modo franco, aberto e desinteressadas...o que nos tempos que correm já será um bem precioso...
Não expus a ideia com a clareza necessária, caro Dr. Tavares Moreira, peço que me perdoe.
O sentido do "iluminados" era visto de lá, para cá.
Percebi a sua ideia, meu caro Bartolomeu, e o sentido do meu comentário é concordante com o que escreveu. Como o meu Amigo bem diz, e o Dr. Tavares Moreira sublinha, vale a pena manter a chama acesa, até porque há muitos mais do que nós a "iluminar" com ela...
Essa já aceito com toda a tranquilidade..."iluminadores" e não "iluminados" eis a correcção devida e que registo com todo o agrado...
Somos, enfim, os portadores de uma candeia de verdade e de autenticidade com a qual procuramos abrir as consciências de nossos concidadãos vítimas de uma metralha propagandística que os abafa e lhes vende sistematicamente gato por lebre...
Espero que não cheguemos ao ponto a que chegou Diógenes, o Cínico, famoso filósofo do cepticismo, que percorria as ruas de Atenas durante o dia, de candeia acesa, tentando - em vão segundo ele - encontrar um Homem!
Pelo caminho que as coisas levam, não sei se não acabaremos como ele...
Exactamente, caro Ferreira de Almeida, vamos mantendo a chama acesa...enquanto houver chama há pelo menos esperança...
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