Deixo-vos aqui a minha selecção de alguns extractos do belissimo discurso do Papa Bento XVI ao "mundo da cultura", hoje no CCB, um apelo tocante pela sua humildade mas também pela firmeza com que nos confronta com com a nossa identidade como povo, as nossas raízes e modo como enfrentamos o futuro.
"Sinto grande alegria em ver aqui reunido o conjunto multiforme da cultura portuguesa, que vós tão dignamente representais: Mulheres e homens empenhados na pesquisa e edificação dos vários saberes. A todos testemunho a mais alta amizade e consideração, reconhecendo a importância do que fazem e do que são.
(…) a cultura reflecte hoje uma «tensão», que por vezes toma formas de «conflito», entre o presente e a tradição. A dinâmica da sociedade absolutiza o presente, isolando-o do património cultural do passado e sem a intenção de delinear um futuro. Mas uma tal valorização do «presente» como fonte inspiradora do sentido da vida, individual e em sociedade, confronta-se com a forte tradição cultural do Povo Português, muito marcada pela milenária influência do cristianismo, com um sentido de responsabilidade global, afirmada na aventura dos Descobrimentos e no entusiasmo missionário, partilhando o dom da fé com outros povos.(…). Este «conflito» entre a tradição e o presente exprime-se na crise da verdade, pois só esta pode orientar e traçar o rumo de uma existência realizada, como indivíduo e como povo. De facto, um povo, que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente enunciados.(…)
De facto, o diálogo sem ambiguidades e respeitoso das partes nele envolvidas é hoje uma prioridade no mundo, à qual a Igreja não se subtrai(…) Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza.
Esta é uma hora que reclama o melhor das nossas forças, audácia profética, capacidade renovada de «novos mundos ao mundo ir mostrando», como diria o vosso Poeta nacional.Vós, obreiros da cultura em todas as suas formas, fazedores do pensamento e da opinião, «tendes, graças ao vosso talento, a possibilidade de falar ao coração da humanidade, de tocar a sensibilidade individual e colectiva, de suscitar sonhos e esperanças, de ampliar os horizontes do conhecimento e do empenho humano. […] E não tenhais medo de vos confrontar com a fonte primeira e última da beleza, de dialogar com os crentes, com quem, como vós, se sente peregrino no mundo e na história rumo à Beleza infinita».
(…)Convido-vos a aprofundar o conhecimento de Deus tal como Ele Se revelou em Jesus Cristo para a nossa total realização. Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza. Interceda por vós Santa Maria de Belém, venerada há séculos pelos navegadores do oceano e hoje pelos navegantes do Bem, da Verdade e da Beleza.
(…) a cultura reflecte hoje uma «tensão», que por vezes toma formas de «conflito», entre o presente e a tradição. A dinâmica da sociedade absolutiza o presente, isolando-o do património cultural do passado e sem a intenção de delinear um futuro. Mas uma tal valorização do «presente» como fonte inspiradora do sentido da vida, individual e em sociedade, confronta-se com a forte tradição cultural do Povo Português, muito marcada pela milenária influência do cristianismo, com um sentido de responsabilidade global, afirmada na aventura dos Descobrimentos e no entusiasmo missionário, partilhando o dom da fé com outros povos.(…). Este «conflito» entre a tradição e o presente exprime-se na crise da verdade, pois só esta pode orientar e traçar o rumo de uma existência realizada, como indivíduo e como povo. De facto, um povo, que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente enunciados.(…)
De facto, o diálogo sem ambiguidades e respeitoso das partes nele envolvidas é hoje uma prioridade no mundo, à qual a Igreja não se subtrai(…) Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza.
Esta é uma hora que reclama o melhor das nossas forças, audácia profética, capacidade renovada de «novos mundos ao mundo ir mostrando», como diria o vosso Poeta nacional.Vós, obreiros da cultura em todas as suas formas, fazedores do pensamento e da opinião, «tendes, graças ao vosso talento, a possibilidade de falar ao coração da humanidade, de tocar a sensibilidade individual e colectiva, de suscitar sonhos e esperanças, de ampliar os horizontes do conhecimento e do empenho humano. […] E não tenhais medo de vos confrontar com a fonte primeira e última da beleza, de dialogar com os crentes, com quem, como vós, se sente peregrino no mundo e na história rumo à Beleza infinita».
(…)Convido-vos a aprofundar o conhecimento de Deus tal como Ele Se revelou em Jesus Cristo para a nossa total realização. Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza. Interceda por vós Santa Maria de Belém, venerada há séculos pelos navegadores do oceano e hoje pelos navegantes do Bem, da Verdade e da Beleza.
O texto completo do Discurso pode ser lido aqui.
6 comentários:
-O mundo da cultura!?
-Um discurso belíssimo!? só com muito boa vontade
Um discurso belíssimo. Ouvi ontem alguns afirmá-lo, porventura com muito pouca vontade...
Quanto ao mundo da cultura...
Gostei. Tenho gostado. São discursos densos, mas com ideias fortes, bem construídas e interpelantes. Concilio-me no facto de, apesar das diferenças, todos termos em nós uma vontade de Bem, e é nessa que me encontro com o Papa nestes textos.
Bonito discurso, sim senhor. Bem pensado, bem elaborado.
Aliás, as suas mensagens (de Sua Santidade) são mensagens de esperança, de bem que nos dá alento. Tal como as do Dalai Lama que tive a sorte de ouvir em directo por duas vezes também.
Mundo da cultura: quem teria feito parte deste “mundo”? Estaria o sr. Saramago presente?! : )
Muito, mas muito inspirador mesmo, este discurso de Bento XVI...
Acrescentaria, com a devida vénia, que o vício de absolutizar o presente - bem visível nos comportamentos da nossa época - é típico de povos que perdem a memória, ficando a balouçar na arriba escarpada do tempo...
O risco de empobrecimento e mesmo de perecimento social e cultural é então enorme, como se constata na sociedade lusa, conduzida à deriva, sem rei nem roque...a caminho de que solução?
Suzana
É bela a mensagem do Santo Padre quando nos interpela assim: "Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza".
Na verdade, é uma interpelação muito inspiradora que toca o coração de qualquer pessoa. Ouvirmos falar desta dimensão e termos dela consciência pode ajudar-nos a construir uma vida mais bela, a nossa e a dos outros.
Enviar um comentário