1. Analisado o relatório da execução orçamental até Abril do corrente ano, há um número que salta à vista - a redução da despesa corrente, incluindo juros, em 1,2%, relativamente ao mesmo período de 2009.
2. Analisando um pouco melhor, verifica-se que isto se deve ao facto de os juros e outros encargos da dívida neste mesmo período apresentarem uma redução de € 168 milhões em relação ao mesmo período de 2009, uma quebra significativa de -15,2%...sem isso, a despesa teria sido igual à do ano anterior...
3. Este montante representa mais de metade dos € 300 milhões de melhoria do saldo orçamental em relação a 2009, há poucos dias anunciado com grande alacridade...
4 Mas aprofundando um pouco mais esta análise conclui-se que o stock médio de dívida pública directa nos primeiros 4 meses de 2010 foi de € 136,2 mil milhões enquanto que no ano anterior tinha sido de € 120,9 mil milhões, ou seja em 2010 o stock da dívida é superior em 12,58%.
5. Ao mesmo tempo, se bem estamos recordados, as taxas de juro da dívida pública conheceram um sensível agravamento nos últimos meses pelas razões que todos conhecemos...
6. Assim sendo, cabe perguntar: como é que uma dívida 12,5% mais elevada que a do mesmo período do ano anterior, vencendo (pelo menos em parte) taxas de juro mais altas, pode produzir um montante de juros e encargos inferior, e logo em 15,2 %?
7. Haverá aqui algum mistério? Serão os insondáveis segredos da contabilidade pública? Será a aplicação de técnicas muito sofisticadas de contabilização intra-anual de encargos?
8. Qualquer que seja a resposta, uma conclusão parece desde já impor-se: o endividamento pode valer a pena, afinal...se com dívida mais elevada, vencendo taxas de juro mais elevadas, conseguimos o “milagre” de ter encargos menores, por que não aumentar ainda mais o endividamento?
9. Esperemos os próximos meses para ver se este “milagre” se confirma...
9 comentários:
Hmmm...
Estou em crer que um dia, ainda vamos descobrir que afinal foi Portugal que emprestou dinheiro à europa e que nunca existiu uma dívida externa, nem um défice e que a crise deveu-se toda ao incumprimento dos nossos devedores.
Vai ver, Senhor Dr. Tavares Moreira, quando nos começarem a pagar o que nos devem, não vai haver um único português a necessitar de trabalhar. (até porque a maioria, de tanto apertar o cinto e tantas privações, já estarão anoréticos e sem energia para mexer uma palha ou, pegar uma gata pelo rabo, como se diz no meu monte)
Com estes "milagres", por que não baixar os impostos?
Nesta conjuntura precária,
tão parca em acções certeiras,
uma dengosa urticária
esfarrapa-nos as carteiras.
A nossa contumaz tendência
que nos deixa indiferentes
perante a vil decadência
de medidas incoerentes.
Caro Bartolomeu,
A sua conclusão tem pelo menos uma virtude- é lógica.
De facto, neste caminho de dívida crescente, taxas de juros mais elevadas e, em "consequência", encargos cada vez menores, se continuarmos a expandir a dívida até ao "céu"...acabaremos por ficar credores!
E, nessa altura, teremos o Mundo a nossos pés!
Anoréticos e escanzelados como bem diz, mas pelo menos teremos essa felicidade terminal!
Caro M. Brás,
Brava poesia, pondo a descoberto, a cada passo, os vícios deste sistema que humilha e deprime tantos portugueses, sem qualquer piedade!
bRAVA POESI
E ainda não começamos a imprimir notas...
Mas será preciso imprimir notas, caro Tonibler, com esta capacidade autónoma que afinal tinhamos, sem suspeitar, para reduzir encargos da dívida - independentemente do montante desta e das taxas de juro?
Nós, ou melhor o MOF, pode ter descoberto a galinha dos ovos de ouro...
Caro Dr. Tavares Moreira,
A resposta para o enigma que ressalta deve estar na redução da maturidade média do stock de dívida pública, o que num contexto de inclinação positiva da curva de rendimentos, implica redução do serviço da dívida. Este fenómeno decorre do incentivo altamente perverso que resulta do agravamento dos prémios de risco que os investidores exigem para comprar obrigações do estado português com prazos mais alargados.
Para já, a consequência é a redução dos custos financeiros do serviço da dívida; para o futuro próximo, teremos montanhas de vencimentos de bilhetes do tesouro e a correspondente necessidade de os financiar independentemente dos "humores" dos mercados financeiros.
Caro Dr. Brandão de Brito,
Registo seu avisado comentário, apontando um factor que pode explicar parte da redução do montante de encargos com a dívida pública, sendo certo que se traduz numa gestão muito arriscada - chamar-lhe-ia aventureirista mesmo - da agenda da dívida do Estado.
Mas, mesmo assim, parece-me muito uma redução de 15,2%...
Por outro lado, teremos também de concluir que a explicação dada no texto do Boletim Informativo - que esta variação se deve ao perfil intra-anual dos encargos da dívida - é uma explicação pouco ou nada convincente...
Os próximos meses serão, certamente, bastante esclarecedores a este respeito.
Bem me parecia que ter impresso notas tinha sido melhor...
Caro Tonibler,
Já percebi que não desiste das notas ou da sua impressão...
Mas olhe que o BCE parece estar-lhe fazendo a vontade, anda para aí a imprimir notas por conta ( e por compra) da fina-flor das dívidas europeias - a grega, a portuguesa e a espanhola, pelo menos.
Talvez por isso os mercados dessa dívidas tenham ficado mais "mansinhos", desde há alguns dias...
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