1.Faz hoje parte do discurso económico-político chamado “politicamente correcto” o patriótico refrão “Portugal não é a Grécia”…não há discurso importante que o não inclua, se não incluir pode ser suspeito de colaboração com os especuladores...
2.O discurso “politicamente correcto “ é, na sua essência, o mesmo que no longínquo ano de 2000 insistia que era disparate falar do endividamento externo…essa preocupação não fazia sentido numa zona monetária como a do Euro, era a mesma coisa que falar da dívida externa do Mississipi, lembram-se?
3.Esse discurso foi depois evoluindo, enriquecido com novos temas, por exemplo minimizando a importância dos défices orçamentais ou insistindo no alto virtuosismo do investimento público – para dinamizar a economia, insistiam até à saciedade, lembram-se?
4.No momento actual, o “politicamente correcto” está bastante “encostado às cordas”, acossado por uma horda de adversários implacáveis – para além do Dr. Medina Carreira, os especuladores do mercado, as agências de rating, os americanos apostados em destruir o Euro, etc.
5.Por outro lado, o “politicamente correcto” foi obrigado a deixar cair algumas das suas mais queridas bandeiras:
- O endividamento externo, ao contrário do que diziam, tem afinal enorme importância, mesmo numa zona monetária – e até se dá ao luxo de estrangular financeiramente a economia portuguesa;
- Para além do défice orçamental já não há agora qq vida…é um deserto medonho, ao contrário do que proclamavam alto e bom som, por exemplo em Abril de 2003;
- Até os grandes investimentos públicos têm vindo a cair uns atrás dos outros, os últimos resistentes estão agora concentrados no "Alcazar" da linha TGV Poceirão-Caia-rumo a Madrid.
6.Mas o “politicamente correcto” tinha de sobreviver, a sua missão deletéria sobre
a pobre e indefesa economia não podia acabar assim, sem glória. Era preciso encontrar rapidamente um novo “paradigma” para fazer valer os seus enfraquecidos argumentos…
7.Ora aí está pois o “Portugal não é a Grécia”, sem necessidade de qualquer justificação, para ganharem mais algum tempo e prosseguirem a sua patriótica missão de não deixar nada de pé…
8.Que Portugal não é a Grécia pode também concluir-se de um interessante texto publicado na edição do F. Times de 26 do corrente, sob título “World dangerously exposed to default”, no qual é feita referência a uma recente e magnífica,segundo o jornal, nota de “research” assinada pelo economista-chefe do Royal Bank of Scotland.
9.Nessa nota é apresentado o valor das dívidas, públicas e privadas, de Espanha, Grécia e de Portugal, detidas por instituições financeiras externas – são € 2 mil biliões, o equivalente a 22% do PIB da zona Euro e a mais de 12 vezes o PIB português…
11.A mesma nota também compara as dívidas externas de cada um desses países com as respectivas economias:
- dívida de Espanha = 142% do PIB
- dívida da Grécia = 142% do PIB
- dívida de Portugal= 200% do PIB
12. À atenção pois dos "politicamente correctos", para que não deixem de proclamar
que Portugal não é a Grécia”…pode ser que, de tanto ouvir o refrão, a dívida
comece a emagrecer…
13 comentários:
Claro que para essa dívida externa muito contribuiu o crédito ao consumo, que atinge valores já muito desproporcionados para os rendimentos das famílias portuguesas. Todavia, o Banco de Portugal sempre tolerou bem o aumento desmesurado deste tipo de crédito, dizendo que não havia razões para alarme. E muito foi mesmo titularizado, vendido a outros bancos e por estes porventura transformado em sofisticados produtos estruturados. O crédito ao consumo é o primeiro a ser incumprido, o que pode trazer dificuldades aos Bancos. E trouxe ainda mais pressão sobre o endividamento externo. O Banco de Portugal, em vez de travar a prática, ainda a estimulou, demitindo-se da sua função de regulação.
O "politicamente correcto" em minha opinião, devia desfilar na passarela, antes do início de cada estação. Tal e qual a moda e os estilistas com seus modelos, nos locais emblemáticos, escolhidos para o efeito.
Em minha opinião, não é de "politicamente correctos" que o nosso país precisa. Aquilo que nos faz falta, Sr. Dr. Tavares Moreira, é gente competente, gente que saiba para que serve o dinheiro que os contribuintes e as empresas entregam ao estado. Que saibam utilizar esse dinheiro em proveito da sociedade e nunca para o seu próprio. Que saibam distinguir o essencial do assessório, com coerência e com sentido de estado.
Bagão Félix (diz que) declinou o convite que lhe foi dirigido por algumas individualidades do PSD, para ser candidato às próximas eleições para Presidente da República.
Ao que parece, a ideia é encontrar um candidato com perfil... mais à direita (?!)
Espero que, as altas individualidades do PSD, não se lembrem de desenterrar as ossadas de António Salazar.
Quando entrámos para o euro, passámos a contar com factores que todos somados poderiam provocar os problemas que até os optimistas de serviço do regime começam a ver:
1º taxa de juro baixa;
2º inflação baixa;
3º produtividade baixa.
Estes três pontos conjugados costumam ser fatais...! Somados com uma péssima governação são ainda piores...
Como não tenho formação nesta área, se estiver errado por favor corrijam-me.
Claramente, Pinho Cardão, claramente!
Eu não podia desfilar todas as facetas em que se manifestaram os "politicamente correctos", sob pena de me tornar (ainda mais) fastidioso...
Mas essa que indica é mais uma delas, entendiam as digníssimas autoridades que o crescimento aceleradíssimo do crédito constituía um fenómeno natural, que o mercado haveria de corrigir...como se viu!
Caro Bartolomeu,
Belíssima ideia essa da passerelle...seria um espectáculo digno das maiores manchetes, essa dos politicamente correctos desfilarem - trajando como, já agora? - para gaudio dos media e "ranger de dentes" dos descamisados...
Caro Fartinho,
No 3º factor, é melhor dizer "produtividade em perda acelerada"...
A péssima governação ajudou imenso à "festa", sim senhor.
Não está longe da verdade, apesar de, como diz, não ser economista.
Isso de não ser economista aliás pouco releva meu Caro, pois a maior parte dos "politicamente correctos" são economistas e... inscritos na Ordem como dizia um ex-Ministro das Obras Públicas!
O melhor traje, seria a ausência dele, caro Dr. Tavares Moreira. Para gaudio dos media sequiosos de acontecimentos que exponham as pessoas em toda a sua intimidade e dos descamisados, como uma antevisão do futuro (próximo).
Ao fim e ao cabo, é mesmo nús que todos iremos andar... se nos restar corpo, que sustente tanta nudez.
Caro Tavares Moreira, permita-me uma pergunta sobre estas dívidas que existem em vários países. Num cenário de implosão da moeda única o que lhes sucede? São redenominadas nas moedas nacionais que sucederem ao euro? A que câmbio? São redenominadas em USD, a moeda de referência? O que sucede?
Caro Bartolomeu,
Essa de sujeitar os "politicamente correctos a uma manobra de passerelle em trajos ínfimos, porventura nullius, parece-me de discutível gosto...
Já imaginou a quantidade enorme de molas de roupa que seriam necessárias para neutralizar a função olfactiva da numerosa assistência?
Sob pena de se registar uma imensa epidemia provocada pelos intensos odores projectados pelos desfilantes?
Caro Zuricher,
Num cenário de implosão geral da moeda, haveria que definir o esatuto cambial dessas dívidas...porque nada está definido, até poderiam ser em SDR...
Caso se tratasse apenas da saída de um dos membros devedores, as dívidas em causa continuariam a denominar-se em €...
Tem razão Sr. Dr. Tavares Moreira... esqueci-me do cheiro e... das pégadas...
Caro Tavares Moreira,
Obrigado pela correcção e pelo comentário.
... e nós continuaremos cantando e rindo, até que...
Com argumentos enfraquecidos
numa nobre missão deletéria
ficam motivos entontecidos
de quem não percebe a matéria.
Tantas esperanças saldadas
nestes tempos espaventosos
pelas medidas malfadadas
de políticos portentosos.
É verdae, caro Bartolomeu, não me ocorreu esse ponto das "pegadas"...genial a observação!
O trabalho que daria, certamente, a limpar as pegadas!
Caro M. Brás,
Sempre, sempre ao lado do Povo -
a sua poesia, claro!
Caro dr. Tavares Moreira,
O exercício da memória pode ser muito penoso razão pela qual muitos o evitam dele fugindo como o diabo da cruz. Não deixa todavia se ser indispensável.
Um povo sem memória, caro Eduardo F., é um povo à mercê dos mais irresponsáveis aventureiros- onde é que eu já ouvi isto?
Tem toda a razão, pois, ao chamar a atenção para a necessidade de lembrar como chegamos a este ponto...
Até por que, como já se percebeu, não se pode contar com os media para tal, esses só se preocupam em relativizar!
Relativizar é a palavra de ordem, não há culpados...embora existam centenas de milhares de vítimas.
Vítimas do azar somente...correu mal, paciência, desde que não nos toque muito...
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