1.Estamos a assistir, com esta "paródia" final das grandes obras públicas que uma a uma vão ficando pelo caminho, aos últimos estertores da política económica nacional, em consequência de um conhecido fenómeno de “cerco de credores” que alguns ilustres insistem em chamar de “ataque especulativo”.
2.Quando deparamos com este “finale” nada brilhante, é forçoso recordar que tudo isto começou há cerca de 11 anos, paradoxalmente em ambiente de grande festa, quando aderimos à Confraria do Euro, orgulhosamente instalados no seu “pelotão da frente”.
3.Aí, de um só golpe, prescindimos dos dois mais importantes instrumentos de regulação económica de que até então (ou até um pouco antes) dispúnhamos:
- A taxa de câmbio, que nos tinha permitido, em momentos críticos (com o FMI a tiracolo) alterar o valor externo da moeda;
- A taxa de juro, que tinha tido um importante papel coadjuvante da taxa de câmbio na contracção da procura interna.
4.Parece que quase ninguém (nas chamadas altas esferas do poder) em Portugal se
terá então dado conta disso, mas ficamos nessa altura reduzidos à política
orçamental e às chamadas políticas estruturais.
5.A política orçamental, como temos repetido “ad nauseam”, foi utilizada da
pior maneira possível, tendo contribuído para agravar o desequilíbrio da
economia e para acelerar o endividamento ao exterior que as muito baixas taxas
de juro e o aventureirismo dos bancos tinham já feito disparar.
6.A política estrutural por sua vez serviu sobretudo para compor discursos bem
elaborados e para justificar meia dúzia de iniciativas mais ou menos pomposas
mas de eficácia nula ou quase nula no tocante ao fortalecimento da capacidade
de oferta de bens e de serviços transaccionáveis – plano tecnológico, novas
oportunidades, etc.
7.Sem nos darmos conta, estávamos assim a preparar o terreno para mais dia menos dia
virmos a perder o que nos restava de autonomia da política económica.
8.E esse dia chegou, talvez quando os incautos cidadãos menos esperavam…
em meados do ano 2011, com o País asfixiado em dívidas, os credores
apertando o cerco, exigindo taxas de juro cada vez mais elevadas…
9.Doravante, a política orçamental terá que cumprir os objectivos que os credores
determinarem, até porque, é bom não esquecer, a evolução da nossa dívida
externa só conhece um sentido - vai continuar a aumentar, a ritmo muito forte,
por maiores que sejam os aplausos ao PEC- “fetiche”…
10.E ai de nós se não cumprirmos os objectivos orçamentais que os credores nos
fixarem…
11.Deveremos lamentar-nos por este triste fim da política económica nacional?
Não pode motivo de contentamento, certamente, perdermos toda e qualquer
autonomia na condução da política económica…mas quando nos lembramos do
uso que dela foi feito, não nos deve deixar muitas saudades…
13 comentários:
A solução está no fundo do mar, diz o profeta! Se as coisas estão a ficar "gregas" o melhor é cada um de nós munir-se de uma palhinha, e sugar, sugar, sugar...
... e pela festança propagandística
São momentos espantosos
para mais tarde recordar,
de discursos portentosos
com um vigor de enfadar.
Neste “finale” humilhante
para um poder estragado
é deveras pouco brilhante
esse estado fustigado.
Que optimista, caro amigo, que optimista!! Meados de 2011... O caro Tavares Moreira é um poço de optimismo!
É natural, caro Zédotelhado, quando em terra se percebe que as coisas já não são o que eram, esta rapaziada fina volta-se para o Mar...alguma surpresa?
Caro Manuel Brás,
Mesmo em verso esta paródia tem um sentido triste...
Caro Zuricher,
Meados de 2010 acha optimista? Se quiser avançar outra data mais consentânea com a sua análise...a gerência agradece!
Caro Tavares Moreira:
Com euro ou sem euro, os nossos governantes seriam mais ou menos os mesmos. E da mesma maneira levariam a cabo as mesmas políticas orçamentais e estruturais ruinosas para a economia. Mais ruinosas até, porque, apesar de tudo, havia um limite para o défice, não respeitado, mas sempre uma barreira que fazia pensar.
Governantes impreparados que praticaram tantos erros de avaliação e verdadeiros "crimes" contra a economia por certo fariam as mesmas asneiras com a política monetária. Por mero facilitismo e demagogia. Teria certamente havido já várias desvalorizações do escudo, com efeitos nocivos para a competitividade no médio prazo e para a dívida. As taxas de juro estariam num nível porventura para nós, agora, impensável. A vida dos portugueses estaria bem pior.
Portanto, o problema não é do euro, mas dos que nos governam, ou, por outras palavras, dos que lá pusemos a governar. Estamos mal, mas a culpa não é do euro, mas da governação.
É neste sentido que entendi o belo texto do meu amigo.
Em 2004, a Dívida Pública cifrava-se em 58,3% do PIB ou seja 81.270 milhões de euros. Em 2009 atingiu 76,8% do PIB, isto é 125.750 milhões de euros. Em euros, a Dívida Pública portuguesa aumentou portanto naquele período, em 44.480 milhões de euros, ou seja um aumento de 54,73%. É obra.
Interpretação absolutamente correcta, caro Pinho Cardão...o Euro teria sido uma excelente escolha se a política orçamental que se seguiu à sua adopção tivesse sido correcta...
Mas, como bem sabemos, a política não só não foi correcta como foi perfeitamente "suicidária"!
Caro ruy,
Essa terá sido, por certo, a grande obra do "regime" nascido em 2005!
Ficamos com uma dívida - que continua a crescer a ritmo muito sustentado, de resto - de fazer inveja a muitos devedores inadimplentes!
Caro Tavares Moreira
O que nos sucede é fruto da nossas acções. Perorar contra os mercados e o "azar", pode ajudar a "dourar a pílula" internamente, mas não alegra os credores.
As notícias de hoje, 10/05/10, já corroboram o que escreveu: parece que o "amigo" Sarkozy "pressionou fortemente" o "amigo" José Sócrates" para antecipar o PEC 2011para o corrente ano, ou não fossem os bancos françeses um dos nossos principais credores....
Daqui a uns meses (semanas) a "amiga" Merckel vai "pedir" ao "amigo" José Sócrates que venda mais algum património, porque o que pôs em leilão não são assim tão atractivos.... a PT era mesmo o que vinha a calhar, porque até se terminava com a novela da "golden share", ainda se arranjava um acordo parassocial e ainda se mantinham o grosso dos postos de trabalho...gestores incluídos.....
Podemos continuar o rol, mas o mote já começou a ser imposto....
Cumprimentos
joão
Caro João,
Admito que a primeira das "conversas" que refere tenha sido do tipo "Dear Joseph you have no other option but to bring forward part of your brilliant PEC measures scheduled for 2011...otherwise you will not be entitled to wear the life jacket we have arranged for you...".
Que lhe parece, terá sido assim ou bem mais duro o tom da conversa?
Caro Tavares Moreira, notei o seu optimismo dado que no ponto 8 do seu post original está escrito "meados de 2011". Ou seja, entendi o seu post como sendo uma antevisão de 2011. Pela resposta dada ao meu comentário suponho que o que se deva ler seja "meados de 2010", correcto?
Exactíssimo, caro Zuricher...uma gralha de optimismo exacerbado, quem sabe se inspirada por algum comentador do regime...
As minhas desculpas pelo lapso.
Caro Tavares Moreira,
Depois da notícia da criação do fundo poço-sem-fundo decidido pelos responsáveis europeus, retiro tudo o que disse até hoje. Afinal, o segredo está em estar do lado certo do crédito, o lado do devedor e, usando uma frase de um falecido presidente d' "Os Belenenses", até nas dívidas temos que ser grandes. Uma linha de TGV??? Agora sou pela inclusão da ligação Algés - Saboia!
É bem conhecida a sua excepcional propensão para extrair conclusões inspiradas, decorrentes de uma atenta análise das realidades, meu Caro...
Mas, neste caso, permito-me sugerir que aguardemos pela segunda volta...
Até agora só conhecemos a face mais brilhante do mecanismo de apoio, falta conhecer as contrapartidas ou, como o FMI gosta tanto de dizer, a "conditionality"...
Repare que deixa de nos caber a definição dos objectivos (e medidas, seguramente) de política orçamental, se bem entendo...
Mais uns dias e o cenário menos rosa ir-se-á abrindo, penso eu de que...
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