São naturalmente de pesar os sentimentos pela morte de José Saramago. Lamenta-se sempre a morte de um ser humano. No caso, de um escritor muito considerado, Prémio Nobel da Literatura, que projectou o nome e a cultura do país. Na circunstância, Saramago faz as primeiras páginas dos jornais e das televisões e é enaltecida aos píncaros a sua obra.
Embora politicamente incorrecto, e por isso os jornais não tratam o tema, é bom também recordar outra faceta de Saramago, a de censor, castrador da liberdade de informação e do pluralismo e de saneador de jornalistas. Enquanto responsável pelo Diário de Notícias, em 1975, Saramago impôs uma informação de sentido único, colocando o jornal ao serviço da revolução, expressão entendida como ao serviço exclusivo do pensamento do Partido Comunista Português. Para isso, utilizou todas as armas possíveis do radicalismo, utilizou o medo, expulsou comentadores, perseguiu e saneou jornalistas que teimavam em manter algum resquício de liberdade de informação. O processo de saneamento, de uma assentada, de 24 jornalistas ficou célebre, pelo método e pela violência moral de que se revestiu, depois de um Plenário de Trabalhadores, convocado de modo a vergar o espírito e a subjugar qualquer vontade da redacção não coincidente com a da direcção em que Saramago pontificava.
Creio que o Partido Comunista de hoje, pese a sua ortodoxia, não aprovaria, até mesmo se envergonharia, dos métodos censórios utilizados por Saramago.
Por ironia do destino, anos depois, Saramago foi acolhido como articulista no jornal em que foi saneador. E os media de hoje exaltam a sua figura, esquecendo a de censor. Ou a justificam, pelos tempos conturbados que se viviam. Mas não foi por falta de esforço de Saramago que então não se instalou uma nova ditadura.
Embora politicamente incorrecto, e por isso os jornais não tratam o tema, é bom também recordar outra faceta de Saramago, a de censor, castrador da liberdade de informação e do pluralismo e de saneador de jornalistas. Enquanto responsável pelo Diário de Notícias, em 1975, Saramago impôs uma informação de sentido único, colocando o jornal ao serviço da revolução, expressão entendida como ao serviço exclusivo do pensamento do Partido Comunista Português. Para isso, utilizou todas as armas possíveis do radicalismo, utilizou o medo, expulsou comentadores, perseguiu e saneou jornalistas que teimavam em manter algum resquício de liberdade de informação. O processo de saneamento, de uma assentada, de 24 jornalistas ficou célebre, pelo método e pela violência moral de que se revestiu, depois de um Plenário de Trabalhadores, convocado de modo a vergar o espírito e a subjugar qualquer vontade da redacção não coincidente com a da direcção em que Saramago pontificava.
Creio que o Partido Comunista de hoje, pese a sua ortodoxia, não aprovaria, até mesmo se envergonharia, dos métodos censórios utilizados por Saramago.
Por ironia do destino, anos depois, Saramago foi acolhido como articulista no jornal em que foi saneador. E os media de hoje exaltam a sua figura, esquecendo a de censor. Ou a justificam, pelos tempos conturbados que se viviam. Mas não foi por falta de esforço de Saramago que então não se instalou uma nova ditadura.
14 comentários:
Recordo-me, de quando pretendi conhecer a escrita de Saramago, ter começado pela "Jangada de Pedra". Revelou-se-me tenebrosa a leitura. Não havia meio de encarrilhar com o processo. Não encontrava sentido nas frases, não era capaz de fazer casar o entendimento com o desenrolar da acção.
Recordo-me tambem de comentar o livro com alguem que me respondeu: pedes tempo a ler livros desse comunista? Eu, não!
Qualquer coisa que não consigo entender, passa a constituir para mim, um desafio. Talvez porque me considere pouco inteligente, possuidor de uma reduzida capacidade de discernimento, acho sempre que as coisas importantes passam ao lado da minha perspicácia. Não raras vezes me chamo estúpido e me interrogo: como diacho não percebi isto, tão evidente, entrava pelos olhos dentro de qualquer um? Posso adiantar que comecei e parei a leitura da "Jangada" seguramente, umas 3 vezes, sempre determinado a desistir, mas, por força desta curiosidade atroz que me devora os sentidos, voltei sempre ao "local do crime", até que, por uma inidentificável casualidade, o encadeamento das frases escritas daquele modo suigéneris que caracterisa a escrita Saramaguiana, começou de um momento para o outro, a fazer sentido.
Recordei-me da opinião daquele meu amigo e, constatei identifiquei, ideias e reflexões de esquerda nos romances de Saramago, contudo, não lhes encontrei algum sentido doutrinal.
Na biografia de Saramago, se por acaso nos assaltar a preocupação de fazer coincidir o homem e o tempo, penso que chegaremos fácilmente a uma oposição, quem sabe, a uma contrição. Pessoalmente iría um pouco mais longe e seria capaz de dividir a vida de Saramago em dois periodos distintos; até Pilar e, com Pilar.
"O Cerco da Cidade de Lisboa", parece-me o marco que assinala a entrada de Pilar na vida do escritor, daí para a frente, passamos a conhecer um Saramago mais reflexivo, mais consentâneo e contemporizador, apesar de, ainda e sempre, rebelde e contestatário.
Os epítetos de inconveniente, de incorreto, de demoníaco, penso que lhe foram atribuídos de grande forma, por despeito e incompreensão, talvez até por tacanhísmo, superstição e obscurantismo.
Saramago, é no meu entender, um autor para ser lido, fazendo essencialmente a separação entre o homem e a escrita. Quem tiver a veleidade de querer entender-lhe a escrita baseando-se ou tomando a pessoa como referência, em minha opinião perde o seu tempo.
O Sr. Saramago está longe de ser tido, consensualmente, como uma figura nacional. Primeiro,porque o seu prémio nobel, dizem, decorreu de um esforço do partido comunista português junto do seu camarada sueco, no governo desse país, à época. Segundo, porque existe muito boa gente que passou as maiores agruras, dada a sua falta de escrúpulos, como homem e como "democrata", no Diário de Notícias, onde saneou, a seu belo prazer, muitos colaboradores desse jornal. Terceiro, porque um homem com categoria pessoal e intelectual, não se comporta da maneira como o fez, num país onde a esmagadora maioria da população é católica, contra a Igreja e contra os seus princípios religiosos ; não, não se trata de um acto de coragem ,trata-se, isso sim, de uma jogada refinadamente de marketing.
Esta de eu ter de pagar como contribuinte, o avião que irá trazer o Sr. Saramago de volta a Portugal, deixa-me consternado; é que eu ainda ontem, paguei comida, comprovadamente, a um cidadão português que estava com fome.
O PCP não se envergonharia de prática alguma. Estou certo que muito se
orgulha de todo o seu passado. É pena que os demais militantes não vejam em Saramago um exemplo na sua morte. E o sigam...
Não sei até que ponto a Comissão que concede os prémios Nobel pode ser influenciada. Estou em crer que continua a ser uma comissão objectiva e que atribui os prémios de literatura a alguém que “produziu uma obra que se tivesse destacado pelas suas tendências idealistas” sem ter em conta a afiliação política do seu autor ou as suas idiossincrasias. Não é qualquer um, não é um escritor mais ou menos bom que ganha o tão ambicionado prémio. Não contesto a qualidade, a grandeza da obra de José Saramago. A mim não me cativou e já fui cativada por outros vencedores deste prémio. Não concordei com alguns dos seus comentários, muitas vezes irreverentes e arrogantes (a meu ver); não obstante, lamento a sua morte como pessoa e como figura que se destacou a nível internacional. Portugal não tem produzido muitos “prémios Nobel” e desconfio que muitíssimos anos irão passar até que se repita.
A polémica acompanha-o postumamente e estará sempre presente enquanto a memória do homem e da mulher existir mesmo em forma de lampejos.
Se o antoniodosanzóis quiser empregar um pouco do seu tempo a desmontar teorias conspirativas, vai com facilidade concluir que na actualidade, sempre que o primeiro ministro muda um ministro, aquele que o substitui, nomeia imediatamente novos colaboradores. O mesmo se passa em outros organismos do estado e em empresas privadas.
É um atavio nacional, sanear e nomear outros, que substituam os primeiros. Os motivos ou razões, podem ser muitíssimos, desde a competência, a confiança olítica, a amizade pessoal, à velha teoria de que, é nessessário renovar para dnamizar. mesmo que os renovadores venham embuídos de ideias mais retrogradas ques os renovados.
Círculo vicioso esse! Fazem-se mudanças para ficar tudo na mesma. O tal impasse que caracteriza muitas sociedades. Políticos a viver os seus momentos lúdicos perante eleitores em estado de letargia crónica.
Como bem escreveu J. L. Saldanha Sanches, num artigo sobre fundações e impostos/fisco, Saramago optou por pagar os seus impostos em Espanha, e em Lanzarote, pois aí nessa ilha o fisco é mais favorável do que naquele país. A alguém que "fugiu" ao seu dever de pagar impostos neste país o Estado não deveria com ele gastar um cêntimo, não obstante o seu valor como escritor, que temos de respeitar e valorizar.
1. Sua Excelência o Presidente da República disse:
"Escritor de projecção mundial, juntamente galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago será sempre uma figura de referência da nossa cultura.
Em nome dos Portugueses e em meu nome pessoal, presto homenagem à memória de José Saramago, cuja vasta obra literária deve ser lida e conhecida pelas gerações futuras.
À família do escritor, endereço as minhas mais sentidas condolências".
2. Também paguei com os meus impostos a viagem à Capadócia de Sua Excelência o Presidente da República e de Sua Mulher.
Sr Orlando
Essa de Saramago pagar os seus impostos em Lanzarote foi uma atoarda lançada por Saldanha Sanches.
Foi prontamente desmentido pelo próprio Saramago.
O tempo irá apagar o que Saramago tinha de negativo e realçar o positivo. Daqui a algumas gerações será elevado a um estatuto superior aquele que já tem neste momento. O filtro do tempo já fez coisas semelhantes no passado. A França teve Céline, que não foi prémio Nobel, a Noruega Knut Hamson, a Espanha Camilo Cela, enfim, criadores que, entre muitos outros, primam pela diferença, uma diferença radical, uma estranha genialidade que não poupa nada nem ninguém, nem eles próprios...
Lamento sempre a morte de alguém. Lamento a de Saramago. No demais não alinho na hipocrisia oficial.
Tal como Henrique Monteiro, creio que o Deus filho da puta de Saramago perdoar-lhe-á porque como é óbvio, não relevará esta manifestação de humanidade do falecido.
Sei bem que a História exaltará a proeza do Nobel para o escritor português e esquecer-se-á de tudo o resto. Acontecerá com Sarmago o que aconteceu com tantas figuras a quem a morte absolveu ipso facto os pecados. Pode vir a ser assim na História. Na minha memória repousa, porém, esse "tudo o resto" do pensamento e da escrita de Saramago que significa um abismo que me separa desta onda de admiração geral. Eu que respeito as ideias de cada um, que não absolvo o estalinismo, que não admiro ditadores nem ditaduras, que não aprecio azedumes, pesporrências, que gosto de me sentir português, que rejeito o insulto gratuito dirigido a convicções e a quem as tem, não posso honestamente prestar homenagem a quem fez do contrário o fundamento da sua obra e do seu pensamento.
Mas digo com a mesma franqueza: paz à sua alma.
Estou consigo, caro Ferreira de Almeida
Talvez a morte mereça que se perdoem os pecados. Deixemos o homem em paz, fica-nos a sua obra escrita que,como leitora, muito admiro, concorde ou não com o que pretende dizer ou com o espírito com que as escreveu. Mas isso acontece com muitos escritores, a maior parte deles não sabemos como são como pessoas e isso não nos impede de gostar de os ler.Li muitos dos seus livros, outros não me interessaram, mas os que escolhi gostei imenso.
Graças a Saramago, Bartolomeu teve a sua epifania...
Enviar um comentário