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sábado, 23 de abril de 2011

O desafio da verdade...

Mário Soares em entrevista ao jornal i: É essencial, por isso, falar a verdade aos portugueses, todos os portugueses. Esclareçam-nos primeiro como é que a situação está. Seria muito desagradável se fosse agora o Fundo Monetário Internacional ou o Fundo Europeu que viessem dizer-nos: "Há este buraco aqui que não estava previsto, ninguém sabia que existia. E há mais este ali." Os portugueses querem a verdade, e não propaganda eleitoral. Querem também conhecer a estratégia para sairmos da crise. Não basta fazerem-nos apertar o cinto, é indispensável dizerem-nos para onde vamos e como. Não basta "simpatizar com um líder e embirrar com o outro". Porque os portugueses, julgo eu, pensam que a situação, e como a resolver, transcende as simpatias e as cores partidárias.

Seria muito importante que a verdade fosse dita. A crise, a austeridade, o resgate financeiro, a delicada situação económica e social em que nos encontramos e o ponto de partida para o saneamento e a reconstrução do país são realidades que não devem ser branqueadas.
Sem a verdade não vamos perceber que temos que mudar de vida, de viver do nosso trabalho e de adequarmos o estilo de vida à riqueza que somos capazes de produzir. Mas não chega. É preciso que os portugueses saibam o que é que têm de mudar, para onde vamos e como podemos lá chegar e qual o papel que cada um pode ter neste processo.
Mas esta mudança implica uma nova moralização social, retomar princípios e valores que há muito deixaram de ser uma referência. Aqui joga-se a diferença. Esta é também uma verdade que precisa de ser dita e demonstrada por quem tem maiores responsabilidades. Omitir os valores do trabalho, do empenho, da exigência, do mérito, da coragem e da honestidade não é falar verdade. E a mudança também exige uma palavra de esperança verdadeira, não a promessa fácil ou a venda de ilusão.
Muitas verdades para serem ditas que deveriam constituir um grande e exigente desafio imediato. Quem lhes conseguir dar “alma” ganhará a confiança dos portugueses. A confiança constitui um incentivo para haver esperança e vontade de avançar. Sem incentivos é difícil mudar…

4 comentários:

Bartolomeu disse...

Na verdade, existem muitas verdades acerca da mesma verdade.
Bem gostaríamos que uma única verdade, assim fosse entendida por todos.
Mas não, cada um defende a sua verdade própria, a mesma que colide com a verdade do outro. Hoje, já todos conseguimos perceber inequívocamente que a verdade indisfarçável, é que o país está falido, conseguimos perceber também que houve um governo incapaz de governar e uma oposição incapaz -face às circunstâncias- de impor alternativas, assim como um Presidente da República que, sem ultrapassar as regras constitucionais, alertasse o país da verdade que viria a conhecer mais tarde, pela forma mais dolorosa.
Muitas verdades se encontram ainda por desvendar e assumir. Uma delas, que se adivinha mas ainda não se conhece em toda a sua extensão e que é na verdade aquela que interessa mais a todos conhecer, é aquela que revele os sacrifícios que todos teremos de fazer e por quanto tempo. É também aquela que cada partido político tem para propor aos eleitores, como sendo a sua forma verdadeira para conduzir o destino da nação.
É importante que estas verdades sejam coincidentes!

Gonçalo disse...

Resta saber se Soares pede a verdade sobre a situação criada e deixada por Sócrates, se uma verdade sobre o que vem aí para tapar os buracos socialistas.
Porque quem assumir essa segunda verdade, como sua, perde as eleições. Ninguém ganha eleições dizendo verdades sobre medidas como descida de ordenados, congelamento de pensões, despedimentos facilitados, fim aos transportes baratos, mais impostos, perda de subsídios de férias e Natal, etc...

Medidas 1: http://notaslivres.blogspot.com/2011/04/fmi-medidas-contabilisticas-possiveis.html

Medidas 2:
http://notaslivres.blogspot.com/2011/04/fmi-medidas-estruturantes-possiveis.html

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Há uma coisa que sabemos. A verdade mais tarde ou mais cedo vem sempre ao de cima. Sabemos também que a mentira destrói a confiança. Verdade, confiança e esperança são, mais do que nunca, um alimento que precisamos, neste momento, como de pão para a boca.
Votos de um Páscoa Feliz!
Caro Gonçalo
O caminho da verdade está facilitado, as desgraças da verdade vão-nos ser impostas pelo resgate financeiro.
As medidas das suas "Notas Livres" podem ser incluídas, justamente, num pacote da austeridade. Não haverá margem para fugir à verdade.
Votos de uma Páscoa Feliz!

Bartolomeu disse...

Não sei se sabemos, Drª Margarida... temos esperança que a razão venha ao decima, isso sim, até porque, em certas questões, importa mais compôr o que está derrubado, que própriamente saber quem é que derrubou.
Isto é a minha opinião, evidentemente. Porque se nos mantivermos na situação de querer apurar responsabilidades, sem darmos um passo no sentido da recuperação, mesmo que cheguemos a apurar responsabilidades, o que duvido, manter-nos-hemos no mesmo lugar. Pois os responsáveis, ou, aqueles que julgamos responsáveis, nunca admitirão a sua culpa e mesmo que algum tribunal os responsabilizasse e condenasse, nunca reporiam os danos que causaram.
Então, cumpre-nos olhar em frente e arrancar com ganas, rumo ao futuro.
Desejo-lhe também e todos os que fazem parte deste hesmifério, uma Páscoa redentora e renovadora.
Com um grande abraço!