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domingo, 27 de novembro de 2011

A crónica ilusão do "crescimento económico"...

1.Face à vaga de medidas de austeridade associadas ao OE/2012 e ao cumprimento dos objectivos consignados no Programa de Assistência Financeira (PAF), têm-se repetido os apelos ao “crescimento económico”: muitos comentadores e conhecidas figuras da política nacional clamam que não basta a austeridade, que “não nos podemos resignar ao empobrecimento”, que são indispensáveis “medidas” (sem nunca as especificar, certamente) que promovam o crescimento económico…
2.Na linguagem de veteranos dirigentes sindicais, esse apelo dirige-se à necessidade de “políticas alternativas” (?), que devem dar prioridade ao crescimento, rotulando as medidas de austeridade de opções de política neo-liberais…
3.Existe neste apelo ao “crescimento económico” uma miopia de análise que muito me impressiona pois foi exactamente essa obcecação pelo crescimento a qualquer custo que nos atirou para a situação catastrófica em que a economia portuguesa se encontra...mas parece que esta gente nunca mais aprende…
4.Foi a ideia “desvairada” de que para a economia crescer era necessário gastar, gastar sempre mais, à revelia de qualquer critério de racionalidade económica na escolha dos investimentos – atingindo níveis de grave delírio nos últimos 6 anos - que nos trouxe à situação de total asfixia financeira em que nos encontramos mergulhados…
5.Em consequência dessa política de “crescimento” totalmente irracional, a economia portuguesa não só não cresceu como se endividou a um ponto tal que agora ninguém nos dá crédito…e por isso carece, desesperadamente (é o termo) e sem perda de tempo de corrigir os desequilíbrios que acumulou e que, apesar das medidas já tomadas continuam a manifestar-se…
6.Para corrigir esses desequilíbrios – basicamente entre o que conseguimos produzir e o que gastamos – precisamos que as exportações (de bens e serviços) cresçam e que as importações diminuam ou pelo menos não aumentem…
7.Para que as exportações cresçam, é necessário, simultaneamente (i) produzir mais, o que requer investimento produtivo e (ii) que os mercados externos respondam, comprando mais daquilo que produzimos (por decreto não podemos obrigar os mercados externos a comprar-nos)…
8.Como não controlamos a variável exportações, temos de agir, sem perda de tempo dada a situação aflitiva em que nos encontramos, sobre a variável importações, contraindo a despesa, sobretudo a despesa de consumo, tanto público (com prioridadade) como privado. A única forma de conseguir isto chama-se, precisamente, “austeridade”…
9.Para tentar estimular o investimento e produzirmos mais e melhor, aquilo que ao Governo compete fazer – uma vez que infelizmente não conseguiu evitar os agravamentos de impostos sobre quem produz - é tornar muito mais eficientes os mercados de factores de produção (trabalho, em especial) e de produtos (com relevo para a introdução de maior concorrência em diversos sectores protegidos)…
10.Para além de melhorias importantes na provisão de serviços públicos, sendo o caso da Justiça o mais emblemático…
11.As medidas mencionadas nos 2 pontos anteriores são as famosas “medidas estruturais” do PAF, cujo desenvolvimento parece estar mais difícil mas que não poderão tardar muito…
12.Fora disto, os apelos ao “crescimento económico” não passam de uma crónica ilusão… mas são pior, pois confundem os cidadãos e ecoam como um trágico convite à repetição das loucuras que nos trouxeram até ao pesadelo que estamos a viver…

20 comentários:

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

Os apelos de crescimento económico significam pôr quase um milhão de Portugueses a trabalhar. Uma sociedade que abdica de 20% da sua mão de obra activa por "quase decreto" (aumento de impostos, custos absurdos de contexto, dificuldades de toda a ordem a empreender, ...) é uma sociedade sem futuro. Como votante neste governo estou completamente desiludido com a forma pouco inteligente que se têm aggiornado e motivado as pessoas para a tarefa da reconstrução nacional.

Tonibler disse...

Pois... Eu tenho a sensação de que a aristocracia nacional achava que austeridade não lhe devia bater à porta e que o estado deveria garantir algumas apostas, nomeadamente, na "cultura", na investigação "histórica" e no "estabelecimento claro do valores portugueses". Afinal, essa coisa de austeridade aplica-se aos besuntas desta vida, não a pessoas de nível cultural superior que sempre estiveram na primeira linha da defesa dos valores republicanos.

Imagino que para estes o conceito de "economia" seja algo destinado aos "tecnocratas" (por oposição aos intelectuais de sensibilidade política), mas economia é troca de trabalho. Se os senhores em causa não fazem um chifre, será natural que a austeridade os afecte nalguma medida.

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

Concordo consigo Tonibler e o que me preocupa não é o corte dos subsídios é o aumento dos impostos.

Bmonteiro disse...

Caro Tonibler
Quanto aos investimentos na cultura,
acaba o país aristoc de ganhar uma dura prova internacional, quem sabe bem capaz de acalmar os mercados:
Glória AlFado.
Entretanto, assiste-se a uma luta feroz pela salvação da cultura nacional com a democrática RTP de luxe.
A bem do Regime.

Tavares Moreira disse...

Caro Pedro de Almeida Sande,

Está mesmo convencido que os apelos ao crescimento significam por 1 milhão de portugueses a trabalhar?
Está mesmo convencido que é esse o sentido da expressão "políticas alternativas" que os veteranos dirigentes sindicais não se cansam de reclamar?
Olhe que eles têm sido bem mais amigos do descanso do que essa sua mensagem faz supor...ou então terão mudado muito sem que eu tenha reparado, tb é possível...

Pinho Cardão disse...

De facto, os apelos ao crescimento económico, vindos de onde vêm, têm como pressuposto único que é o Estado o motor do crescimento e que é ao Estado que compete fazer o crescimento. Com mais despesa, claro está! Querem precisamente que o doente tome mais veneno, para que morra. E, em cima do cadáver, gritar as suas razões e os amanhãs que cantam. Essa é a maior exploração que, sob a capa de um bom propósito, mas deliberadamente enganando, se pode fazer do ser humano.

Caboclo disse...

agora choram ...chorem pois então ...

espera ..tem uma luz no fundo do túnel ...

fogeeeee....é o trem balaaaaaa....srf..smuckkll..krtchh...

Caboclo disse...

O nosso regime socialista ..mais arrosado ou mais alaranjado ..tem métodos perfeitos para destruir o tecido produtivo ..um deles espertamente implementado para cortar pernas ..é/foi o da proibição de uso de cheques após emissão de 3(tres) sem provisão.
O nome fica sujo para sempre e não há /houve volta a dar-lhe.
Perfeito obstáculo a quem quer entrar no mundo arriscado que é fazer uma empresa.
Um obstáculo daqui ..um obstáculo dali ...e as empresas vão-se enfraquecendo ao invés de se fortalecer ..volatilizando as chances de aumentar a produtividade .
mário soares e seus esbirros até hoje acha que toda a culpa é dos criadores de empresas ..os famigerados patrões ..exploradores da classe operária..
Com um pensamento destes do grande timoneiro português ..se conseguiu o óbvio ..a realidade actual ..o falhanço total ..
E não se criam empresas por decreto ..muito menos se contrata gente sem a liberdade de poder despedir.




No Brasil.. um país que acredita religiosamente no empreendedorismo a pessoa limpa o nome após pagamento de divida ..é instantaneo.E se não pagar... ao fim de 5 anos ..limpa tudo automaticamente (até hoje amam Collor por causa dessa lei)( e por causa disto os juros são tão altos no Brasil).

Tudo é feito com uma lógica de
desencravar a vida ao cidadão ..o mais possível ..para que ele possa dar o melhor de si próprio à sociedade ...e todos juntos poderem realmente fazer o que é incontornável --O Crescimento económico. Que é a única forma de diminuir os pobres de forma sustentável.

Tavares Moreira disse...

Nem mais, Pinho Cardão, nem mais...
Despesa pública, sempre mais despesa pública, sempre que necessário com o rótulo de investimento mas que de investimento tem só mesmo o rótulo...pois se trata de despesa destinada a gerar mais despesa no futuro -vide (i) estádios do Euro/2004,(ii) autódromo do All-garve, (iii) praias artificiais em diversas cidades do interior, (iv) casas da música, (v) AE sem custos para o utilizador e sem utilizadores, etc, etc...
Assim perseguimos o crescimento, acabando nesta desgraça!

Caboclo disse...

Não se esqueça Tavares Moreira que essa moda que muito me intrigou na época começou com a Expo 98 em que Cavaco Silva faz crescer o pib com uma festança super hiper ultra cara ...mas só tem doido a governar ...quer o quê ?

Caboclo disse...

Qt custou na época a expo98 ? 400 milhoes de contos ..dois bilhoes de euros ? tudo para quê ? interesses imobiliarios..shoppings..se tivessem feito um parque da cidade ..e investido a grana no estimulo de empresas ..ou pelo menos não se endividar ..mas não ...só dá crápulas na esfera do poder...

Wegie disse...

Indigência notável! Aumentar exportação, diminuindo importações? Só visto!!!!

Tavares Moreira disse...

Caro Wegie,

Cegueira notável...ou pelos vistos não sabe ler!

Wegie disse...

Estou mesmo pitosga:

"...precisamos que as exportações (de bens e serviços) cresçam e que as importações diminuam..."

Tonibler disse...

Até apostava que aqui o Wegie é professor de economia. A sério, não porque não seja asneira, mas porque é um tipo particular de asneira que...

Ilustre Mandatário do Réu disse...

Excelente aula (e serviço público). Só é pena que não o convidem para abertura de anos lectivo de renomeadas faculdades de economia.

Essas continuam entregues aos Trapalheiras dos Santos, que mais não são que os artífices das Almas Penadas, coisas do Arco da Velho e Contos do Vigário. A próxima década vai ser assolada pela Twillight Zone. E ainda por cima vamos ter de pagar por um filme que não encomendamos!

Buíça disse...

Perfeitamente de acordo.
O "crescimento por decreto" tem de acabar.
E junto um exemplo:
http://www.guardian.co.uk/uk/2011/nov/27/george-osborne-gamble-autumn-statement

Mexem-se umas rubricas do orçamento para parecer que se arranja uma "almofada" de 5 mil milhões, que na prática, para preservar o ciclo eleitoral e outras promessas sem cortar verdadeiramente em despesa nenhuma, terá de vir de mais umas impressões de libras frescas do Bank of England.
É complicadíssimo quebrar este ciclo, só com populações superiormente formadas e que não caiam nas patranhas de sempre.
Não vejo a coisa bem parada... e no entanto o exemplo Alemão está aí para quem o quiser copiar.
Se chegar a este furacão com pleno emprego, equilíbrio orçamental e dívida controlada não chega como amostra, não sei o que é preciso mais.

Wegie disse...

Tonibler,

Apostavas mal. Não passo dum reles diletante...

Tavares Moreira disse...

Caro Wegie,

Em relação à leitura deste Post torna-se agora óbvio que se trata de um Wegie-vesgo...lê só para um lado ou só aquilo que lhe convém ler...
Mas não me referi apenas a este Post, incluo ainda a leitura de documentos históricos que dão conta da evolução das nossas exportações e importações em resposta a medidas de ajustamento particularmente fortes...
Lá iremos...

Tavares Moreira disse...

Caro Wegie,

Para que conste, aqui vão as taxas de variação real das exportações e importações de bens e de serviços, verificadas em 1983, na imediata sequência do duro programa de ajustamento celebrado nesse mesmo ano com o FMI:
-Exportações: + 16,7%
-Importações: - 8,7%
Se tiver ainda dúvidas, aconselho-o a ler o relatório anual do BdeP, de 1984,encontra essa informação na página 105.
E agora venha falar-me em indigência, com toda essa arrogância que por vezes gosta de utilizar!
Eu não lhe devolvo esse tipo de cumprimento, de que não gosto, apenas relembro o ponto da cegueira.