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sábado, 5 de novembro de 2011

Nem sempre a História se escreve na secretaria





Papandreu ganhou a moção de confiança. Papandreu afastou o enorme risco de eleições antecipadas que a oposição reclamava. Papandreu conseguiu a preparação de um governo de coligação. Tudo de uma penada. Seria impossível discutir, um a um, cada um destes temas, no quadro de há poucos dias atrás, e chegar a uma solução rápida sem lançar o País num absoluto caos, por isso Papandreu usou a “bomba atómica”. Anunciou de surpresa a sua determinação de avançar para um referendo, o qual obrigaria todos, oposição e população, a ir a jogo, decidindo se sim se não podia continuar com o que o programa da troika impõe. Chama-se a isto destrunfar, obrigar os adversários a pôr o jogo na mesa. Sem o anúncio bombástico, seria impossível conseguir esta decisão notável na moção de confiança.
O que é mais interessante é pensarmos que, se Papandreu fosse na conversa dos colegas europeus, se se tivesse comportado com “lealdade”, como ouvi alguns dizer, teria sido absolutamente impedido de fazer a política à sua maneira, e teria sido vencido. E, com ele, a Grécia, que entraria em convulsão total.
Por aqui se vê a visão política dos “europeus” e o pouco que se ralam com o modo como as coisas andam nos países em ajuda. A mal ou a bem, avancem. Papandreu conhece o seu povo e sabe que a mal, pior. Jogou e ganhou. Fez política a sério e ainda bem, ninguém se salva se não se salvar a si próprio. Para já, a Grécia vai acalmar, a Europa vai desejavelmente deixá-lo fazer as coisas à sua maneira e, com sorte, tudo vai correr melhor. Por mim, que sempre achei impossível que Papandreu não soubesse o que estava a fazer, experiente e preparado como é, gostei de ver este lance de grande risco e de grande rasgo. Nem sempre a História se escreve na secretaria. Ou com as opiniões dos jornais.
Boa sorte Grécia!

12 comentários:

pvnam disse...

ANEXO:
-> Nazis na desmultiplicação: o que caracteriza o Nazismo não é o ser 'alto e louro'... mas sim a busca de pretextos (adoram evocar/inventar pretextos) com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros!...
-> Manobrados pela superclasse, andam por aí muitos nazis na desmultiplicação: quer na forma falada quer na forma escrita, eles desmultiplicam-se na busca de pretextos... com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros... nomeadamente, as Identidades Étnicas Autóctones.
--->>> Já ninguém duvída que os capitalistas selvagens são uns nazis muito activos:
- promoveram a exploração de escravos... para benefício do desenvolvimento económico...
- promoveram holocaustos massivos sobre povos economicamente pouco rentáveis (ex: alguns povos nativos da América)... para benefício do desenvolvimento económico...
- hoje em dia já andam por aí a ameaçar países que tenham políticas proteccionistas... pois isso é considerado um entrave ao desenvolvimento económico global....

Unknown disse...

Os resultados finais poderiam não ter sido estes. Ainda não acredito que as coisas se acalmem deste jeito.

Façam uma Europa de todos e com todos.
Os mesmos salários e os mesmos impostos. Os mesmos direitos sem reservas especiais para alguns...

Tonibler disse...

Acho demasiado forçado que um sujeito que deve ter estado ao telefone durante duas semanas com representantes europeus, tenha guardado para si a intenção de pegar num acordo, que foi tirado a ferros, e dizer "agora vamos lá ver se aquilo que assinei vale alguma coisa".

Foi bem jogado pelos demais europeus porque ficavam sempre a ganhar, ou a Grécia ia fora ou ficava a obedecer. Mesmo assim, esta solução ainda não é a melhor. O referendo teria sido o fechar de um problema que, cada vez mais me convenço, é auto-gerado e atacado nos sítios errados.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
A Europa das instituições tem-se escrito muito na secretaria. Não basta, como se está a ver, proclamar vontades e, sobretudo, que a política seja capturada pelo mediatismo. Uma Europa desunida em torno de uma moeda única é o resultado da falta de instrumentos capazes de o defender. Por agora a Grécia acalmou e os mercados reagiram positivamente com a "bomba atómica" de Papendreu que não chegou a explodir. A Grécia não entrou em convulsão total, mas os problemas da Europa continuam por resolver.

JotaC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JotaC disse...

Cara Dra. Suzana Toscano:
Seria desejável que a frase “tudo está bem quando termina bem”, se aplicasse à Grécia, e aos países que estão a viver a incerteza do momento. Mas, pelo que oiço, ninguém garante que a terapêutica de choque recomendada pela troika faça o milagre de fazer crescer, tão rapidamente as economias dos países intervencionados, de modo a aligeirar o desemprego e o empobrecimento generalizado dos cidadãos, com a consequente implicação nas respectivas economias internas e também na tranquilidade.
Embora haja especialistas a dizer que tudo isto pode ser compensado pelas exportações, tenho dificuldade em perceber como é que numa economia global, com um mercado tão competitivo, se pode, sem investimento fresco, aumentar as exportações.
A vitória dos gregos seria, a meu ver, necessária, pois dar-nos-ia força anímica para prosseguirmos no rol dos sacrifícios que nos esperam. Se essa vitória não for possível, paciência, os gregos continuarão a ser gregos, os países continuam…

JotaC disse...

PS:
Vou desviar para o facebook. :)

Pinho Cardão disse...

Cara Suzana:
Não sei, talvez nunca se saiba, a intenção final de Papandreou com o referendo. Mas que foi jogada de mestre, isso foi, pois ficaria sempre a ganhar. Caso o referendo fosse feito, se ganhasse a sua posição, Papandreou ganhava e continuaria; mas caso perdesse, também seria aclamado, pois teria consultado o povo. Se era pior para este, não viria ao caso, a sua "democracia" estava salvaguardada. Se o referendo foi apenas uma jogada para obter o que obteve, também ficou a ganhar. Um ovo de Colombo, uma jogada de mestre. Claro que o know-how político proveniente da dinastia Papandreou (avô, pai e filho) ajudou, e muito. As monarquias têm algumas vantagens...digo eu que não sou monárquico.

Suzana Toscano disse...

Caros, o facto é que a Grécia saiu do impasse em que se encontrava, embora o futuro seja tão incerto como é o de todos os países em crise aguda. Nunca nada está definitivamente resolvido, na Grécia ou em qualquer lado, mas um grande problema depende da resolução dos pequenos problemas e foi o que aconteceu. Tal como em Portugal, há poucos meses atrás, lembram-se? em que a decisão de irmos para eleições foi tão duramente criticada pelos mesmos que agora iam enforcando a Grécia. E se tivessemos adiado? Estaríamos agora na mesma situação dos gregos, em que tiveram que decidir no fio da navalha. Só nos jornais é que tudo se decide de um dia para o outro, a política tem tempos de acção e de consequências muito mais lento, felizmente.

Buíça disse...

Vamos lá a ver, então o pobre coitado (na realidade rico bilionário) negoceia uma coisa com a Europa e no dia seguinte anuncia que o que negociou vai a referendo e uns dias depois é obrigado por toda a gente (Europeus, Gregos, Americanos, Mercados, etc) a voltar atrás e isto é uma vitória...?
Começa o fim-de-semana a tentar chefiar um governo alargado para dar confiança e acalmar toda a gente e acaba no olho da rua e tudo isto foi "grande rasgo"?
Tentou que ficasse o seu delfim ministro das Finanças a encabeçar esse novo Governo e nem isso está garantido... e venceu...?!

É inacreditável isto que se lê no seu texto. Salva-se a parte de quem governa países como se jogasse à sueca.

Quanto ao futuro próximo, já ninguém tem grandes dúvidas de que todas estas manobras circenses servem apenas para voltarem a adiar as medidas de sempre, como começarem a cobrar impostos por exemplo.
Acho que já nem um milagre os mantém na Europa. E tal nem deve preocupar muito os mercados já a virarem-se para uma Itália bem mais apetitosa.

Suzana Toscano disse...

E qual era a alternativa, caro Buiça? Continuar a tentar governar, num quadro de evidente impossibilidade política de o fazer? Ou era anunciar que se demitia e convovar logo eleições, acredita que a reacção internacional e da opinião pública seria menos crítica? Ou "convocar" o adversário político, sem mais nem menos, para lhe propor um governo de coligação, quando ele nem se sentava à mesma mesa? Qual era a decisão política que, a seu ver, seria mais responsável e politicamente "vitoriosa"? Eu continuo a pensar o que disse, e mantenho, até ver o resultado final de tudo isto. Para já, ele tentou, e bem, se as forças políticas insistem em eleições, também não seria o referendo a resolver nada, tal como, aparentemente, a vitória na moção de confiança também não. Tudo isso confirma que P. não podia continuar a negociar coisa nenhuma sem clarificar internamente a capacidade de o executar. E sempre quero ver qual vai ser o discurso politico da Nova Democracia para ganhar as eleições...

Buíça disse...

1. Não me parece que sejam tempos para brincadeiras de "esquerdas" e "direitas" em que grupos de irresponsáveis se divertem a atirar pedras uns aos outros de lados contrários de um muro que já ruíu há mais de 20 anos.
2. A alternativa é evidentemente Governar! Implementar as medidas com que se comprometeram há mais de um ano e que já são urgentes há mais de 10 e que os políticos Gregos insistem em não ter coragem para concretizar.
3. Todos os países do mundo em algum ou vários momentos da sua história tiveram de o fazer. De cortar despesa, de vender activos, de implementar sistemas eficazes de simples cobrança de impostos (!), de remoção de entraves à livre iniciativa privada, de corrigirem os seus problemas...
4. Posso até dar 2 exemplos recentes, um mais próximo que outro:

A Eslováquia depois da queda do muro e da separação da República Checa estava na bancarrota e elegeu um governo que decidiu implementar reformas radicais com o objectivo de aderir à UE e mais tarde ao Euro. Em poucos anos desmontaram o sistema de segurança social e de saúde herdado do comunismo, implementaram repartições de finanças eficientes e funcionais por todo o país e estabeleceram uma taxa única de imposto para todos, particulares e empresas, em redor de 20% do rendimento/lucro certificando-se que absolutamente todos pagavam. Mesmo com a alternância democrática que obviamente as medidas impopulares provocaram, o país reconheceu o esforço que se estava a fazer e passados menos de 10 anos estava na UE e faz hoje parte da zona Euro sendo aliás dos países do Euro com menor dívida em % do PIB.
O Ecuador, farto de déspotas e cleptocracias e programas extorsionistas de "ajustamento" impostos pelo Banco Mundial elegeu como presidente em 2006 ou 2007 um Rafael Correa que uns anos antes se tinha demitido de ministro das Finanças por se recusar a cumprir mais um dos programas de "apoio" que só em juros consumia 80% da despesa pública em saúde e educação (o que o tornou popular). Quando se conseguiu candidatar foi eleito por maioria à primeira volta e decretou que nunca mais de 20% do Orçamento público seria utilizado para pagar dívida externa em cada ano. Como o Ecuador tem recursos naturais garantiu assim que teria algum dinheiro para governar, dinheiro que utilizou também inteligentemente para ir recomprando a preços de saldo e em segredo alguma da dívida do seu país. Por outro lado começou um programa implacável de investigação das condições em que tinham sido contraídas as dívidas e onde tinha sido aplicado o dinheiro, acabando por contestar grande parte dela (e com sucesso) junto das instâncias internacionais através da figura jurídica (debatível, mas que até os USA já usaram na sua história) da "hideous debt". Pode parecer um pequeno Hugo Chávez, mas é alguém que estudou Economia na Bélgica e EUA e que de uma forma ou outra vai lutando pelo seu país e resolvendo os problemas. E continua a pagar dívida externa. Toda aquela que não consiga demonstrar como criminosa.

São apenas 2 exemplos do que pode ser Governar numa crise profunda.

Peço desculpa pelo tom (presente e anterior), está no seu direito de acreditar em patranhas como é óbvio, mas está evidente para quem queira ver quem nem Samaras nem Papandreou querem mudar absolutamente nada do essencial que os tem enriquecido todos estes anos. Os dois juntos não fazem meio homem e um governo de compromisso entre os dois, a menos que seja alguém que lhes esteja a ser imposto e reporte directamente aos credores externos, não oferece esperança nenhuma aos Gregos.