1. Esta semana viveu-se um ponto muito alto da história parlamentar com a aprovação, no quadro feliz de um consenso muito alargado, da ansiada Adenda da Agenda para o Crescimento que deverá ser anexa ao chamado “Pacto Orçamental”.
2. Já temos pois a Adenda da Agenda, falta-nos apenas, agora, o Crescimento propriamente dito (o real)...
3. Se este Crescimento fosse o resultado de simples trabalho de oratória – do que muitos dos nossos garbosos parlamentares estão genuinamente convencidos - poderíamos a esta hora estar celebrando uma grande vitória do Crescimento contra a Austeridade, navegando de novo a desejada onda do Crescimento que tivemos que abandonar à pressa e em sobressalto há pouco mais de um ano, em risco de afogamento...
4. Infelizmente, esta concepção essencialmente oral de Crescimento, que uma boa maioria dos nossos parlamentares cultiva, existe mesmo e só para contentamento da classe política, nada tem a ver com o chamado País real...
5. No plano das realidades deveria interessa-nos bem mais considerar, por exemplo, o que se passa no plano da correcção do desequilíbrio (conjunto) das Balanças de bens e de Serviços com o exterior, tema que já aqui nos tem ocupado: esta semana foram divulgado os dados do 1º Trimestre/2012 que evidenciam um progresso muito significativo.
6. Com efeito, o défice conjunto das duas Balanças (Bens+Serviços) foi de € 730 milhões, inferior em 72% ao que se havia verificado no período homólogo de 2011 (€ 2.595 milhões).
7. Esta melhoria resultou, no caso dos Bens, de um aumento das exportações de +11,2% e de uma diminuição das importações de -3,8%, que produziram uma diminuição do défice da Balança de Bens de 44,2%. No caso dos Serviços, o saldo positivo subiu mais de 15% (€ 1206 milhões no 1ºT/2011 para € 1.388 milhões no 1ºT/2012).
8. Estes dados, não permitindo ainda tirar conclusões finais como é evidente, sugerem todavia, com razoável verosimilhança, a possibilidade de assistirmos já em 2012 ao equilíbrio do saldo conjunto das Balanças de Bens+Serviços – só por si, uma quase revolução no desempenho da economia portuguesa.
9. Basta referir, para termos uma noção do que esta mudança significa, que os défices de Bens+Serviços foram, respectivamente, de € 11.809 milhões em 2009, € 11.483 milhões em 2010 e € 5.446 milhões em 2011...
10. Mas, como já se percebeu, no plano mediático - caracterizado pela mediocridade absoluta dos temas dominantes – esta mudança fundamental e “sine qua non” para a estabilização da economia e para a normalização das condições de financiamento da mesma (sem o que qq ideia de Crescimento não passa da triste oralidade), de pouco ou nada vale quando comparada à grandiosidade da aprovação da Adenda da Agenda... Que País estranho, este!
9 comentários:
"...só por si, uma quase revolução no desempenho da economia portuguesa."
Deixe-me reforçar com "e numa altura em que o petróleo sobe."
Caro Tavares Moreira,
A revolução vai dar-se, com políticos ou sem. E, sejamos francos, sem políticos é muito melhor porque com eles nunca lá chegaríamos. Porque crescimento do bom, do real, é este, não é aquela nojeira com que os media e políticos se banqueteiam.
Por isso, deixe-os lá com as cenas do Relvas e das Agendas porque, como dizia um chefe que tive em tempos, "quem é para trabalhar, já cá está! O resto é melhor que nem apareça".
E assim continuaremos, caro Dr. Tavares Moreira, se rápidamente não nos atrevermos, não ousarmos inovar, começando pela eliminação de tudo o que sobejamente se sabe fazer emperrar o funcionamento da economia.
Nesta altura, após vários anos de queda ininterrupta da economia, com as consequÊncias que essa queda inevitávelmente ocasiona, sabemos todos o que é preciso ser feito, sabemos também que de oratória já estamos todos servidos até em demasia. Precisamos acção, acção concertada e objectivamente direccionada para os sectores da economia que urge revitalizar, reanimar, precisamos também de um forte Parákletos que nos apoie, nos oriente e nos una numa vontade comum.
Caro Bartolomeu,
Não, não precisamos. Não precisamos de concentrar nada, de revitalizar nada, de reanimar nada, não precisamos de orientação, não precisamos de apoio.
Precisamos que as pessoas que concentram, revitalizam, reanimam, orientam e apoiam se preocupem com o Relvas, com as Agendas, com a Indonésia, com outras coisas do género e parem de de fazer coisas importantes porque estamos fartos de ser pobres.
Sim, numa optica desconstructiva, para a construcção, seria como diz, caro Tonibler. Mas, o facto é que o país é de todos e todos têm a sua quota-parte na reconstrucção, no reerguer da economia, na estabilização social.
Todos temos de comparticipar, e todos temos de o fazer, perfeitamente conscientes do papel que desempenhamos, críticos mas, simultâneamente responsáveis e coerentes.
Não deixo de concordar que estamos a ser expoliados, esturquidos, sangrados nas nossas condições de vida e daqueles que estão ao nosso cargo, por via de consecutivas más gestões de governos que, um após outro, deixaram que várias fraudes fossem cometidas, fraudes de avultadíssimas quantias, para as quais o comum cidadão não concorreu, nem delas usufruiu. E não vimos, nem nos parece que venha a acontecer uma disposição, uma propensão deste governo e da actual justiça, para julgar e condenar aqueles que praticaram essas fraudes, obrigando-os a restituír aquilo que roubaram ao país. Se isso viesse a suceder, daríamos um grande passo, em direcção a essa tão desejada e necessária motivação para a reconstrucção e a estabilização.
Assim... olhe, vamos continuar a andar aos papeis e a fazer salamaleques em frente aos que nos continuam a gamar à força toda.
Caros Tonibler e Bartolomeu,
Tem carradas de razão nos comentários que faz, caro Tonibler...o papel dos políticos tem sido atrapalhar, complicar, dificultar e nalguns casos mesmo, não poucos infelizmente, bzzxxkkkpar!
Não acrescentei no Post, para não ser longo em excesso, que esta mudança radical do desempenho da economia se deve no essencial ao trabalho árduo das empresas - mas das que se situam em sectores concorrenciais, não das que auferem rendas elevadas, garantidas à custa dos consumidores domésticos e/ou do Estado...
E quando se diz empresas deve acrescentar-se os empresários e trabalhadores que, trabalham em permanência em cima do risco, que não têm descanso, andam por esse mundo fora promovendo os seus produtos e serviços...
Nem uma empresa municipal, regional ou do Estado Central concorre para este resultado, antes estorvam e atrasam...vejam este pequeníssimo exemplo do Metro de Lisboa, que não vai fazer serviço especial para o evento Rock in Rio, pois administração e sindicatos não chegaram a acordo quanto às condições de realização desse serviço...
Não tenho a menor dúvida que os sindicatos só aceitariam realizar esse serviço sob a condição de o mesmo acarretar um prejuízo para a empresa...
Não que considere o Rock in Rio um evento importante, bem longe disso...mas para o Metro de Lisboa poderia ser uma oportunidade para ganahr uns cobres, que vai ser desperdiçada...
O estatuto social do Metro de Lisboa exige-lhe que suporte prejuízos em qq circunstância...era o que faltava prestar um serviço para ganhar dinheiro!
Tem toda a razão no exemplo que o caro Dr. Tavares Moreira nos apresenta.
Mas o mesmo argumento tería ainda mais força, se o Estado, os sindicatos, os orgão das administrações e as comissões de trabalhadores, fossem pessoas de bem e tivessem esgotados os meios de entendimento e de consenso para encontrar a forma justa de conciliar as exigÊncias dos trabalhadores, com as possibilidades do Estado.
Assim, como toda a gente aposta primeiro no braço-de-ferro, modalidade olímpica com total cobertura televisiva...
Sim... porque não nos iludamos, o primeiro e maior beneficiado de todo este circo, são os orgãos de informação... é que à pala de toda a fantochada, vendem pa caramba!
(gostou do termo, seu brazuaca cabocleiro?)
;))
Caro Bartolomeu,
A forma "justa" de conciliar as exigências dos trabalhadores e as possibilidades do estado foi a encontrada: renunciar à prestação do serviço, evitando mais uma acumulação de prejuízos...
Achava possível outra?
Não se esqueça que em primeiro lugar está o Estado Social, caro Bartolomeu...os contribuintes, esses que se "danem"!
Caro Tavares Moreira:
De facto, a Agenda socialista teve a sua grande consagração, ser objecto de resolução parlamentar.
Como se o agendal palavreado promovesse crescimento.
Sem produtividade é que não o há; porque bens caros não têm mercado, se não têm mercado não são produzidos, se não são produzidos não geram emprego. Está alguma coisa destas na Agenda?
Caro Pinho Cardão,
essas coisas não estão obviamente na Agenda nem na Agenda estará nada que seja realmente relevante para o Crescimento Real da economia: a Agenda situa-se no palno do Palavreado puro, da ficção económica, parece-se mais com uma peça do genial Hoffmann do que com qq coisa que respeite ao mundo em que vivemos...
Enviar um comentário