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quinta-feira, 10 de maio de 2012

O sexo da Agenda

Ontem, os Deputados da Comisão de Economia deitaram ao lixo muitas horas do seu tempo numa discussão sem objecto, nem senso, nem norte. Tratava-se de um Quadro com números referentes ao desemprego que os Deputados conheciam, por ter sido publicado na Internet, mas se recusavam a conhecer, por não ter sido enviado à Assembleia da República. Numa Comissão de gente sensata, feito o reparo, passar-se-ia ao que era importante e importante não é saber se se prevê mais duas décimas de desemprego ou mais duas décimas de emprego. O problema do desemprego está na falta de um ambiente económico favorável, leis de trabalho razoáveis, uma justiça célere, diminuição da burocracia e dos custos de contexto, um Estado facilitador e não empecilho, coisas que aos senhores Deputados da Oposição não interessa discutir, por ignorância manifesta, pressuposto ideológico, ou desejo que tudo corra mal. Refugiam-se numa Agenda para o Crescimento e Emprego, como se crescimento e emprego resultasse de qualquer anotação em qualquer agenda. O que seja a Agenda ou as respectivas anotações é que não revelam.
Com o inimigo às portas da cidade, os sábios bizantinos discutiam o sexo dos anjos. Por cá, com a Troyca já dentro das nossas muralhas estilhaçadas, os sábios deputados oposicionistas e socialistas pretendem discutir a Agenda. Melhor dito, o sexo da Agenda. Matéria adequada para a sua formação, pois  analisar a economia está muito para além do seu nível da sua competência. O sexo da Agenda, matéria privada dos deputados socialistas. Que lhes faça bom proveito. E usufruam. 

9 comentários:

Rui Fonseca disse...

Caro António,

Leio este teu comentário e subscrevo a tua indignação.

Contudo, apesar da indiscutível necessidade de execução das medidas de que dás alguns exemplos, elas terão sempre efeitos apenas a médio e longo prazos, e a situação de curto prazo é demasiadamente crítica para se ultrapassar com elas.

Entre Jens Weidmann (residente do Bundesbank) e Martin Wolf estabeleceu-se anteontem e ontem uma troca de argumentos que vale a pena ler.

Comentei-os no meu bloco de notas, ontem e hoje.
Hoje, aqui:
http://aliastu.blogspot.com/2012/05/o-que-deve-dizer-francois-angela.html

Mas, como comecei por referir, a reflexão que te proponho não invalida em nada a tua crítica ao comportamento irresponsável que relatas.

Bartolomeu disse...

Subscrevo no essencial, o comentário que o caro Rui Fonseca apresenta.

Tonibler disse...

Eu apoio todas as discussões que os deputados possam ter sobre a agenda. Mais, se pudessem passar toda a legislatura a discutir agendas estou certo que seria das mais positivas legislatura que o país teria desde há séculos. Ontem ainda se vislumbrou uma esperança quando começou aquele diálogo "mentiu", "não menti", "mentiu",... se ao menos se conseguissem aguentar uns anos nessa discussão...

Pinho Cardão disse...

Caro Rui:
Nesta tua brilhante série de posts no teu excelente Aliás, as tuas observações são lúcidas e, salvo uma ou outra questão, não tenho, no geral, objecções essenciais. Tenho apenas algumas reservas no que respeita à oportunidade de algumas das sugestões. Realço particularmente as tuas seguintes notas:
a) "Nestas circunstâncias, o que pode fazer François Hollande? Primeiro, tem de esquecer as promessas que fez aos franceses, não só porque a sua concretização não ajudará a França mas também porque os líderes alemães não o levarão a sério".
b) "François Hollande deve começar por uma discussão séria com os alemães acerca do modo como eles pensam acabar com a crise na Zona Euro".
c) "A proclamação de que são precisas políticas de crescimento que são incompatíveis com a austeridade severa decretada por Berlim e suportada, até agora, por Paris, é um slogan político que não tem o condão de fazer crescr seja o que for e aonde for".
d)"Portugal não precisa de mais dívida mas de menos dívida. Precisa, é preciso dizê-lo claramente, de uma redução da sua dívida pública. Antes que o cisma aconteça".
Depois, dizes que a política de austeridade tem de dar lugar a políticas simultâneas de ajustamento realísticas e de reformas estruturais. Não estou em desacordo. Mas, primeiro, há que provar que se tomam algumas medidas.
Porque, no fim, o que o que está implícito na Agenda do Partido Socialista é apenas manter a situação e procurar o crescimento através de mais despesa pública, isto é, um retorno ao princípio do fim. O recomeço da tomada do mesmo veneno. O Partido Socialista arranjou alguém que financie e pague a dívida adicional? Ou arranjou mesmo alguém disposto a entregar mais dinheiro?
Quanto a Hollande, continua igual a si próprio e ao socialismo. Agora, quer congelar o preço dos combustíveis. Gerando défices adicionais. Quanto maiores forem os da França, menos a França acudirá aos outros. E é nele que Seguro tem esperanças. Estamos mesmo bem entregues!....

Pinho Cardão disse...

Caro Tonibler:
Já estive mais longe dessa posição...Mas ainda continuo a acreditar que a onda má passará. Não é possível manter indefinidamente deputados assim...

Rui Fonseca disse...

Caro António,

As afirmações a) e b) são de Martin Wolf, não são minhas.
Aliás, o meu apontamento de hoje é sobretudo um resumo do artigo dele no FT.

Já as alíneas c) e d) feitas ontem, em contraponto ao texto de Weidmann, deduzo que discordas sobretudo da segunda.

Mas é o que eu penso. Portugal não tem hipótese de pagar a dívida pública que tem. Sem reestruturação à grega ou qualquer coisa semelhante, não vamos lá. De modo nenhum.

Salvo melhor demonstração.

Tonibler disse...

Cortam-se os salários da função pública. Há sempre esta hipótese antes de se reestruturar a dívida.

Freire de Andrade disse...

Pois é. Os nossos deputados são exímios na discussão do sexo dos anjos (ou da Agenda, como se queira). A troca de palavras de hoje e ontem em nada contribui a resolução dos problemas graves com que o País se debate, nem sequer para esclarecer as mesquinhas questões que resolvem abordar. Era preciso outra gente, ou pelo menos alguém que imponha uma discussão séria.

Pinho Cardão disse...

Ora aí está, caro Freire de Andrade.