Não há ninguém com tão forte dinâmica reprodutiva como os burocratas.
Depois de terem enxameado até ao limite tudo o que era sítio ou lugar ocupável,
depois de duplicarem estruturas, agora dedicam-se a observar os outros
burocratas.
Foi agora publicada uma lista, dando conta de 109 Observatórios.
Observam-se os fogos e as cheias, as artes e as tradições, o sexo e a
estatística, a iliteracia e os medicamentos, o arroz, a natureza, os robots e a
astrofísica. Até se inventou um Observatório da Vida. E nos 109 publicados não
estão todos: falta, pelo menos, o Observatório da Economia Paralela e da Fraude, que as consegue medir até às décimas!...
Sendo o Observatório uma construção de burocratas, que se esgota em si, por si e para si, nunca a burocracia é posta em causa,
a começar naturalmente pela da observação. A culpa é sempre dos Governos. É bem
feito. A burocracia fere sempre a mão de quem a sustenta. Sabemos bem disso,
todos os que a pagamos.Directamente, ou pagando àqueles que a
observam.
9 comentários:
Bem observado!
O caro Dr. Pinho Cardão conhece por ventura, outra forma mais directa de pagar favores aos amigos, criando-lhes empregos para os filhos, sobrinhos, afilhados, amantes, etc?
De facto...
Bem visto o seu post geral e muito bem metido o comentário do Bartolomeu!
Mas o meu amigo muito gosta de bater no Observatório de Economia e Gestão de Fraude.
Pois fique sabendo que foi recentemente distinguido pela Association of Certified Fraud Examiners.
Caro Pinho Cardão, discordo de si, não são os burocratas que criam os Observatórios, mas os políticos, muitas vezes porque nao sabem o que fazer com as áreas que devem governar e vão criando organismos que olham a realidade e a reportam. É claro que a necessidade de ter dados organizados e consistentes foi uma necessidade crescente à medida que aumentaram os outlooks internacionais em que Portugakl aparecia sistematicamente como "não tem informação", o que muito nos prejudicava, o problema é que esses dados não sejam utilizados como deve ser para formular políticas, ou mudar com sensatez o que deva ser corrigido. Entre tantos observadores, inspetores, fiscalizadores, coordenadores, reguladores e julgadores, já vai faltando mesmo é quem saiba fazer as coisas no terreno, para cada um que faz deve haver pelo menos dez que vão ver o que foi feito. Esse é que é o problema.
Cara Suzana:
E o que têm sido os políticos, com raras excepções, se não uns burocratas?
Não existem já Direcções Gerais, Repartições, Serviços suficientes para "observar"?
A Suzana até me dá razão no que diz. Se os políticos não os põem a trabalhar, é porque são do meio, têm as suas conivências, nada de hostilizar, porque posso precisar deles e quando sair do governo vou voltar ao meio e quero ser bem recebido.
E continua a dar-me razão quando diz que " já vai faltando mesmo é quem saiba fazer as coisas no terreno, para cada um que faz deve haver pelo menos dez que vão ver o que foi feito". Que é isso se não obra de burocratas da mais fina água? Muitos "travestidos" de políticos, mas com todos os órgãos e toda a pele de burocratas.
Caro Ilustre Mandatário do Réu:
Que é que posso pensar de quem publica relatórios a dizer que a economia paralela aumentou, já não sei se 6 décimas ou oito décimas no último ano? A economia paralela e a fraude são assim medíveis com tal rigor? Não brinquem comigo e, sobretudo, parem de nos extorquir dinheiro para "fraudes" científicas destas...
Quanto ao facto de tal Observatório ter sido premiado pela Association of Certified Fraud Examiners, é óbvio que todos se sustentam do mesmo e bebem da mesma água. Vivem encostados uns aos outros e vão-se premiando mutuamente. Ampliando a burocracia até formarem Associações Internacionais. O poder dos burocratas.
Caro Pinho Cardão, chame-lhes maus políticos, não lhes chame burocratas, porque a administração pública e muitas vezes o seu mau funcionamento são largamente prejudicados pelas decisões dos maus políticos...
Talvez sim, cara Suzana.
E é claro que muita administração pública (e, por tabela, todos nós...) é vítima desses maus políticos. Alguns, maus políticos e simultaneamente burocratas. No pior sentido do termo.
Descobri a origem da lista. Está no anexo VII de um relatório de estágio.
Sobre as décimas estamos de acordo, não vamos revisitar a discussão. Mas há que dar valor a quem tem valor. O seu argumento do "Vivem encostados uns aos outros e vão-se premiando mutuamente." fez-me lembrar a previsível resposta do Vieira ao Pinto da Costa sobre o Pedro Proença na final dos campeões. Pois está provado que no seu inconsciente tem o meu amigo muito de benfiquista.
Sobre o resto não sei a quem interessa que não se conheça o país ou mesmo a fraude e a corrupção.
Até lhe dou um argumento que não utilizou -- mas afinal para que servem os 80 milhões de euros que cista o instituto nacional de estatística por ano?
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