Verdadeiro serviço público são as reportagens das TV sobre a neve. Sobre a que caiu e sobre a falta dela, sobretudo na Serra da Estrela. Dramatizam-se os centímetros que caem e que tornam ainda mais difícil a vida das gentes, diz o repórter logo desmentido pelo pastor que, de sorriso aberto, vai explicando que neve no inverno por aqueles sítios é o que há de mais comum. Mas verdadeiramente problemático, com direito a longos minutos de declarações em ar de protesto, tristeza, desalento e chocante exibição de crianças lacrimosas no banco de trás do carro, é o encerramento dos acessos ao topo da serra. Por causa da neve, já se vê. E por causa do governo que há muito deveria ter investido pelo menos tanto em limpa neves como as pessoas investem em tabogans de plástico. Mais um direito fundamental, o de usufruir das dádivas da natureza que o governo implacavelmente nega. Insensibilidade social, é o que é!
Mas também é notícia, relatada em direto e por ampla equipa deslocada para a Torre, a falta de neve. Se não nevou naquele fim de semana relata-se a insatisfação dos que vieram debalde. O melhor de tudo são as questões do repórter postas aos peregrinos da neve. Invariavelmente aparece um/a brasileiro/a ou um/a alegre africano/a: "Foi a primeira vez que viu neve?". A pergunta que me encheu as medidas foi esta: "Olhe, porque é que está a fazer um boneco de neve?".
Mas também é notícia, relatada em direto e por ampla equipa deslocada para a Torre, a falta de neve. Se não nevou naquele fim de semana relata-se a insatisfação dos que vieram debalde. O melhor de tudo são as questões do repórter postas aos peregrinos da neve. Invariavelmente aparece um/a brasileiro/a ou um/a alegre africano/a: "Foi a primeira vez que viu neve?". A pergunta que me encheu as medidas foi esta: "Olhe, porque é que está a fazer um boneco de neve?".
15 comentários:
Como imigrante relativamente recente num país rotinado a conviver com neve, ainda estou na fase do choque com o folclore sazonal que estes acontecimentos provocam em Portugal e com a
abordagem quase telenovelesca que a generalidade dos media portugueses providencia sobre estas matérias - que nao sao mais do que um exemplo deste posicionamento em prol da
notícia-espectáculo que acaba por dar azo aos telejornais dignos do Circo das 3 Pistas que cá chegam pela RTP Internacional.
Trata-se de algo que já se me ia revelando óbvio, mas que o afastamento me demonstrou à saciedade...
Enfim, uma informação de encher chouriços, em que se degrada cada vez mais a já degradada profissão de jornalista.
Eis-nos a comentar e a criticar os comentários e críticas dos que são comentados e criticados por aqueles que comentam e criticam.
;)))
Em minha opinião, "o governo" tem obrigação de vir a público, declarar que envidou todos os esforços, inclusive reuniu diversas vezes com S- Pedro, para que este ano nevasse somente nos locais onde cada português desejasse e na quantidade pretendida. "O governo" deveria esclarecer ainda os portugueses, que pretende fazer todos os anos uma consulta pública para apurar dados conducentes a uma uniformização, de acordo com as normas em vigor para os países da união europeia, onde ficará estabelecida a incidência nevática (grande termo, vou imediatamente registar a petente) anual!
;)
AS da neve são boas, mas as da praia são muito mais estúpidas "então, a aproveitar o calor, eihn?" "É verdade, vim com a família.." "Para variar dos dias de trabalho, eihn?"
De qualquer forma, essa participação é à borla e, por vezes, até tem piada, ao contrário da participação de muitos comentadores profissionais especialistas em asneiras, e a quem ainda temos que pagar.
De qualquer forma, essa participação é à borla e, por vezes, até tem piada, ao contrário da participação de muitos comentadores profissionais especialistas em asneiras, e a quem ainda temos que pagar.
José Mário
O ponto a que as televisões chegaram, não faz qualquer sentido, mas não interessa, a maioria da população ainda não foi ver a neve!
Essa da neve escapou-me mas as múltiplas "notícias" sobre o menino da Madeira ainda prometem continuar. Já entrevistaram o médico do hospital uma dúzia de vezes, a de hoje foi para ele explicar por que motivo tinha informado a polícia da alta dada ao menino, seguida da milésima afirmação de que aplicai continua a investigar, o que é ilustrado por imagens de polícias a vaguear no meio do mato ou a sair em fila de uma casa. Rematam com mais uma entrevista uma tia, à avó e mostram fotografias do bebê ao colo de alguém, quando ainda tinha poucos meses. Anuncia-se agora um movimento de solidariedade para com a família, aposto que as próximas entrevistas são ao presidente da junta, ao da câmara, ao ministro...além de outras pistas jornalísticas que irão apontar suspeitos e mais suspeitos.
Caro Bartolomeu, será certamente um contributo muito útil para as estatísticas do número de patentes registadas em Portugal :)
Há também o clássico das entrevistas às vítimas das greves, designamente do Metro: "O senhor está à espera do autocarro por causa da greve.", afirma o repórter. "Sim" diz o desprevenido transeunte. "Então vai chegar atrasado ao trabalho hoje" atira o repórter. "Não, vou para o jardim da Estrela jogar as cartas com uns amigos". "Como acabaram de ver, são estes os efeitos de mais uma greve do Metro. Por exemplo este senhor vai definitivamente chegar atrasado" remata o repórter, sorridente, para a câmera.
Acontece que nas entrevistas por ocasião de greves no Metro e outras assim simpáticas para a comunicação social, só por mera coincidência e raro acaso aparece alguém que se sente prejudicado e, regra geral, todos compreendem, mesmo que estejam à chuva ou ao frio. Chegar atrasado, mesmo, por causa de uma greve, só para jogar às cartas...
Portanto, tudo bem. O Metro não faz falta nenhuma. E, se não faz, feche-se.
Feche-se o Metro,
a TAP e a Carris.
Restaure-se a PIDE,
A Censura, o Fascismo.
Proíbam-se as greves,
Oprimam-se as vidas, breves.
Restabeleça-se o mutismo.
Volte-se às antigas lides,
Do chicote e dos castigos vis.
E que renasça o tempo abafadouro!!!
E a neve, meu caro Bartolomeu? Que se faz dela?
A neve nacionaliza-se; é do povo!
Se for preciso, o povo sai à rua e reivindica a sua posse.
A NEVE É DO POVO!!!
A NEVE É DO POVO!!!
Como diz o Taleb, a função do jornalista não é dizer a verdade é chamar a atenção...
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