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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Ecce homo

"O céu é o limite"

José Sócrates, em 1 de Fevereiro, de 2006

Maria Tifóide

De acordo com a Organização Mundial de Saúde só 10% das doenças com origem alimentar são notificadas. Portugal faz parte deste grupo, e no tocante às salmoneloses, uma das toxinfecções mais graves, são permanentemente subnotificadas contribuindo para a sua disseminação causando graves problemas de saúde pública. Para ilustrar o risco de transmissão recordei-me da velha mas pedagógica história de Maria Tifóide.

No século XIX e até meados do século XX a febre tifóide era endémica, sendo responsável por altas taxas de morbilidade e de mortalidade.
A história de Mary Mallon, conhecida mais tarde pelo apodo de Mary Typhoid, ilustra a complexidade na transmissão de uma afecção infecciosa.
Mary Mallon chegou aos E.U.A. em Janeiro de 1868 na companhia de um anarquista. Irlandesa, dizia poucas palavras em inglês, mas sabia dizer: "I can cook".
Em 1906, na localidade de Oyster Bay (Long Island) o Dr. George Soper foi interpelado por um habitante a fim de investigar uma epidemia de febre tifóide que tinha atingido 6 das 11 pessoas que viviam na sua casa. Uma menina tinha falecido.
Após uma meticulosa investigação (da qual tinha eliminado um conjunto de vectores responsáveis pela propagação do bacilo, nomeadamente a água, o leite e outros vectores tradicionalmente ligados à pobreza e falta de condições de higiene - Oyster Bay era uma estância de gente rica) Soper que conhecia a teoria de Robert Koch, segundo a qual a infecção podia ser propagada por pessoas que albergassem o bacilo, centrou a sua atenção sobre a cozinheira. Mary Mallon foi descrita como pessoa de poucas palavras, sisuda e silenciosa quanto ao seu passado. Boa cozinheira, segundo o patrão, tinha feito o mais delicioso gelado. No entanto tinha desaparecido há três semanas, desconhecendo-se o paradeiro.
Suspeitando da cozinheira, procurou saber o seu trajecto profissional, tendo verificado que nos locais onde tinha trabalhado, ocorreram casos de febre tifóide (1900, 1901, 1902...). Por onde passava deixava a sua assinatura...
Após seis meses de pesquisa, acabou por encontrá-la. Ao confrontá-la com os acontecimentos, Mary indignou-se, negando ser a responsável.
Através dos registos, Soper calculou que Mary foi responsável por vinte e oito situações de febre tifóide. Uma das epidemias ocorreu em Ithaca (Nova Iorque) com 1.300 casos. Quando foi descoberta, Mary usava um nome falso e trabalhava numa casa onde tinha surgido casos de febre tifóide. Pediram-lhe para se submeter a exames para detectar o bacilo, mas as facas da cozinha fizeram demover a intenção do médico! Na segunda tentativa um cutelo foi razão suficiente para que não fosse feito exames à urina e ás fezes.
A polícia deteve-a, com muita dificuldade, transportando-a ao hospital. Não havia bacilos na urina, mas nas fezes abundavam como um enxame de abelhas.
O Departamento de Saúde isolou-a durante três anos num hospital para doenças infecciosas. Foi-lhe proposta a colecistectomia, mas recusou com medo de lhe acontecer qualquer coisa de mal...
Prometeu que nunca mais iria cozinhar, nem tocar nos alimentos para as outras pessoas e aparecer de três em três meses perante as autoridades de saúde. Deixaram-na sair e desapareceu.
Cinco anos depois, uma senhora, Mary Brown, cozinhava numa Maternidade de Nova Iorque, onde vinte e cinco enfermeiras adoeceram com febre tifóide, das quais algumas faleceram. Detectada, foi transportada algemada ao hospital de doenças infecciosas, onde permaneceu durante vinte e três anos até à sua morte em 1938, devido a um AVC.
Oficialmente foi-lhe atribuída 51 casos e três óbitos, mas a realidade deverá ser totalmente diferente já que a epidemia de Ithaca provocou mais de 1.000 vítimas.

Os loucos existem!

Imaginem um apostador louco decidido a ir à Turquia para sacar uma ave com H5N1!


Betting on Bird Flu

When public health officials talk about the chances that H5N1 will reach the United States this flu season, most don't back up their chatter with cold cash. But a gaming house has, offering a 20-to-1 payoff should people start coming down with the much-watched virus before 6 April.

General manager Peter Ross of YouWager.com says his house based its odds on the speed and direction the virus has been moving in Asia and Europe. Ross says 4 days into wagering, the public appears pessimistic - so if bird flu arrives, the company stands to lose big. Neuroscientist Adil Khan of the Buck Institute for Age Research in Novato, California, a seasoned wagerer, points out that chance may not play the only role: "The last thing you want to get is a big bettor who goes out and brings back the bird flu themselves." (Science 20 January 2006).

terça-feira, 31 de janeiro de 2006

A Dança das Laranjas - 2

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O apreço pessoal que tenho por Marco António Costa não me inibe de denunciar as ideias surpreendentes que expressou nos últimos dias. Como se já não chegasse a crítica à medida tomada pela Direcção Nacional visando moralizar o pagamento de quotas, justificou a mesma pela situação social dos militantes do PSD que têm dificuldades em pagar 1 euro por mês. Pelo que se pode ler aqui, "Marco António Costa anunciou que «numa última acção enquanto presidente da distrital do Porto» irá enviar uma proposta para que os jovens até 30 anos fiquem isentos do pagamento de quotas e que, para os militantes com mais de 30 anos, o pagamento seja facultativo". Presumo que sejam os militantes com mais de 30 anos de militante a que se juntariam todos os "jotinhas", dado que é a idade limite para o deixar de ser.
Não dá para acreditar!

Na mesma notícia, também tomamos conhecimento da iniciativa de Agostinho Branquinho de convocar todas as distritais para um jantar no sentido de: «Vamos ver se há pontos de encontro entre as distritais. Podemos apresentar uma proposta ou sensibilizar a direcção do partido para as nossas ideias». Os dirigentes das distritais, pelo que se lê, já têm ideias precisas sobre os estatutos, mas que eu saiba nenhum deles consultou os militantes sobre essas ideias.

É interessante como numa simples notícia se percebe tão bem o que é que vai mal no PSD.

Mão estendida e eterna pedinchice!...

Hoje viajei uma boa parte do dia e ouvi um número infindável de noticiários da rádio.
A grande notícia era a vinda de Bill Gates a Portugal.
Vinha para impulsionar o Plano Tecnológico, diziam umas notícias, para proferir uma Conferência, no âmbito da administração pública, destinada a Membros do Governo e Autarcas, enfatizavam outras, ou ainda para assinar um Protocolo com o Governo, no quadro de formação em informática ou para ser condecorado pelo Presidente da República.
Pelo teor e tom das notícias, comecei a desconfiar que o tratamento dado à vinda de Bill Gates estava a traduzir, de forma esplendorosa, o poder de influência na informação das Assessorias de Imprensa, desde a da Presidência da República, à do Gabinete do 1º Ministro ou à do Ministro que tem a seu cargo a Reforma Administrativa, e que os diversos editores dos vários jornais radiofónicos se estavam a limitar a gerir as diversas versões do acontecimento recebidas das várias Assessorias de Imprensa.
Com efeito, cada qual, à sua maneira, procurava explorar, em proveito político próprio, a vinda de Bill Gates.
Ao fim do dia, vim a saber, por um jornal, que o objectivo da vinda de Bill Gates a Portugal foi a participação na Conferência Anual Europeia da Microsoft, tendo os outros factos sido agendados à margem desse evento.
Se os nossos políticos não olhassem apenas para o seu umbigo, veriam que acontecimento importante a ser enfatizado era a capacidade que Portugal e a Microsoft revelaram quanto à realização daquela Conferência em Portugal.
Essa realização é que é o factor importante.
Esquecer isso e dar ênfase à condecoração, à conferência e ao apoio para a formação é a forma lamentável encontrada para patentear o espírito existente de mão estendida e de eterna pedinchice.

Tinta visível


Causou alguma surpresa o lançamento do livro de Pacheco Pereira "Quod est Demonstrandum" logo a seguir às eleições. Conforme ouvi o autor explicar em entrevista à televisão, a compilação de todos os textos que escreveu e publicou ao longo do período em que as presidenciais foram tema teve como objectivo permitir uma avaliação global das suas opiniões (não estou a citar, é a minha interpretação). Uma espécie de responsablidade assumida pelo que disse e influenciou, como analisou e previu, por considerar que as opiniões expressas pelos comentadores ou analistas devem depois ser confrontadas com a realidade que veio a verificar-se.
É um exercicío de seriedade e responsabilidade pessoal mas também uma forma exigente de lembrar que quem quer ter influência e ser ouvido não pode ver diluido o que disse depois de passado o momento, deixando à memória vaga do público a sucessão de intervenções.
Pacheco Pereira não precisava deste exercício que sublinha a sua exigência intelectual. Por isso o seu exemplo tem ainda mais força, pode ser que crie o precedente para muitos analistas mais preocupados em chocar ou criar polémicas instantâneas do que em contribuir para criar um pensamento ou avaliar uma situação.
É a diferença entre quem quer marcar com as suas intervenções e os que opinam usando tinta invisível...

Quarentena

Mesmo antes de se conhecer a etiologia infecciosa de algumas doenças já se tomavam medidas de carácter preventivo. Aquando da epidemia da peste negra, que assolou a Europa no século XIV, foram tomadas as primeiras medidas de controlo. Foi em Rogusa, em 1377, que se aplicou a primeira medida obrigando os viajantes a aguardarem dois meses antes de entrarem na cidade. Mas a lei conhecida pela Lei da Quarentena foi estabelecida na cidade de Marselha em 1383.
Nos nossos dias, as autoridades sentem-se na obrigação de aplicar medidas de isolamento e de quarentena com o fito de travar ou minimizar os efeitos de uma epidemia. Foi o que aconteceu em 2003 com a chamada pneumonia atípica e agora vêm propor que se apliquem igualmente na próxima pandemia da gripe.
Portugal dispõe de um plano de contingência que vem sido anunciado e publicitado de tempos a tempos. Agora surgem, veiculadas pela imprensa, mais algumas medidas tais como: criação de clínicas especificas para casos suspeitos de gripe, rede laboratorial apropriada ao diagnóstico do vírus, a distribuição controlada de tratamento, medidas de quarentena e internamento compulsivo.
Como e onde é que vão ser criadas as tais “clínicas”? O que fazer, segundo as estimativas mais optimistas, com 25% da população atingida e 33.000 indivíduos com necessidade de internamento? Onde é que vão ser internados? Claro que nem todos adoecem ao mesmo tempo, mas, mesmo assim, desconfio que não haverá camas pelo país fora para absorverem todos os casos. Dizem os peritos que, na tal melhor das hipóteses, o número das consultas médicas atingirá os 1,4 milhões! As medidas de quarentena e de isolamento constituem duas medidas clássicas de controlo das epidemias. O isolamento é muito provavelmente uma medida desejável em termos de saúde pública, mas a quarentena é mais controversa. As razões são fáceis de explicar: a quarentena de massas populacionais inflige custos significativos de natureza social, psicológica e económica. Os modelos probabilísticos permitem-nos determinar quais as condições em que podem ser úteis. Os resultados demonstram que o número de infecções evitadas (por cada indivíduo infectado) através do uso da quarentena é muito baixo desde que o isolamento seja mesmo eficaz, aumentando de uma forma abrupta caso a eficiência do isolamento diminua. Quando o isolamento falha, a aplicação da quarentena está recomendada e é benéfica, desde que o período de transmissão assintomática não seja muito curto ou muito longo.
Mas quem vai aplicar as medidas de quarentena? As autoridades, claro, com base em legislação adequada. Como é que vai ser a preparação das mesmas? E como se auto controlam em termos de contactos suspeitos? O que acontecerá às pessoas impedidas de se movimentarem em caso de contactos com casos suspeitos? Quem é que lhes assegurará a subsistência e os respectivos rendimentos? Os que são funcionários por conta de outrem poderão não ter problemas, mas os outros? O estado garantirá esses direitos?
O plano de contingência tem objectivos concretos, mas não deixa de levantar alguns problemas que poderão ser graves. Não podemos esquecer que o vírus da gripe tem uma capacidade notável de se propagar e, muito provavelmente, não se intimidará com as medidas anunciadas.
A propósito do internamento compulsivo não vejo que um cidadão atacado de uma verdadeira gripe se oponha a ser tratado. A gripe é uma daquelas situações em que qualquer ser humano se sente verdadeiramente miserável. “Heróis” na gripe? Nem um. Coitados do Hércules e do Sansão se apanhassem uma gripe…

Actualizar leituras

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A última obra de Benjamin M. Friedman, The Moral Consequences of Economic Growth, é de leitura quase obrigatória, em especial para aqueles que invocando correntemente o Adam Smith de An Inquiry Into The causes of the Wealth of Nations se esquecem ou ignoram The Theory of Moral Sentiments. Friedman recorre à história económica e política do mundo ocidental, especialmente a dos Estados Unidos, para destacar o crescimento económico como fundamento das democracias e da liberdade e o risco que a estagnação poderá ter para o ruir das sociedades abertas e livres.
Para aperitivo deixo-vos ainda duas citações retiradas o último capítulo da obra, uma alheia e outra própria:
"[A] slow and gradual rise of wages is one of the general laws of democratic communities. In proportion as social conditions became more equal, wages rise; and as wages are higher, social conditions become more equal", Alexis de Tocqueville, Democracy in America.
"Countries where living standarts improve over sustained periods of time are more likely to seek and preserve an open, tolerant society, and to broaden and strengthen their democratic institutions. But where most citizens sense they are not getting ahead, society instead becomes rigid and democracy weakens." Benjamin Friedman
De certa forma Friedman recupera e relança a própria ideia de progresso tal como ela foi lançada pelo iluminismo e concretizada pelo capitalismo oitocentista.

Poderes efectivos


Alan Greenspan deixa o leme da Reserva Federal ao cabo de 18 anos.
Leio as referências ao imenso poder que este homem teve nas suas mãos. Poder que exorbitou em muito da influência sobre a economia dos Estados Unidos para se situar no plano dos condicionamentos à economia global. Que sobreviveu a umas largas dezenas de líderes mundiais e a uns tantos do seu próprio país.
Dá que pensar. Greenspan, à semelhança dos governadores dos bancos centrais dos Estados Europeus, nunca se sujeitou ao sufrágio dos seus cidadãos. Mas condicionou-lhes a vida mais do que qualquer governante eleito, sobretudo em momentos em que teve de tomar decisões que no imediato se refletiam na vida das empresas e das famílias! E fê-lo, como nenhum outro poder, de forma insindicada e, em boa verdade, quase insindicável.
Observando o fenómeno, salta à vista este evidente paradoxo. Quantas disputas, quantas querelas sobre cargos e funções cujo poder é meramente simbólico. E, em contaponto, quanta liberdade concedida a centros às vezes unipessoais de poder, nos quais se confia cega e inquestionavelmente, que jogam um papel decisivo no nosso futuro colectivo.
As loas que se ouvem, de toda a parte, sobre Greenspan, serão um hino a alguns dogmas da democracia, sobretudo o que romanticamente crê que todo o poder radica no Povo?
E entre nós?
Não é necessário pensar muito para perceber que também é assim no nosso cantinho à beira-mar plantado. Também entre nós existe quem exerce o poder efectivo com discrição; e quem se dedique a manifestações fantasiosas de poder que não tem. A estas últimas deu-se em Portugal a curiosa designação de ´magistraturas´. A que alguém, bem avisado, acrescentou ´de influência´...

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Nascido para destruir





De acordo com o governo britânico o efeito estufa é pior do que se pensava. O próprio gelo da Gronelândia irá desaparecer.
Conclusão: estamos tramados. Damos cabo de tudo.

A dança das laranjas

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A vida interna do PSD anima-se com a convocação do Congresso. Com a revisão estatutária na agenda, as última movimentações permitem prever que o conclave será bem mais do que uma discussão sobre o modelo de organização do partido.
Menezes continua a fazer marcação homem a homem à actual direcção.
Mas a surpresa - só para os mais distraídos - veio de Passos Coelho, vice de Mendes, que aproveitou a oportunidade para se demarcar face ao "rumo que o PSD tem vindo a seguir". Conhecido o seu afastamento desde a campanha para as autárquicas, não foi decerto o rumo recente que o fez descolar. A oportunidade para divulgar o facto junto da comunicação social e a sua consumação em Conselho Nacional, só permitem tirar uma conclusão: Pedro Passos está na corrida, a dúvida está em saber se prefere correr atrás da lebre, resguardando-se para o sprint em 2008, ou se vai já para a cabeça da corrida.
Entretanto, são interessantes as movimentações nas duas das principais disitritais.
No Porto, Marco António Costa anunciou a sua demissão abrindo caminho a Agostinho Branquinho, actual deputado e ex-vereador de Rui Rio na Câmara do Porto.
Em Lisboa, fala-se de eleições antecipadas e já se ouvem nomes, desde Carlos Carreiras até Marina Ferreira, Helena Lopes da Costa e Vasco Rato.
Concluindo: está a definir-se um clima de todo em todo inapropriado para uma reflexão séria dos estatutos e do modelo organizacional do PSD e não ficarei surpreendido se os debates ficarem inquinados por esta irresistível dança das laranjas. Será que não há emenda?

Paz e harmonia

O Ministro Silva Pereira, em entrevista na Sic-Notícias de hoje, foi muito explícito: o PS conta com Manuel Alegre, nas funções que tinha antes das eleições, e deve reassumir o seu lugar no Parlamento. Movimentos cívicos? São muito bem vindos. Um milhão de votos? Pois sim, mas como Manuel alegre bem dizia, ninguém é dono dos votos...
Paz e harmonia, que o Eng. Sócrates tem mais que fazer do que alimentar polémicas. E deu outros exemplos da magnanimidade do Presidente do Partido: Manuel Maria Carrilho, Alberto Martins, todos têm lugar se quiserem entrar nos eixos.
Ponto final na aventura de Manuel Alegre e ele certamente agradece, é por demais evidente que não contava com o efeito desta candidatura e que não foi um projecto de dissidência que o moveu. Foi um ajuste de contas, e estão ajustadas.

domingo, 29 de janeiro de 2006

"O chimpanzé humano"




Periodicamente vem à baila a discussão sobre o grau de “parentesco” do Homem com outros primatas. Não vale a pena remontarmos ao momento da publicação da famosa obra de Charles Darwin que escandalizou o mundo vitoriano, e não só, ao proclamar origens comuns com os “macacos”.
Recentemente, os cientistas demonstraram que, além de partilharmos 99,4% da sequência funcional do ADN com duas espécies de chimpanzés (chimpanzé comum e chimpanzé pigmeu), a cultura, atributo considerado como exclusivo dos seres humanos, também está presente nestes animais. De facto, o nosso ancestral comum está muito mais próximo do que se julgava, 1 milhão de anos versus os anteriores 7 milhões. A esperança de vida ronda os 40 e os 50 anos e têm uma gravidez de oito meses e levam também bastante tempo a atingir a maturação sexual.
O género Homo só tem uma espécie: a sapiens. Coloca-se a possibilidade de incluir no nosso género, os nossos antecessores hominídeos, assim como as duas espécies de chimpanzés já referidas.
As consequências desta inclusão são para alguns cientistas muito relevantes, nomeadamente por exigir uma postura diferente da actual. Deste modo, os chimpanzés adquiriam mais direitos, tais como: não serem sujeitos a experiências médicas, poderem garantir a sua sobrevivência, e, quem sabe, até terem “territórios próprios”.
Na Nova Zelândia, o governo já recebeu uma petição pedindo a criação de direitos para os chimpanzés.
Não sei como seriam estabelecidas as relações diplomáticas! Mas, se não se concretizar a “hominização” das duas espécies em causa, o que seria uma forma de manifestação de humildade por parte dos seres humanos, então podemos recorrer ao inverso.
Jared Diamond, notável fisiologista, ecologista e ornitólogo norte-americano, descrevia, há uma dúzia de anos, que o Homem deveria ser considerado como o Terceiro Chimpanzé. Na altura, já propunha três espécies do género Homo: o Homo troglodytes (chimpanzé comum) o Homo paniscus (chimpanzé pigmeu) e o Homo sapiens (chimpanzé humano).
Não sei qual é a opinião dos chimpanzés, mas, estes provavelmente não se oporiam a que fossemos “chimpanzénizados”! E daí não sei! Face ao que os homens costumam fazer…

Arquivado

A história remonta a uma conferência de imprensa por mim realizada no dia 30 de Dezembro de 2003. O tema centrava-se nas “cunhas” para a colocação de professores e no anúncio de abertura de dois processos disciplinares aplicados a dois dirigentes do Ministério da Educação.

No final alguns jornalistas perguntaram-me: então e os outros 11 casos denunciados pelo Sindicato dos Professores da Região Centro?

Resposta do então Ministro: esses outros casos estão a coberto da lei como podem verificar pela documentação junta.

Perante a insistência dos jornalistas tentei explicar não chega os sindicatos terem dúvidas sobre a legalidade de um procedimento para se poder abrir um processo de inquérito e que gostaria de o SPRC fornecesse as informações que permitissem fundamentar a irregularidade, caso contrário teria de concluir que estavam apostados numa “campanha de descredibilização” e ao continuar a invocar esses casos só poderiam estar de “má fé”!

Nesse mesmo dia, à tarde, Mário Nogueira, coordenador do SPRC contestou a posição do então ministro e numa clara expressão de descontrolo apelidou o dito ministro de “vigarista”. Consciente da acusação que tinha feito, trata de convocar uma nova conferência de imprensa no dia seguinte anunciando que iria apresentar uma queixa-crime contra o Ministro. Durante o mês seguinte fez mais 4 conferências de imprensa sobre o assunto, alimentando a voragem da comunicação social por mais uma cena de “sangue”.

Passados alguns meses, já o então ministro regressara aos bancos da Assembleia da República, levanta-se de novo a polémica com o pedido de levantamento da imunidade parlamentar para poder responder no Ministério Público sobre a referida queixa.

A pedido expresso do então deputado foi levantada a imunidade parlamentar e algumas semanas depois lá respondi ao inquérito do Ministério Público que havia já compulsado alguns milhares de páginas de documentos, testemunhos, recortes de imprensa, relatórios técnicos, que perfaziam uma considerável e grossa resma do processo.

Comunicaram-me mais tarde que o Ministério Público entendia não dever acompanhar a acusação por falta de fundamento idóneo.

O SPRC entendeu então deduzir acusação particular que viria a ser apreciada pelo Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa. Aberta a instrução e o respectivo debate despachou o respectivo Juiz no sentido de “não pronunciar o arguido”, entendendo que “as afirmações em causa no contexto político em que foram proferidas não são idóneas a ofender a credibilidade, prestígio ou a confiança” do SPRC, “não integrando o crime de ofensa à pessoa colectiva”, pelo que ordenou o “arquivamento dos autos”.

Conclusão: Haverá algum jornal ou televisão que se disponibilize a dar esta notícia com a frequência, destaque e duração, atribuídas à apresentação da queixa-crime? Posso comprovar as muitas dezenas de notícias que foram então produzidas e difundidas, quase diariamente durante mais de um mês.

Arrefecimento global


Há já algumas horas que neva na região de Lisboa.
Fenómeno estranho mas fascinante!


sábado, 28 de janeiro de 2006

Neutralidades


Os frequentadores da 4R por certo já repararam no extremo cuidado com que os ´postadores´ omitem qualquer referência as suas preferências clubísticas.
Tacitamente, foi-se afirmando entre nós o princípio da estrita neutralidade em matéria de futebóis.

Só isso me impede de assinalar aqui a gloriosa noite do Leão, vivida em plena Luz.


Toca a encerrar!

O país está a ser varrido por uma onda de encerramentos. Abrem-se os jornais e lemos notícias do género: estado vai encerrar maternidades, estado vai encerrar serviços de atendimento ao público em vários centros de saúde, estado vai encerrar escolas, estado vai encerrar postos policiais ou da GNR, a par do tradicional e permanente encerramento de empresas. Há qualquer coisa que não bate bem. As populações cada vez mais envelhecidas começam a ficar extremamente preocupadas e bem querem protestar mas não conseguem convencer os responsáveis das suas necessidades. Contra-argumentam os zelosos governantes e decisores que as mudanças propostas são sempre para melhor, a fim de respeitarem as normas internacionais e para que os cidadãos tenham a possibilidade de usufruírem melhores e sofisticados recursos. Tudo feito sempre nessa filantrópica medida que é o bem-estar e a saúde das populações.
No caso do encerramento das maternidades, o argumento principal proposto é o facto dos respectivos hospitais não cumprirem os requisitos necessários que assegurem os nascimentos em boas condições clínicas. Até pode ser, mas não deixa de amputar as diversas comunidades de um serviço que apreciavam ficando condicionados às novas regras. Acresce a tudo isto a falta da produção nacional de crianças. Espero que não surja um dia destes uma epidemia de gravidezes obrigando à criação de maternidades de campanha!
O segundo ponto prende-se com as medidas a tomar na área do encerramento das urgências dos centros de saúde, passando a haver unidades de urgências básicas, estrategicamente localizadas e apetrechadas com o pessoal adequado e meios técnicos mais ou menos sofisticados. O argumento para o encerramento assenta na afirmação ministerial de que as urgências nos actuais centros de saúde darem uma “falsa sensação de segurança”. O facto de haver médicos nesses locais com o estetoscópio ao pescoço é enganador da segurança e bem-estar do doente! O senhor ministro pode pensar o que quiser mas fazer uma afirmação destas é um atentado às capacidades clínicas de qualquer profissional de saúde. É preciso ter em conta o que é que um cidadão pensa a propósito de uma emergência. O seu conceito é variável e flutuante. Muitos acorrem aos serviços de urgência angustiados pensando que estão a sofrer algo de muito grave. O médico é a pessoa mais qualificada para definir se é ou não. Às vezes, numa questão de minutos, o tal indivíduo com estetoscópio faz o milagre de transformar algo urgente numa perfeita e controlável banalidade, eliminando a angústia de muitos. Também tem a possibilidade de o vigiar e, caso seja necessário, enviá-lo para a instituição mais adequada. Sempre é melhor do que o tal famoso call center a ser implementado a fim de dar a resposta aos necessitados. Não sei em que medida é que este serviço garantirá mais segurança. O argumento de que hoje as distâncias são medidos com base no tempo e não na quilometragem pode ser apelativa e até aceite pelas comunidades mais jovens, mas extrapolar este conceito aos mais idosos parece-me não ser correcto, já que foram criados e educados a medirem as distâncias no espaço e não no tempo o que lhes provoca uma verdadeira angústia. Saber que a poucos metros ou a poucos quilómetros de distância se encontra “um médico com um estetoscópio ao pescoço” é suficientemente tranquilizador para dar confiança aos mais necessitados e idosos que pululam pelo país sobretudo no interior.
As perspectivas tecnocráticas e “altamente evoluídas” daqueles que vivem no conforto dos bons gabinetes e das grandes metrópoles não justificam o encerramento dos meios actuais. Se continuarem nesta senda de encerramentos, o melhor é encerrar o interior ou até mesmo o país…

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Califórnia, poluição e tabaco.

A poluição atmosférica constitui um grave problema para a saúde. Os dados mais recentes apontam para a necessidade da redução, entre outros, das partículas, as quais agridem não só as vias respiratórias, mas também desencadeiam e agravam outras doenças como as cardiovasculares. Os veículos automóveis são uma das principais fontes, além da combustão do carvão.

O Estado da Califórnia, através da agência responsável pela qualidade do ar, classificou o fumo do tabaco como poluição tóxica do ar, equiparando-o aos produtos eliminados pelos veículos a gasóleo. Tal classificação irá permitir que o Estado amplie as restrições sobre o fumo. Sendo assim, qualquer dia, os californianos terão de restringir o uso de veículos nas cidades a par da proibição de fumar em locais habitados. Ás tantas ainda terão de correr para os Estados vizinhos ou darem um saltito ao México para darem uma passa no cigarrito…

Os partidos-sabonete

O post do David Justino lança um debate sobre o sistema partidário português que o fim deste ciclo de contínuas eleições e a circunstância de não ser previsível durante pelo menos os próximos dois anos, a existência de uma disputa pelo poder (salvo ocorrência de convulsões internas no Partido Socialista, pouco provável), encontra condições para ser aberto porque menos condicionado pelas conjunturas e conveniências eleitorais.
Luis Paixão Martins (LPM), assina hoje um artigo no DN na assumida qualidade de "trabalhador", como consultor de marketing, nas campanhas vitoriosas de Sócrates e de Cavaco Silva.
O referido artigo tem por sugestivo título ´O desgaste das marcas partidárias´ e merece ser lido e atentamente ponderado por quem se interessa, justamente, pelo papel dos partidos na democracia.
A visão de quem adquiriu a experiência que LPM adquiriu não é de desprezar para a compreensão da chamada crise do sistema de representação política, e nela em especial do reconhecimento do papel mediador da vontade popular interpretado pelos partidos políticos.
Li o artigo, e procurando decodificar uma linguagem que me não é muito acessível, confesso, entendi assim:
LPM reduz literalmente o eleitorado a um mero mercado de votos. A lógica da disputa eleitoral é a lógica do mercado.
Despe os principais partidos de quaisquer referências ideológicas e vê o sucesso eleitoral como mera reacção ao estimulo mediático sobre os milhões de votos que no mercado oscilam entre um polo e o outro polo do sistema.
Explica que é a imagem, não a praxis ou a ideologia, a responsável pela afirmação de pequenos partidos nas franjas do sistema.
O artigo pode ser entendido como aproveitamento de publicitário dos sucessos que LPM obteve. Já vi feita esta leitura na blogosfera. Pode ser que sim. Não admirará que um bom técnico de marketing saiba valorizar os produtos que ele próprio coloca no mercado...
Julgo, porém, que o que menos interessa é saber o que motivou o referido artigo.
O que deve de ser motivo de reflexão é o facto de os principais partidos ou candidatos, em especial os que disputam o poder, nem por um momento duvidarem da essencialidade de recorrerem aos serviços de quem assumidamente pensa que nada de substancial distingue a publicidade aos bons sabonetes da promoção no mercado eleitoral da marca dos partidos (ou dos candidatos)...

Os Partidos e a confiança dos portugueses

A vitória de Cavaco Silva e o excelente resultado de Manuel Alegre recoloca no centro do debate político o problema da confiança dos portugueses nos partidos políticos. Todos sabemos que as eleições presidenciais não são uma escolha entre alternativas partidárias, porém sabemos também que o apoio mais ou menos manifesto das estruturas partidárias a cada um dos candidatos deixou de ter valor acrescentado positivo. Antes pelo contrário, o caso Manuel Alegre cuja candidatura se faz à revelia - e em alguns aspectos por oposição - aos partidos políticos, vem demonstrar que esse apoio poderá ter valor acrescentado negativo.

Os portugueses não têm confiança nos partidos políticos. Esta conclusão é de há muito conhecida e foi retratada de forma objectiva nos resultados do Eurobarómetro divulgado em Setembro último.

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Questionados sobre se confiam ou não nas instituições políticas os portugueses e os europeus demonstram de forma inequívoca confiarem muito pouco nos (por ordem do gráfico) parlamentos nacionais, nos governos, nos partidos políticos e no sistema de justiça. Porém, é de longe nos partidos políticos que os níveis de confiança são mais baixos.
O que parece mais relevante é o facto de o nível de desconfiança nos partidos políticos em Portugal ser precisamente igual à média apurada nos 25 países da UE.
Quer em Portugal, quer na Europa, há uma manifesta crise de confiança nos sistemas políticos e nas instituições das democracias representativas. Os partidos políticos, enquanto "players" centrais deste sistema concitam a maior desconfiança.
É bom que se tenham em conta estes resultados na reflexão sobre o papel dos partidos, a sua organização, a sua prática, a sua cultura e o seu papel nos sistemas representativos.
Se o PSD, no processo de regeneração que se pretende iniciar, ignorar este quadro, dificilmente poderá encontrar saída para um futuro mais auspicioso.