Número total de visualizações de páginas

domingo, 18 de novembro de 2007

Cemitérios

O senhor António Rosa faleceu há poucos dias tendo manifestado a vontade de ser sepultado no novo cemitério de Abrantes construído há quase três anos ao estilo americano.
A polémica à volta deste jardim prendeu-se com o facto de não poder haver jazigos, cruzes, relevos da sepulturas, flores ou outros ornamentos.
Quebrar as tradições não é nada fácil. Os autarcas, às tantas, já deviam sentir-se como novos Odoricos Paragauçus, personagem cómica criada pelo dramaturgo brasileiro Dias Gomes, e interpretado na série televisiva pelo actor Paulo Gracindo, que ansiava estrear o seu novo cemitério, promessa da campanha eleitoral. O pior é que ninguém morria!
Ao ler esta notícia recordei-me de dois momentos. O mais recente foi como deputado em que me pediram para estudar a feitura de um projecto-lei relativamente ao destino a dar aos restos mortais dos corpos depositados nos jazigos. Nalguns cemitérios, ao fim de alguns anos, muitos acabam por ser abandonados ou apresentarem sinais de degradação com urnas desfeitas originando uma atmosfera pouco digna, ou mesmo nada. Quando fui contactado para esta tarefa tinha acabado de ir a um funeral em que constatei casos semelhantes, num cemitério de Coimbra, tendo ficado indignado com quadros verdadeiramente macabros. É certo que estamos a falar do terreno dos mortos, mas o facto destes não se importarem, não significa que não sejam respeitados, respeito esse que é extensível aos vivos quer sejam ou não familiares. Aceitei a incumbência e, para o efeito, adquiri várias obras sobre a matéria com o objectivo de estudar vários aspectos, sobretudo os tempos mínimos necessários à remoção dos restos mortais e os destinos a dar-lhes. Não descrevo as obras, porque, de facto, são lúgubres, mas, curiosamente, aprendi muito!
O outro momento teve a ver com o facto de há muitos anos ter ido a um curso de verão numa universidade norte-americana.
Fiquei instalado numa residência universitária. Quando cheguei ao quarto, já a tarde ia avançada, deparei, através da janela, com um belo e frondoso parque do outro lado da rua com gradeamento metálico a relembrar o do Jardim Botânico em Coimbra. Árvores de grande porte, provavelmente centenárias, enxameavam um terreno de características irregulares, tipo colinas, com arruamentos sinuosos, canteiros floridos, relvado bem aparado, parecendo-me descortinar um ou outro banco, enfim uma paisagem muito encantadora. Pensei na sorte em ter aquele quadro mesmo em frente. Assim que tivesse uns momentos livres teria que dar uma volta pelo jardim. Ao fim do segundo ou terceiro dia, tendo a tarde livre, dispus-me a visitá-lo. Olhei pela janela, vi pessoas a passear, outras sentadas, crianças a andar de bicicleta, uma senhora a empurrar um carrinho de bebé, um jovem a fazer jogging e o jardineiro em cima de um cortador da relva a andar de um lado para o outro, ou seja vida no parque. Contornei o gradeamento à procura da entrada. Assim que entrei cruzei-me com algumas pessoas que revelaram a sua simpatia cumprimentando-me, fazendo recordar as saudações que se fazem nos nossos meios pequenos. Não foi preciso muito tempo - bastou contornar a primeira colina - para verificar a existência de pedras tumulares disseminadas, aparentemente ao acaso, revelando estar num cemitério! Cemitério muito diferente dos nossos, quase que me apeteceria dizer alegre, mas cemitérios alegres é algo que não existe. No entanto, sentia-se uma certa paz e até uma beleza difícil de explicar, ao ponto de as crianças e os adultos partilharem o espaço para actividades lúdicas sem se incomodarem.
Pensar na morte não é agradável, mas pensei que se um dia pudesse ser enterrado num local igual a este contribuindo para a beleza e frondescentes árvores e flores e permitir uma sensação de tranquilidade aos familiares não deixaria de ser uma pequena maravilha.
O senhor António Rosa teve bom gosto ao optar pelo novo cemitério e os autarcas de Abrantes estão de parabéns pela iniciativa.
Se o cemitério construído por Oderico Paragauçu fosse idêntico a este estou certo de que não se importaria em ser o primeiro a inaugurá-lo esperando o tempo que fosse preciso...

sábado, 17 de novembro de 2007

Apresentação do livro 4R no Porto


Na próxima 2ª feira, dia 19 de Novembro, pelas 19 horas e 30 minutos, é apresentado no Porto o livro Quarta República, na FNAC do Norte Shopping!...
Manuela Ferreira Leite fará uma introdução alusiva.
O prefácio é da autoria de Francisco José Viegas e nele se pode ler, a fechar, o retrato que faz do 4R:
“…Talvez por isso mesmo o Quarta República se situa providencialmente “no limiar da utopia”, como se lê no seu pórtico, aliás belíssimo, com a imagem de uma árvore que sinaliza essa procura de raiz e de infinito, em simultâneo. Lá, onde há raiz, e infinito, as mudanças não são abruptas nem procuram estabelecer um mundo de seres perfeitos, iluminados ou imunes ao afecto, ao prodigioso ou ao que é simplesmente amável no comportamento humano. Isso encanta-me, naturalmente. E faz de mim um leitor atento”.
Ficam especialmente convidados os nossos fiéis comentadores aos quais em grande parte se deve, como aqui por diversas vezes sublinhámos, a dinâmica deste espaço.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

A magia da convivência geracional...

Vivemos uma época em que as pessoas idosas são objecto calculado de exclusão social e arrumadas em "silos geracionais", em que o abandono e a solidão são motivo de insegurança e de sofrimento, em que a proximidade às famílias está cada vez mais distante, em que muitos lares e residências não são mais do que "afectos profissionalizados" e em que muitos outros absurdos poderiam ser enumerados. O egoísmo, o esquecimento, o desprezo, a desvalorização, o encargo que representam muitas pessoas idosas para as famílias e para a comunidade apresentam-se aos olhos de muitos como um efeito da sociedade moderna, como que uma fatalidade ou mesmo uma necessidade de um novo modelo de organização. Este é um tema que apesar de muito humano e muito próximo, muito boa gente não quer ouvir falar porque incomoda, porque é uma chatice, porque é deprimente, porque não!
Vem tudo isto a propósito de um caso elogioso de como integrar socialmente as pessoas idosas, de como as valorizar, de como reconhecer nelas uma função humana, social e económica, de como ajudar a dar um sentido à sua vida, de como fazer renascer a sua alegria e o seu bem estar e de como outras gerações podem aprender e beneficiar das suas experiências, dos seus saberes e afectos. As coisas bem feitas devem ser apontadas e evidenciadas, devem ser motivo de notícia e divulgação, até para contrapor ao espírito medíocre, à desgraça e à tragédia que todos os dias e a toda hora invadem a nossa casa numa espécie de "masoquismo" colectivo.
É uma história bonita e muito simples, mas que justamente pela sua simplicidade merece ser contada. É tão simples que se torna difícil contar! Trata-se de um projecto que aposta numa integração social geracional envolvendo pessoas idosas que contam ou lêem histórias e fábulas a dezenas de crianças de diferentes idades, durante as actividades de tempos livres pós escolares, e em que as crianças são estimuladas a ler para todos os outros e a contar outras tantas histórias. Há uma reciprocidade geracional de papéis, desempenhados de forma bem diferente, mas em que deste contraste nasce uma cumplicidade afectuosa. Com as suas narrativas carregadas de veracidade, de sabedoria e de emoção, as pessoas idosas enchem o imaginário das crianças que com os seus olhos muito abertos se prendem e rendem à ternura de quem, como mais ninguém, as envolve num ambiente como que de magia. Uma magia ao serviço do desenvolvimento, da educação e da formação da criança...

A minha árvore é maior de que a tua


No ano passado foi em Lisboa que foi montada a maior árvore de Natal da Europa.

Este ano é no Porto. Maior do que a de Lisboa, com cerca de três milhões de lâmpadas, pesando 280 toneladas e uma altura de 76 metros!

No Natal estas exuberâncias não parecem incomodar ninguém, nem mesmo aqueles que permanentemente nos condenam se não desligamos a lâmpadazita incandecente de 15w não vá o consumo comprometer o futuro do planeta, fazendo contas aos gramas de CO2 que com esta omissão lançamos para a atmosfera.

Mas o que eu não percebo é esta necessidade de, em cada ano, termos a árvore natalícia maior da Europa. Agora com o ingrediente da competição entre Lisboa e Porto.

Freud explicará?

Não têm arranjo!...

Eu não sei se as grandes empresas portuguesas praticam fraude fiscal. Mas, pelos vistos, o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais sabe. Como? Pelos jornais. Ontem, na Assembleia da República, referiu a Operação Furacão como prova da fraude, e empresas fraudulentas as então referidas na comunicação social.
Que eu saiba, os envolvidos na citada Operação ainda não foram julgados; aliás, o julgamento ainda nem começou. Mas, para S. Excia as empresas citadas já é certo que prevaricaram. Mesmo antes do veredicto do Tribunal.
A presunção de inocência tornou-se, mais uma vez, prova abundante de culpa. É um membro do Governo, do alto das suas funções, e no Parlamento, perante os Deputados, que o diz. O Governo e o Secretário de Estado que não têm, mesmo, arranjo possível. O cidadão não tem garantias: o jornal aponta...é culpado!...

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

“Viva o gordo”!

Estamos a viver uma época caracterizada por excesso de peso e de obesidade. As razões são relativamente bem conhecidas. Digo relativamente, porque não se resume somente ao excesso de aporte energético e falta de exercício mas também devido a factores genéticos. Estes últimos têm um papel muito interessante que importa analisar.
A discriminação dos obesos é uma realidade. São considerados como menos bonitos ou atraentes, são alvos de piadas e chacota e poderão ser vítimas de outras atitudes tais como pagamentos de taxas adicionais, porque têm mais doenças, a pagarem bilhetes de avião mais caros – como propôs recentemente um nutricionista australiano! –, devido ao espaço que ocupam ou, então, não terem direito a tratamentos de infertilidade (segundo as recomendações da British Fertility Society) já que as senhoras têm menos probabilidades de sucesso e aumento do risco de complicações a vários níveis. O acesso ao emprego também é condicionado por esta particularidade.
Estes exemplos são suficientes para justificar o perigo de discriminação dos obesos.
É indiscutível que a obesidade resulta de um desequilíbrio em que o aporte energético é superior ao que se gasta. O próprio obeso tem essa noção e muitos confessam que fazem todos os possíveis para não aumentar de peso. Passam fome, exercitam-se até à exaustão e no final nem meia dúzia de quilos conseguem perder. É desesperante. Acredito no esforço de muitos que, desanimados, confessam não conseguirem atingir o objectivo. Nestes casos aproveito a oportunidade para fazer o “elogio da obesidade”.
A propensão de muitos para a obesidade prende-se com o facto de geneticamente estarem programados para viverem em condições extremas de falta de alimentos. São altamente eficientes em termos energéticos. Em caso de catástrofes susceptíveis de provocar fome a uma escala inimaginável – e o mundo em que vivemos está prenhe de situações susceptíveis de as desencadear - serão os únicos a ultrapassá-las. Os outros, os elegantes, os “normais”, desaparecerão num abrir e fechar de olhos.
Os obesos são uma garantia da perpetuação da espécie humana! Ficam a olhar para mim com ar meio esgazeado quando faço esta afirmação. Quase que me apetecia dizer, parafraseando o velhinho programa de Jô Soares que passou na TV nos anos oitenta: “Viva o Gordo!” Não digo, claro, mas apetecia-me dizer, não fosse ser mal interpretado...

Demagogia em estado bruto

O Governo continua a publicitar o feito de concessionar à empresa Estradas de Portugal todas as estradas nacionais, excepto as auto-estradas que já foram objecto de concessão anterior. Tem plena legitimidade para o fazer, não contesto a decisão. Mas contesto a inaudita demagogia do Governo ao incluir no caderno de encargos a obrigação de a empresa fazer diminuir para metade, nos próximos três anos, o número de mortes nas estradas concessionadas e a pagar multas se não cumprir o estabelecido. Medida perfeitamente ridícula.
A sinistralidade das estradas, ao que sei, deriva fundamentalmente do estado das vias, da velocidade e da falta de civismo. Acontece que a nova empresa não vai dominar nenhum destes factores.
A nova empresa não vai melhorar substancialmente o estado das vias, porque não vai ter dinheiro para isso. Dependerá dos subsídios do Estado e se os sucessivos Ministros, actuando em causa própria, não arranjam as verbas necessárias, muito menos as assegurarão à nova empresa.
A nova empresa não ter o controle da velocidade, que dependerá sempre de forças policiais estranhas à empresa.
A nova empresa, muito menos, alterará em três anos a falta de civismo de muitos condutores. E, com civismo ou sem civismo, nunca poderá controlar a probabilidade de um único acidente provocar um número elevado de mortes.
Não sendo autónoma em nenhum dos remédios, a sinistralidade seguirá o seu caminho. A empresa pagará multas? Pois pagará, à custa dos subsídios do Estado, que retornam ao Estado, deixando de beneficiar as estradas. Claro que, assim, as multas serão a última preocupação dos administradores.
Demagogia, pois, em estado bruto.
Mas por que razão o Governo não justifica pura e simplesmente a criação da empresa para gerir as estradas, porque uma empresa é mais eficiente que o Estado e porque necessita de resolver um problema orçamental? Concordávamos ou discordávamos. Mas poupava-nos a ridicularias como a consignar como objectivo a diminuição para metade o número de mortes em três anos!...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Diz-me o que lês, ... - 4


Os bons desafios de leitura vêm geralmente dos autores mais insuspeitos: precisamente aqueles em que não nos reconhecemos.Nem nas ideias, nem nas opções, nem nas práticas políticas. Precisamente por isso, o recente livro de Manuel Carvalho da Silva é um bom desafio de reflexão em torno do sindicalismo, dos problemas do trabalho e das empresas, da própria organização económica e social do país.
A proposta de Carvalho da Silva é sintetizada no primeiro parágrafo da introdução: "Neste tempo de globalização em que vivemos é imprescindível analisar e debater as questões do trabalho e do sindicalismo".
Quando soam ainda as palavras de ordem contra a globalização, o neo-liberalismo, as deslocalizações e a competição mundializada, há uma voz que do meio da rua se lembra de propôr pensar sobre este "mundo às avessas" e daí retirar as ilações necessárias para um "aggiornamento" do movimento sindical.
Comecei apenas a ler, por isso não vou mais além. Mas não deixa de ser digno de registo que um trabalhador e sindicalista se tenha obrigado a "pensar" e a "reflectir" de forma séria os desafios que se colocam à sua actividade, ao mesmo tempo que apresenta esse esforço sob a forma de dissertação de doutoramento em sociologia.
Sei que os ortodoxos, de um lado e do outro da barricada, não pensam assim.
Paciência!

A personalização do pronto a consumir


Vivemos numa época do pronto-a-comer, pronto-a-vestir, pronto-a-servir, em que tudo parece feito e organizado de modo a caber exactamente nas nossas medidas, a satisfazer sem demoras uma necessidade, está ali à mão, é só escoher e pagar, se não ficar contente é devolver e escolher o que lhe serve melhor. De certa forma, confia-se que alguém pensou no assunto e é só ficar à espera que a solução não precise da intervenção do interessado.
Esta fúria de resposta a la minute contaminou todos os sectores e hoje servem-se também “pacotes” de teorias para tudo e mais alguma coisa, desde “como fazer o seu casamento feliz” até “como conseguir o melhor emprego” ou “como preparar-se para o futuro”. Tudo tem uma resposta standardizada, os modelos estão aí, se não sabe escolher é porque o defeito é seu, nós avisámos.
Resulta daqui que os jovens que já cresceram neste mundo do pronto-a-consumir acabam por ficar à espera de caber num destes formatos de sucesso garantido e tendem a ignorar – porque não lhes é dito com clareza -, que há uma parte significativa destes modelos que é só tentativa, que não há milagres e que a vida não é uma linha contínua ascendente, toda a gente conhece altos e baixos e que os falhanços são tão duros quanto a ambição que se colocou no objectivo.
Arriscar implica ganhar ou perder, e o gosto por esse risco só é uma vantagem se estiver lá a consciência de que pode ser preciso tentar de novo.
Os mais velhos, pais ou patrões, têm hoje um discurso um bocado contraditório: estimulam a iniciativa, propalam aos sete ventos que o sucesso é de quem se atreve, mas depois cobram fortemente pelo fracasso, como se ele não fosse uma parte da equação. E os garotos sentem-se perdidos e são, por isso mesmo, muito mais vulneráveis do que seria de supor quando tudo parece estar-lhes ao alcance da mão.
A questão do emprego vem carregada de expectativas e é muito fácil sentirem-se infelizes ou “desmotivados” ao fim de curtas experiências, numa incapacidade preocupante de tirarem proveito e aprendizagem de cada coisa que lhes acontece. Essa ansiedade faz com que queimem etapas, desvalorizem o que têm e se tornem muitas vezes em pessoas infelizes, revoltadas contra o mundo que lhes negou o el dourado que lhes agitavam à frente do nariz e deitam muitas vezes a perder os talentos e as capacidades que realmente possuem.
É preciso lembrar aos mais novos que, como diz um poema cantado por Maria Bethânea, “cada um traz em si a capacidade de ir tocando para a frente e de ser feliz”. Não há fórmulas garantidas se não se souber isso.

O pior crescimento da União Europeia

Foram hoje conhecidas as chamadas “estimativas rápidas” do Eurostat para o crescimento do PIB nos países da União Europeia no terceiro trimestre de 2007. Há resultados para apenas 11 países, mas os maiores (Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha) já são conhecidos, pelo que o resultado preliminar agora apurado será já muito próximo do final. Para Portugal, o cálculo foi apresentado pelo INE. Em minha opinião, devemos reter os seguintes aspectos dos números hoje anunciados:

1. Em termos homólogos (isto é, comparando o terceiro trimestre de 2007 com o mesmo período de 2006), Portugal cresceu 1.8%, a UE-27 2.9% e a Zona Euro 2.6%. O registo português é o pior de entre os 11 países já conhecidos. E como a maioria dos países por apurar é de leste – que costumam crescer bastante mais do que nós – não me surpreenderia que, mesmo entre os 27 ficássemos com o pior desempenho.

2. Face ao trimestre anterior, Portugal estagnou: crescimento de 0%. Na UE-27 tivemos 0.8% e na Zona Euro 0.7%. Mais uma vez, o nosso registo foi o pior de entre os países já apurados e, como sucede no crescimento homólogo, creio que também face ao trimestre anterior nos situaremos na cauda da Europa quando todos os países forem apurados.

3. Foi, portanto, mais um trimestre em que os portugueses ficaram mais pobres face aos seus congéneres europeus. Continuamos a divergir da Europa, isto é, a atrasar-nos face à média europeia. A ver a nossa vida a andar para trás.

4. De acordo com o INE, o nosso crescimento nos dois trimestres anteriores foi revisto em alta; e dois trimestres de 2006 foram revistos em baixa. No entanto, apesar de o resultado na primeira metade deste ano ter sido revisto para cima, isso não apaga o mau desempenho da nossa economia no terceiro trimestre, em que desacelerámos claramente, enquanto a Europa acelerou…

5. Como o INE também mostra, em ambos os trimestres anteriores foi sobretudo à custa das exportações que o crescimento foi revisto em alta – o que é bom, mas atenção, deixa-nos ainda mais vulneráveis face à incerteza que continua a caracterizar a economia mundial (crise do mercados de crédito e financeiro). Mas também o consumo público contribuiu para esta revisão em alta – o que é preocupante e revela que o Governo não tem controlado a despesa pública como deveria estar a fazer. No entanto, o pior mesmo foi a revisão em baixa do investimento (que o INE não quantifica). É que sem uma recuperação do investimento, não conseguiremos crescer a um ritmo maior e se forma sustentada.

Não vejo, assim, motivos de contentamento na análise destes dados – ao contrário do Primeiro-Ministro, que achou esta informação estatística “muito positiva”. Apetece perguntar: em que mundo vive o PM? Terá sido informado de como compara o nosso crescimento com o resto da Europa? Não se apercebeu que fechamos o pelotão europeu e temos todos os outros países à nossa frente? Ou terá dificuldade em admitir que a sua governação tem contribuído – e de que maneira – para a manutenção desta pobre e triste situação?!...

Delegados de alimentos, de vinhos, de chás, de sapatos....

A medicalização da sociedade é uma realidade altamente preocupante que poderá acabar mais tarde ou mais cedo por rotular cada um de nós como doente ou portador de uma ou mais anomalias. Logo, teremos que nos “submeter”, como quem diz, em muitos casos, à “ditadura” das terapêuticas e das medidas preventivas. Há quem ganhe com isto? Ai não que não há! E o negócio é mesmo de muitos e muitos milhões!
De tempos a tempos reduz-se o limiar de anormalidade de alguns parâmetros, porque se concluiu (cientificamente) que desta maneira seria possível prevenir com mais alcance certas doenças. Parafraseando um reclame que aparecia há algum tempo na televisão com velhinhas a comentar: - “Eu ainda sou do tempo em que...”, também eu sou do tempo em que o colesterol, por exemplo, só era considerado elevado a partir dos 260 mg%. Depois, o limiar da anormalidade baixou para os 240 mg%, porque se concluiu que os que estavam naquele intervalo também corriam riscos de virem a sofrer doenças cardiovasculares. Passado uns anos nova descida, desta feita para os 220 mg%. Argumento? O mesmo que já descrevi para a primeira redução. Com o tempo concluiu-se que deveria baixar-se ainda mais, desta feita para os 200 mg%. Razão? A já citada. Em seguida propuseram os 190 mg%, sempre com o mesmo argumento científico que é inquestionavelmente correcto. Há de facto um risco acrescido. Pode não ser muito por aí além, mas existe e não é difícil de provar. Tudo leva a pensar que qualquer dia baixem para os 175 ou 170 mg% invocando sempre os mesmos argumentos. O que é certo é que cada vez que baixam o limiar de “anormalidade” apanham catrefadas crescentes de pessoas com anomalias. E depois? Depois é só puxar por meia dúzia de neurónios para concluirmos que os “rotulados” como hipercolesterolémicos terão que fazer terapêuticas farmacológicas, dietéticas ou exercício. Terapêuticas não faltam.
Foi anunciado que em breve podemos vir a ter profissionais idênticos aos da informação médica a ensinar, a esclarecer e a motivar os médicos a “prescreverem” ou a aconselharem, como preferirem, os nutracêuticos, alimentos que fazem bem à saúde, baixam o colesterol, melhoram o funcionamento digestivo, protegem os consumidores disto e daquilo, enfim uma interessante área de negócio.
Pergunto, se os industriais das águas medicinais também não irão no mesmo sentido ensinando, esclarecendo ou motivando os médicos a aconselhar a água X ou Y com ou sem aditivos. Mas, já agora, também não é de excluir a hipótese de delegados de informação vinícola aparecerem para “ensinar, esclarecer ou motivar” os médicos a aconselharem um determinado vinho da colheita especial de determinado ano, porque está cientificamente comprovado ter efeitos protectores cardiovasculares de forma muito superior a qualquer rival! Claro que as cervejeiras não deixariam de treinar pessoal com o mesmo objectivo, o mesmo acontecendo com os industriais dos tomates, dos lacticínios, dos alhos e até das cebolas!
Assim, um dia destes, poderemos ouvir a funcionária do serviço a anunciar que está na sala um senhor delegado. – Ai está? É delegado de quê? Fármacos, iogurtes, chás, vinhos, cervejas, tomates, chocolates ou águas? – Nenhum desses! Não?! - É delegado de sapatos senhor doutor. - De sapatos?! – Sim senhor! Parece que tem uns especiais que evitam calos e não atormentam os joanetes. – Mande-o entrar já...

Carta aberta de um Professor (identificado) II

Carta aberta ao Senhor Presidente da República Portuguesa (carta que circula por e-mails)-Continuação
4. …...
Eu quero alunos que não desconheçam a existência de expressões como “obrigado”, “por favor” e “desculpe” e que as usem sempre que o seu emprego se justifique.
Eu quero alunos que ao serem chamados a participar na aula não me olhem com enfado dizendo interiormente “Mas o que é que este quer agora?” e demorem uma eternidade a disponibilizar-se para a tarefa como se me estivessem a fazer um grande favor. Que fique bem claro que os alunos não me fazem favor nenhum em estarem na aula e a portarem-se bem.
Eu quero alunos que não estejam constantemente a receber e a enviar mensagens por telemóvel e a recusarem-se a entregar-mo quando lho peço para terminar esse contacto com o exterior pois esse aluno “não está na sala”, está com a cabeça em outros mundos.
Eu sou um trabalhador como outro qualquer e como tal exijo condições de trabalho! Ora, como é que eu posso construir uma frase coerente, como é que eu posso escolher as palavras certas para ser claro e convincente se vejo um aluno a balouçar-se na cadeira, outro virado para trás a rir-se, outro a mexer no telemóvel e outro com a cabeça pousada na mesa a querer dormir?
Quando as aulas são apoiadas por fichas de trabalho gostaria que os alunos, ao sair da sala, não as amarrotassem e deitassem no cesto do lixo mesmo à minha frente ou não as deixassem “esquecidas” em cima da mesa….
5. No ano passado tive uma turma do 10º ano dum curso profissional em que um aluno, para resolver um problema no quadro, tinha de multiplicar 0,5 por 2 e este virou-se para os colegas a perguntar quem tinha uma máquina de calcular!!! No mesmo dia e na mesma turma outro aluno também pediu uma máquina de calcular para dividir 25,6 por 1.
Estes alunos podem não saber efectuar estas operações sem máquina e talvez tenham esse direito. O que não se pode é dizer que são alunos de uma turma do 10º ano!!!
Com este tipo de qualificação dada aos alunos não me admira que, daqui a dois ou três anos, estejamos à frente de todos os países europeus e do resto do mundo. Talvez estejamos só que os alunos continuarão a ser brutos, burros, ignorantes e desqualificados mas com um diploma!!!
6. São estes os alunos que, ao regressarem à escola, tanto orgulho dão ao Governo. Só que ninguém diz que os Cursos de Educação e Formação são enormes ecopontos (não sejamos hipócritas nem tenhamos medo das palavras) onde desaguam os alunos das mais diversas proveniências e com histórias de vida escolar e familiar de arrepiar desde várias repetências e inúmeras faltas disciplinares até famílias irresponsáveis.
Para os que têm traumas, doenças, carências, limitações e dificuldades várias há médicos, psicólogos, assistentes sociais e outros técnicos, em quantidade suficiente, para os ajudar e complementar o trabalho dos professores?
Há alunos que têm o sublime descaramento de dizer que não andam na escola para estudar mas para “tirar o 9º ano”.
Outros há que, simplesmente, não sabem o que andam a fazer na escola…
E, por último, existem os que se passeiam na escola só para boicotar as aulas e para infernizar a vida aos professores. Quem é que consegue ensinar seja o que for a alunos destes? E por que é que eu tenho de os aturar numa sala de aula durante períodos de noventa e de quarenta e cinco minutos por semana durante um ano lectivo? A troco de quê? Da gratidão da sociedade e do reconhecimento e do apreço do Ministério não é, de certeza absoluta!
7. Eu desafio seja quem for do Ministério da Educação (ou de outra área da sociedade) a enfrentar (o verbo é mesmo esse, “enfrentar”, já que de uma luta se trata…), durante uma semana apenas, uma turma destas sozinho, sem jornalistas nem guarda-costas, e cumprir um horário de professor tentando ensinar um assunto qualquer de uma unidade didáctica do programa escolar.
Eu quero saber se ao fim dessa semana esse ilustre voluntário ainda estará com vontade de continuar. E não me digam que isto é demagogia porque demagogia é falar das coisas sem as conhecer e a realidade escolar está numa sala de aula com alunos de carne, osso e odores e não num gabinete onde esses alunos são números num mapa de estatística e eu sei perfeitamente que o que o Governo quer são números para esse mapa, quer os alunos saibam estar sentados numa cadeira ou não (saber ler e explicar o que leram seria pedir demasiado pois esse conhecimento justificaria equivalência, não ao 9º ano, mas a um bacharelato…).
É preciso que o Ministério diga aos alunos que a aprendizagem exige esforço, que aprender custa, que aprender “dói”! É preciso dizer aos alunos que não basta andar na escola de telemóvel na mão para memorizar conhecimentos, aprender técnicas e adoptar posturas e comportamentos socialmente correctos.
Se V.Excia achar que eu sou pessimista e que estou a perder a sensibilidade por estar em contacto diário com este tipo de jovens pergunte a opinião de outros professores, indague junto das escolas, mande alguém saber. Mas tenha cuidado porque estes cursos são uma mentira…
Permita-me discordar de V. Excia mas dizer que os professores têm de ser dignificados é pouco, muito pouco mesmo…
Atenciosamente
A.(devidamente identificado)
Professor de Ciências Físico-Químicas
ÍLHAVO

Apresentação do livro 4R no Porto


No dia 19 de Novembro, pelas 19 horas e 30 minutos, na FNAC do Norte Shopping!...
Prefácio de Francisco José Viegas
Apresentação de Manuela Ferreira Leite

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Carta aberta de um Professor (identificado) I

Carta aberta ao Senhor Presidente da República Portuguesa (carta que circula por e-mails)
Ílhavo, 22 de Outubro de 2007
Senhor Presidente da República Portuguesa
Excelência:
Disse V. Excia, no discurso do passado dia 5 de Outubro, que os professores precisavam de ser dignificados e eu ouso acrescentar: “Talvez V. Excia não saiba bem quanto!”
1. Sou professor há mais de trinta e seis anos e no ano passado tive o primeiro contacto com a maior mentira e o maior engano (não lhe chamo fraude porque talvez lhe falte a “má-fé”) do ensino em Portugal que dá pelo nome de Cursos de Educação e Formação (CEF).
A mentira começa logo no facto de dois anos nestes cursos darem equivalência ao 9º ano, isto é, aldrabando a Matemática, dois é igual a três!
Um aluno pode faltar dez, vinte, trinta vezes a uma ou a várias disciplinas (mesmo estando na escola) mas, com aulas de remediação, de recuperação ou de compensação (chamem-lhe o que quiserem mas serão sempre sucedâneos de aulas e nunca aulas verdadeiras como as outras) fica sem faltas. Pode ter cinco, dez ou quinze faltas disciplinares, pode inclusive ter sido suspenso que no fim do ano fica sem faltas, fica puro e imaculado como se nascesse nesse momento.
Qual é a mensagem que o aluno retira deste procedimento? Que pode fazer tudo o que lhe apetecer que no final da ano desce sobre ele uma luz divina que o purifica ao contrário do que na vida acontece. Como se vê claramente não pode haver melhor incentivo à irresponsabilidade do que este.
2. Actualmente sinto vergonha de ser professor porque muitos alunos podem este ano encontrar-me na rua e dizerem: ”Lá vai o palerma que se fartou de me dizer para me portar bem, que me dizia que podia reprovar por faltas e, afinal, não me aconteceu nada disso. Grande estúpido!”
3. É muito fácil falar de alunos problemáticos a partir dos gabinetes mas a distância que vai deles até às salas de aula é abissal. E é-o porque quando os responsáveis aparecem numa escola levam atrás de si (ou à sua frente, tanto faz) um magote de televisões e de jornais que se atropelam uns aos outros. Deviam era aparecer nas escolas sem avisar, sem jornalistas, trazer o seu carro particular e não terem lugar para estacionar como acontece na minha escola.
Quando aparecem fazem-no com crianças escolhidas e pagas por uma empresa de casting para ficarem bonitos (as crianças e os governantes) na televisão.
Os nossos alunos não são recrutados dessa maneira, não são louros, não têm caracóis no cabelo nem vestem roupa de marca.
Os nossos alunos entram na sala de aula aos berros e aos encontrões, trazem vestidas camisolas interiores cavadas, cheiram a suor e a outras coisas e têm os dentes em mísero estado.
Os nossos alunos estão em estado bruto, estão tal e qual a Natureza os fez, cresceram como silvas que nunca viram uma tesoura de poda. Apesar de terem 15/16 anos parece que nunca conviveram com gente civilizada.
Não fazem distinção entre o recreio e o interior da sala de aula onde entram de boné na cabeça, headphones nos ouvidos continuando as conversas que traziam do recreio.
Os nossos alunos entram na sala, sentam-se na cadeira, abrem as pernas, deixam-se escorregar pela cadeira abaixo e não trazem nem esferográfica nem uma folha de papel onde possam escrever seja o que for.
Quando lhes digo para se sentarem direitos, para se desencostarem da parede, para não se virarem para trás olham-me de soslaio como que a dizer “Olha-me este!” e passados alguns segundos estão com as mesmas atitudes.
(Continua)

Pobre cultura, pobres museus, pobres visitantes...

Perante a “situação de colapso provocado pela falta de atenção do Instituto dos Museus e da Conservação” – assim fala a Ministra da Cultura – para a necessidade de resolver o problema da falta de pessoal nos Museus que impede o normal acesso dos visitantes às suas exposições, aquela governante declarou que “Não há a mais pequena responsabilidade do Ministério da Cultura neste assunto”, remetendo as responsabilidades para aquele Instituto, que por acaso depende do Ministério da Cultura.
Em questões tão fundamentais da actividade dos Museus, não compreendo como é possível enjeitar responsabilidades desta forma! É que o problema não se coloca, a meu ver, num plano puramente técnico, mas deve antes ser colocado no plano político.
Que sentido faz ter Museus que não podem estar abertos ao público? É este o ponto!
O problema da falta de vigilantes nos Museus é crónico e continua sem solução à vista. Uma gestão do pessoal que assenta em contratos precários não permite a necessária previsibilidade e estabilidade na administração dos Museus. Declara o Director do Museu Nacional de Arte Antiga que “O universo dos museus não se compadece com uma grande circulação de pessoal, a fidelização é importante, até por questões de segurança”. Estou totalmente de acordo, mas não parece ser essa a opinião da sua Tutela.
Não se compreende que perante um tal problema, o governo tenha acabado com a possibilidade de contratar vigilantes através do Instituto do Emprego e Formação Profissional recorrendo a pessoas na situação de desemprego. Porquê? Gostava de saber... Será que é no PRACE que está a “bola de cristal”?
Enfim, um mal nunca vem só!

Recordar o Prestige


Às 15 h e 15 m do dia 13 de Novembro de 2002 um velho e inseguro petroleiro, de casco simples, paradoxalmente matriculado Prestige, navegava em grande dificuldade ao largo da Galiza e lançava um primeiro S.O.S..
À deriva durante seis dias, acabou por partir-se originando uma crise ecológica que muitos temeram poder atingir gravemente as águas e o território de Portugal.
Apesar de se ter deixado de falar no Prestige no imediato momento que se percebeu que a desgraça não atingiria a costa portuguesa (para manifesta e indisfarçada insatisfação de quem, do alto dos seus doutoramentos, garantia a pés juntos que a maré negra chegaria à costa alentejana...), a verdade é que os seus efeitos perdurarão por muitos anos.
Alguns deles jamais serão conhecidos como a afectação dos stocks biológicos, afectação que nunca é localizada e se projecta por uma área muito superior à que é directamente atingida. Outros, os efeitos materiais imediatos na redução do rendimento da pesca ou a despesa com a descontaminação de águas e a zona costeira directamente atingidas, estão contabilizados e cifraram-se por muitos e muitos milhões de euros.
O caso do Prestige alertou para os imensos riscos da navegação e para a fragilidade dos sistemas de prevenção e defesa contra este tipo de acidentes.
Sabe-se que nenhum Estado está ou estará alguma vez preparado para fazer face a um desastre ecológico deste tipo. Mas a cooperação internacional nesta matéria, sendo um imperativo uma vez que os impactos não conhecem fronteira, será tanto mais eficaz quanto os Estados se dotarem de meios de vigilância e defesa dos mares.
Portugal, que tem uma costa especialmente vulnerável atento o intenso tráfego marítimo que percorre as suas águas territoriais, mas também porque o mar foi e sempre será um recurso fundamental para o seu desenvolvimento, necessita como nenhum outro de se prevenir e defender.
O dia de hoje será um momento adequado para fazer o balanço do que foi entretanto foi feito.
Espera-se ouvir dos responsáveis da Defesa e do Ambiente mais do que a notícia do adiamento da entrada em serviço dos navios de combate à poluição, com que o Governo em 2002 decidiu equipar a Marinha. Para que se perceba que, nalguma medida, aprendemos com a amarga lição do Prestige.

Mentes brilhantes!...

De acordo com a notícia da Lusa, a Estradas de Portugal (EP), uma empresa do Estado, vai ser obrigada a reduzir a metade o número de mortes na rede rodoviária que lhe será concessionada, até 2010, e será multada pelo Estado, se não o conseguir, revertendo a multa a favor do Estado!...
Como a empresa não será rentável, receberá naturalmente subsídios do Estado. Assim, bom princípio é este de o Estado receber multas e de atribuir os respectivos subsídios para a empresa as poder pagar!... Que os vivos, em termo final, pagarão em impostos!... Círculo fechado!...
Por este caminho, o Serviço de Emergência Médica também será obrigado a reduzir para metade o número de mortes nas suas ambulâncias, sob pena de lhe ser retirada a licença!...
E nas próximas concessões hospitalares, os Hospitais também serão obrigados a reduzir para metade o número de mortes nas suas instalações, sob pena de multas severas, que naturalmente se repercutirão no preço dos serviços médicos!...
Com tanto zelo governativo, a pouco e pouco, a população portuguesa nem lugar terá onde cair morta!...Enfim, belo conjunto vazio de tecnocracias sócrato-linianas, para entreter o pagode!...
E vai haver mentes , tão "brilhantes" como as anteriores, logo dispostas a comentá-las a sério!...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

"A montanha pariu um rato"...

“A montanha pariu um rato”: é assim que se pode classificar a decisão do governo, anunciada há um ano, de encerrar catorze (14) urgências hospitalares. Passado que está um ano o governo não só não encerrou uma única urgência como não alterou a designação de alguns serviços hospitalares que sendo de atendimento permanente não reúnem os requisitos técnicos para serem consideradas urgências. O encerramento destas urgências foi estudado por uma comissão nomeada pelo Ministro da Saúde cujo relatório apresentado há um ano propunha o encerramento de cinco serviços de urgência na região norte, sete na região centro e dois na região de Lisboa.
À semelhança das maternidades, cujo encerramento acabou mesmo por se concretizar, o Ministro da Saúde encomendou um estudo para escudar a decisão política num parecer técnico independente. Mas o anúncio da medida provocou uma tal onda de contestação política por parte dos autarcas das localidades afectadas e de revolta por parte das populações residentes que não deixou ao governo outra alternativa que não fosse recuar em toda a linha na decisão.
Se razões técnicas ponderáveis existissem para não adiar ou abandonar o encerramento, designadamente no que se refere à segurança dos utentes e à qualidade dos serviços de saúde prestados, não se compreende então porque razão é que as urgências não foram encerradas. Não sendo as razões técnicas ponderosas, então somos tentados a concluir pela existência de motivações de ordem económica. E é aqui que se levanta a questão da razoabilidade da decisão do governo. Com efeito, em decisões desta envergadura política, as questões sociais assumem um papel importantíssimo. Não foi o caso, muito pelo contrário a posição do governo manifestou uma grande insensibilidade social.
Afinal para que servem os impostos que pagamos? Para fazer redistribuição, que não pode deixar de considerar as assimetrias económicas e sociais das regiões que compõem o território nacional. O mesmo governo que anuncia a redução do imposto sobre o rendimento para as pessoas e empresas residentes e instaladas no interior do País, toma decisões de encerrar serviços básicos de prestação de cuidados de saúde indispensáveis para fixar populações. As questões de segurança e de acessibilidade à prestação de serviços essenciais de saúde – que compete ao Estado assegurar, seja directamente seja contratualizando junto de terceiras entidades – são fundamentais, entre outras, nas decisões políticas de reestruturação da rede hospitalar.
A decisão de encerramento das catorze urgências hospitalares foi um desastre que acabou numa desautorização política e numa vitória popular. Beliscar direitos tão sensíveis e fundamentais pode ter este resultado. Não se recomenda. Ainda bem que “a montanha pariu um rato”! A bem do País, a bem da justiça social, a bem dos nossos impostos, a bem das populações e do desenvolvimento económico e social das zonas do interior.
Será que, ainda assim, este dossier tem hipóteses de ser reaberto?

O preço do grátis

Anuncia-se que a RAVE terá na sua posse um estudo que arrasa os fundamentos do que foi elaborado pela CIP em apoio da localização em Alcochete do novo aeroporto de Lisboa.
Segundo os estudiosos pagos pela RAVE (que ninguém parece conhecer, mas lá que existem, existem, a acreditar nos jornais do fim de semana) os estudiosos pagos pela CIP esqueceram-se de contabilizar umas centenas largas de milhões de euros.
Para além de se confirmar uma suspeita minha de que a procissão ainda vai no adro nesta estória do aeroporto, dou comigo a recordar que o Governo, no tempo em que outra opção que não fosse a OTA "jamais, jamais!", garantia que o empreendimento se pagaria entre fundos europeus e receitas da própria exploração sem onerar os orçamentos.

Agora, pelos vistos, o grátis tem preço. E pelos números que por aí vi relatados, que preço!

Impostos: mentalidade e (ir)responsabilidade

O que têm em comum Edward Prescott, Prémio Nobel da Economia em 2004; Joaquín Almunia, Comissário Europeu dos Assuntos Económicos e Monetários; e Teresa Ter-Minassian, Directora do FMI para a área fiscal? Pela cartilha do Governo Socialista, são todos irresponsáveis. E porquê?

Edward Prescott, que no início de Outubro esteve em Portugal, referiu que uma redução de impostos é desejável no nosso país, pois seria uma forma de incentivar mais o trabalho e a produção, e não teria um grande efeito sobre as receitas fiscais. De acordo com Prescott, uma descida de impostos [não especificou quais] beneficiaria os portugueses, porque as actuais taxas são elevadas.

Já Joaquín Almunia, que também recentemente passou pelo nosso país, apontou que, num mundo globalizado, com livre circulação de capitais e concorrência acrescida, a política fiscal deve ter em conta os requisitos do crescimento e da competitividade. Claro, sem descurar o equilíbrio orçamental, que é uma condição necessária ao crescimento. E, portanto, não se opôs a alterações fiscais (leia-se, descida de impostos) que sirvam o crescimento e não comprometam a consolidação.

Finalmente, Teresa Ter-Minassian, que esteve em Portugal no fim de Setembro, mostrou-se favorável – ao contrário da mensagem que a maioria da comunicação social fez passar – a alterações fiscais em que são reduzidas taxas de imposto (com prioridade para o IRC) mas é alargada a base tributária e são eliminados alguns benefícios fiscais.

Basicamente, o que Prescott, Almunia e Ter-Minassian defendem é a urgência do acompanhamento por parte de Portugal das tendências internacionais (e, sobretudo, europeias) em matéria de impostos. E que tal é possível sem comprometer a redução do défice público e a consolidação orçamental.

O problema é que, com o Governo Socialista à cabeça, tem-se tentado instalar na sociedade portuguesa a ideia de que proceder a alterações fiscais é irresponsável por causa do défice. E que baixar taxas de imposto é igual a perder receita fiscal. Mas não é, como Prescott bem referiu. E como Almunia e Ter-Minassian apontaram, é preciso actuar na área fiscal sem comprometer a consolidação orçamental… que deve ser realizada sobretudo do lado da despesa – e para a qual é determinante a vontade política (ou a falta dela…) de um Governo. Como Ter-Minassian disse, “a aceleração da reforma da Função Pública depende da vontade política” e “se o Governo quiser, as coisas podem ser apressadas”. Só que não tem querido, como prova o Orçamento do Estado para 2008, recentemente entregue, em que as metas definidas no famoso PRACE para a despesa continuam todas a derrapar. E isto é que me parece ser uma grande irresponsabilidade!

Tenho chamado a atenção, até de forma insistente, para o facto de, no estado em que Portugal se encontra, ser imperioso resolver simultaneamente dois problemas: (i) consolidar as contas públicas, o que deve ser feito essencialmente do lado da despesa pública, da reforma do Estado, com determinação, coragem e rigor; (ii) criar condições para aumentar a produtividade, promover o crescimento económico e fomentar o emprego. É que sem um dinamismo económico acrescido, que ajude a uma rápida convergência para o nível de vida médio europeu, nenhum outro problema da nossa economia será resolvido. Incluindo o orçamental.

Ora, para tanto, actuar na vertente fiscal é fundamental. Por dois motivos.

Desde logo, para a despesa pública: fixar metas ambiciosas do lado da receita criará a pressão necessária para que a despesa pública possa efectivamente ser reformada e reduzida. O que até agora ainda não aconteceu: os impostos aumentaram em 2002 e 2005 (neste ano, aliás, subiram todos os impostos existentes em Portugal!...), e como a máquina do Estado se apanhou com mais dinheiro, claro, logo arranjou forma de o gastar: o “monstro” garantiu a sua sobrevivência. Trata-se, assim, de uma receita falhada. Que deve, pois, ser substituída pela promoção de alterações fiscais devidamente calendarizadas e articuladas com uma actuação reformadora do lado da despesa pública, para não comprometer a consolidação orçamental. Será irresponsável agir assim?!… Não creio!…

Mas importa também perceber que, como as diferentes experiências europeias bem mostram, o instrumento dos impostos, não sendo o único, é fundamental para dinamizar a economia, atrair investimento e empresas, criar emprego e fazer subir o nível de vida da população. E, para além disto, há reformas fiscais que são neutras em termos de receita, mostrando que é compatível tornar um país mais competitivo e atractivo fiscalmente sem deteriorar as contas públicas.

Chegados a este ponto, a pergunta é: como proceder? Não é preciso inventar nada: só precisamos de adaptar à nossa realidade o que já foi feito noutros países. Que, essencialmente, passa por baixar as taxas dos principais impostos (IRC à cabeça, mas também o IRS e, em alguns casos, o IVA), o que deve ser complementado com uma ampla simplificação do sistema fiscal através da redução drástica, ou mesmo a eliminação, de benefícios, deduções e isenções; e, no caso específico do IRS, pela diminuição do número de escalões (como também aconselhou a Directora do FMI). E, claro, pela continuação do combate à fraude e evasão fiscais.

Baixar taxas de impostos é, por si só, dissuasor da fraude e evasão fiscal – e torna o país mais atractivo aos olhos dos investidores; simplificar significa caminhar no sentido da transparência (aproximar as taxas nominais das taxas efectivas) e tornar a vida mais fácil a quem combate a fraude e evasão, bem como a todos os que pagam os seus impostos. Tornar-se-ia, assim, o país mais competitivo e atractivo, privilegiar-se-ia o crescimento económico, alargar-se-ia a base tributária e os efeitos sobre a receita cobrada poderiam mesmo ser positivos. E seriam criadas condições para uma alteração na filosofia de redistribuição do rendimento, que deveria passar a ser feita muito mais sectorialmente do lado da despesa e da diferenciação quanto ao apoio/pagamento na prestação de serviços (como a saúde ou a educação, por exemplo) consoante o nível de rendimento do utente, do que ao nível fiscal – até porque, como prova o facto de Portugal ser, hoje, o país mais desigual da Europa a 27, o nosso sistema fiscal actual também é desadequado para promover uma mais justa repartição da riqueza.

É, pois, preciso alterar a mentalidade e o status quo instalado em Portugal quanto à actuação na área fiscal e que tanto convém a um Governo e a um Primeiro-Ministro que, é bem sabido, não consideram prioritário agir em matéria de impostos no sentido que há anos defendo e que acima referi.

Eu, por mim, não desistirei deste combate que considero estruturalmente fundamental para retirar a economia portuguesa do estado de letargia em que se encontra. Os resultados positivos obtidos pelos países que, em termos fiscais, avançaram na direcção aqui apontada falam por si… e, como diz o povo “não há pior cego do que aquele que não quer ver”!...

Ah, e já agora caro leitor: acha mesmo que um Prémio Nobel da Economia, um Comissário Europeu e uma Directora do FMI são todos irresponsáveis? Pelo amor de Deus!...

Nota: Este texto foi publicado no "Público" em Novembro 06, 2007