Número total de visualizações de páginas

sábado, 13 de dezembro de 2008

A insustentável fantasia do critério jornalístico!...

Ontem, Belmiro de Azevedo fez importantes declarações sobre o modo como via as políticas públicas e as prioridades de investimento para o país. Como importante empresário e força económica que é, as suas palavras deviam ser difundidas e escutadas.
Mas não, a avaliar, hoje, pelas primeiras páginas de dois jornais ditos de referência. As grandes questões e “notícias” são outras. Vejamos qual a sua ínclita natureza.
Para um, a relevância do dia eram as multas do fisco, as emissões de CO2, os presos de Guantanamo, o inevitável Sá Fernandes, tudo matéria de grande originalidade e oportunidade, e ainda o regresso do Cais das Colunas, o prémio de Carrilho da Graça e, muito importante, a corrupção do Governador de Illinois!...
Para o outro, a política parece ser tudo, e aí temos novamente a avaliação dos professores, a Casa Pia, o Estatuto dos Açores, os apoios de Sócrates aos desempregados, as pressões de Manuel Alegre, Guantanamo... tudo coisas que não sabíamos!...A sociedade civil nãoé esquecida, e tem toda a relevância que merece, com o aliciante tema de que Liedson quer fazer pé de meia!...
No desporto, já que ontem tinha enxergado, numa notícia de 12 linhas, letra mínima, em coluna da última página de um desportivo jornal da capital, que o CNID, Clube Nacional de Imprensa Desportiva, iria entregar o prémio de melhor jogador do ano a Lisandro, ousei procurar, nesse mesmo jornal, o relato do acontecimento. As notícias da primeira página eram avassaladoramente o Benfica, e depois, testes de fórmula 1 no Algarve, Ronaldo, e chamadas para referências ao Porto e ao Sporting nas páginas interiores. Da entrega do prémio, nada. Aquilo que os jornalistas premiaram, os Directores não relevam. Mostra como se respeitam a si próprios.
Questão de critério jornalístico, apurado gene apenas exclusivo e monopólio dos Directores e editores dos media...
No entanto, a realidade acaba sempre com as fantasias. Disso podemos ter a certeza, embora muitos dos que se deixam levar pela fantasia mediática ainda não acreditem!...

Dignitas personae

Nos últimos 30 anos nasceram três milhões de meninas e de meninos graças às tecnologias da procriação medicamente assistida. Três milhões de seres humanos que, tal como os outros, os que nasceram “naturalmente”, vivem com as alegrias e as tristezas inerentes à existência. Fizeram e fazem a felicidade de milhões de pais a quem a Natureza negou a mais nobre e superior aspiração: ser pai e ser mãe.
Muitas crianças não viram, felizmente, a luz do dia, devido a intervenção médica. De facto, o diagnóstico pré implantatório permitiu evitar que muitos embriões, portadores de lesões graves, originem crianças com sérios problemas de saúde, que iriam sofrer de forma desumana, verdadeiro atentado à dignidade. A mesma técnica também permitiu, e irá continuar a permitir, salvar a vida de irmãos doentes e condenados ao sofrimento e à morte prematura.
As tecnologias médicas, nomeadamente as contraceptivas revolucionaram o mundo moderno da forma que todos conhecemos.
O Vaticano emitiu mais um documento, Dignitas personae, sobre bioética. O documento, obra da Congregação da Doutrina da Fé, descreve de forma explícita a posição já conhecida desde há muito tempo sobre estas matérias.
As recomendações fundamentais são as seguintes:
- Não aos embriões congelados. De facto, deverá ser evitado ao máximo a produção de embriões excedentários. No entanto, por motivos variados, por exemplo, desistência à última hora do casal, surge a necessidade de os congelar. Vá lá, o Vaticano já considera lícito congelar ovócitos, “para evitar um mal maior”!
- Condena o uso de células estaminais. Obviamente que não devem ser criados embriões com essa finalidade, mas, se não houver possibilidade de dar um destino viável aos embriões congelados, por que não utilizar as suas células, em vez de os eliminar? Um dos argumentos apresentados pelo Vaticano é que este tipo de investigação é “cooperar com o mal, um escândalo” e que não “está ao serviço da humanidade”.
- Não ao diagnóstico genético de embriões in vitro, porque pressupõe a condenação à morte de um embrião suspeito de defeitos cromossómicos ou genéticos. Suspeito? Não creio! Os cientistas não tomam decisões deste nível com base em “suspeitas”.
- “A clonagem é ílicita”. Claro que é.
- “A contracepção é aborto”! Continuo a não compreender esta atitude. “As técnicas de controlo de natalidade são como o pecado do aborto e gravemente imorais”. Apesar dos “interceptadores”, caso dos dispositivos intra-uterinos, não provocarem aborto, o Vaticano crê que “a intencionalidade abortiva está geralmente presente”
- Fecundação assistida? Sim, mas só entre os cônjuges. Aqui há uma evolução face à Donum Vitae de 1987. São aceites as técnicas que “respeitam o direito à vida e à integridade física de todos os seres humanos e à unidade do casal”. mas são proibidas a fecundação artificial quer homóloga quer a heteróloga. Logo, as que são permitidas são a eliminação de obstáculos à fertilidade do casal!
- Engenharia genética? Nem pensar, “porque o homem nunca poderá substituir o Criador” e lança uma séria advertência aos investigadores: “Não devem colaborar com o mal”!
Algumas das preocupações éticas realçadas pelo Vaticano são, igualmente, partilhadas pelos cientistas como é fácil de compreender. No entanto, torna-se muito difícil de compreender a razão de outras, sobretudo, quando invocam a “colaboração com o mal”. Muitas práticas, hoje consolidadas, não são a expressão do “mal”, mas um desejo sincero e superior em contribuir para “uma humanidade mais humana”, mais digna, menos sofredora, porque se deixarmos tudo nas mãos da Natureza, os verdadeiros “males” continuarão à solta com as suas fúrias, provocando sofrimento, morte, angústia e infelicidade.
Para o Vaticano a “filosofia geral é que todo o ser humano tem direito a nascer da união dos pais e não ser um produto do laboratório e da capacidade técnica de um médico”
Será que o Vaticano considera os três milhões de seres humanos nascidos através da procriação medicamente assistida como filhos do “mal”? De facto, há qualquer coisa que está mesmo mal!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Crise

Um homem, fazendo pela vida depois de inúmeras adversidades, encostou o velho furgão à beira de uma estrada concorrida e pôs-se vender cachorros e bifanas. Vivia sozinho, raramente via televisão e, meio analfabeto, não lia jornais. Tornou-se o rei das vendas de bifanas e cachorros sobretudo à juventude que por aqueles lados até altas horas, se divertia.
Rapidamente se espalhou a boa fama daquele homem. E rapidamente aumentou as encomendas de pão, carne e salsicha.
Com o dinheiro que angariou abalançou-se a comprar uma pequena loja ali perto onde reinstalou o seu negócio e onde viu as vendas subirem e mais dinheiro entrar em caixa. Um dia, muito orgulhoso, telefonou para o seu único filho, emigrante nos EUA, para lhe contar dos sucessos. Ouviu do filho:
- Pai, não me diga que não sabe o que se passa! Há uma crise muito séria, a situação internacional é gravíssima e o que nos espera é ainda pior!
O homem pensou:
- O meu filho trabalha nos Estados Unidos. Até estudou lá. Sabe bem o que está dizendo.
Nos dias seguintes decidiu reduzir as encomendas de pão, carne e salsichas. Começou a fechar a loja mais cedo. As vendas caíram.
Pouco tempo depois sentiu necessidade de telefonar de novo ao filho:
- Olha meu filho, tinhas razão. A crise é mesmo muito grave!
.
(Adaptado de uma metáfora recolhida algures na rede)

Fala assim quem cria riqueza...

Belmiro de Azevedo fez hoje críticas ao Governo a propósito do apoio aos bancos e das opções pelos grandes projectos. Fala assim quem cria riqueza:

- “Para que precisamos de tantos bancos e de um sistema financeiro muito eficaz se a actividade económica não funciona?”

- “Não temos dinheiro para todos os grandes projectos previstos em Portugal e quem não tem dinheiro não tem vícios”. “Estamos em crise. Vamos à estaca zero, ver se estes projectos realmente fazem falta aos portugueses".

Belmiro de Azevedo defende que a actual crise económica é “uma oportunidade óptima" para o Governo “se desprender dos compromissos assumidos” e apostar em “actividades económicas chave” onde o país tem “muito potencial”, como a floresta, o turismo e o sector da agricultura e pescas.

A bandeira


Um dos temas da edição de amanhã do Expresso é a reforma da administração pública.
Na síntese enviada, o primeiro parágrafo diz o seguinte:
"A reforma da Administração Pública é uma das principais bandeiras do Governo de José Sócrates".
E o último reza como se segue:
"Conseguirá o Governo chegar às eleições com a reforma feita?"
Com que então, desfralda-se uma bandeira, que é a reforma, e a reforma, que é a bandeira, é coisa que não existe?
Ora como o Expresso não faz a propaganda do Governo, a ligação dos dois parágrafos do texto só revela que o humor e a fina ironia do Expresso pedem meças às excelentes ironias de Manuela Ferreira Leite!...

Economistas e gestores apoiam subida do défice...que coisa bela!

1. A bela frase que faz a 1ª parte do título deste Post é hoje também título em destaque num dos mais brilhantes diários económicos da nossa praça.
2. Essa frase é sintoma de um crónico problema do País que acaba por afectar/contaminar todo o funcionamento sadio da própria economia: a falta de opiniões independentes com eco na comunicação social.
3. Existem opiniões económicas independentes é certo, mas a generalidade da comunicação social evita-as, tem receio de as divulgar, prefere as opiniões de seguidismo, que fazem coro com o status quo, que ajudam por estes dias à festa do delírio colectivo...
4. Esta frase merece um pouco mais de atenção para se perceber o seu significado “profundo”.
5. Qualquer pessoa com um mínimo de formação ou de informação percebe que, com a economia em forte desaceleração – sendo mesmo admissível um recuo na riqueza produzida e no rendimento no próximo ano – o défice orçamental, por força dos chamados estabilizadores automáticos, terá de aumentar.
6. Assim sendo, estar de acordo ou em desacordo com esse aumento é uma inutilidade: é a mesma coisa que estar de acordo ou em desacordo com as fases da lua ou com o movimento de rotação da Terra...têm de acontecer, quer estejamos ou não de acordo!
7. Não pode pois ser esse o sentido útil desta frase.
8. O seu sentido útil e subliminar parece ser antes o de exprimir concordância em relação ao MODO como entre nós se está encarando o “combate” à crise económica, favorecendo essa crise – pelo menos assegurando-lhe vida bem mais longa...
9. E já sabemos qual é a receita “mágica” para “combater” a crise: mais despesa pública em investimentos realizados “a esmo” sem preocupação quanto à rentabilidade económica e social e quanto aos pesados compromissos financeiros pelos mesmos induzidos...o que é preciso é gastar dinheiro para por a economia flutuar...só que com “flutuadores” de betão e de aço a economia afunda-se cada vez mais...
10. Os nossos economistas regimentais – bonzos do regime na feliz expressão de Pinho Cardão - são mesmo assim: apontam a sua opinião para onde a bússola oficial está voltada...se a bússola oficial apontasse para a descida dos impostos, que neste momento execram, aclamariam essa descida... amanhã estarão de acordo com a redução do défice, bastando que a bússola oficial para aí aponte...
11. Num País em que a opinião de eco dominante exprime conveniências e não convicções nunca poderá ser um país com grande futuro...andará sempre na carruagem da retaguarda, para perceber o que fazem os outros, o que é mais conveniente...

Quem revela a verdade não merece castigo!

«O quê? O senhor não sabe o que está combinado? Que hoje só pode fazer perguntas sobre esta cerimónia e sobre o plano de combate à SIDA nas escolas? Ainda por cima é a RTP, a televisão pública, a fazer uma coisa destas. E, depois, logo à noite, não sai a reportagem»" - Palavras de Ana Jorge, ministra da saúde, dirigidas a jornalista que ousou colocar uma questão sobre a suspensão da avaliação dos professores à ministra da educação que a acompanhava.
Começo a apreciar Ana Jorge. Controla, mas assume!

Cada vez mais longe da realidade...

A pior coisa que poderia suceder no conflito que opõe o Ministério da Educação e os sindicatos e professores seria a sua banalização. Já está a acontecer.
O que pode o País esperar de mais anúncios de reuniões, negociações e conversações, para amanhã ou para a semana, de greves anunciadas, marcadas para 2009 não fosse a época Natalícia, de apelos à desobediência, de atitudes de intransigência, de ameaças, de uma desconfiança, num permanente diz que disse o que não disse ou diz que não disse o que disse, quando a batalha já está ganha ou já está perdida pensam uns e outros? Com efeito, não se pode esperar outra coisa que não seja um triste espectáculo, um ano lectivo perdido, minado pela instabilidade e intranquilidade, em que as principais vítimas são os alunos e as escolas.
A banalização do conflito instalou-se, o conflito assumiu uma tal irracionalidade que às tantas já ninguém percebe de que lado está a razão ou a verdade, o que é que uns e outros defendem e acusam. Fica a sensação que o conflito saltou do País real para um qualquer sítio virtual em que Ministério da Educação e os sindicatos e professores continuam “alegremente” a testar até onde é que uns e outros podem ir, medindo forças, definindo estratégias de ataque e de defesa, prevendo e avaliando as diversas hipóteses de resultados, delineando planos mediáticos ao minuto.
O tempo dispendido em toda esta laboriosa batalha não pode efectivamente deixar tempo para tratar do essencial. E o essencial é adoptar um sistema de avaliação do desempenho que promova o mérito, que incentive e motive os professores e as escolas a fazerem melhor, que promova a qualidade do ensino. É disto que se trata.
E porque não transferir a discussão do plano político para o plano técnico? É que embora o conflito seja político, a matéria alvo da discórdia é essencialmente técnica.
Chegados a este ponto, será que mais alguma coisa nos poderá espantar?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

É importante debater o Orçamento?

Na actualidade, resta ao parlamento, para além da acção de fiscalização da actividade governamental, o poder orçamental. Mas alguém por aí entende que é efectivo esse poder da AR? Não é. Em primeiro lugar porque a "estabilidade política", esse valor com que se justifica a necessidade de maiorias absolutas, transforma o grupo parlamentar da maioria em mera caixa de ressonância, acéfala, do governo. O parlamento é chamado a caucionar o orçamento do governo, mais do que a discutir os seus fundamentos e a bondade política das soluções que nele se contêm.
O senhor ministro das finanças encarregou-se hoje mesmo de demonstrar o que vale o debate parlamentar sobre o Orçamento do Estado (o que vale o próprio OE?) ao anunciar que a perspectiva de déficite público para 2009, que ainda há poucos dias defendeu na AR, afinal não se verificará, sendo de esperar um agravamento de mais de 35% (há alguns meses as previsões do governo apontavam para 1,5% do PIB)!
Não acredito que quando o ministro e o PM foram à AR defender o seu OE, não estivessem cientes da insustentabilidade da previsão. Nada de extraordinário se passou entretanto que permita explicar a mudança de perspectiva ocorrida em dias, não em meses. Ainda assim levaram-na a "debate" e impuseram-na como cenário de enquadramento da actividade económica para o próximo ano. Chegaram ao ponto de acusarem de despesista quem, como a lider da oposição, propôs um ligeiro agravamento desequilíbrio orçamental. Sabiam então, como hoje, que a tendência da receita era para a baixa por força do forte abrandamento da economia; e que do lado da despesa, quer se queira quer se não queira, a pressão é para a subida. Mesmo assim, consumiram-se horas e horas em "debate".
Debate para quê, se desonestamente viciado nos seus pressupostos?

Os deuses estão mesmo loucos!...

Vítor Constâncio, num encontro promovido pela Câmara do Comércio Luso-espanhola, aconselhou a subida do défice orçamental, recomendou mais despesa e investimento público e rejeitou a baixa de impostos.
Daniel Bessa, num encontro promovido pela Plataforma Construir Ideias, de Pedro Passos Coelho, aconselhou a suspensão dos limites do défice, recomendou um programa de obras públicas e rejeitou a redução da carga fiscal.
Octávio Teixeira, no DN, defende, naturalmente, um deslize do défice, mesmo acima dos 3% e não defende a baixa de impostos.
João Ferreira do Amaral, no DN, aponta o aumento da despesa pública para reanimar a economia, defende o défice acima dos 3% do PIB e rejeita a baixa de impostos.
Vítor Baptista, economista e deputado do PS, também no DN, é adepto do aumento da despesa e até veria com bons olhos um aumento do défice.
Os três primeiros, por certo devido a notável coincidência, em uníssono referiram que havendo qualquer descida dos impostos, os cidadãos aproveitariam a folga para poupar. Presume-se que não seria bom.
Agora digo eu. Nos últimos dez anos, em termos de PIB, o investimento público, em Portugal, foi o maior da Europa, e Portugal foi o país que menos cresceu, se é que se considera crescimento o ligeiríssimo aumento do produto.
O Governo, seguindo tão doutos e autorizados conselhos, já disse que ia aplicar a mesma receita, melhor, o mesmíssimo veneno que nos levou a este estado.
Os deuses estão mesmo loucos!... E os bonzos da corte, também!...

“Mijar nas calças”

Há 3 a 4 milhões de anos, Ug e Og, um casal de australopitecos, depois de terem enchido as panças até não poderem mais com os alimentos encontrados numa pequena zona florestal, nas margens de uma longa planície africana, decidiram dar uma volta, sem antes despenderem algum esforço para garantir a sobrevivência da espécie. Impulsionados pela necessidade de pesquisar o desconhecido, afastando-se das sua origens, Ug, do alto do seu metro e vinte, ao olhar para trás, sempre desperto pelo instinto da sobrevivência, repara na presença de um tigre dente de sabre cheio de fome. Põe-se aos saltos e aos gritos avisando a sua companheira. Og e Ug ficam com os pelos todos enriçados, olhos esbugalhados, defecam e urinam de imediato, e, com os corações numa aceleração perfeitamente louca, acompanhando o aumento da frequência respiratória, disparam numa correria frenética à procura de um local que lhes permita escapar aos desejos de um refinado apreciador de carne pré hominídea. Ao avistarem uma árvore solitária trepam-na com uma agilidade própria dos ascendentes arborícolas. Durante o curto período em que estiveram sob ameaça, muitas modificações ocorreram nos seus corpos. Aumento de muitas hormonas, inibição de outras, paragem da multiplicação das células, produção e libertação maciça de glicose no sangue para ser utilizado pelos músculos, desvio do sangue das vísceras para os músculos, pulmões e cérebro, paragem de todos os processos ligados à reprodução e à reparação, libertação de “pesos” desnecessários, caso das fezes e da urina, para ficarem mais leves, enfim, um conjunto de modificações fisiológicas que hoje são considerados como típicos de stress. Ao fim de algum tempo, mais calmos, analisam a situação com o bicharoco lá em baixo à espera da almoço. O tempo passa e a vontade de urinar chega, agora, Ug, de forma consciente, e não reflexiva, como na vez anterior decidiu mijar sobre o tigre, o qual, humilhado, se afasta à procura de outra ementa. Ug e Og foram corajosos e conseguiram escapar, pelo menos dessa vez.
Urinar reflexivamente, agora nas calças, continua a ocorrer nos nossos dias, mesmo milhões de anos depois dos nossos antepassados terem sentido essa necessidade face às ameaças por parte dos predadores. Quando alguém é raptado, ameaçado e sujeito a sevícias por parte de bandidos e terroristas é perfeitamente natural que ocorram as reacções descritas nos nossos antecessores australopitecos. Comportam-se como vítimas indefesas de predadores mais perigosos do que os tigres dentes de sabre, até, porque nestes era perfeitamente legítimo o seu desejo.
Um predador a urinar nas calças é coisa nunca vista! Mas aconteceu! Aitzol Iriondo Yarza, chefe da ETA, foi apanhado por um polícia francês que lhe apontou a pistola à cabeça. Ainda tentou resistir, conjuntamente com dois colegas, numa viatura carregado de explosivos, mas a “coragem” do chefe de organização terrorista, responsável por mortes e atentados, esvaiu-se de forma inglória pelas pernas abaixo. Assim se vê a bravura de certos “heróis”...

A chama do dragão

"FC Porto continued their impressive unbeaten home record against English clubs...", diz o site da UEFA.
E não só...e não só!...
Mais uma vez, e tal como na época anterior, o 1º do Grupo.

Para desanuviar

Photobucket

Para aqueles que andam chateados com o estado do País, recomendo a leitura deste livro que foi hoje lançado em Lisboa: "12 erros que mudaram Portugal".
É uma visão divertida mas séria, ligeira mas concisa, quase cómica mas trágica, de alguns momentos da história deste jardim à beira mar plantado.
Em 800 anos da nossa história, revisitamos D. Afonso Henriques, Pedro Hispano, os Descobrimentos e tantas outras estórias.

A democratização dos conselheiros de imagem


Uma vez li algures que há pessoas que detestam fotografias porque entendem que é uma forma de lhes roubarem a alma. A imagem fixa o momento, uma expressão, um perfil, uma forma de vestir, um trejeito ou um defeito, e fica ali, presa, à mercê de quem queira devassá-la, vê-la à lupa ou interpretar um gesto fora do seu contexto. Em regra, quando olhamos as fotografias reparamos em muito mais do que nas caras que ali vemos, lembramos o que estávamos a fazer, porquê, quando, quem tirou o retrato e talvez mesmo de muitas histórias que julgávamos esquecidas e que a imagem nos devolve.
De certo modo, uma fotografia é irremediável, porque prende um momento entre milhões de momentos possíveis e é esse que é verdadeiro e que recria todos os outros até se desembocar nele e as pessoas são figurantes na paisagem ou na história que o documento ilustra.
Mas se, neste sentido, as fotografias podem roubar a alma, expondo ao olhar desconhecido o que só o fotografado pode realmente decifrar, também há fotografias que ajudam o próprio a desvendar a sua alma, a conhecer-se melhor porque se deixa captar pelo olhar de quem a observa para a fotografar.
Há dias estive em casa de uma amiga que tinha ido a uma sessão fotográfica em Londres, uma fotógrafa que faz álbuns de pessoas vulgares que querem ver como é que ficam quando se entregam nas mãos de quem sabe captar imagens. Não é ir tirar um retrato, é fazer-se fotografar só porque sim, porque a pessoa quer ver como é que os olhos de outra a podem descobrir para além do que ela própria encontra quando se vê ao espelho.
Passou dezenas de fotos em que mudava de roupa, de penteado, de maquilhagem e é incrível como surgia sempre como se fosse uma pessoa diferente, lindíssima quando a sua personalidade era sublinhada pela roupa certa e as poses que assumia com gosto, banal quando estava constrangida, quase feia se a luz lhe enchia a cara ou o cabelo ocultava a expressão dos olhos. A mesma pessoa com vários cambiantes e a máquina a prender o momento, olha aqui que bem que estás, meu Deus, nunca mais uses este vestido, afinal não és nada gorda, quando ris assim até se iluminam os olhos…Passámos um serão divertidíssimo, a discutir opiniões sobre o aspecto físico e a personalidade de uma pessoa que julgávamos conhecer tão bem e em quem afinal nunca nos tínhamos detido um momento a observar realmente com atenção.
Enfim, um caleidoscópio de como a mesma pessoa pode tirar o melhor partido de si própria, aprender a valorizar-se ou a combater o desleixo, um verdadeiro antídoto contra a falta de auto estima ou uma lição para os que não são gratos com a natureza.
Os efeitos “movie star” ao alcance de qualquer um, aí está uma revolução nos tratamentos para a depressão, a democratização dos conselheiros de imagem!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O País precisa do Estado, assim tem de ser!

Resposta à crise, opção pelo abismo? Que assim seja!


1.Tenho-me interrogado bastante, nos últimos dias, sobre o sentido das decisões que constituem a resposta “lusa” à crise económica que nos vai invadindo.
2. Esta crise, pela sua génese e seus impactos, tenderá a afectar mais intensamente dois grupos de países (como tem sido assinalado na imprensa especializada): (i) aqueles em que se desenvolveram maiores “bolhas especulativas” em particular no sector imobiliário e (ii) aqueles cujas economias se encontram mais endividadas.
3. No primeiro grupo encontram-se os USA, “mastermind” e epicentro da crise, o Reino Unido, a Irlanda e a Espanha. Em Portugal a bolha especulativa no sector imobiliário existiu – e por isso estamos a assistir a uma significativa quebra da procura e a uma correcção em baixa dos preços que não estão terminadas – mas não foi tão intensa como naquele grupo de países.
4. No segundo grupo, Portugal ocupa posição de destaque, na companhia de países como a Grécia, o Reino Unido e a Itália. Todos com níveis de endividamento muito elevados, no caso do Reino Unido um problema a juntar à fortíssima bolha especulativa no sector imobiliário.
5. Embora o Reino Unido pareça o país europeu mais afectado por esta crise, a verdade é que se encontra em melhor posição para lhe responder pois dispõe de instrumentos mais eficazes para contrariar os seus efeitos: tem moeda própria, que nos últimos meses já desvalorizou cerca de 30% em relação às principais divisas – por isso a chamada “recessão” irá provavelmente atingir mais intensamente esta economia em 2009, mas também lhe permitirá sair dela mais cedo do que os outros.
6. Martin Wolf escrevia há dias (19 de Novembro), no Financial Times, mais um interessantíssimo artigo “Why eurozone membership is still no answer for Britain” no qual lembrava que num mundo de incertezas uma economia necessita de mecanismos de ajustamento – sendo a taxa de câmbio o mais poderoso de todos esses mecanismos...
7. A economia portuguesa - Famílias, Empresas, Estado – está altamente endividada (e, não obstante, a endividar-se a ritmo frenético), enfrenta um grave problema de produtividade (sistematicamente mal explicado ou não pelos nossos “pensadores de serviço”), não dispõe de mecanismos de ajustamento amarrado que está à âncora (agora letal) do Euro...é a quadratura do círculo enfrentar uma crise nestas condições!
8. A opção de resposta à crise não podia, em minha modesta opinião, ser pior: concentrar ainda mais recursos (que não existem, têm de ser obtidos no exterior a preço altíssimo) em mais-do-que discutíveis investimentos nos sectores protegidos da economia...é esta a inacreditável “resposta” à crise!
9. Essa “resposta” terá pelo menos as seguintes consequências: (i) aumento insustentável do défice externo e do endividamento; (ii) agravamento do fosso da produtividade; (iii) crescentes dificuldades para os sectores expostos à concorrência; (iv) aumento do desemprego de forma duradoura; (v) consolidação/eternização da divergência em relação aos outros países europeus...
10. É o que se pode chamar uma opção de caminho para o abismo...mas se é a que os “media” claramente sufragam, então que assim seja! O País precisa do Estado, assim tem de ser!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

“Animal despacha-mortos”

Há muitos anos, quando participava num jantar familiar primaveril, tive conhecimento do falecimento de um tio que estava hospitalizado num outro hospital que não era o meu. Era ainda um homem novo. Como o tinha visitado no dia anterior fiquei meio admirado. Realmente a situação clínica tinha vindo a deteriorar-se desde há alguns anos, mas como nunca estamos preparados para enfrentar o desenlace, daí a minha surpresa. Vivia só, era rebelde, excêntrico, um verdadeiro suicida ao retardador em contraste com os imediatistas. Não aceitava os conselhos, chegando ao ponto de ter comportamentos perfeitamente opostos aos que aconselhava, o que me levava a fazer exercícios desesperantes para contornar a sua turbulência mental. Um cabo de trabalhos! Só quando se sentia mesmo mal é que revelava alguma humildade, mas nem sempre. Um comportamento ditado, em parte, julgo eu, pelo facto de ter ficado órfão muito cedo. A falta dos pais na educação dos filhos é por demais conhecida. Um trauma que, nalgumas personalidades mais propensas, pode originar atitudes de rebeldia e de excentricidade.
Avisaram-me de que teria levar roupa para o vestir. Fui a casa e levei alguma roupa minha. Entrei na sala anexa à enfermaria onde já se encontrava. O enfermeiro, entretanto, começou a fazer a múmia e eu perguntei-lhe onde e quando é que o vestiam. Olhou para mim e disse que não sabia. Fiz-lhe nova pergunta, desta feita para saber para onde é que o levariam. – Para a capela! – Neste estado?! Encolheu os ombros, respondendo-me que a “funerária de serviço” já tinha sido contactada e eles se encarregariam de tudo. - Mas vão levá-lo agora? – Agora não podemos. Não há maqueiros e não temos macas na enfermaria! – Ah! Então explique-me quando é que vão preparar o corpo? – Sei lá! Amanhã. - Amanhã?! Amanhã o corpo está rijo que nem um carapau! Entretanto contactei a funerária. Informaram-me que a urna estava a caminho da capela localizada a umas boas dezenas de metros no meio de um pequeno bosque. Informei o enfermeiro do facto, o qual me disse, novamente, que não podia levar o corpo porque não havia macas nem maqueiros na enfermaria. Fui então que me disponibilizei para o levar. – Mas como? se não tenho maca! - É fácil. Levo-o às costas! – Se não se importar! – Claro que não! É da família, sabe, e como já o conheço bem, decerto que não vai importar-se. Vai daí pego no meu tio, coloco-o ao ombro e atravesso o pátio, o jardim e depois um pequeno bosque com as árvores a sacudirem-se perante tão inusitado quadro numa estranha noite estrelada.
No interior da capela, já se encontrava o cangalheiro que, ao ver-me, carregando um corpo enrolado num lençol, deverá ter sentido um sobressalto. Com a sua ajuda, procedemos aos preparativos, colocando-o, devidamente composto, na urna.
Confesso que na altura senti uma estranha pressa em resolver as coisas, pressa essa que me incomodou, como se quisesse libertar-me do corpo. Durante estes anos todos, sempre que pensava neste episódio, sentia uma certa sensação de “culpa”. Mas agora estou mais tranquilo. A leitura do ensaio “Autópsia da imortalidade”, incluído na obra de Fernando Savater, “A vida eterna”, permitiu compreender a minha atitude de “animal despacha-mortos” por oposição à expressão com que Unamuno caracterizava o homem, “animal guarda-mortos”. “O cadáver do próximo (sobretudo quando se trata de alguém realmente próximo de nós, um parente ou um amigo) é uma presença embaraçosa em grau extremo, simultaneamente desoladora e repelente, que parece albergar sempre qualquer coisa acusatória, até mesmo uma certa ameaça. Daí que, historicamente, se haja tentado todo o tipo de estratégias para nos desembaraçarmos desse resíduo enigmático, mostrando respeito e afecto para com ele, mas garantindo também o seu desaparecimento de cena e exorcizando a possibilidade do seu indesejável retorno”.
Afinal, fiz o que devia fazer...

A ler...

...este texto de Pedro Magalhães no Margens de Erro.
Já o tinha lido ontem no Público. Tentei colocar aqui alguns excertos, sem êxito pois onde eu estava a banda larga é uma miragem.
Por se tratar de uma reflexão particularmente clarividente sobre a questão (?) do sistema eleitoral, agora de novo falada a propósito de uns estudos pedidos pelo PS a politólogos, mas também das faltas dos senhores deputados, recomendo a passagem pelo blogue e a leitura integral do escrito.
Quem concordar com Pedro Magalhães e com a sua tese de que o status quo interessa aos dois maiores partidos que contam com o melhor aliado ou o mais perfeito e inatacável dos alibis - a indiferença popular, sempre poderá concluir como Guilherme Silva que a única reforma possível para evitar o escândalo das ausências dos senhores deputados às votações de 6ª feira é acabar com os plenários nesse dia. Para essa reforma o povo não tem de ser incomodado...

“Mentira branca”

A mentira está para a alma como o ar para o corpo. Mentimos tão naturalmente como respiramos. Ninguém consegue viver sem respirar e sem mentir! Mas, tal como o ar, que pode ser puro, limpo, não poluído, cheio de fragrâncias e, até, dotado de efeitos terapêuticos, também a mentira se pode revestir de aspectos em que a ternura, a beleza, a esperança, a confiança e o alívio do sofrimento não deixam de estar presentes.
Mentimos para nos sentirmos melhores, para esconder as nossas fraquezas, para ajudar os outros, para nos livrarmos de perigos, por pura diversão, por estranhas perversões, devido a certas patologias, para aumentar os ganhos e para ascender nas escalas social e política. Há que distinguir nestas razões, as mentiras equivalentes ao ar poluído, cheio de substâncias tóxicas e de partículas perigosas, mal cheiroso, empestado que provoca doenças e morte. Estas sim, são nefastas.
Kant considerava “a mentira como a maior violação que um ser humano – enquanto ser moral – pode cometer contra si mesmo”, chegando inclusive a afirmar que nenhuma falsidade intencional é desculpável. Bom, neste aspecto, apesar da simpatia que nutro por certos princípios, parece-me ser um pouco exagerado.
Um doente procura-me e “sabe” instintivamente que não está bem. Discursa e denota esperança no tratamento. “As coisas estão a correr melhor e vai ficar tudo bem”. Ao mesmo tempo que faz esta afirmação lança-me um sorriso na esperança de que o secunde. No meu íntimo, sei que não é bem assim, que as coisas, afinal, vão ter um curso muito diferente do desejado. Não é legítimo dizer a verdade, porque o doente quer que lhe minta. E minto. No fundo, estou certo de que sabe que estou a mentir. Mas sente-se bem. Vê-se no olhar. Não se trata de uma mentira piedosa, mas sim justificar a necessidade de viver e de fugir à morte. Não é dar esperanças vãs. Não é propriamente um caso de fé, até, porque a fé é “biológica” e corresponde a uma força que actua dentro de limites bem definidos, fora deles não existe.
Também gosto da verdade, mas não deixo de reconhecer que a humanidade também precisa, talvez ainda mais de mentiras, sobretudo das que a consolem, que sejam fontes de esperanças infinitas. De outro modo, e parafraseando Anatole France, “Sem a mentira, a humanidade pereceria de desespero e de tédio”.
As mentiras que emergem no âmbito da política, do social, da religião, da publicidade e dos negócios são muito perigosas e difíceis de controlar. No fundo acabam por provocar desespero. Mas não há maior desespero quando se sente o fim a aproximar-se. A verdade pode ser uma ilha emersa num oceano de incertezas, que, em certos momentos, acaba por se afundar na certeza da verdade.

O génio de Sócrates


O rendimento disponível das famílias portuguesas vai aumentar em 2009, disse Sócrates.
Evidentemente que Sócrates é grande de mais para o país pequeno que somos. E trabalha à escala global e planetária nas soluções que darão às famílias portuguesas uma melhoria do seu bem-estar em 2009.
Se internamente não consegue diminuir o desemprego, conseguiu, com grande bravura, que o BCE diminuísse as taxas de juro.
Se internamente não consegue diminuir a despesa do Estado, conseguiu, com persistência notável, a baixa dos preços do petróleo.
Se internamente se diz obrigado a aumentar os impostos, conseguiu, em golpes de audácia, diminuir a inflação na Europa e em Portugal.
Os nossos problemas internos são, de facto, minúsculos, para quem manda na OPEP, no BCE e mesmo na lei da oferta e da procura.
O rendimento disponível das famílias portuguesas vai aumentar em 2009.
Aí está, em plena crise, o génio de Sócrates!…

As papoilas saltitantes XI


A avaliar pelos títulos de página inteira nos desportivos e pelas menções repetidas nos telejornais (só ontem o da RTP recordou o facto aí meia dúzia de vezes), o sentimento é de estupefacção, perante a grandiosa excepcionalidade. Não é que o Benfica logrou atingir, 3 anos, 6 meses e 18 dias após, a raridade de ser o primeiro no Campeonato?
Tão coradas pelo feito as primeira página, nem o destaque podia ser maior se fossem o Lusitano de Évora ou o Carcavelinhos, num golpe de mágica, os autores da proeza.
Cá por mim, não ficaria muito satisfeito com tal jornalística homenagem!...
Mas a festa é vermelha. E, em nome de boa e sã concorrência, aqui vai a minha saudação ao clube das papoilas excepcionalmente tão saltitantes.