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sexta-feira, 23 de março de 2012

"Nascidos para a crença"


Não passa um dia em que não leia algo sobre ciência e religião. Um crescendo notável que importa analisar. Saber quais as razões deste fenómeno é perfeitamente natural.
Cientistas a descartarem-se da religião e religiosos a tentarem aproximar-se da ciência constituem as principais abordagens ao tema, sem esgotar outras.
Um dos principais problemas resulta do facto de alguns pensadores quererem colocar ambas no mesmo plano.
A religião procura impor a verdade e a ciência anda à procura dela. A religião "assusta-se" com a ciência, porque teme que as suas verdades absolutas e transcendentais sejam postas em causa por esta última. Uma confusão dos diabos e, também, de alguns cientistas.
Li uma afirmação do cardeal patriarca de Lisboa segundo o qual a fé não pode ser analisada ao microscópio: “Há verificações que não se podem fazer nos laboratórios.” E acrescentou: “O impacto de uma experiência religiosa de contacto com Deus não se pode fazer nos laboratórios e não se pode negar. É uma página grandiosa da história da humanidade das diversas religiões a grandeza das experiências místicas.”
Foi então que me recordei da obra do geneticista Dean Hamer que, no seu livro, "O gene de Deus", analisou a existência de um mecanismo biológico que nos predispõe para a espiritualidade, a qual é caraterizada por ter uma vantagem evolutiva. A crença, a fé, oferecem capacidades para podermos sobreviver face à fragilidade existencial. De facto, os humanos, desde muito cedo, manifestam essa tendência, preenchendo um vazio que lhe pode ser muito caro.
Os seres humanos, após o nascimento, começam a manifestar tendência para compreender e explicar o que os rodeia e nada melhor do que a crença para preencher os vazios assim que estes surgirem. Depois, com o tempo, muitos reforçam esse comportamento aderindo às diferentes religiões, não podendo viver sem elas, enquanto outros se afastam desses caminhos mantendo uma espiritualidade tão digna como os que se sujeitam ou procuram o conforto e o estímulo da religião.
Não pretendi ver ao "microscópio" a fé, apenas refletir sobre a necessidade da mesma, vital para a sobrevivência e evolução humanas. Sem esta tendência, geneticamente predestinada, provavelmente não teríamos sobrevivido, logo, a espiritualidade é uma caraterística humana, muito importante, que merece a máxima atenção. O que por vezes me incomoda é a exploração e a manipulação de uma tendência "impressa" nos nossos genes por parte das religiões, sejam elas quais forem. Exemplos? Nunca faltaram, não faltam e não faltarão.

PSD: Congresso voltado para o crescimento económico ou a prevalência da oralidade sobre a realidade?

1.Embora a enorme distância do “teatro de operações”, vou-me apercebendo de que vai uma certa agitação entre hostes social-democratas, que pretenderão aproveitar o Congresso deste fim-de-semana para reafirmar o crescimento e o emprego como grandes objectivos da política governamental...
2.Compreende-se, até certo ponto, a preocupação de muitos dos senhores congressistas com a situação económica e social do País, quando se assiste à contracção da actividade económica pelo segundo ano consecutivo, tendo como resultado mais compungente o aumento do desemprego para níveis que há não mais de 2 ou 3 anos os nossos esclarecidos políticos consideravam absolutamente proibitivos...
3.Muitos milhares de portugueses não-congressistas partilham essa mesma preocupação, pois não esperavam – ingenuamente, é certo – ver o País chegar a esta fase de declínio dos padrões de vida de tantas centenas de milhares de cidadãos...
4.Creio, todavia, que os “planos” dos senhores congressistas se não limitam a uma expressão de preocupação, pretendendo ir mais longe e apresentar ao País um “modelo” económico de crescimento e de criação de emprego que está aí à nossa espera, “ao virar da esquina”...
5.Pretendendo também apresentar esse modelo como contraponto da política económica que o Governo tem vindo a aplicar - por manifesta falta de alternativa e por necessidade imperativa de sobrevivência financeira do País – deixando no ar a ideia de que a política actual estará em fim de ciclo e que as agulhas irão rapidamente ser mudadas para tomarmos uma via de crescimento...
6.A ideia a passar ao País seria pois a de que os sacrifícios estão feitos, o trabalho de ajustamento está cumprido, vamos então entrar numa nova fase em que o Governo terá de assumir o crescimento e o emprego como prioridades da sua acção política...
7.Esta mensagem, cuja beleza exterior ninguém contestará, estará todavia envolta num manto de riscos muito elevados: nada garante, bem pelo contrário, que o Governo, qq que ele seja, possa nos próximos 12/18 meses pelo menos, assumir o crescimento e o emprego como grandes objectivos das medidas de política a implementar...
8.Isto pela razão simples de que o PAEF está para durar até 2013, há ainda muitas medidas de aperto orçamental a aplicar – em 2013 concretamente - a actividade económica mesmo que não se reduza novamente em 2013 não permitirá criar empregos, o desemprego poderá bem romper a barreira dos 15% a curto prazo e, neste quadro, proclamar o crescimento e o emprego como grandes objectivos para "depois de amanhã" seria qq coisa que soaria a falso e suscitaria, justificadamente, as mais negativas reacções...
9.Se acontecer o cenário que descrevi, poderemos então vir a assistir a um Congresso em que a oralidade prevaleça sobre a realidade e o realismo, lançando para o País uma mensagem destinada a ser desmentida pelos factos a breve trecho...
10.Espero bem que os responsáveis governamentais presentes, a começar no PM, estejam aequadamente munidos de baldes de água fria para travar essa esperada vaga oral de crescimento e emprego, fazendo ver aos congressistas o quadro de austeridade com que nos debatemos e ainda teremos de nos debater mais algum tempo...

Memórias de um processo insano

Há dois anos...

quinta-feira, 22 de março de 2012

Marinho e Pinto, por exemplo, concorda

Vai haver eleições para a direcção do sindicato dos juizes. Dois magistrados em disputa. Estilos diferentes mas pouca competição pelo que se pode perceber desta entrevista dada por ambos ao Expresso. No essencial convergem. A fechar a entrevista um dos senhores juizes desabafa: "se calhar os portugueses não merecem os juizes que têm". Injusto, muito injusto para alguns dos magistrados...

O meu dia de greve

Fui amontoando e adiando uma série de assuntos a tratar, daqueles tão “chatos” que até um paciente monge cartuxo trocaria por uma das suas mais refinadas penitências.
Ao levantar-me, disse de mim para comigo que hoje era o dia de reduzir a lista, com a enorme esperança de poder, perante mim próprio, justificar o insucesso devido à greve: fiz tudo… mas a greve não deixou…
Tive logo uma primeira desilusão: à hora matinal habitual, já estava a empregada a entrar-me em casa. Já? E então como veio? De comboio, como sempre…
Vi logo que as coisas não me iam correr bem...Saí e rompi decidido para a Loja do Cidadão.. Certamente estaria encerrada e boa parte dos assuntos bem adiada para melhores dias. Nas imediações, os habituais e prestáveis arrumadores, em atitude nada grevista, mostravam-se pressurosos no inestimável serviço de ajudar a parquear os carros de quem se aproximava. Desapontamento total: a loja estava aberta, os serviços funcionavam: electricidade de diversas etiologias, gás, cartão do cidadão e passaportes, montras todas abertas, todos os produtos disponíveis. Mesmo aqueles que deviam definitivamente fechar, como os quiosques dos Impostos. Lá fiz o que tinha a fazer e risquei parte considerável da lista. Entretanto, passei por uma bomba de gasolina e estava aberta: meti combustível. Seguiu-se uma Companhia de Seguros com a qual tenho um contencioso próprio da burocracia de uma companhia de seguros, que pede meças à pior burocracia pública. Estava a funcionar. Exposto novamente o problema, não sei se ficou encaminhado ou desencaminhado. Logo se verá. Entretanto, estava na Baixa, era hora de almoço e lá consegui escapar de uma chusma de fura-greves que, vendo-me porventura debilitado, me indicavam a mais recomendável casa de pasto e os mais suculentos e melhores pratos. Como estava só, procurei um jornal, para me entreter enquanto não me serviam. Os fura-greves dos quiosques estavam todos a trabalhar. Passei depois pelo Banco, aberto, e por uma também aberta casa de chaves que há seis semanas me trocou a fechadura, mas não me muniu do número de chaves correspondente aos utentes da mesma. Aberta. Deixei o carro numa casa de pneus, para trocar os ditos. Aberta. Para as restantes voltas, meti-me em três táxis: funcionavam. Voltei a buscar o carro: trabalho feito. Fico-me por aqui, que o post ficaria tão longo e tão chato como a lista de afazeres que ainda desfiz. Perto das oito cheguei a casa. Fatigado, mas com a lista aliviada. Liguei a televisão, para ver a greve que ainda não vira. E logo um senhor da Intersindical me informou que houve e foi um êxito de greve. Um êxito geral. E eu a pensar que tinha resolvido a maioria dos meus assuntos!...Ele há cada história!...

Ratings

Ou o anterior PM estava certo quando em sua defesa invocou que o mundo é capaz de mudar em cada 15 dias, ou então nos ratings da credibilidade que notação merecerá a S&P?

Saudação

Saúdo quem hoje não se deixou levar pela estupidez de uma greve que, por menor expressão que venha a ter, é sempre lesiva. Quem compareceu hoje ao trabalho apesar das dificuldades colocadas por uns tantos, sabe que está a contribuir para garantir o seu emprego e o dos outros, sabe que só saímos desta situação se formos capazes de criar mais riqueza.

Mistificação...

Começou a greve geral. Não tardam as declarações dos sindicatos e dos sindicalistas e dos “trabalhadores”. Apregoando o enorme êxito da greve geral, perante as câmaras das televisões, os microfones da rádio ou as penas dos jornalistas.
Grave e duplo paradoxo. O dos promotores, que exaltam o sucesso da greve geral perante quem está a trabalhar e, logo aí, a desmentir o qualificativo. O dos jornalistas, pivots e locutores que estão a trabalhar e, simultaneamente, a informar da greve geral...
Claro, tudo A Bem da Nação.

quarta-feira, 21 de março de 2012

A culpa é do "sistema"...

No Algarve, é um azar estar na “fase de transição em termos de idade" e  ter problemas do foro psiquiátrico. No Norte, é um azar viver entre Aveiro e o Porto e sofrer de cancro. Não gosto das generalizações, mas desta vez justifica-se. Quantos outros casos por aí não há? O jogo do pingue-pongue é culpa, dizem os hospitais, das “redes de referenciação”. Alguém percebe o que são? São vidas que estão em jogo. No final a culpa não é de ninguém. Há sempre uma desculpa desresponsabilizadora, o “sistema” é o culpado. Como se o sistema fosse um ente sem rosto. Há cidadãos que não podem estar doentes. Profundamente triste!

Poder e Moral

Divirto-me, é o termo, quando ouço os eticistas a perguntarem a uma audiência o que é que cada um faria no caso de "um comboio ao aproximar-se de uma agulha que dá para duas linhas, numa das quais se encontra um indivíduo e na outra cinco, qual das duas escolheria". A audiência ouve, sente estar perante um dilema, ter de escolher uma solução das duas previsíveis. Ouve-se, porque é fácil concluir, que optariam por matar uma pessoa em vez das cinco. Rio-me. Se estivesse presente na sessão e tivesse que responder diria simplesmente, quando estiver numa situação dessas logo verei. Não sei responder, tenho de a vivenciar e só nessas circunstâncias é que saberei.
As regras morais são construídas com o propósito de gerir e apaziguar as tensões dentro de um grupo facilitando a convivência. Alguns afirmam que perante indivíduos em risco de serem sacrificados escolheremos os que não têm qualquer parentesco connosco. Mas as coisas não são tão lineares como isso, apesar da força da selecção por parentesco. Se no exemplo supracitado a maioria optaria por sacrificar um indivíduo em vez de cinco, considerando como sendo uma atitude moralmente aceitável, já não aceitaria lançar deliberadamente um ser humano na via férrea para travar o comboio, salvando outros. Ou seja, intrinsecamente existe algo que nos impede de matar, pelo menos em oitenta e cinco por cento das pessoas estudadas, confirmando a existência de uma regra contra liquidar diretamente um ser humano, mesmo em caso de "maior bem ou necessidade". Tudo aponta para a existência de regras que "impedem" matar, violar e roubar, as quais são temporariamente suspensas quando dão jeito, caso da guerra, como é sobejamente conhecido.
As regras morais são construídas pelos humanos e sofrem alterações de acordo com o tempo e o momento, servindo para fortalecer a coesão social impedindo ou reduzindo conflitos, os quais, por sua vez, poderão dar azo a comportamentos inexplicáveis. Logo, as leis da moral têm muito que se diga.
Os animais têm comportamentos instintivos que não se podem confundir com a moralidade. No entanto, muitos dos conceitos morais subjacentes aos seres humanos parecem ser também instintivos no mesmo sentido que os observados nos animais. E é bom não esquecer que os nossos antepassados mais remotos, assim como os povos mais primitivos da atualidade, tinham e têm códigos e condutas morais.
Os códigos morais são passíveis de alteração e substituição, já que são construções humanas, desde que ajudem a fortalecer a coesão social. Quando se invocam "princípios morais" que não contribuem para esse fim, então, podemos interrogar, servem para quê? Podem inclusive criar perturbações mais ou menos graves.
De rajada li três notícias invocando "falta de moralidade". Cada uma oriunda de um continente. Nos Açores, um bispo levantou-se contra a distribuição de preservativos nas escolas, invocando que é um convite a atividade sexual precoce, logo, moralmente condenável. Na China, uma ativista conservadora, conhecida pela "Deusa da Virgindade", pretende casar com homem virgem e que "aguente" três anos nessa condição após o casamento. A chinesa afirma que uma "mulher solteira que perde a virgindade pode corromper a moral da sociedade". Em África, a Nobel da Paz, Ellen Johson, presidente da Nigéria, defende uma lei que criminalize a homossexualidade. Três exemplos, que valem o que valem, mas que traduzem a definição de conceitos de moralidade, que não são propriamente exemplos nem estímulos à coesão social, mas formas de pensar que, não sendo novas, continuam a perpetuar-se e que poderão fazer mais mal do que bem. Também é fácil de concluir que é precisamente ao redor da sexualidade que se observa mais conflitualidade, levando a pensar que esta, sendo uma força incontestável da vida, continua a incomodar muita gente. Estando a sexualidade "escondida" nas profundezas da consciência humana, quem a "dominar" sabe, perfeitamente, que poderá mais facilmente controlar e influenciar outras áreas.
A moral ao serviço do poder?

Mercado parece querer desmentir Profetas do 2º resgate...

1.Um País totalmente ATURDIDO vem assistindo a uma sucessão de declarações, de eminências nacionais e estrangeiras, próprias de quem está perante uma bola de cristal cujo mecanismo domina na perfeição, todas elas augurando a necessidade de um segundo resgate financeiro da República Portuguesa, não poucas delas ousando até antecipar o valor de tal resgate...
2.Tenho escutado ou lido essas declarações com algum espanto, devendo confessar que me intriga a certeza com que essas individualidades se pronunciam sobre o tema em questão: a necessidade de um segundo resgate é algo que, tanto quanto sou capaz de entender, está dependente de um conjunto de variáveis cuja avaliação se desconhece quase em absoluto neste momento, com algum optimismo talvez comecem a definir-se lá para o fim do corrente ano...
3.Com efeito, a questão da necessidade de um segundo resgate depende, essencialmente, da possibilidade de acesso da República, em condições (de prazo e de juro) mais favoráveis do que aconteceu num passado recente, aos mercados da dívida: se a República até meados de 2013 conseguir normalizar (razoavelmente) as condições de acesso ao mercado da dívida, lá se vai a necessidade do 2º resgate...
4....mas se, pelo contrário, a República não conseguir até essa altura normalizar as condições de acesso ao mercado da dívida, um 2º resgate será necessário, mas por montante que neste momento se afigura absolutamente prematuro quantificar...
5.Sucede que hoje mesmo a República colocou no mercado, pela última vez no corrente trimestre, dívida (Bilhetes do Tesouro) a 4 meses e a 12 meses...e em condições que, apenas há 2 meses atrás, seriam consideradas impossíveis: num total de € 1.992 milhões, foram colocados € 1.610 milhões a 12 meses, à taxa de juro média de 3,652% (anterior para este mesmo prazo tinha sido de 4,493%) e € 382 milhões a 4 meses, à taxa de juro média de 2,168% (anterior para este mesmo prazo tinha sido de 3,845%).
6.Repito que há dois meses atrás ninguém acreditaria que a República fosse capaz de aceder aos mercados nestas condições, sobretudo no que se refere à taxa de juro da colocação.
7.Especialmente significativa é a colocação no prazo de 12 meses, pois se trata de dívida que se vai vencer já no final do 1º trimestre de 2013 e que transmite por isso um sinal de que o mercado está crente na capacidade da tesouraria do Estado bem para lá do corrente ano...
8.É evidente que este facto nada garante...se houver acidentes de percurso, as condições agora bem mais favoráveis para a colocação da dívida podem muito bem (ou muito mal...) inverter-se rapidamente...
9.Mas este episódio ajuda pelo menos a perceber que as profecias sobre a necessidade de um 2º resgate são claramente prematuras; em última análise exprimirão mais um desejo do que uma genuína profecia...

Crime, disse ela



Os títulos de ontem repetidos hoje. Mentir - sobretudo ao Fisco, pois então! - passa a dar prisão. Tal como divulgada, na nova política criminal que o governo pretende verter na lei, não releva a intenção que separa a mentira do erro, mas objetivamente a divergência da verdade tantas vezes decretada unilateralmente pela Administração. Dou sempre o benefício da dúvida e por ora prefiro pensar que não é esta a real intenção do governo ou da ministra que antes de o ser foi advogada e sabe o preço que as sociedades e os cidadãos pagam quando os Estados se musculam assim. Tratar-se-á, digo eu que sou bondoso, de mais uma dificuldade de o governo fazer passar a verdade das suas intenções.
Uma dúvida eu não tenho. Há quem entenda, neste poder como em governos passados, que pouco se resolve com persuasão, com pedagogia ou pelo encontro de vontades. Tudo é crime ou aparentado. Tudo se decide pelo castigo. Há quem diga que são sinais dos tempos. Não, não são sinais deste tempo, são tiques herdados de outros tempos. Afinal sempre foram 48 anos...

Poesia sem palavras...

terça-feira, 20 de março de 2012

Na final da taça!




VIVÓ BENFICA!!

Robotarium: aplicação exemplar de fundos estruturais...

1.É hoje notícia o estado de total abandono e quase destruição a que há cerca de 3 anos se encontra votado o Robotarium, emblemático projecto financiado por fundos estruturais, inaugurado em Junho de 2007, no quase apogeu da famosa política de dinamização da economia nacional assente no aproveitamento “estratégico” dos fundos estruturais...
2.O Robotarium na sua versão original consistia numa grande estrutura metálica envidraçada (de vidro supostamente à prova de bala, para ser mais barato...), no interior da qual se encontravam montados 40 Robots que, alimentados por pequenos painéis solares, reagiam e movimentavam-se com a aproximação dos visitantes...
3.Instalado numa praceta ajardinada de Alverca, o Robotarium, depois de ter funcionado durante menos de 2 anos, encontra-se actualmente em adiantado estado de degradação: os Robots fugiram e terão pedido asilo político nalgum consulado mais próximo e a estrutura exterior está completamente vandalizada pelo efeito (i) das pedradas com que diariamente é contemplada pela rapaziada que por ali anda sem ter que fazer e (ii) até dos disparos de caçadeira de alguns cidadãos mais belicosos que aproveitam o Robotarium para exercícios de tiro ao alvo (e parece que lá se foi o vidro supostamente à prova de bala)...
4.Curiosamente, apesar do cenário de devastação que atingiu a sua obra, o arquitecto autor do Robotarium mostra-se optimista, justificando esta fase “menos boa” do projecto em que o projecto se encontra com a crise económica e social que deixa os jovens sem ter que fazer, entretendo-se a destruir o Robotarium na ausência de uma actividade mais solidária...
5.... mas manifesta esperança de que, uma vez ultrapassada esta fase de crise seja possível recuperar o Robotarium neste ou noutro local menos problemático e, quiçá, replicar o modelo noutros locais adequados...os fundos estruturais é que poderão desaparecer, entretanto (2013, supostamente)...
6.A notícia reza também que algumas tentativas feitas pela Câmara Municipal de V.F. Xira - magnânima dona da obra e responsável pela sua manutenção – no sentido de transferir o Robotarium para outro local têm sido mal sucedidas, ao que consta por falta de verbas e também por receio da reacção negativa dos actuais utilizadores/destruidores do Robotarium, cujos interesses numa avaliação plenamente democrática não podem deixar de ser tidos em conta...
7.Confesso que ao ler este notícia não pude conter um certo sorriso, rapidamente substituído por uma sensação de tristeza por ver tanta falta de senso e de responsabilidade na aplicação de recursos públicos que poderiam, com muito maior vantagem, ter sido aplicados na actividade “keynesiana” mais famosa: abrir buracos e voltar a tapa-los, para assegurar emprego e rendimento...
8.Que me perdoe John Maynard Keynes...

Dívidas das autarquias: um "puzzle" muito complicado...

1.Um destacado membro do Governo declarou ontem que a dívida das autarquias – assunto que por esta altura traz o País profundamente emocionado – se cifra em € 12 mil milhões.
2.Mas, acrescentou o mesmo membro do Governo, existem nesta dívida duas componentes - uma de médio e longo prazo(MLP) e uma de curto prazo (CP) - sendo que, quanto à de CP o que se pode dizer é que o seu montante, ainda em processo de apuramento, nunca será inferior a € 3 mil milhões...
3.Ficamos assim a saber (a perceber será um pouco mais difícil) que numa dívida cujo montante global é conhecido - € 12 mil milhões – existe uma componente de CP, de montante ainda desconhecido, sabendo-se apenas que será superior a € 3 mil milhões: podendo ser pois de € 3,5 ou 4 ou 5 mil milhões, veremos...
4.Bem mais difícil será então saber o que se passa com a dívida de MLP, "entalada" entre os € 12 mil milhões do montante global e um valor ainda desconhecido da dívida de curto prazo...
5.Poder-se-á dizer, num esforço de “racionalização”, que a dívida de MLP será “o que se quiser”...desde que, somada à de CP, de valor ainda desconhecido como foi dito, o seu conjunto não exceda os tais € 12 mil milhões...
6.Chegado a este ponto confesso que já me sinto bastante confundido com o “puzzle” da dívida das autarquias, por isso me socorro das comovedoras palavras do Presidente da ANMP a que aqui fizemos referência há algum tempo: “ A dívida das autarquias, se for bem explicada, até tem pouca importância”...
7.O melhor será assim não nos preocuparmos com os montantes das dívidas das autarquias, mas aguardarmos a sua explicação: se forem bem explicadas, podemos estar seguros de que são pouco importantes, alguém as há-de pagar...
8....e seguros também de que quem as vai pagar seremos nós, mais uma vez...

segunda-feira, 19 de março de 2012

Uma salva de palmas

No decurso das minhas aulas faço todos os possíveis por estimular os alunos para que se debrucem, analisem e reflitam sobre algumas temas de forma a estruturar o pensamento e a criatividade. Não é fácil despertá-los para este desiderato, sobretudo na pré graduação. Na pós graduação as coisas são mais fáceis, mas mesmo assim verifico algum constrangimento e dificuldade. Tenho, desde há algum tempo, feito esforços no sentido de descobrir novos "pensadores". Lanço para a assistência temas desafiantes, chamando a atenção para a sua importância. Ao fazê-lo informo que gostaria imenso de ver um dos alunos a apresentar um ensaio sobre o assunto, mas tem de ser curto, sucinto. O poder de síntese é indispensável para a transmissão das ideias e conhecimentos. Dou uma ou duas dicas por aula. Em troca não recebo grande coisa, não recebo nada! Mas já me aconteceu ter sido contemplado com uma ou outra preciosidade. Este ano deu-me para estender esta conduta aos alunos do segundo ano, habitualmente faço isto com os do quarto ano.

Uma das jovens alunas aceitou, na penúltima aula, o meu repto, porque a provoquei diretamente. Trata-se de uma aluna que está sempre com muita atenção e cujas reações faciais não enganam quanto ao seu interesse. Hoje, antes de começar a aula, um aluno entra na sala e entrega-me uma folha com um texto, dizendo que face ao meu desafio tinha escrito sobre o assunto proposto. Olhei para o rapaz espantado, porque não estava à espera. Como ainda faltava uns bons minutos para começar a aula li-o nas calmas e fiquei muito surpreendido com o conteúdo e a forma. Calei-me. Ao iniciar a aula, comuniquei aos alunos que tinha acabado de receber um texto de um colega presente no anfiteatro. Comentei que todos deviam lê-lo, analisá-lo e debatê-lo. Realcei as qualidades do mesmo e felicitei o aluno. Foi então que uma explosão de palmas ecoou no anfiteatro. Todos os alunos, sem exceção, associaram-se às minhas palavras. Já perdi o conto aos anos em que ando nisto, e nem quero fazer contas, mas foi a primeira vez na minha vida que vi uma reação desta natureza. O meu aluno ficou satisfeito, obviamente, mas eu ainda fiquei mais.

Hoje, apesar do desconforto que venho a sentir desde há algum tempo, recebi uma lição e, sobretudo, um estímulo para continuar a acreditar nos mais jovens. E eles são mesmo muito jovens!

Sendo assim, convido os interessados a irem ao Quarto da República ler o ensaio de Marco Almeida, "Tratamentos diferenciados em função de comportamentos causadores de doença". Não se arrependerão, estou certo disso.

Obrigado.

Dia do Pai

"Uma menina grande ou uma grande menina?"

Hoje, “Dia do Pai”, recebi alguns mimos dos “miúdos”, cada um à sua maneira. Sorrio, porque sendo previsíveis, conseguem surpreender-me. A filha do meio deu-me um desenho que tinha feito em 2010. Estava guardado. Chegou a hora de me cair nas mãos. O desenho é o complemento de um texto que me ofertou nessa altura e que eu transcrevi no 4R.

Hoje, “Dia do Pai”, publico o desenho, que me deu um enorme prazer e transcrevo o post de setembro desse ano.

Sendo “Dia do Pai”, compartilho esta oferta com todos os pais que visitam e comentam neste blog.



"Uma menina grande ou uma grande menina?

Na vida somos, por vezes, sobressaltados com confidências únicas, inesperadas e cheias de emoção. Podemos saber muito, conhecer bem as pessoas, mas há sempre algo que nos escapa e que nos surpreende. É bom ser-se surpreendido, sobretudo quando nos toca particularmente, quando fomos protagonistas e companheiros de dores, angústias e tristezas e quando esse sentir se revela de uma forma poética, filha de uma existência única e irrepetível. É bom ser-se surpreendido! E é também bom surpreender!

Hoje, recebi um pequeno texto, lindo, repleto de ternura, mas ao mesmo tempo amargo e esperançoso.

Como considero que a única coisa que faz verdadeiramente sentido na vida é a beleza da poesia, não posso deixar de a partilhar...



“Os sonhos iluminam o seu ser, a imaginação é refletida num espelho mágico e a fantasia vive dentro do seu vermelho coração...

Através de janelas vê o que se passa lá fora, à sua maneira, à sua medida, à dimensão dos seus pensamentos. Interpreta tudo o que vê, sente tudo com muita emoção, mas poucos são aqueles que a entendem...

Os seus olhos ternos e coloridos de múltiplas cores, que por vezes parecem ausentes, veem o que mais ninguém consegue observar.

Há um segredo: ela é diferente, é especial! Dentro da sua cabeça existe um mundo, com céu e tudo... onde moram o mar, árvores, nuvens, peixinhos, flores, pássaros, princesas e príncipes e, até, algumas bruxas más...

Quando toca no céu da sua cabeça, sente-se a dona do mundo, quando toca as águas do seu mar transforma-se numa sereia. Brinca alegremente com os seus amigos peixes e canta a par com os pássaros de mil cores!

Quando é hora de ser a princesa, as luzes acendem-se e os suaves panos de tule esvoaçam; é a hora de voar, de dançar e de brilhar. É a hora de ser feliz!

À luz das estrelas, e da sorridente lua do seu céu azul-escuro, aparecem multidões de pessoas. Admirada por todos, batem-lhe palmas, sorriem-lhe e abraçam-na.

Todos cabem dentro da sua cabeça, até um enorme salão de baile enfeitado de cristais brancos, repleto de flores perfumadas e velas de vários tamanhos e feitios!

Entre os seus amigos, a menina dança ao som de melodias desconcertantes, enchendo-se de alegria e de doces sorrisos.

É tão bonito este mundo! Um mundo que não foi criado nem por Deus nem pela evolução dos tempos, mas sim, por ela. Criado por uma menina de apenas seis anos. Um mundo que dura há um quarto de século! Esperemos que continue a crescer, a evoluir e a ficar cada vez mais encantado e belo.

Um dia essa menina velhinha levará até lá os seus netos e mostrar-lhes-á todos os seus tesouros e segredos. Eles vão admirar-se e questionar como é que a avó viveu uma vida inteira dentro de um mundo tão secreto e paradisíaco.

A imaginação pode ser do tamanho do mundo ou até mesmo do universo, mas não é certamente maior do que o mundo que existe dentro da cabeça dessa menina.

Dedico esta história à minha infância, à menina de seis anos, que conseguiu encontrar dentro de si, o delicioso mundo dos sonhos!

Uma menina grande, mas no fundo...uma grande menina! “

Uma menina grande que esconde uma grande menina...

domingo, 18 de março de 2012

Monarquia

Tenho reparado que anda por aí um determinado movimento, nostálgico, que pretende restaurar a monarquia. Apontam várias razões para o efeito, entre as quais pontua o descontentamento com determinadas figuras políticas, como se a alternativa "real" fosse garantia de idoneidade e sinónimo de "virtude". Afirmam, e é verdade, que acabaram com a monarquia "à porra e à maça". Segundo os monárquicos a implantação da república não foi democrática, porque não houve referendo, o povo não foi ouvido, não senhor, não houve referendo, como se a monarquia de então propiciasse meios para esse efeito! Se assim fosse, o negócio das revoluções ia por água abaixo.

Não consigo compreender, apesar de inúmeros argumentos dos defensores, que apontam para a beleza, a superioridade e a riqueza das ditas monarquias constitucionais como sendo o melhor regime capaz de solucionar alguns dos nossos problemas, que considerem o direito de "comandar" ou "representar" uma nação com base na genética.

Para mim não faz qualquer sentido. No entanto, gostaria, imenso, digo com sinceridade, que se fizesse um referendo sobre este assunto, como fizeram em 1993 no Brasil, onde o sistema monárquico levou uma abada. Penso que não ficaria muito caro, o povo entretinha-se, divertia-se, esqueciam-se, ainda que momentaneamente, algumas das atribulações que nos atacam, enfim, seria um verdadeiro interlúdio político. De qualquer modo, como republicano, gostaria de transcrever um pequeno texto publicado vai para quase seis anos, "Nobreza!"

É interessante o facto de muitas pessoas desejarem conhecer os seus antepassados mais distantes. Dizem alguns entendidos que ajuda a fortalecer a identidade de uma pessoa. Talvez sim, talvez não! Encontrar pessoas distintas pode ajudar, mesmo recorrendo às profundezas do tempo, a integrar algumas das suas facetas mais positivas, o que constitui um ganho. Em contrapartida, se esbarrarem num estafermo qualquer, saltam por cima, como se nunca tivesse existido, ou então remetem-no para uma falha momentânea da linha de montagem da sua pessoa.

Um dos aspectos que não consigo aceitar é a pretensa “nobreza genética” daqueles que consideram ter como antepassado um qualquer “nobre”. Divirto-me à brava com estas pretensões genéticas. Apesar da descodificação do genoma humano, que eu saiba, ainda não foi encontrado nenhum gene ou genes específicos que permitem identificar e caracterizar os “nobres”. Mesmo nas chamadas linhagens reais, caracterizadas por fortes cruzamentos “endogâmicos” seria interessante efectuar alguns estudos genéticos a fim de analisar o parentesco. Estou convicto da existência de muito sangue plebeu introduzido à socapa. Quem sabe se não terá sido este facto o factor determinante que evitou tamanha degenerescência?

Este breve comentário emergiu após ter lido uma pequena crónica sobre genealogia e o facto de D. Duarte Pio ter uma linhagem que esbarra no faraó Ramsés I (século XIV a.C.)! Ao longo de tantos séculos, os “genes ramsémicos” deverão ter tido uma fortíssima diluição tipo homeopática, pelos vistos! Parece que não é possível recuar mais no tempo, o que impossibilita conhecer outros tipos de antepassados, nomeadamente a fina-flor da nobreza do Paleolítico Superior.

Aceito a transmissão da “nobreza”, mas só da humanística, através do “ADN” cultural, familiar, social e escolar. Quanto aos genes, o melhor é misturá-los, o máximo possível. Sempre é um bom contributo para a biodiversidade humana e reduz o risco da patetice…

A praia

As discussões há muito ensombravam o relacionamento de outrora, cada dia era pior que o anterior, numa insatisfação crescente, numa exigência insensata, como se tudo o que ela fizesse o decepcionasse, como se tudo o que ambos tinham sonhado fosse agora pouco, muito pouco, e ela já não tivesse lugar na sua vida.
Ela angustiava-se mas ia desculpando tudo, até que aquele sonho se tornou recorrente.
Via-se a caminhar na praia deserta, ao longo da estreita língua de areia que separava a falésia do mar. Caminhava sozinha, num passo arrastado que deixava profundos sulcos a marcar o seu percurso e, no entanto, a reentrância de rocha que marcava o limite da praia continuava à mesma distância, como se o caminho crescesse à sua frente, desdobrando-se sem fim. Continuaria assim indefinidamente, apesar do cansaço, continuaria a olhar o rochedo sem o alcançar mas não olhava para trás, não parava, um sulco e mais outro, enterrando os pés na areia mole como se pisasse com força a sua solidão.
De repente, o suave marulhar das ondas mudava de tom. De murmúrio passava a rugido, a superfície calma do mar agitava-se e ela estremecia assustada ao reparar que a ondulação, antes firme e monótona, se movia agora em grandes massas transversais que avançavam sem explodir, esticando-se mais e mais até quase lhe lamber os pés.
Corria então para a falésia, a tentar abrigo das águas vivas, mas o rugido já era gritaria e o medo crescia no seu peito como as águas do mar cresciam para ela. As ondas enfurecidas rasgavam a superfície e abriam-se em lábios líquidos que se enrolavam até ganhar o ímpeto de bocas escancaradas em esgar tremendo, numa sucessão de goelas debruadas de dentes de espuma que cuspiam furiosas as gotas salgadas que lhe molhavam a cara e as roupas.
Então, perdida no seu sonho, via sumir-se a língua de areia onde se enterravam os seus pés e colava-se desesperada ao paredão de rocha lisa que lhe barrava o caminho e a prendia ali, sentindo nas costas a pedra húmida e fria enquanto os beiços ondulantes e raivosos abriam os dentes, mostrando o céu da boca escura onde ela ia entrar para sempre.
Acordava sufocada, gelada de suor e acreditava que o gosto salgado das lágrimas era a espuma da onda que a submergira.
Lembrou-se do seu sonho recorrente no dia em que ele chegou apressado, com os olhos ausentes e uma estranha expressão de euforia contida, a exigir-lhe uma conversa definitiva, a falar de outra mulher por quem se apaixonara e a pedir a separação.
Sentiu nas costas o frio gelado da falésia que não a deixava fugir e desistiu subitamente de o enfrentar, dessa vez não tentou proteger-se das palavras duras que a mergulhavam numa angústia insensata e punitiva e, depois, numa infelicidade profunda. Dessa vez, ouviu impassível quando ele finalmente falou, viu os sons a formar-se nas ondas da boca, a encurvar-se para ganhar força e a crescer para ela, “já não preciso de ti”, abatendo-se com a força bruta de uma ameaça adiada que finalmente se cumpre.
Quando ele saiu, fechou os olhos e viu-se de novo na praia mas já não sentiu medo. O mar estava liso e a língua de areia brilhava ao sol, seca e firme, alargando-se à frente dos seus pés num convite irrecusável para que retomasse o caminho.