Manuel Alegre pede a Costa "ruptura total com a austeridade", refere o DN.
Liberdade poética ou reincarnação em Mário Soares?
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sábado, 28 de fevereiro de 2015
O que parece não é e o que é não parece...
Quando ontem me perguntaram qual a cor deste vestido comecei por duvidar porque achei que a pergunta não fazia sentido. As cores do vestido não poderiam fugir muito, achava eu, dos tons azuis e violetas em relação ao tecido e do preto e cinzento escuro quanto às rendas.
Ainda torci o nariz, mas depois disse de minha justiça: o vestido é de um azul violeta, adornado de cinzento escuro. Tinha razão. Mas então porquê a pergunta?
Hoje fiz o teste com uma amiga. A resposta foi: o vestido é branco e dourado. Claro e escuro: duas visões opostas. Curioso! A explicação para esta diferença de ver as cores está aqui.
Hoje fiz o teste com uma amiga. A resposta foi: o vestido é branco e dourado. Claro e escuro: duas visões opostas. Curioso! A explicação para esta diferença de ver as cores está aqui.
A disposição, ou o humor, é um dos factores que influencia a cor que vemos. Fiquei a saber que ontem estava pessimista e hoje, também, porque não consigo alterar as cores que vejo. A minha amiga, porém, estava muito bem disposta (mas eu, também!). As cores eram claras. Impossível não ser assim, o vestido não tinha cores escuras!
Mas não é só o nosso estado de espírito que influencia as cores que vemos, há razões oftalmológicas que combinadas com a luminosidade explicam que duas pessoas olhando para o mesmo objecto o vejam de cores diferentes.
Na ficha técnica do vestido consta a cor azul. Experimentem...
Na ficha técnica do vestido consta a cor azul. Experimentem...
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
E ainda não começaram a dar execução ao caderno de medidas apresentado...
- Encontrei na imprensa matutina “on-line” de hoje uma notícia que muito me surpreendeu, referente à Grécia. Passo a citar.
- “A capital da Grécia foi esta 5ª Feira à noite palco da primeira manifestação contra o novo Governo de esquerda liderado pelo Syriza; o protesto acabou em violência.
- Dezenas de manifestantes lançaram pedras e bombas incendiárias contra a polícia, lançando o caos nas ruas de Atenas.
- Vários carros foram incendiados e dezenas de montras de lojas foram destruídas na parte final do protesto.
- São os primeiros confrontos graves desde a tomada de posse do novo Governo de esquerda, que prometeu acabar com a austeridade na Grécia e renegociar as condições de pagamento da dívida” – fim de citação.
- Ao ler esta notícia ocorreu-me o seguinte: se a execução das medidas apresentadas pelo Governo da Grécia ainda nem começou e isto já vai assim, como será quando as medidas forem efectivamente implementadas? Ou será que as medidas não vão conhecer a luz do dia?
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
Oh Costa, leva o biberon!...

“Depois da ignóbil ‘chinesice’ de Costa, demito-me do PS, e é já!”, escreveu Alfredo Barroso.
A seguir, António Costa anunciou que vai esclarecer pessoalmente com Barroso o contexto das suas declarações.
Vendo o biberon, normalmente os petizes choramingões deixam as birras...
Classe política: um grupo de maldizentes
Portugal encontra-se numa situação melhor do que aquela em que estava há quatro anos, cito de memória António Costa num encontro com investidores chineses na Póvoa do Varzim.
Disse e disse muito bem.
Porque, num balanço global, é uma verdade objectiva e, mesmo que o não fosse integralmente, porque é uma obrigação de cidadania, mormente de qualquer político, defender o país e dar dele uma imagem positiva a quem nos visita e pretende investir.
Perante o bem do país, as tricas partidárias deviam deixar de fazer sentido. Mas não. Os nossos políticos logo desataram numa abominável chinfrineira, negando, interpretando, apoiando ou vituperando, consoante os casos, as palavras de Costa. Com tal intensidade, que até o próprio as veio esclarecer, porventura, mesmo, a reescrever.
Não há dúvida: a classe política caíu no charco. Mostrou, mais uma vez, que continua a ser um grupo de maldizentes. Tudo destruindo e nada construindo. Com a óbvia excepção de alguns, para confirmar a regra.
Subsidiando a poluição alheia...
" A Europa não tem uma política energética, tem uma política ambiental e o lobby da política ambiental é tão grande que não permite ter uma política energética".
Ferreira de Oliveira, Presidente da GALP, no Economist Summit, anteontem, no Estoril
Ouvi ainda, mais coisa, menos coisa, que Portugal também não tem uma política energética, tem uma política ambiental e o lobby da política ambiental é tão grande que não permite ter uma política energética.
E eu concordo. Vejo os resultados. Um país responsável por apenas 0,17% do CO2 à escala mundial na liderança do combate contra o dióxido de carbono, mas pagando no preço da energia, nomeadamente na electricidade, e nos impostos, a poluição que os outros fazem. Uma política de subsidiação da poluição alheia. Nada mal.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social: uma tentação...
Socialistas querem o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) a comprar casas devolutas ou de famílias em risco de insolvência. A medida foi inserida num pacote de medidas para “combater a anemia do investimento”.
Estes quereres e outros quereres são recorrentes. É de facto uma tentação política utilizar o FEFSS para resolver problemas que nada têm que ver com a sua vocação e com a gestão prudente do risco. Num tempo em que não há dinheiro, uma reserva financeira avaliada em 13 mil milhões de euros (em final de 2014) é uma atracção política. Um oásis no deserto: 8% do PIB.
No passado recente, em Junho de 2013, o governo decidiu transformar o FEFSS num instrumento de gestão da dívida pública, obrigando a que o seu património esteja investido em 90% de dívida pública nacional. Até aquela data estavam estabelecidas regras de investimento máximas por categorias de activos.
O que deve em cada momento determinar os investimentos é a prudência, tendo em conta a rendibilidade e o risco associados, a segurança dos activos e a capacidade de os transformar em liquidez. Esta prudência é tanto mais exigente atendendo a que o FEFSS se destina a fazer face a responsabilidades com pensões e ao facto de o Sistema Previdencial de Segurança Social se encontrar em ruptura financeira. Os défices gerados anualmente têm estado a ser financiados pelos impostos. Uma opção política discutível. Mas não é meu propósito discuti-la neste texto.
O património do FEFSS pertence aos contribuintes e pensionistas da Segurança Social. Foi essencialmente alimentado por contribuições dos trabalhadores e por excedentes financeiros do Sistema Previdencial de Segurança Social no tempo em que a conjuntura económica o permitia e em que o sistema acumulava saldos positivos.
Sobre a medida pouco ou nada se comentou. Ou ninguém a levou a sério ou ninguém se apercebeu sobre o que verdadeiramente está em causa. Na duvida, aqui fica este apontamento.
Contas Externas de 2014: um "finale" atípico...
- Estão encerradas contas externas de 2014 e, como se esperava, foram apurados excedentes bastante confortáveis, tanto das Balanças Corrente+ Capital, de € 3.608 milhões (2,1% PIB), como das Balanças de Bens+ Serviços, de € 1.981,6 milhões (1,15% do PIB).
- No entanto, em qualquer dos casos, estes saldos são claramente inferiores aos verificados em 2013: menos 30% no saldo Corrente+ Capital e menos 32,9% no saldo Bens+Serviços.
- Se no caso das Balanças Bens+Serviços o resultado não se afasta muito do esperado (embora tenha causado enorme consternação como referi em Post anterior), já no caso das Balanças Corrente+Capital o saldo final fica bastante aquém do esperado - curiosamente o próprio BdeP no seu Boletim de Inverno, há poucas semanas, ainda previa um saldo equivalente a 2,6% do PIB e agora temos qualquer coisa como € 800 milhões aquém disso…
- É realmente surpreendente que, em apenas um mês, o saldo Corrente+ Capital tenha passado de um valor acumulado que superava o do mesmo período de 2013 em 13,3% (dados do final de Novembro), para um valor acumulado que fica 30% abaixo do de 2013…
- Como explicar?
- A explicação encontra-se, curiosamente, no comportamento da rubrica de “Rendimento Primário” e, dentro desta, da sub-rúbrica “Rendimento de Investimento Directo Estrangeiro”: enquanto, em 2013, o valor acumulado do saldo desta rúbrica passou de - € 1.078,8 milhões até Novembro para -€ 145 milhões no final do ano – ou seja uma recuperação de € 933,8 milhões – em 2014 não só não houve recuperação, na transição Nov/Dez como se registou mesmo um agravamento de quase € 260 milhões…
- Apura-se assim, em termos diferenciais, um agravamento de € 1.194 milhões (€ 933,8 milhões+€ 260 milhões) entre o final de 2013 e o final de 2014. Este agravamento, se adicionado à queda do superavit da Balança de Capital (menos € 200 milhões em 2014), perfaz quase os tais 30% a menos no superavit Corrente+Capital.
- Moral da história? Lembrar-nos que o IDE é sempre muito bonito e festejado, aquando do “inflow” (e dos efeitos induzidos sobre a economia quando implica novo capital produtivo e/ou melhoria na gestão dos recursos) – mas não nos podemos esquecer que depois do “inflow” vêm os “outflows” da distribuição do rendimento, e que esses “outflows” podem ter, como tiveram neste caso, uma influência relevante no desempenho das contas com o exterior…
- Um bom tema para os nossos estimadíssimos Crescimentistas glosarem com a sua proverbial sabedoria e imaginação, admito que pretendam sugerir uma política de forte atracção de IDE tendo como base um compromisso prévio de não repatriação de rendimentos…
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Pois é...os inocentes gregos e os safados alemães!...
Em 1985, a Grécia vetava a entrada de Portugal na CEE. E fazia depender o levantamento do veto do recebimento de mais dinheiro...
Afinal, quem pagou, em 1985, os milhões exigidos pela Grécia para Portugal e Espanha entrarem na CEE foi...a Alemanha!...
Pois é...estes safados alemães...
Adenda: E quem esteve na origem da chantagem grega foi o PASOK. Foram os socialistas gregos que não mostrarem qualquer solidariedade conosco, e foram os alemães que a tiveram.
Adenda: E quem esteve na origem da chantagem grega foi o PASOK. Foram os socialistas gregos que não mostrarem qualquer solidariedade conosco, e foram os alemães que a tiveram.
Para colher, é preciso semear…
A decisão não é apenas polémica, é incompreensível!
Portugal só pode ambicionar ter crescimento económico através da actividade exportadora. É condição fazê-lo de forma sustentada.
Precisamos de continuar a fazer um grande esforço, a concorrência é grande, a globalização está cada vez mais “global”, nada está garantido sem muito trabalho e sem dar a conhecer por esse mundo fora o nosso país - quem somos e o que fazemos - e a qualidade e as especificidades próprias e únicas dos nossos produtos e serviços.
O sector agro-alimentar tem vindo a melhorar o seu desempenho exportador e tem potencial de crescimento. Parece que ninguém sabe “como foi possível ter deixado passar esta oportunidade” de Portugal estar presente na Expo Universal de Milão. Ninguém sabe!
O sector agro-alimentar tem vindo a melhorar o seu desempenho exportador e tem potencial de crescimento. Parece que ninguém sabe “como foi possível ter deixado passar esta oportunidade” de Portugal estar presente na Expo Universal de Milão. Ninguém sabe!
Das leituras que fiz, apercebi-me que o evento não é só uma feira, é também uma exposição que reúne percursos temáticos, debates e ideias em torno do tema central “Alimentar o Planeta, Energia para a Vida“. A Expo Universal de Milão vai reunir mais de 140 países e espera receber 20 milhões de visitantes.
São 8 milhões de euros que nos impedem de ir? E quantos milhões iremos perder por estarmos ausentes desta magnífica montra? Esta visão pequenina de curto prazo vai continuar a penalizar o nosso futuro. Queremos ter retorno sem investir? Para colher, é preciso semear…
Saúda-se, vivamente, a vertiginosa social-democratização do Syriza...
- Em apenas 2 semanas, a força das realidades - neste caso uma realidade de tipo apocalíptico, traduzida numa iminente corrida aos bancos (na verdade já iniciada, só faltando a última etapa) e na consequente insolvabilidade do Estado grego – operou uma metamorfose política que à partida se consideraria inimaginável…
- …mediante a transformação de um partido auto-proclamado de extrema esquerda, que se mostrou capaz de arrebatar o voto popular na base de um programa de governo cheio de promessas delirantes, num partido com um programa de governo de tipo social-democrata de pendor claramente conservador, que enterra, virtualmente, todas as ditas promessas!
- Pessoalmente, só posso exprimir a minha admiração por esta manifestação de realismo dos protagonistas de tal metamorfose política, reveladora de uma insuspeita capacidade de adaptação a um cenário claramente adverso, que naturalmente limitava, drasticamente, as opções de política económica…
- …embora compreenda as dificuldades que o governo grego terá, certamente, para explicar esta formidável pirueta política a um eleitorado que lhe confiou o voto com a finalidade de executar um programa de medidas totalmente oposto, bem com a alguns “hard-liners” do próprio partido (ou partidos) do governo, que já começaram a revelar forte indisposição…
- Ao mesmo tempo desejo desde já (aqui por antecipação) exprimir a minha admiração pelos muitos militantes do “papa-açordismo” nacional no tratamento do tema grego, que, tendo sido incansáveis na proclamação das virtudes do anterior programa de governo, repudiando, com toda a veemência, a intolerância do Euro-grupo face às mais que legítimas pretensões da Grécia explicitadas nesse programa…
- …não deixarão certamente de proclamar esta importante vitória do governo e do povo da Grécia, impondo uma clamorosa derrota ao todo poderoso Euro-grupo e, melhor ainda, à toda poderosa Alemanha (com Portugal e Espanha a tiracolo)…
- Em suma, um grande “saludo” a todos estes protagonistas da Nova Ordem Europeia.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
E nós a pagar a neve em Atlanta!...
Creio que é da maior justiça saudar o nosso Ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, por ter conseguido, com a sua luta tenaz contra o aquecimento global, que tivesse nevado com fartura às portas de Atlanta, no Estado da Geórgia, EUA.
Assim, nessa cidade do Sul profundo imortalizada pelo filme " E tudo o vento levou", beneficia-se já das medidas do Ministro JMS a favor da fiscalidade verde e contra os sacos de plástico ...
Mais um esforço dos contribuintes portugueses e ainda vamos ter neve no Catar, muito antes do Campeonato do Mundo de Futebol...
Com Jorge Moreira da Silva a ter direito ao pontapé de saída. Bem merecido!...
(texto inspirado numa mensagem recebida de um amigo)
(texto inspirado numa mensagem recebida de um amigo)
domingo, 22 de fevereiro de 2015
A solidariedade grega...
Em 1985, a Grécia vetava a entrada de Portugal na CEE. E fazia depender o levantamento do veto do recebimento de mais dinheiro...
Acordo Grego: a propaganda, e a verdade a que temos direito
Para além da avalanche informativa, digo, propagandística, que criou uma realidade virtual e deu uma estrondosa vitória ao Syriza nas reuniões com o Eurogrupo, socorro-me de Vital Moreira, no Blog Causa Nossa, para repor a verdade a que temos direito.
O Governo grego não obteve "nem corte na dívida, nem fim da austeridade orçamental, nem reversão das medidas tomadas, nem novo empréstimo à margem do programa de resgate em vigor (que o Syriza tinha declarado morto e sepultado), nem fim da supervisão da troika (que só perde o nome)".
E escreve ainda Vital Moreira: "Uma nota humilhante para a Grécia (que traduz a falta de confiança de Bruxelas em Atenas) é o facto de os 11 000 milhões de euros que tinham sido emprestados à Grécia para eventual recapitalização dos bancos gregos, e que o Governo Syriza queria desviar para outros fins, vão voltar à UE, ficando confiados à guarda do ECB, não vá o diabo tecê-las..."
Vital Moreira, no Blog Causa Nossa-Vertigem Grega 13
Um singelo atentado contra a vida de uma desafortunada. Nada que possa desviar a nossa justiça dos casos premiados pelos media.
Ouvi a notícia ontem pela primeira vez. Hoje é repetida, hora a hora, no telejornal de uma das TV.
A estória, apesar de trágica, é o pão nosso de cada dia. Uma mulher espancada pelo marido, em plena via pública e à vista da filha de 5 anos de idade. Com violência tal que o energúmeno se convenceu que tinha posto fim à vida da sua vítima de há muitos anos. Detido e presente à senhora juíza de instrução criminal terá sido libertado após primeiro interrogatório e sujeito a termo de identidade e residência. A mulher, essa, pediu proteção à comunicação social na esperança, julgo eu, de a denúncia pública assustar mais o seu agressor diário do que as autoridades que em nome do Estado deveriam garantir a sua dignidade, a sua integridade física e a inviolabilidade da sua vida. Bem como proteger a sua filha de um rematado canalha.
Notei desde logo que a forma como a notícia é dada revela que a censura mais forte é dirigida a senhora juíza de instrução que, perante a barbárie, devolveu à liberdade um potencial assassino, recusando-se a afastar o agressor da sociedade até ao julgamento e a prevenir um fim ainda mais trágico do que a tragédia da agressões continuadas.
"Não se entende!", "Como é possível?!" ouço comentar ao meu lado. Eu explico. Na audição ficou claro que se tratava de um crime contra as pessoas e não contra o Estado ou contra a moralidade oficial. Na verdade, nem o ministério público nem a senhora juíza foram confrontados com vestígios daquilo que constituem práticas hediondas, mesmo que só suspeitas. Essas sim merecedoras de um imediato isolamento do agente, antes de qualquer culpa formada, não vá a sociedade enlouquecer, apavorada com a perspetiva de contágio. Não foram achados indícios de fraude fiscal, de branqueamento de capitais, de suborno. Provavelmente até se apurou que a taxa de saneamento básico o energúmeno tinha em dia. Trata-se, pois, somente, de um vulgar caso de ódio assassino de um homem contra uma mulher frágil e a imposição de marcas indeléveis numa criança.
Ora, desde quando é que o ódio assassino ocupa lugar no discurso político, naquele discurso onde assentam as prioridades criminais?
Por isso, vai aqui o meu aplauso para a meritíssima pela sua acuidade fiel às prioridades da justiça.
A vítima? Faço votos para que encontre uma mão protetora, uma alma amiga e corajosa que a esconda.
sábado, 21 de fevereiro de 2015
O típico "deixa andar"...
Esta notícia sobre o estado de degradação a que chegou o belo edifício em que funciona a Escola de Música do Conservatório de Lisboa fez-me recuar no tempo. É que este assunto não é novo. Os graves danos estruturais a requererem uma intervenção profunda remontam a, pelo menos, 2007.
Decorreram, entretanto, cerca de sete anos. Sete anos!
Em 2007 escrevi: (...) A realidade que está à vista não é, como é óbvio, obra de agora. É consequência de uma enorme negligência e inércia
que ao longo dos anos se tem vindo a verificar. É inacreditável que se tenha chegado ao ponto a que se chegou no único Conservatório de Música existente em Lisboa. E digo único porque se olharmos para o que se passa em outras capitais europeias como Paris ou Praga verificamos que existe uma escola de música por bairro. Veremos se a petição tem o condão de sensibilizar o Governo para que não se cometa mais este crime de lesa-património. Se o Governo continuar de braços cruzados, ficamos sem Património e sem Música. Ficamos também cada vez mais longe da Cultura e da Educação. Cada vez mais ignorantes…
que ao longo dos anos se tem vindo a verificar. É inacreditável que se tenha chegado ao ponto a que se chegou no único Conservatório de Música existente em Lisboa. E digo único porque se olharmos para o que se passa em outras capitais europeias como Paris ou Praga verificamos que existe uma escola de música por bairro. Veremos se a petição tem o condão de sensibilizar o Governo para que não se cometa mais este crime de lesa-património. Se o Governo continuar de braços cruzados, ficamos sem Património e sem Música. Ficamos também cada vez mais longe da Cultura e da Educação. Cada vez mais ignorantes…
E, agora, em 2015, escreveria o mesmo. Mudou alguma coisa? E vai mudar?
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
Uma lição
Já não a via há um ano. Entrou ao final da tarde com um belo sorriso lançado do alto da sua delicada estatura. Um sorriso franco, legítimo, suave, espontâneo como a querer demonstrar o desejo de viver com alegria. Seduz-me sempre este tipo de atitude, em que os olhos falam como almas verdadeiramente livres, sempre à espera de um momento de conversa, de alento, de conforto e confirmar que vale a pena ter esperança. Misturou-se tudo na minha cabeça, e o cansaço que se vinha acumulando ao longo do dia desapareceu como que por magia. Perguntei-lhe se estava tudo bem, se não tinha havido qualquer interocorrência durante o último ano, uma pergunta banal, formal mesmo, e para a qual anseio sempre uma resposta afirmativa. Sorriu. - Agora parece que está tudo bem, só tive, entretanto, um carcinoma papilar. - Como?! Perguntei ansioso e preocupado, tanto mais que a forma como disse me perturbou imenso. Sorriu com muita simpatia, talvez para me tranquilizar, o que não é habitual ver quando se está perante um médico. Fiquei embasbacado. - Como abordar o assunto? Pensei. A sua inteligência pôs-se em marcha e facilitou-me a vida. Explicou que tudo tinha decorrido na sequência de um grave acidente de viação. Por causa disso teve de fazer vários exames e num deles foi-lhe detetada uma anomalia que teve de ser esclarecida e que não tinha nada a ver com os traumatismos. Afinal tinha um cancro. Foi operada. - Está tudo resolvido, senhor doutor. E eu calado com o dedo a imitar uma esferográfica pronto a preencher a sua ficha clínica. Nunca largou o seu sorriso, o qual me tranquilizava à medida que fazia a sua narrativa. - Li há dias que o cancro era uma questão de azar. - Pois! Comentei instintivamente, embora naquele caso eu considerasse estar perante uma questão de sorte. Não sei se entendeu o alcance da minha interjeição. Julgo que sim. - Sabe uma coisa senhor doutor? Sempre que ouço a palavra cancro assusto-me, provoca-me medo e ansiedade. - Claro. Pensei. - Mas já estou habituada. - Como? Não entendo, disse-lhe. Reforçou o seu encantador sorriso. - Há oito anos tive outro. Foi diagnosticado em fase inicial, fui operada e fiquei curada. Os meus pensamentos entraram num volteio difícil de explicar, mas a senhora continuou, e eu ia aprendendo. - Olhe, pior que um cancro é a depressão. Eu tive uma grave depressão há alguns anos, fiquei sem saber quem era e o que fazia. Uma coisa horrível. Sabe porquê? Por causa da morte de uma menina a quem eu queria muito. Interrompi-a. - Eu sei. A senhora já me contou no ano passado. Foi então que me lembrei de um drama terrível em que uma criança morreu num sofrimento difícil de entender por mais que os deuses ou os seus acólitos tentem explicar. A senhora voltou a reforçar o seu belo e tranquilizador sorriso. Senti que ficou agradecida, não só por não ter esquecido o que aconteceu, mas também por não ter que repetir a história. A conversa continuou e a senhora declarou que quer continuar a viver. Mostrou-me a cicatriz e perguntou-me se iria melhorar o aspeto. - Claro que vai. - E se não melhorar as rugas da velhice encarregar-se-ão de a esconder. Deu uma curta gargalhada.
No final despedimo-nos como velhos amigos e confidentes. O que é certo é que me deu uma lição de vida que não posso, e nem devo, esquecer. Os médicos também aprendem lições de quem nos consultam, e ajudam-nos a tratar dos nossos medos e angústias.
Finalmente a unanimidade!
Depois do fado, o futebol.
Ainda dizem que não há consensos sobre coisas decisivas para o futuro do País! Más línguas!
PS: À margem (ou talvez não): Torres Vedras apresenta a candidatura do carnaval a património mundial. Todos estamos, claro, solidários com esse nobilissimo, relevantissimo e mobilizador objetivo nacional...
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
"Restaurar o contrato social para reconciliar as gerações"
Regresso da apresentação do livro da "nossa" Margarida Corrêa de Aguiar. Estimulado pelo feliz subtítulo e pelo que ali ouvi, sacrifiquei a emergência de outras leituras para lhe dar uma vista de olhos. Parece ser tudo o que prometem as palavras e a simbologia da capa. Mas é, já o percebi, uma chamada à reflexão e à discussão pública de questão que a todos diz respeito, com a inegável vantagem de a Autora ser alguém que, como poucos, sabe do que escreve. Ao longo do tempo em que ambos exercemos funções governamentais pude aperceber-me da solidez do conhecimento, da clarividência com que encara em geral as questões sociais. Conhecimento e clarividência aliás demonstrados pelos inúmeros textos que aqui são publicados com a assinatura da Margarida.
Parabéns pela edição, mas sobretudo pela reposição no debate público do tema do contrato social e da confiança essencial para a reconciliação de gerações.
Bater com a mão no peito. Violentamente.
"Não critico os altos funcionários, mas não se coloca um alto funcionário perante um primeiro-ministro ou um ministro das Finanças de um país, não é esse o seu nível. Há que colocar um comissário ou um ministro que tenha a autoridade do Eurogrupo", foi uma das afirmações surpreendentes do atual presidente da Comissão. Para mim, afirmação bem mais surpreendente do que a mea culpa do antigo responsável pelo Eurogrupo quando disse que a UE e os restantes membros da troica pecaram contra a dignidade dos povos dos Estados sob assistência, em especial Portugal e Grécia.
Aqui no 4R me manifestei em posts e comentários surpreendido pela indiferença perante a supremacia dos funcionários daquelas instituições, bem traduzida quer no discurso por vezes antagónico em relação às declarações públicas dos responsáveis máximos (o caso das sucessivas desautorizações da senhora Lagarde pelos funcionários do FMI é o exemplo mais chocante). Mas também pelo tratamento que era dispensado aos técnicos do BCE, da UE e do FMI, não só pelos media mas sobretudo pelas autoridades, patenteando uma subserviência que incomodava espíritos mais sensíveis - como pelos vistos é o meu.
Reconhece-se agora que não se coloca um funcionário perante um PM ou um ministro. Tem obviamente razão Jean-Claude Juncker. Disso deveriam, eventualmente, ter consciência os PM e ministros que se submeteram a uma autoridade que agora se entende "ilegítima".
É certo que para confessar um pecado é logicamente necessário tê-lo cometido. Dir-me-ão que importante é, agora, perceber qual a penitência redentora, se passaremos a ver comissários e responsáveis dos órgãos das instituições, e não (somente) funcionários, nas reuniões de alto nível com os governos e parlamentos nacionais. E eu estou de acordo, Mas deixem-me desabafar: esta confissão não deixa de ser o reconhecimento tardio, muito tardio, da cegueira que começou em 2008 com a ordem para gastar à tripa forra, e acabou - esperemos... - com a assunção do pecado de lesa dignidade dos povos que são a própria Europa.
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