E agora? Com as partes totalmente extremadas e detentoras de verdades únicas, com as posições radicalizadas e defendendo pontos de vista distintos, como é que o conflito que opõe o ministério da educação e os professores vai ser resolvido? Como sair do beco sem saída a que se chegou?
De um ponto de vista estritamente legal é evidente que o governo tem que fazer cumprir a lei, que neste caso foi por si aprovada, e os professores, como todos os cidadãos num Estado de direito, a devem cumprir. Mas não adianta que o ministério da educação avise que não vai ceder e não adianta que os professores ameacem não cumprir com o modelo de avaliação do desempenho aprovado. Não adianta porque um sistema de avaliação do desempenho que não tenha o envolvimento reconhecido e esforçado, desde o primeiro momento, de todas as partes interessadas não funciona e fica, desde aí, votado ao fracasso, tornando-se alvo de muitas críticas, mais ou menos verdadeiras. O resultado é no caso da avaliação do desempenho dos professores a sua desqualificação, fazendo crer que o modelo é desnecessário, burocrático, um peso pesado que consome tempo e energia. Transformar um sistema de avaliação do desempenho numa “arma” política em que governo e sindicatos e professores medem forças, utilizada para impor uma “autoridade” formal e simultaneamente servir para disparar descontentamento e insatisfação não serve a educação, a escola e os alunos.
A avaliação do desempenho é indiscutível enquanto instrumento de aferição da qualidade do trabalho e dos respectivos resultados, é essencial para promover uma cultura de exigência e de meritocracia e pode e deve constituir um motor de progresso na medida em que seja capaz de criar ambição, suscitar criatividade e desenvolvimento, conferir espírito crítico e mobilizar os seus participantes para fazer mais e melhor. Ora, todos estes atributos não se impõem por decreto lei, requerem antes vontade e esta está dependente da maior ou menor aceitação de um modelo correctamente desenhado e pensado quer nos seus objectivos quer na sua implementação. A lei é puramente instrumental.
O conflito aberto a que se chegou é perigoso porque está a desgastar a coesão educativa. Portugal precisa como de “pão para a boca” da educação. É na educação que está o futuro. As crianças e jovens de hoje serão os adultos de amanhã e deles nascerão os futuros dirigentes políticos e associativos e os futuros professores. Não há educação sem professores e sem escola. Professores desmotivados, cansados e contrariados são um preço demasiado elevado a pagar. A escola em todo este processo há muito que dela não se houve falar. É uma célula fundamental no sistema educativo e no tecido social que está também a sofrer com o conflito.
Desafortunadamente, mas não por acaso, o conflito não se esgota na avaliação do desempenho. Se assim fosse a situação não tinha chegado ao ponto de quase “não retorno” a que se chegou.
E digo “quase” porque, como em tudo na vida, as situações de ruptura ou de desequilíbrio acabam por dar lugar a novos equilíbrios, quer pelo desgaste que provocam quer pela constatação de que não há vencedores mas tão somente vencidos. Mas às vezes a mudança é muito custosa.
Portanto, a questão que agora se coloca é a de saber como vai ser possível corrigir o braço de ferro da ruptura a que chegámos? Uma coisa é certa, ninguém quer ceder e ninguém quer perder a face. E outra coisa também é certa, é que a situação a que se chegou não é sustentável.
De um ponto de vista estritamente legal é evidente que o governo tem que fazer cumprir a lei, que neste caso foi por si aprovada, e os professores, como todos os cidadãos num Estado de direito, a devem cumprir. Mas não adianta que o ministério da educação avise que não vai ceder e não adianta que os professores ameacem não cumprir com o modelo de avaliação do desempenho aprovado. Não adianta porque um sistema de avaliação do desempenho que não tenha o envolvimento reconhecido e esforçado, desde o primeiro momento, de todas as partes interessadas não funciona e fica, desde aí, votado ao fracasso, tornando-se alvo de muitas críticas, mais ou menos verdadeiras. O resultado é no caso da avaliação do desempenho dos professores a sua desqualificação, fazendo crer que o modelo é desnecessário, burocrático, um peso pesado que consome tempo e energia. Transformar um sistema de avaliação do desempenho numa “arma” política em que governo e sindicatos e professores medem forças, utilizada para impor uma “autoridade” formal e simultaneamente servir para disparar descontentamento e insatisfação não serve a educação, a escola e os alunos.
A avaliação do desempenho é indiscutível enquanto instrumento de aferição da qualidade do trabalho e dos respectivos resultados, é essencial para promover uma cultura de exigência e de meritocracia e pode e deve constituir um motor de progresso na medida em que seja capaz de criar ambição, suscitar criatividade e desenvolvimento, conferir espírito crítico e mobilizar os seus participantes para fazer mais e melhor. Ora, todos estes atributos não se impõem por decreto lei, requerem antes vontade e esta está dependente da maior ou menor aceitação de um modelo correctamente desenhado e pensado quer nos seus objectivos quer na sua implementação. A lei é puramente instrumental.
O conflito aberto a que se chegou é perigoso porque está a desgastar a coesão educativa. Portugal precisa como de “pão para a boca” da educação. É na educação que está o futuro. As crianças e jovens de hoje serão os adultos de amanhã e deles nascerão os futuros dirigentes políticos e associativos e os futuros professores. Não há educação sem professores e sem escola. Professores desmotivados, cansados e contrariados são um preço demasiado elevado a pagar. A escola em todo este processo há muito que dela não se houve falar. É uma célula fundamental no sistema educativo e no tecido social que está também a sofrer com o conflito.
Desafortunadamente, mas não por acaso, o conflito não se esgota na avaliação do desempenho. Se assim fosse a situação não tinha chegado ao ponto de quase “não retorno” a que se chegou.
E digo “quase” porque, como em tudo na vida, as situações de ruptura ou de desequilíbrio acabam por dar lugar a novos equilíbrios, quer pelo desgaste que provocam quer pela constatação de que não há vencedores mas tão somente vencidos. Mas às vezes a mudança é muito custosa.
Portanto, a questão que agora se coloca é a de saber como vai ser possível corrigir o braço de ferro da ruptura a que chegámos? Uma coisa é certa, ninguém quer ceder e ninguém quer perder a face. E outra coisa também é certa, é que a situação a que se chegou não é sustentável.
9 comentários:
Interessante título cara Maragrida, a sugerir reflexão.
Mas... não será que do lado dos professores, alguma razão foi "desperdiçada", fruto de acções menos convenientes, que não édifícil de perceber que foram a despropósito e prejudiciais?
Contudo,a ambiguide dos "quereres" ditatoriais da Srª Ministra, retiram-lhe indubitávelmente a legitimidade para iplementar o regime de avaliações necessário.
Pode também acontecer que a luta dos professores seja usada para precipitar o que se adivinhava: a tendência totalitarista do PM.
Dum lado temos quem conhece bem o terreno, e do outro quem está a medir as forças com que pode contar.
É preciso ter personalidade para aceitar que se pode cair em desgraça, mas há quem não a tenha.
Cara Dra. Margarida Aguiar:
Os conflitos ME/Professores são recorrentes desde 1975, mas nunca atingiram o descalabro e a gravidade de hoje, ao ponto de parecer necessário que uma espécie de um corpo de jurados venha a terreiro ajuizar sobre quem fala verdade.
Quem ouve as explicações dadas pelos professores e respectivos sindicatos interroga-se: como é possível pessoas inteligentes e de bom senso (supostamente todos aqueles técnicos que assessoram a Sraº. Ministra), a tenham levado a defender um sistema de avaliação que mais parece saído de cérebros mentecaptos, tal é a burocracia e a contradição do próprio processo?
Pelo lado da Sraª. Ministra, a defesa do processo baseia-se em lugares comuns, não exemplificando em concreto as situações, refugiando-se no facto de como titular do cargo poder impor um processo que não tem ao que parece exequibilidade...
Neste País já nada causa grande admiração. Até admitimos, como normal, esta herança que vamos deixar aos que se seguem…
Lei universal: até hoje todas as experiências socialistas acabaram mal.
Boa tarde Drª Margarida Correa de Aguiar
Independentemente da qualidade do sistema de avaliação, que parece discutida e discutível, questiono-me acerca de outras qualidades:
1) Houve um compromisso assinado entre o Governo e as demais Partes, nomeadamente os Sindicatos;
2) O acordo foi assinado pelos Sindicatos desconhecendo o sistema de avaliação que ia ser implantado? Se sim, em que "qualidade" o assinaram?
3) Quantos compromissos terão que ser rasgados até que os Professores venham a poder ser avaliados?
As questões que coloco decorrem do facto de eu pensar que chegámos a uma situação em que, adaptando o ditado, "todos ralham e ninguém tem razão". E como Pai receio que sejam os Filhos, os alunos, os verdadeiros perdedores.
Nota: Consta que a "indústria" das explicações se tenha tornou um sector verdadeiramente rentável. Deve ser engano, porque não aparece nas Estatísticas nem me consta que contribua para as receitas do OE.
Excelente análise, cara Margarida Corrêa de Aguia.
Pricipalmente quando refere que o problema vai muito para além do sistema de "avaliação".
É óbvio que o problema é muito mais profundo que este sistema de "avaliação".
O problema é que os professores deixaram de ensinar, os alunos de estudar e os pais de educar. A escola foi transformada num centro social de apoio à família. Este é que é o problema.
Caro Bartolomeu
O extremar de posições, com o "quero, posso e mando" da ministra da educação e o aproveitamento dos sindicalistas para reforçar os seus poderes de classe, conduziu o País a uma situação indesejável. Não há aparentemente uma resposta para a questão de saber como vamos sair desta crise, sendo certo que a avaliação do desempenho é efectivamente necessária. Aqui não pode haver cedências. Os professores afirmam que também querem ser avaliados. Porquê então esta guerra?
Caro MJP
O conflito está, como refiro no meu post, num ponto a que nunca deveria ter chegado, com ambas as partes a medir forças e com crescendo de resposta de uma parte à resposta da outra parte.
Ninguém vai querer ceder. Não há “personalidade” que queira dar a mão à palmatória. Ambas as partes, mantendo-se os actuais responsáveis de um lado e do outro, terão que ceder com a preocupação de que a opinião pública não percepcione que um dos lados tenha ganho ou perdido. Vai ser muito difícil...
Caro jotaC
É um atestado de incompetência que passamos ao País quando, depois de tantas reformas e outras tantas contra-reformas, continuamos sem conseguir fazer as mudanças necessárias. É muito preocupante que não acertemos num caminho de progresso.
Caro António Fiúza
Não só, mas também...
Caro Manuel
Pertinente comentário o seu sobre a "indústria" das explicações. Uma actividade em franca expansão, clandestina como convém, à margem das estatísticas e dos impostos. E com o andar da carruagem o seu futuro é promissor. E sabe-se lá com que sacrifícios para muitos pais...
Caro Fartinho da Silva
Obrigada pelas suas palavras de estímulo. A escola está há muito desfocada da sua função principal. Ensinar, formar, fazer aprender, fazer crescer, fazer evoluir, preparar para a vida são funções que se foram perdendo. E para esta trajectória não é alheia a falta de exigência e rigor. E todos temos culpas no cartório. É o País que temos, ou melhor, que somos. Como sair deste poço?
Drª Margarida Correa de Aguiar
Neste conjunto de respostas, a Drª Margarida Aguiar referiu algo que considero ser uma verdade insofismável: todos temos culpas no cartório. Não posso estar mais de acordo. Culpas que até podem dever-se a omissão, mas sempre culpas. Este reconhecimento, e o reconhecimento de que todos somos devedores de interesse e de intervenção, poderá ajudar a desbloquear impasse e encontrar caminhos. Se todos reconhecerem as suas, ou pelo menos não andarem permanentemente a acentuar as culpas dos outros, talvez venha a haver, citando-a, "“personalidade” que queira dar a mão à palmatória", e seguir em frente.
Caro Manuel
Tenhamos esperança que venha a acontecer...
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