1. Há uns bons 8 a 9 anos Alan Greenspan, então presidente do FED, referia-se à “exuberância irracional” dos mercados que antecedeu o sério downturn de 2001-2002...mas depois esqueceu essa exuberância e criou mesmo condições, com uma política monetária bastante acomodatícia até 2006, para que ela se manifestasse em total...exuberância.
2. Há poucos dias o Nobel da Economia (2001), Joseph Stiglitz, voltou a utilizar essa expressão para caracterizar a actual fase de forte valorização dos índices bolsistas um pouco por todo o Mundo e de forma mais acentuada nos chamados mercados emergentes.
3. Stiglitz entende que os mercados estarão a antecipar irracionalmente uma recuperação em V da economia mundial quando, no seu entender, isso não está de todo garantido – pois poderemos ter uma recuperação em U (como sugere Roubini, por exemplo), em W, ou nem ter verdadeira recuperação, podendo a economia voltar a afrouxar quando os efeitos dos estímulos monetários e financeiros que recebeu começarem a esfumar-se...
4. Não vou embrenhar-me na discussão da provável recuperação – se em V, em U, em W ou em nada – parece-me que qualquer dessas hipóteses é possível, não me recordo de tanta incerteza na antevisão dos cenários de evolução futura, ou não fosse a crise que atravessamos, para além de muito querida entre nós, algo de inteiramente novo no que se refere a (i) causalidade, (ii) efeitos sobre a economia e (iii) resposta das autoridades financeiras e monetárias em escala global.
5. Parece-me mais interessante, nesta altura, avaliar o que se vem passando com a rápida valorização de activos financeiros, quebra acentuada das yields das dívidas pública e privada, records na cotação do ouro, desemprego crescente...e tudo isto ao mesmo tempo?
6. Ou me engano muito ou a famosa “mão invisível” está novamente preparando uma partida aos investidores, mas desta vez e surpreendentemente, com a activa colaboração dos Bancos Centrais!
7. Com efeito, a formidável injecção de liquidez quase gratuita com que os Bancos Centrais têm inundado os mercados, com destaque para o FED (que mais do que triplicou a dimensão do seu balanço em 1 ano...), o BCE e o Bank of England, numa época em que os Bancos se têm contraído na concessão de crédito à economia, terá conduzido, segundo alguns analistas, à busca “desenfreada” de oportunidades de investimento desse dinheiro fácil, podendo essa busca explicar, em boa medida, a referida valorização dos activos a que estamos a assistir.
8. Se assim for, admito que Stglitz, o professor americano e prémio Nobel tenha razão quando fala em “exuberância irracional”, talvez se podendo até acrescentar “...e oficialmente instigada”. A famosa “mão invisível” anda, manifestamente, por maus caminhos...
9. Será muito interessante, apaixonante mesmo, seguir os próximos episódios desta exuberante novela.
6 comentários:
Aqui está, Dr. Tavares Moreira, uma execelente análise do que está a acontecer no mercado de capitais, para mais, respaldada num prédio Nobel de prestígio, passe o pleonasmo.
O cidadão comum, como sou eu, ao olhar para os índices bolsistas, ao mesmo tempo que se regozija por ver a subida dos mercados financeiros, não deixa de se interrogar sobre senão estarão a subir depressa demais. Fica, por conseguinte, o sentimento de desconfiança...
Caro Tavares Moreira:
Os remédios beneficiam uma parte do organismo, mas prejudicam outras. Não há remédios perfeitos. E a dose é sempre de considerar.
As fortíssimas intervenções dos Bancos Centrais, seguindo o sentimento geralmente espalhado pela comunicação social, trouxeram uma acalmia psicológica às empresas e a muitos cidadãos.
Passado o efeito de choque, muitos outros sub-efeitos se irão produzir no curto e no médio prazo. A inflação será um deles.
Mas é só daqui a uns tempos que poderemos fazer o balanço dos custos e dos benefícios.
De qualquer maneira, a monitoragem da situação a cada momento é indispensável. E a questão que o meu amigo agora sabiamente levanta é extremamente importante. Mais do que nunca, e também no mercado de capitais, cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a
ninguém.
Sem esquecer que o valor das acções sofreu uma fortíssima queda e muitos títulos se encontam ainda aquém do seu próprio valor contabilístico.
Todavia, restabelecidos a pouco e ouco os fluxos financeiros e com políticas públicas adequadas que, em Portugal não poderão nunca passar pelo aumento da despesa ou dos impostos, iniciar-se-á a recuperação. Se em U, W, ou V, deixo isso para os grandes tratadistas. Para mim, basta que seja em R, isto é, uma recuperação real. Temos que ser optimistas.
Efectivamente, caro Pinho Cardão, duma recuperação real - RR - é que nós bem precisamos!
Há muitas esperanças depositadas em E. F. como grande alavanca para o conseguirmos!
Vamos torcer para que essa expectativa de uma RR sólida e sustentada possa sair imensamente reforçada!
Os meus caros estão a assumir que a depressão foi "real" para que agora se peça por uma recuperação "real". Mas foi? E se foi, porque é que a recuperação não o é?
Caro Tavares Moreira
Quem como o Senhor, conheçe os mercasdos, percebe que estamos no limiar de uma grande instabilidade.
O facto de estarmos no limiar de uma nova fase da crise, não significa que vamos, obriagtoriamente, passar para essa fase.
Para quem entende, o que está claro, no meio de muita incerteza, é que ainda não esatamos fora de perigo, antes pelo contrário.
O que começa a ficar claro é que não vamos voltar ao "business as usual" que nos querem fazer querer.
Parece que se pode, tambem, afirmar que será necessário que todas as economias se adapatem aos novos tempos e, infelizmente, a nossa não está preparada, nem ainda começou a estudar as necessárias adaptações.
A partir de 12 de Outubro vai começar a época do "barulho" como diz Medina Carreira e, se bem que uma das épocas mais interesantes que possamos viver, vamos assistir a muitas surpresas.
Cumprimentos
João
PS Apenas um reparo/anotação: A subida da bolsa norte americana é realizada sobre um volume muito pequeno de acções. Para bom entendedor......
Caro Tonibler,
temos de usar de algum cuidado pois esta referência a recessão Real e recuperação Real ainda pode ser tomada como deriva monárquica na análise dos ciclos económicos...
Ultrapassado esse ponto, eu tenho dificuldade em responder à sua pergunta: primeiro temos de saber se a recuperação existe mesmo, só depois a poderemos qualificar...
O que temos para já, isso sim, é uma "real" hemorragia monetária e vamos ver no que é que esta vai dar.
Caro João,
Sem dúvida que temos pela frente tempos de grande intensidade política, em especial no domínio da discussão em torno das opções de política económica...
Vamos seguir isso com o maior interesse e tentar colocar o 4R na vanguarda da análise dessa crepitante actividade política!
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