No escrutínio aos escolhidos para cargos públicos entra agora tudo o que alguma vez pudessem ter escrito no Twitter, Face Book ou qualquer rede partilhada. Já nos recrutamentos para postos de trabalho têm surgido sinais preocupantes dessa devassa que permite ver muito mais do que seria legítimo equacionar quando se avalia para esse efeito. Parece-me que não sabemos ainda lidar com a democratização da opinião livre, com a participação em espaços abertos de troca de opiniões e comentários. Parece-me que será fácil, demasiado fácil, que nesta invocação do rasto deixado nas redes haja sinais de ameaça à livre expressão e processos de intenção que permitem que essa participação seja apropriada por quem não tem o direito de o fazer, como se fosse uma espionagem permanente, sempre disponível e pronta a ser manipulada.
O aumento dos níveis de instrução e a facilidade tecnológica de difundir e partilhar ideias democratizaram as tertúlias e ultrapassaram há muito, e bem, os círculos restritos dos intelectuais bem pensantes. No entanto, só poderão sobreviver, na sua essência, num quadro de exigência não só para quem se exprime mas também para quem ouve. Exige maturidade e respeito, quer pela opinião e sensibilidade dos outros quer pelo modo como se reage, honrando o direito de ter estado a ouvir e o de responder em igualdade de circunstâncias.
Um espaço de liberdade fantástico, como aquele de que dispomos hoje, sem precedentes históricos, é tentador para os que, não se atrevendo a arriscar uma opinião ou uma análise identificada que os comprometa, insultam sob anonimato ou esgrimem sem escrúpulo o que puderam saber da opinião alheia. Mau sinal.
O aumento dos níveis de instrução e a facilidade tecnológica de difundir e partilhar ideias democratizaram as tertúlias e ultrapassaram há muito, e bem, os círculos restritos dos intelectuais bem pensantes. No entanto, só poderão sobreviver, na sua essência, num quadro de exigência não só para quem se exprime mas também para quem ouve. Exige maturidade e respeito, quer pela opinião e sensibilidade dos outros quer pelo modo como se reage, honrando o direito de ter estado a ouvir e o de responder em igualdade de circunstâncias.
Um espaço de liberdade fantástico, como aquele de que dispomos hoje, sem precedentes históricos, é tentador para os que, não se atrevendo a arriscar uma opinião ou uma análise identificada que os comprometa, insultam sob anonimato ou esgrimem sem escrúpulo o que puderam saber da opinião alheia. Mau sinal.
9 comentários:
Cara Suzana, penso que isso acontecer é perfeitamente natural e decorre em larga medida da natureza humana. O facto dum empregador procurar mais informação sobre um candidato a um posto através daquilo que ele tenha feito na internet parece-me natural. É a busca por mais e mais informação sobre aquilo que se vai "comprar" ou, neste caso, contratar.
Sendo-lhe sincero eu sempre achei que isso iria suceder e o que de há longo tempo a esta parte me causava espanto era ainda não ter sucedido. Sempre tive para mim que a internet globalmente é um gigantesco espaço aberto à coscuvilhice alheia. Daí que, de há muitos anos, venha tomando precauções a vários niveis a bem da minha privacidade. Manter sempre o uso de nicknames, nunca me ligar à web sem ser atrás duma VPN ou - nas raras vezes em que ela cai - usar pelo menos um proxy, tomar inúmeras precauções de segurança nas compras online e, em geral, em sitios onde seja necessário dar dados pessoais para realizar uma compra ou obter um serviço online, salvagaurdar na medida do possivel a minha identidade pessoal.
Posso eventualmente ser acusado de cyber-security freak. Mas o seguro morreu de velho. E a prudência foi ao enterro!
Intrepretando mais à letra aquilo que a cara Drª Suzana escreveu, parece-me que a atitude de muita gente, a coberto do tal anonimato que as redes partilhadas permitem, tem a ver, ou são o reflexo de variados factores, sendo um deles, talvez o mais motivante, "oferecido" pela mediatização dos "gatos fedorentos". Toda a gente fala daquilo que julga saber, da forma que entende, acerca de quem melhor lhe parece. Porque sabe garantidamente que tudo ficará "por isso mesmo", ninguem o conhece e... ainda acha que fez um "brilharete", pois teve a coragem de escrever em algum lado aquilo que pensa, mais ninguem teve coragem ou "inteligência para o ter feito tão bem quanto ele.
Toda a gente parece esquecer-se do nome deste "mundinho"... Windows.
É!
Cada um de nós está por trás de uma janela e, alguns, dão constantemente "pulinhos" para tentar ver mais dentro da janela alheia. Esquecem-se porém, que por muitos pulinhos que dêem não vêm mais que aquilo que o outro lhe quiser mostrar...
Caro Bartolomeu, mas o bizarro neste assunto é que muitos, muitos, mostram muito mais do que o que a prudência ou até o mais elementar respeito próprio, respeito de cada um pela sua privacidade, aconselhariam.
Mas, enfim, vivemos tempos curiosos. Meio mundo acha que deve expôr toda a sua vida como se isso fosse prova de honradez. As pessoas tendem a achar que têm que provar algo aos demais e que essa exposição é forma de prova seja do que for. Outro meio aproveita e busca informações por todos os meios e mais alguns, sabe-se lá para que fins e parte do principio de que se a outra pessoa não põe a vida em público é porque tem algo a esconder.
Cada vez mais o conceito de privacidade perde-se e ninguém liga muito a isso...
É bem verdade, caro Zuricher, no entanto, apesar de todas as vicissitudes, mantemo-nos por cá.
E... como diz a voz popular "não ha bela sem senão". Neste caso, a bela, é a possibilidade de trocar opiniões e adquirir conhecimento, com pessoas que apesar de virtuais, sabemos que existem e que possuem carácter honesto. Quanto aos senão que vão surgindo... concede-se-lhes o benefício de se encontrarem a si mesmo e conseguirem ultrapassar a insegurança que os conduz à isensatez.
Caro Paulo, não é uma VPN de acesso público, claro. O proxy de recurso, idem. Pertencem a uma empresa (dum amigo de longa data até) que me fornece alguns serviços e os seus inestimaveis conselhos sobre estas coisas de informática.
Eu que não percebo assim tanto destas coisas fico pasmo com o que os computadores e mãos experientes conseguem fazer com eles.
Cara Dra. Suzana Toscano:
Concordo absolutamente consigo.
Traz-nos aqui um tema actualíssimo, da maior importância, sobre o qual devemos reflectir.
Este espaço onde milhões de pessoas exteriorizam muito de si próprias, através de comentários, de análises, de confissões, de opções políticas etc., é um mundo antagónico: por um lado tem virtualidades imensas; por outro lado pode constituir graves dissabores que podem levar-nos a ser “apontados e excluídos” por aqueles que da vida fazem o mesmo que os suínos no chiqueiro. Infelizmente, por agora é assim, não sei como o será no futuro próximo, na geração tecnológica: os nossos netos(!?).
Mas para quem tem uma história de vida já grande como a nossa, nenhum destes comportamentos nos surpreende em demasia, já antes da Internet existia gente desta que tinha sucesso coscuvilhando a vida dos outros.
Só por curiosidade, lembro-me de um quadro dirigente da administração pública que ao ingressar num novo Organismo entendeu que, para melhor conhecer as pessoas com quem ia lidar, devia saber coisas do foro íntimo, inclusive sexual, e olhe que não foi há muitos anos!
Portanto, para não sermos preteridos ou excluídos, resta-nos seguir os conselhos do caro Zuricher, mas se mesmo assim não chegar e for necessário, abrirmos o peito bem forte, pois não é por acaso que andamos na vertical…
Suzana
Não sei, tenho muitas dúvidas, que os espaços livres para discussão e opinião tenham a sua sobrevivência ameaçada pela falta de exigência, de seriedade de quem se exprime e de quem ouve, de respeito pela opinião e sensibilidade dos outros e de vontade de contribuir para informar ou para uma discussão elevada dos temas.
Muitos desses espaços vivem da falta destes princípios e vivem muito bem assim, transformando-se em locais de ataques, insultos, de queixas, de perseguições ou, numa versão mais "soft", de desabafos, sem qualquer outro sentido que não seja descarregar uma qualquer carga negativa.
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