Um dia Deus lembrou-se que era chegada a hora de pôr alguma ordem na sua espécie favorita, o homem. Não deverá ter pensado muito bem quanto a tão estranha criatura criada à sua imagem e semelhança. Chamou Moisés e entregou-lhe uma tábua com dez condutas a seguir pelos humanos. Na prática, todos sabem que não são cumpridas nenhuma delas. No entanto, a frequência do incumprimento não é a mesma para todas. Se analisarmos bem, o oitavo mandamento, muito provavelmente, deverá ser o mais desrespeitado. Este último diz expressamente: “não levantarás falsos testemunhos nem mentirás”.
Mentiras! Quem é que não as disse, ou não irá dizê-las, mesmo os mais “puros”?
Quando se fala de mentiras temos que as destrinçar das que fazem parte dos jogos sociais, que não perturbam nem escandalizam, como as mentiras de cortesia e as poéticas. Estas últimas enquadram-se nos jogos da arte, da cultura e do entretenimento. Presumo que não haja ninguém que não tenha ouvido a célebre expressão: “O poeta é um fingidor”. Mente. E depois? Deveremos agradecer-lhe? Claro, porque através das suas “mentiras” sentimos prazer, os sentidos estimulam-se, a alma refresca-se, o coração tranquiliza-se e novas esperanças são despertadas no duro terreno da vida. Quanto às mentiras de cortesia, sempre é melhor ouvir um “está com bom aspeto”, mesmo que não tenha, ou ouvir bons-dias sussurrados através de lábios sorridentes a esconder alguma raiva oculta. Pelo menos não nos apercebemos de que estamos, sub-repticiamente, a ser agredidos.
Toda a gente mente, mas mentir torna-se um problema quando, no contexto social, fica impune ao contrariar a justiça, o interesse público ou a honra dos indivíduos. Neste contexto a mentira passa a ser muito perigosa ao provocar graves danos à comunidade em geral ou aos indivíduos em particular.
Mentir é uma necessidade existencial, e podemos afirmar que há certas circunstâncias em que se mente muito, como “antes de uma eleição, durante a guerra e após uma caçada”. Quem fez esta afirmação, Bismarck, sabia muito bem do que falava. Curiosamente, não teve o atrevimento de falar sobre as mentiras do passado, talvez por serem facilmente desmontáveis com documentos. Nos dias de hoje, existem atrevidos que chegam a reclamar feitos como seus, sem terem razão. Quase que me convenço que muitas pessoas se alimentam de mentiras, bebem mentiras, sonham mentiras, exigem mentiras e até eliminam mentiras como se tratassem de verdadeiros dejetos, fertilizando os extensos campos da mentira. Coitados, ao serem confrontados com a verdade deverão ter reações idênticas aos vampiros quando são iluminados com os raios do sol.
Fernando Savater afirmou que “o falso testemunho está dentro de nós. Inventamos com muita facilidade, e, quando o não fazemos, acreditamos em tudo o que nos convém”. Este comportamento pode comprometer seriamente a estabilidade de uma comunidade. De facto, não levantar falso testemunho é um dos mais sólidos pilares de qualquer sociedade. Analisando o que se passa ao nosso redor, em que predomina como rei e senhor, é fácil de concluir as consequências. Arrepiantes.
A liberdade é o nosso maior bem. É preciso conquistá-la todos os dias, combatendo as mentiras e os falsos testemunhos. Dá trabalho, muito trabalho e angústia. Mas é reconfortante podermos acreditar que o mundo poderá vir a ser melhor, tentando recuperar as seitas dos mentirosos e dos cultivadores dos falsos testemunhos, porque só assim conhecerão o verdadeiro prazer de viver em liberdade.
Mentiras! Quem é que não as disse, ou não irá dizê-las, mesmo os mais “puros”?
Quando se fala de mentiras temos que as destrinçar das que fazem parte dos jogos sociais, que não perturbam nem escandalizam, como as mentiras de cortesia e as poéticas. Estas últimas enquadram-se nos jogos da arte, da cultura e do entretenimento. Presumo que não haja ninguém que não tenha ouvido a célebre expressão: “O poeta é um fingidor”. Mente. E depois? Deveremos agradecer-lhe? Claro, porque através das suas “mentiras” sentimos prazer, os sentidos estimulam-se, a alma refresca-se, o coração tranquiliza-se e novas esperanças são despertadas no duro terreno da vida. Quanto às mentiras de cortesia, sempre é melhor ouvir um “está com bom aspeto”, mesmo que não tenha, ou ouvir bons-dias sussurrados através de lábios sorridentes a esconder alguma raiva oculta. Pelo menos não nos apercebemos de que estamos, sub-repticiamente, a ser agredidos.
Toda a gente mente, mas mentir torna-se um problema quando, no contexto social, fica impune ao contrariar a justiça, o interesse público ou a honra dos indivíduos. Neste contexto a mentira passa a ser muito perigosa ao provocar graves danos à comunidade em geral ou aos indivíduos em particular.
Mentir é uma necessidade existencial, e podemos afirmar que há certas circunstâncias em que se mente muito, como “antes de uma eleição, durante a guerra e após uma caçada”. Quem fez esta afirmação, Bismarck, sabia muito bem do que falava. Curiosamente, não teve o atrevimento de falar sobre as mentiras do passado, talvez por serem facilmente desmontáveis com documentos. Nos dias de hoje, existem atrevidos que chegam a reclamar feitos como seus, sem terem razão. Quase que me convenço que muitas pessoas se alimentam de mentiras, bebem mentiras, sonham mentiras, exigem mentiras e até eliminam mentiras como se tratassem de verdadeiros dejetos, fertilizando os extensos campos da mentira. Coitados, ao serem confrontados com a verdade deverão ter reações idênticas aos vampiros quando são iluminados com os raios do sol.
Fernando Savater afirmou que “o falso testemunho está dentro de nós. Inventamos com muita facilidade, e, quando o não fazemos, acreditamos em tudo o que nos convém”. Este comportamento pode comprometer seriamente a estabilidade de uma comunidade. De facto, não levantar falso testemunho é um dos mais sólidos pilares de qualquer sociedade. Analisando o que se passa ao nosso redor, em que predomina como rei e senhor, é fácil de concluir as consequências. Arrepiantes.
A liberdade é o nosso maior bem. É preciso conquistá-la todos os dias, combatendo as mentiras e os falsos testemunhos. Dá trabalho, muito trabalho e angústia. Mas é reconfortante podermos acreditar que o mundo poderá vir a ser melhor, tentando recuperar as seitas dos mentirosos e dos cultivadores dos falsos testemunhos, porque só assim conhecerão o verdadeiro prazer de viver em liberdade.
6 comentários:
Caro Senhor Professor
Como eu o entendo!
Caro Professor:
Belo momento!...
E bela figura literária essa do cultivo dos campos da mentira.
Os passeios pelos campos da campanha eleitoral trazem smpre ensinamentos e inspiração.
Bismarck, esqueceu-se de referir os pescadores, cujos peixes capturados, têm sempre o dobro do real tamanho.
Fez muito bem citar o poeta Fernando, caro Professor Massano Cardoso.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
Mas não é só o poeta que finge, quem o escuta, ou lê, inebria-se com a verdade da mentira e passa a adopta-la como genuínamente sua.
Ninguem inventa a mentira, ela existe, flana por aí como laboreosa abelha, tocando a flor fecundando-a com o polen transportado de outra flor.
Mas Deus ao criar o homem e ao dar-lhe a capacidade para mentir, as tábuas para se poder guiar, deu-lhe tambem a consciência para se poder julgar.
Os padres é que se aproveitaram e criaram a "figura" eclesiàstica da confissão.
Peço desculpa aos padres de boa-vontade, pela ignorância da afirmação.
Lembrei-me agora da estória velhinha do jovem que se dirige ao confessionário para se redimir e o padre pergunta-lhe qual é o seu pecado, ao que o jovem responde que teve um caso com uma paroquiana, mulher casada. Logo de seguida o padre indagou o nome da adúltera, ao que o moço respondendo com pudor, disse que não deveria mencionar. Então a curiosidade do padre levou-o a indagar: foi com a Gerivázia?
-Não padre!
-Então, com a Amerinda?
-Não padre!
-Com a Magnácia?
- Não padre!
- Com a Isolância?
- Também não Sr. padre!
Já desesperado com a sequência de negativas, depois de pensar mais um pouco, resume o padre: então só pode ter sido com a Marcolina!
- Também não padre!
- Então pronto, vai lá e reza 5 orações e não volters a pecar.
O rapaz sai do confessionário e tem 2 amigos ansiosamente à espera na porta da igreja. Assim que o vêm, perguntam em coro, então?
Responde o moço sorrindo alegremente: Pronto, estamos sáfos, já tenho aqui o nome de 5 mulheres casadas que dão umas "baldas" ao pessoal!!!
Parabéns Caro Professor Massano Cardoso por esta belíssima reflexão sobre a verdade da mentira.
Ao ler o rol de possíveis mentiras, lembrei-me das chamadas "mentiras piedosas" que não fazem mal a ninguém, muito pelo contrário, substituindo-se à verdade, podem evitar o sofrimento.
Um filósofo da antiguidade dizia "Não é bom dizer mentiras, mas quando a verdade puder trazer uma terrível ruína, então dizer o que não é bom também é perdoável". Uma verdade que se mantém!
Uma reflexão muito oportuna sobre este 8º mandamento. Tal como as outras "tábuas" também esta lei foi considerada essencial para a sã convivência social e a sua violação condenada por ser uma das formas graves de causar dano aos outros (uma das 10 seleccionadas). Não levantar falsos testemunhos aparece aqui como um irmão da mentira, mas ainda assim distinta, porque os falsos testemunhos servem para levar terceiros a fazer um julgamento errado e não é o próprio, directamente a causar dano com a sentença. É uma forma particularmente cobarde de agir, conta com a ingenuidade,a boa fé ou a divulgação dos outros e atira o veneno sem assumir por inteiro a responsabilidade. Já a mentira é mais directa, um mentiroso apanha-se com mais facilidade que um perjuro ou um intriguista, embora às vezes já não seja possível evitar o mal que causou. As outras espécies de mentira, as ditas caridosas ou sociais, não pretendem fazer mal e por isso, a meu ver, não se incluem nas que o mandamento proibe...
Caro Professor Massano Cardoso:
Não há dúvida que este mandamento tem peso!
Embora a regra seja falar, sempre, verdade - a menos que sejamos mentirosos excepcionais - , ninguém pode atirar a primeira pedra. Não há ninguém, por mais verdadeiro que se julgue, que não tivesse contado já uma ou outra mentirinha, mais que não seja no decorrer de uma conversa de circunstância. Claro que são mentirinhas, não prejudicam ninguém, são, muitas vezes, ditas para preencher um espaço vazio, ou dar por finda uma conversa.
O problema são aqueles mentirosos excepcionais, aqueles que acreditam nas próprias mentiras, aqueles que não têm memória, aqueles que de tanto insistirem acabam por convencer gente crédula. Felizmente, não são muitos; mas os poucos que há, estão a tornar-se cada vez mais refinados, mais profissionais, menos escrupulosos, em suma, perigosamente malevolentes!
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