Todos os anos, por esta altura, o telefonema da família inclui a pergunta do Outono: – “Já fizeste a marmelada?” seguida da descrição da cor, da textura e do ponto apurado que cada uma conseguiu com a sua habilidade. Este ano parti tarde para a competição mas com a vantagem de ter tido uma simpática oferta ali dos lados de Colares, uns frutos enormes, carnudos e limpos como há muito não tinha tido o gosto de ver, e hoje mesmo deitei mãos à obra.
Durante muitos anos era a minha mãe que abastecia a família toda, mas quando o número de clientes atingiu proporções catastróficas ela distribuiu os marmelos e deu a receita caseira, passando ao ataque com o tal telefone de controlo a que já me referi.
No primeiro ano que tentei cheguei logo à conclusão de que era mau negócio, mais valia comprar feita e acabou-se. É verdade que não sabia que era preciso ficar ali a mexer o tacho sem parar e fui ler um bocado enquanto a marmelada borbulhava na cozinha. Quando fui ver em que ponto estava, já havia doce a escorrer pelas paredes e pelo tecto, no tacho sobrava muito pouco. Passei umas boas horas a escovar e a raspar os azulejos mas o tecto, depois de limpo, teve que ser pintado, o que agravou bastante o balanço económico da iniciativa. Mas no ano seguinte lá veio outra vez o caixote da fruta, e no outro, e no outro...até que este ano já tinha arrumado a ideia e estava preparada para dar uma resposta vaga às perguntas da família. Mas o que tem que ser tem muita força e a tradição é tradição porque resiste a tudo, e veio o telefonema do Pinho Cardão: -“Está interessada nuns marmelos de Colares?” ...
E ali estão as tacinhas, já recheadas..., e ainda falta a parte de fazer a geleia!, deixar os caroços a cozer ainda mais umas horas e depois coar por um pano, com paciência de chinês, até o líquido estar límpido, depois o açúcar e mais umas horas de lume brando até estar no ponto. A geleia tornou-se uma mania, ou um ritual, é a primeira a desaparecer mas nunca a acham perfeita, uns gostam quase em rebuçado, outros mole para barrar o pão, outros ainda reclamam porque devia estar como o cristal, enfim, talvez seja falta de marketing, sei lá, mas também aqui é cada cabeça sua sentença apesar de ninguém se aproximar da cozinha quando se trata de executar...
Mas lá vou persistindo, seja porque agora a marmelada e a geleia se destinam à exportação, para conforto das jovens emigrantes da família que se espalharam pela Europa e passaram a dar o devido valor aos petiscos caseiros, seja porque mão amiga se encarrega de me fazer chegar matéria prima de primeira qualidade, alimentando os gulosos e a tradição!
Durante muitos anos era a minha mãe que abastecia a família toda, mas quando o número de clientes atingiu proporções catastróficas ela distribuiu os marmelos e deu a receita caseira, passando ao ataque com o tal telefone de controlo a que já me referi.
No primeiro ano que tentei cheguei logo à conclusão de que era mau negócio, mais valia comprar feita e acabou-se. É verdade que não sabia que era preciso ficar ali a mexer o tacho sem parar e fui ler um bocado enquanto a marmelada borbulhava na cozinha. Quando fui ver em que ponto estava, já havia doce a escorrer pelas paredes e pelo tecto, no tacho sobrava muito pouco. Passei umas boas horas a escovar e a raspar os azulejos mas o tecto, depois de limpo, teve que ser pintado, o que agravou bastante o balanço económico da iniciativa. Mas no ano seguinte lá veio outra vez o caixote da fruta, e no outro, e no outro...até que este ano já tinha arrumado a ideia e estava preparada para dar uma resposta vaga às perguntas da família. Mas o que tem que ser tem muita força e a tradição é tradição porque resiste a tudo, e veio o telefonema do Pinho Cardão: -“Está interessada nuns marmelos de Colares?” ...
E ali estão as tacinhas, já recheadas..., e ainda falta a parte de fazer a geleia!, deixar os caroços a cozer ainda mais umas horas e depois coar por um pano, com paciência de chinês, até o líquido estar límpido, depois o açúcar e mais umas horas de lume brando até estar no ponto. A geleia tornou-se uma mania, ou um ritual, é a primeira a desaparecer mas nunca a acham perfeita, uns gostam quase em rebuçado, outros mole para barrar o pão, outros ainda reclamam porque devia estar como o cristal, enfim, talvez seja falta de marketing, sei lá, mas também aqui é cada cabeça sua sentença apesar de ninguém se aproximar da cozinha quando se trata de executar...
Mas lá vou persistindo, seja porque agora a marmelada e a geleia se destinam à exportação, para conforto das jovens emigrantes da família que se espalharam pela Europa e passaram a dar o devido valor aos petiscos caseiros, seja porque mão amiga se encarrega de me fazer chegar matéria prima de primeira qualidade, alimentando os gulosos e a tradição!
16 comentários:
Suzana
Belíssima lembrança e fotografia também! A sua marmelada está com uma cor muito bonita e as taças são bem portuguesas.
Não fosse a geleia, também caseira, com que hoje fui presenteada por uma Amiga e ficava a crescer-me água na boca sem poder resolver o problema a esta hora!
A marmelada e a geleia já não são o que eram na minha infância. Fazer marmelada e geleia era um ritual familiar levado muito a preceito pelas minhas Avós e pela minha Mãe que forneciam várias casas e famílias. Um ritual que mais do que gastronómico era um acontecimento familiar que recordo num misto de satisfação e de saudade. Ainda assim, tenho a sorte de não ter que comprar marmelada e geleia industrial.
Constato com desgosto, a julgar pelas fotografias, que optou pela marmelada vermelha em detrimento da branca. A diferença principal na confecção, como sabe, é que a branca é feita tirando a pele aos marmelos. A vermelha tem os seus, aliás numerosos, apreciadores, tal como o Benfica. À semelhança deste clube, não é porém o supra-sumo da especialidade, que mora com a côr branca no caso da marmelada e com a côr azul no caso do futebol. Tiro-lhe ainda assim com respeito o meu chapéu: quem sabe faz e quem não sabe ensina. Daí que me tenha atrevido desta vez a ensinar.
Isto é o que se pode chamar pura maldade! V. Exa. chega aqui, põe as papilas gostativas de um homem aos saltos, descreve os detalhes até ao mais ínfimo pormenor, e acaba a dizer que esta iguaria, fruto de uma "joint venture" com o Drº Pinho Cardão, se destina a exportação!? Abençoados "emigrantes", são mesmo muito sortudos!...Bem geleia!!!
Muito sofre quem se preocupa com o peso e com todas as outras tretas...
;)
Suzana, este seu texto fez-me recuar ao tempo em que a minha mãe era a magnífica cozinheira a quem todos gabavam o talento e que, nestas épocas de frutas, não regateava esforços na confecção dos doces caseiros. O de pêra, o de ginja, o de maçã e, claro está, a marmelada e a geleia. Parece que sinto ainda o sabor de tão deliciosos manjares, quase todos acomodados em caixas de madeira forradas e cobertas com papel vegetal.
Tenho também presente a imagem da minha mãe junto do fogão mexendo o tacho onde a marmelada fervilhava e, pormenor importante, com uma peúga enfiada pelo braço para que os salpicos borbulhantes e quentes não a fossem magoar.
Obrigado me ter feito viajar no tempo e ter podido recordar esses momentos mágicos e de que sinto muita ternura e saudade.
Ah, e a sua marmelada tem um óptimo aspecto. Parabéns.
antes do mais tenho que esclarecer todos os comentadores que esta fotografia não é minha mas sim uma das inúmeras fotos de marmelada que circula na net, mas posso ilustrar logo que encontre a minha máquina! (esta mania das máquinas minúsculas é no que dá!
Mas já vejo que estouperante especialistas, o caro JMG tem toda a razão quanto à cor, eu não tiro a casca e é uma das coisas que me deixa longe do 1º lugar na competição familiar, mas francamente acho que não compensa e, se não deixar o puré ao ar e o deitar logo no açúcar quase que não se nota.
Margarida, não seja por isso, tem sempre aqui abastecimento garantido, e o caro jotac, não fosse estar em dieta, também poderia candidatar-se, as emigrantes não darão por isso!
Caro demascarenhas, só o de ginga é que não faço porque não há ginjas à venda, o resto faço sempre e o de pera é o meu preferido. Quanto à meia no braço é uma excelente ideia, eu uso uma camisola velha mas é um calorão, essa ideia já fica para quando fizer o puré de marmelo que ficou congelado a aguardar a vez.É que o Pinho Cardão foi generoso e eu sou só uma a cozinhar!
E é um gosto ver como a marmelada versão doméstica ainda tem tantos adeptos (posso dar a receita aos mais saudosistas... :)
... e caro JMG essa comparação com o Benfica vai passar em claro porque gastei as energias ao fogão!
CHLEPPPPP....
Subitamente voltei à infância. Os ilustres comentadores já disseram tudo, pouco mais posso acrescentar tirando elogiar a fantástica cozinheira.
Já agora uma pergunta, cara Suzana. Come a marmelada este ano ou deixa-a para o ano que vem? Faço esta pergunta porque em casa da minha bivó e passou para a minha avó foi toda a vida costume fazer-se a marmelada, colocar em tabuleiros rectangulares, cobrir muito bem com um pano, arrumar e deixar para o ano seguinte. A vantagem é que fica seca mas não em demasia, para cortar à faca, e o sabor algo diferente de ser comida no mesmo ano. Talvez por ter-me habituado de pequeno, prefiro estas consistencia e sabor.
Mas continue com o excelente trabalho que, senão outra coisa, faz-nos (ou faz a mim, enfim) recordar prazeres de tempos já idos!
Caro Zuricher, não há dúvida de que fica muito melhor passado alguns meses porque vai secando e ganhando mais consistência, ainda estou a esgotar o stock do ano passado e aquela crostazinha de açúcar é uma maravilha. O pior é que hoje as casas não têm o espaço de armazenamento que tinham as das nossas avós e se fica no escuro não seca e cria bolor, mesmo com o papel vegetal, então o melhor é mesmo ir fazendo a pouco e pouco, à medida que se come.
Eu não tenho a menor dúvida que a sua marmelada é muito boa Cara Dra. Susana. Haja quem duvide...
Mas a minha marmelada também é boa. Se me permite a imodéstia.
ofereço-lhe esta música, para quando estiver a fazer marmelada. A tranquilidade é um ingrediente fundamental....
http://www.youtube.com/watch?v=nchEXBimNlg
temos tantas coisas em comum. A idade, ... e até a marmelada...
Honit soit qui mal y pense...:-)
Apeteceu-me brincar um bocadinho consigo, porque rir faz falta...
abraço
Se me permitem aconselho esta...
http://www.youtube.com/watch?v=30egIKHT-pM&feature=PlayList&p=990AB04BFE3722A6&playnext=1&playnext_from=PL&index=5
e esta...
http://www.youtube.com/watch?v=T86tKSEdLpQ&feature=PlayList&p=990AB04BFE3722A6&index=6&playnext=2&playnext_from=PL
e esta ainda...
http://www.youtube.com/watch?v=r24_T-HOcyg&feature=PlayList&p=990AB04BFE3722A6&index=10
:)
Ohhhhh .. Caro jotaC, estou a ver que tem muito bom gosto quanto a doce de "marmelos" ....
:-))))
Então, para não destoar do seu conselho:
http://www.youtube.com/watch?v=7pA5UhNaYw0
os meus cumprimentos.
É verdade, pézinhos, gosto de tudo o que é doce mas controlo-me muito bem, preocupo-me com os "excessos"...só que, quando toca a doce de marmelo, perco-me completamente!
Obrigado pelo sua simpatia e pela retribuição.
:)
Cara Pezinhos, assim não me admira que me leva a palma na qualidade da marmelada, com aquele pianista a embalar em música de fundo até apetece ficar ali ao fogão horas esquecidas! Pois é, ainda bem que temos essas coisas em comum e ainda as que temos conferido ao longo da sua simpática participação no 4r, "les bons esprits se rencontrent"!
Caro Jotac, tanta dieta, tanta dieta, mas afinal não resiste a uma iguaria, assim qualquer um faz dieta! Mas ainda não ouvi as suas sugestões, se a Pezinhos vai apurar as compotas ao som da música, eu não vou fazer por menos. Desconfio que o caro jotac está a sugerir ser júri nesta concorrência, lá teremos que lhe fazer chegar uma tigelinha :)
Pronto, aqui fica a fotografia da estrela desta conversa, substituindo a que tinha pedido "emprestada" ao ciberespaço!
Ai meu Deus...vê-se mesmo que é caseira! Não dá para resistir!
:)))
Tenho usado a panela de pressão para fazer a marmelada e não me dou nada mal,poupando muito tempo e canseira.
Quando tiver algum tempo,aqui vos deixarei uma receita de pombos-bravos como os fazia a minha Avó Maria Inês, chegou o tempo da caça.
se calhar um frango àl chilindrón também não irá mal...
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