A judicialização da política é uma tendência crescente que gera as maiores confusões e lança necessariamente o descrédito sobre a justiça e sobre a política. Sobre a justiça porque falha necessariamente no esclarecimento ou resolução de questões de natureza política quando se limita, como deve, a usar as armas que lhe competem. Sobre a política porque se fica com a sensação que as responsabilidades políticas são escamoteadas a coberto da inacção da justiça, como se esta fosse cúmplice daquela.
A tendência resulta, a meu ver, de uma tentativa frouxa de compensar a debilidade e a falta de coragem e transparência na política remetendo para as instituições judiciárias a responsabilidade de actuarem como guardiãs da moralidade e da lisura de comportamentos, como se fosse essa a sua competência e a sua razão determinante. Não é, e isso, que deveria ser de cristalina evidência, deixou de o ser porque as leis são muitas vezes determinadas por casos políticos, dirigidas a circunstâncias nebulosas que depois geram trapalhadas interpretativas e, finalmente, porque boa parte dos actos legislativos é atravessada por explicações pouco mais que panfletárias. É assim como se se quisesse fazer crer que tudo o que não é crime é admitido na política, e não é.
A justiça não trata da moral, nem da ética, nem da responsabilidade política, nem tem que fazer cálculos políticos, é profundamente errado que quando há uma crise política ela seja de imediato remetida para o foro judicial e tudo se transforme numa batalha de leis para cá, leis para lá, e todos se comportam como arguidos inocentes ou inocentes que podiam muito bem ser arguidos. No meio disto tudo, desaparece a política e sobem ao palco os juízes, atarantados com os seus códigos e linguagem própria, a explicarem o que ninguém entende e a deixar tudo ainda mais nebuloso, como era inevitável.
A incompreensão desta imbróglio é tão grande que assistimos hoje a jornalistas a perguntar ao Presidente do Supremo Tribunal de Justiça como é que ele decidiria caso fosse o seu colega, ou então o que é que ele pensava “como cidadão” de um processo de que obviamente só podia ter conhecimento como juiz.
O resultado para a Justiça é, por um lado, muito mau, porque parece, injustamente a meu ver, que está a encobrir atrás de formalidades aquilo que parece poder deslindar. Por outro, é bom que não se deixe tentar pela politização da justiça onde a querem emparedar.
À política o que é da política, à justiça o que é da Justiça, para bem de ambas e de todos nós, por muito difícil que pareça.
A tendência resulta, a meu ver, de uma tentativa frouxa de compensar a debilidade e a falta de coragem e transparência na política remetendo para as instituições judiciárias a responsabilidade de actuarem como guardiãs da moralidade e da lisura de comportamentos, como se fosse essa a sua competência e a sua razão determinante. Não é, e isso, que deveria ser de cristalina evidência, deixou de o ser porque as leis são muitas vezes determinadas por casos políticos, dirigidas a circunstâncias nebulosas que depois geram trapalhadas interpretativas e, finalmente, porque boa parte dos actos legislativos é atravessada por explicações pouco mais que panfletárias. É assim como se se quisesse fazer crer que tudo o que não é crime é admitido na política, e não é.
A justiça não trata da moral, nem da ética, nem da responsabilidade política, nem tem que fazer cálculos políticos, é profundamente errado que quando há uma crise política ela seja de imediato remetida para o foro judicial e tudo se transforme numa batalha de leis para cá, leis para lá, e todos se comportam como arguidos inocentes ou inocentes que podiam muito bem ser arguidos. No meio disto tudo, desaparece a política e sobem ao palco os juízes, atarantados com os seus códigos e linguagem própria, a explicarem o que ninguém entende e a deixar tudo ainda mais nebuloso, como era inevitável.
A incompreensão desta imbróglio é tão grande que assistimos hoje a jornalistas a perguntar ao Presidente do Supremo Tribunal de Justiça como é que ele decidiria caso fosse o seu colega, ou então o que é que ele pensava “como cidadão” de um processo de que obviamente só podia ter conhecimento como juiz.
O resultado para a Justiça é, por um lado, muito mau, porque parece, injustamente a meu ver, que está a encobrir atrás de formalidades aquilo que parece poder deslindar. Por outro, é bom que não se deixe tentar pela politização da justiça onde a querem emparedar.
À política o que é da política, à justiça o que é da Justiça, para bem de ambas e de todos nós, por muito difícil que pareça.
14 comentários:
A promiscuidade entre estes dois polos (política e justiça) está a ser "tentada" pela comunicação social. Qualquer representante de ambas, deveria a meu ver, em circunstância alguma, deixar-se tentar por qualquer comportamento ou atitude minimamente desviantes.
Mas não é a isso que assistimos, cara Drª. Suzana e, talvez porque os políticos não respeitam as "fronteiras" e os magistrados, as ultrapassam, (quando a ambos se apresenta favorável)é que, perante a estupefacção do "público" em variadíssimas situações, a comunicação social acintosamente vai trazendo a lume.
Lá diz o ditado, "casa onde não ha pão, todos rálham, mas ninguem tem razão"
Caro Bartolomeu,
Ontem li o director do Sol acusar com todas as letras o presidente do STJ e o PGR de terem arquivado propositadamente a coisa. Não está a ser tentado, está a ser acusado.
Cara Suzana,
Nesta fase do campeonato é lícito perguntar porque é que se parte do pressuposto que a acção da justiça não foi executiva. Andou-se duas décadas a esconder o regabofe das ligações dos partidos com os interesses económicos. Andou-se duas décadas a meter para debaixo do tapete os esquemas óbvios de corrupção. Para mim, nesta fase do campeonato, pensar que a alta magistratura não está metida nisso...
Cara Suzana
Aqui está um texto que, para o cidadão comum, onde eu me incluo, é quase como que a leitura e interpretação dos seus próprios sentimentos em relação às classes: Política, Justiça e também agora à Comunicação Social, (apesar de ainda esperarmos que a comunicação social e os jornalistas com alto sentido de cidadania, cumpram o seu papel), pois todas estas crises só fazem com que todos estes sectores fiquem descredibilizados, pela opinião pública, e como muito bem diz o caro Bartolomeu, "casa onde não há pão, todos ralham, mas ninguém tem razão", acentuando-se assim ainda mais o fosso entre o Povo e os Poderes...
Sim, caro Tonibler. E à noite ouvimos no canal 1, a jornalista Judite de Sousa interrogar o presidente do Supremo, com todas as letras, por ter mandado destruir as gravações e de as mesmas continuarem no processo e... qual foi a resposta do presidente do supremo?
Afinal, a justiça pratica-se nos tribunais, ou nos jornais e nos canais de televisão?
Boa pergunta, caro Bartolomeu. Tem resposta? Não ouvi o presidente do STJ. Parece-me que esse já se tornou parte interessada no processo e nesta altura será mais réu que outra coisa.
;)))))
Você possui uma alma sem tamanho, caro Tonibler, réu... boa!!!
Também acho que a política e a justiça têm lugares próprios, mas o que paira no ar é isso mesmo, um imbróglio completo em que o entrevistado perde, por momentos, a serenidade que o cargo impõe e gesticula, levanta o sobrolho e com gestos de mãos parece querer justificar o direito que lhe deu o direito de ajuizar…
De tudo isto, de tudo o que se tem passado nos últimos anos, o que sobra é um país surrealista em perfeito estado de levitação…
Subscrevo tudo quanto escreve, Suzana. A confusão é total, e perturba como é que é possivel não se distinguir o que é de distinção básica. Que regressão sofremos para aqui chegar!
Creio que estes episódios dos últimos dias vão ser marcantes no futuro. E receio que o não sejam no melhor dos sentidos.
De tanto se apelar aos juizes para que julguem politicamente, um destes dias veremos que os senhores magistrados se sentem autorizados não a ditar a lei, mas a aplicá-la segundo julgamentos de mérito segundo as suas próprias convicções ideológicas, as suas inclinações partidárias, os seus ódios ou simpatias em relação aos protagonistas políticos.
Aliás, a quem não se distrai a ouvir o senhor presidente da Associação Sindical dos Magistrados Judiciais e sobretudo alguns juizes desembargadores assíduos comentadores de assuntos político-jurídicos, não passa despercebida a tendência para o julgamento político de alguns juizes.
O mesmo se passará em breve, Suzana, com a comunicação social. Estamos a consentir duas coisas a meus olhos muito preocupantes. Que o palco da censura política seja a comunicação social, idolatrando a liberdade de imprensa (que de comum se confunde com liberdade de expressão) e considerando que o "interesse público" assim julgado pelos jornais, rádios e TV, se sobreponha a todos os direitos, a todos os interesses legítimos, individuais ou de grupo. Mesmo que aquilo que é noticiado sob o rótulo de "interesse público" não seja verdade confirmada, ou, o que é pior, seja divulgado atropelando a lei.
Mas mais, Suzana. Para além da secundarização dos partidos no debate das questões politicas e dos órgãos onde o debate se deveria fazer, estamos todos a pactuar com um anátema agravado, lançado sobre a classe política e perpretado por alguns profissionais da comunicação ajudados por declarações oportunistas de alguns políticos em ascenção.
Quanto a estes últimos não estou preocupado, porque é a velha história dos que cuspem para o ar. A prazo sabe-se qual será o incontornável resultado...
Já quanto à deslocação da política para os tribunais e para a comunicação social, é caso para ter medo, muito medo. É que um político, apesar das fragilidades da nossa democracia, pode ser responsabilizado e deixa de fazer política nem que seja por expressão do voto. Um juiz que faz política julgando, é tão inamovível como se fosse fiel ao seu esatuto e aos limites do seu poder. E um jornalista, como se vê, não deixa de ser jornalista mesmo que minta ou seja agente de ataques aos mais elementares princípios de sã convivência social.
Caro Dr. José Mário, na generalidade, as conclusões que apresenta, encontram aquilo que naturalmente podemos considerar o desejávelmente coerente(juro que tantos "mente" não foram propositados).
Contudo, notamos que forças antagónicas se chocam a todo o momento. Como se não fosse possível entender, pela conclusão de diversos processos julgados, que a magistratura "perdoa" os arguidos que usufruem de estatuto e condena os que não passam de pé-rapado. Esta constatação começa a ser recorrente no nosso país. Daí a falta de esperança do cidadão comum, na justiça e a consequente fertilidade de terreno para a falta de escrúpolo e desejo de evitar a manipulação por parte da comunicação social.
"A confusão é total, e perturba como é que é possivel não se distinguir o que é de distinção básica. Que regressão sofremos para aqui chegar!"
Caro JMFA,
O que perturba é como é possível termos demorado tanto tempo para aqui chegar, porque seria mais ou menos óbvio que um dia cá chegaríamos. Agora vamos ver se chegámos de vez ou se ainda vamos acumular para termos uma avalanche ainda maior daqui a uns tempos.
Mas então, caro Tonibler... não somos um povo de brandos costumes?
Não fomos educados a apanhar e a agradecer àqueles que nos arreiam?
Vendo bem as coisas ainda estamos com muita sorte. Imagine o caro Tonibler se em lugar de se tentarem pontapear, eles se juntam e se viram para nós?!
Lá teríamos de voltar às serranias e fazer como os bravos Lusitanos quando os romanos os quiseram subjugar... a espiga toda, é que nos tempos actuais sería difícil recrutar um Viriato.
Meu caro Bartolomeu,
Pode ser avaria minha, mas continuo a recusar-me a analisar os fenómenos pelo lado das patologias.
Há injustiças na justiça? Há! Eu que o diga que faço os possíveis por fazer da reparação dos efeitos dos julgamentos injustos uma parte da minha vida profissional que já vai ficando longa.
O sistema de justiça não responde? Ninguém aqui mais do que eu o tem lamentado. E tenho feito desse lamento tema de conversa aqui no 4R como noutros locais onde me posso expressar publicamente, procurando ao meu nível, muito modesto, contribuir com algumas propostas de mehoria.
Mas tentar que sistema de justiça resolva o que é obrigação de quem é legitimado democraticamente para julgar politicamente, é outra bem diferente.
Não gostaria de viver em ditadura. Mas sobretudo não gostaria de viver numa democracia formal em que se confundissem os papeis, sobretudo os papeis de polícias, procuradores, juizes e políticos.
Também odiaria viver sob o jugo de uma jornalistica definição de interesse público, feita por gente que não tem o direito que se arroga de sacrificar direitos individuais a essa definição.
Os que hoje aplaudem as devassas e amanhã estiverem no papel que hoje desempenham os devassados, sentirão na carne o mesmo sofrimento. Aposto. Sem autoridade motal para condenar quem então os agrida.
Não é, de resto, essa a história de Sócrates como num apontamento noutro post Suzana Toscano recordou ao lembrar a violenta indignação de um Sócrates, lider da oposição, contra a alegada tentativa de controlo da comunicação social pelo governo de Santana Lopes?
Caro Tonibler,
Vejo-me, infelizmente, inclinado a concordar consigo. Vão ser avalanches sucessivas, até porque a autoridade que agora os bons espíritos reconhecem às magistraturas para afirmarem a verdade á custa da ilegalidade, para limparem as nódas com sebo; ou a legitimidade que reconhecem aoo juizes para responsabilizarem politicamente, não vai olhar a quem no futuro.
Aponta nessa direcção a sede de protagonismo de alguns senhores magistrados; e, no caso dos órgãos de comunicação social a necessidade de viabilizar o negócio das empresas proprietárias de TV, rádios e jornais e a de defender os postos de trabalho.
Meu muito estimado Dr. José Mário, com todo o respeito e consideração que tenho pela sua pessoa, e por aquilo que tenho percebido ao longo do tempo que tenho tido a honra de trocar opiniões com a sua pessoa e a de todos os que partilham o "Quarta", ser a sua postura, ética e profissional, e os princípios que defende. Não ignorando a distância que existe entre a minha ignorância e as suas competências e ainda o quanto tenho aqui aprendido com todos, permito-me neste assunto, apesar de vastíssimo e recheado de pormenores "ocultos" ou desconhecidos, que não me permitem formar uma completa opinião, mas somente resumir o que expresso, ao difuso e complicado que consigo perceber daquilo que a comunicação social lança para a opinião pública. Em abono da verdade, aquilo que me é possível retirar das declarações de magistrados e políticos, resume-se à frase sacramental "À política o que é da política, à justiça o que é da Justiça”.
Deve convir, caríssimo Doutor, que esta posição é irrisória e nada esclarecedora, porque continua a deixar espaço para que a comunicação social, “procuradora” da opinião pública, especule. E saberá o caríssimo, muito melhor que eu, a facilidade com que uma especulação pode saltar da teorização para a deturpação, sem sequer ser picada pelo vírus da manipulação.
Pois, meu caro Bartolomeu, preocupa-me muito que a percepção pública seja essa e que quem tem mais responsabilidades na reposição de valores, cavalgue oportunisticamente esta onda por razões de mera conveniência e circunstância...
E sinto-me sempre lisonjeado com a simpatia dos seus elogios, que sei pecarem por exagero.
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