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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Apple: Consumação da tentação

Há meses que ando a empreender a compra de um iPhone para substituir o meu já velhinho Nokia, cujos provectos 18 meses de idade remetem-no para uma obsolescência profunda e irreversível - pelo menos disso me tento convencer. Até à data, tenho conseguido rechaçar as investidas mais pungentes dos meus instintos consumistas, apelando a uma contenção que sei ser indispensável nestes tempos de crise. Mas não tem sido fácil, facto que, por si só, causa estranheza. É que, no meu caso pessoal, todas as características do iPhone são redundantes ou supérfluas, o que torna a aquisição de tão dispendioso equipamento uma decisão pouco racional; senão vejamos:

(i) o aparelho é grande - bastante maior que o Nokia que contemplo reformar;
(ii) o acesso em tempo real ao email é um atributo só verdadeiramente apreciado por selenitas, pois todas as outras criaturas dispõem de um PC em casa e outro no emprego;
(iii) o facto de ter incorporado um iPod – a mais sedutora das suas funcionalidades – permite-me ouvir música nos tempos livre, os quais, contudo, já são parcos e mais irão minguar com a escala da cegonha que temos agendada para Setembro.

Desta “análise” decorre que a ambição de possuir um iPhone não passa de uma diletância absurda - para mim, e desconfio que também para a generalidade das gentes. Tal conclusão, todavia, é violentamente negada pela realidade. Qualquer produto que a Apple lance no mercado torna-se num êxito instantâneo de vendas, independentemente de amiúde já existirem produtos semelhantes no mercado e da sua qualidade técnica, pelo que vou lendo na imprensa, não raramente comparar desfavoravelmente com a concorrência.

Mas então que raio é que a Apple vende? Será estatuto? Moda? Sentimento de pertença? Elegância do grafismo? Não sei o que vende, mas sei que quero comprar...tal como tantos outros milhões de pessoas. É esta iconoclastia da Apple, provocadoramente vertida num logotipo que retrata o fruto proibido já trincado (a consumação da tentação!), que justifica o sucesso comercial de qualquer coisa que o Sr. Jobs decida vender, bem como o facto desta companhia americana exalar lucros numa escala e com uma consistência quase únicas no panorama empresarial.

É muita fruta!

12 comentários:

Anónimo disse...

Eu suponho que com um Nokia 6310i (um aparelho com uns 10 anos) onde tenho um cartão e um Nokia 2720 (este realmente novo, mas básico, porque o anterior caiu no recipiente da água da minha cadela e achou por bem morrer...) onde tenho outro cartão seja considerado, por um lado, do cretácico, como mínimo, e por outro, um pobretanas que roça a indigência. Ahhh, e de recurso tenho um Nokia 6150 com seguramente mais de 10 anos.

Os telemoveis servem para fazer chamadas e mensagens instantâneas ou o objectivo é serem computadores de bolso que por mera casualidade também podem ser usados como telefone?

Pinho Cardão disse...

Grande e justificada perplexidade a sua, caro Brandão de Brito, essa de estar perante o facto de querer comprar exactamente aquilo que o vendedor oferece, mas o meu amigo não sabe o que é.
Mas isso acaba por ser o dia a dia. Compra-se o que os outros nos vendem e nunca pensaríamos ter.
Quanto à boa nova do rebento, os meus parabéns!...Vai ver que lhe irá comprar o que nunca sonhou!...
Mas talvez evite o iPhone: por sorte ou habilidade, pode ser que nasça já com o aparelho incorporado!...

Bartolomeu disse...

Se calhar, vou escrever uma enormidade, os meus amigos o dirão!
Mas, se o software que equipa esse iPhone, vier da loja do Sôre Bill Gates, é de comprar. É uma forma de contribuir para o gesto absolutamente altruísta e humanitário, que o Senhor anunciou irá efectuar, oferecendo metade da sua fortuna, em benefício dos mais necessitados. E ainda, está a tentar convencer os restantes ricos do mundo a seguirem-lhe o gesto.
É nobre!

José Maria Brandão de Brito disse...

Caro Dr. Pinho Cardão,
Muito obtigado pelos seus votos. Irei concerteza comprar-lhe muita coisa, mas algumas "herdará" dos irmãos...que esta é a quarta criança.

Caros Zuricher e Bartolomeu,
Eu de tecnologia não percebo nada; este post tem que ser enquadrado na época em que estamos: a silly season. Concordo com a nobreza que atribui à atitute filantrópica do sôre Gates; mas não devemos esquecer que na América isso faz parte da cultura/tradição - atesta bem da importância da cultura de um povo.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro José Maria Brandão de Brito
Há já algum tempo que decidi não ir atrás das inovações tecnológicas dos iPhone e companhias, pela simples razão de que não consigo tirar partido das novas funcionalidades incorporadas. Tenho um Nokia mais ou menos decente para telefonemas e mensagens e de vez em quando uma ou outra fotografia para mais tarde recordar. E tenho outro Nokia com mais de dez anos, o meu preferido, que funciona como back up.
Claro que as marcas para continuarem a bater êxitos de venda precisam da criatividade como de "pão para a boca". É verdade que algumas inovações são autênticas revoluções a que ninguém resiste. Mas tudo o resto é, a bem dizer, perfeitamente dispensável. Mas o marketing vende e de que maneira!
Parabéns! A chegada da cegonha em Setembro é uma boa razão para não pensar mais em iPhones e fazer umas compras muito amorosas...

RioD'oiro disse...

JMBB:

"provectos 18 meses"

O meu Nokia tem uns 12 anos ... and counting.

Pinho Cardão disse...

Caro Brandão de Brito:
Então parabéns em quadruplicado.
Contribuintes assim tão líquidos para a propagação da espécie, aqui em Portugal, começam a ser uma raridade!...

Anónimo disse...

Dispensável será
Mas o IPhon é mesmo bom

Anónimo disse...

Meu caro Brandão de Brito,
Quatro rebentos é hoje um sinal exterior de riqueza! Acautele-se, ou em coerência com a atitude fiscal deste governo ainda verá agravada a conta, não só do leite, das fraldas, do telemóvel, mas a que lhe apresenta as finanças ;)

Quanto ao iphone - como em relação à generalidade dos produtos Apple - recomendo que peça a alguém que o possua e não se importe de o emprestar (não será fácil encontrar) e experimente. Vai ver que se transforma como eu num convertido. É que a fama do produto não tem só a haver do brilho da marca ou da publicidade. É a qualidade que (também) vende.

Associo-me com muito gosto aos parabéns e aos votos de felicidades. É dos grandes momentos na vida.

Suzana Toscano disse...

Caro José Maria, muitos parabéns e que a cegonha chegue em boa hora com muita felicidade para a família. Acho que não deve resistir a esse impulso de comprar o iPhone, ao que me dizem,(porque não me tentam esses gadgets até porque nunca aprendo a trabalhar com eles) a Apple tem essa capacidade invulgar de seduzir,coisa que vai sendo uma raridade. Em geral compra-se e depois deita-se fora sem qualquer emoção, quando uma maquinazinha dessa é capaz de lhe ditar um post deste e andar a bailar-lhe na cabeça contra tudo o que é racional, acho que não deve mesmo resistir! Cá ficamos à espera de o ouvir contar novidades do novo brinquedo, enquanto o novo bebé não lhe tira o tempo para testar o iPhone!

just-in-time disse...

Em 1°lugar convém não esquecer que um gadget que ao fim de um mês não tem sucesso, está morto e que o iphone4 tem um pecado original com a antena!
Em 2°lugar vale a pena lembrar Bernard Stiegler que, apesar de um pouco heterodoxo,lembra que o capitalismo conseguiu, através dos media, captar a atenção do homem e transformá-lo num ente subordinado aos diktats do marketing.
Em qualquer caso, o pecado não será mortal.

José Maria Brandão de Brito disse...

Muito obrigado a todos pelos simpáticos votos.