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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A causa e o efeito

Extraordinária a forma como a cultura instalada, que vê no Estado e na despesa pública o motor da economia, subverte a realidade, transformando causas em efeitos e efeitos em causas. Tanto se repete e repete a ideia, que ela se tornou aceite e indiscutível, sejam quais forem as circunstâncias. Claro que tal concepção, por razões marcadamente ideológicas, serve sobretudo os governos socialistas, mas qualquer governo tem a tendência de se utilizar dela para fins propagandísticos, em detrimento de serviço à economia e, assim, à comunidade.
A generalidade dos media, por opção ideológica, ignorância ou tendência para seguir o poder, veicula diariamente tal doutrina, de forma explícita ou subliminar, quaisquer que sejam os seus limites ou a carga fiscal que impõe aos cidadãos.
Há dias, dei o exemplo de um artigo do Público, referindo que a zona euro cresceu ao nível mais rápido desde 2006, mas Portugal desacelerou. Devido à contenção orçamental que, aliás, vai ensombrar a evolução do resto do ano...
Notícia similar é dada na última edição do Expresso, Caderno de Economia, pág. 3, ao fundo. Aí se lê que “Portugal vai abrandar no 2º Semestre”. Devido às medidas de austeridade. “Mas os maiores efeitos estão guardados para 2011”.
Claro que a justificação é falsa, um sofisma completo. Em Portugal, não houve qualquer medida de austeridade ou mesmo de contenção da despesa pública. Ela aumentou mesmo, segundo os últimos dados oficiais da execução orçamental.
Assim sendo, como pode ser essa a explicação? Mas subliminarmente passa-se a mensagem falsa. E as pessoas vêem aí a explicação do fraco ou nulo crescimento.
Portugal não cresce muito devido à pesada carga fiscal, que impede a poupança e o investimento; e não cresce também porque a enorme despesa pública drena recursos da banca para o financiamento do Estado, em detrimento do apoio às empresas.
A causa é o enorme volume de despesa pública. O efeito é o fraco crescimento. E aumentar a despesa, como é subliminarmente preconizado, só amplia o efeito negativo no crescimento da actividade económica. Lamentável é que dois jornais de referência, a par das televisões e da rádio, deturpem tão grotescamente a realidade. Competem assim com o Governo no empobrecimento do país.

4 comentários:

Tonibler disse...

Não acho que a carga fiscal seja um problema em si mesmo na justificação da nosso paupérrimo desempenho económico embora, obviamente, seja um problema. O maior problema vem da alocação das pessoas da atribuição do tempo das pessoas a actividades não têm valor. E essa alocação é provocada pelo gasto do estado, que é alvancado pela dívida.

Acho que o estado poderia parar de cobrar impostos que, se mantivesse o nível dos gastos, o nosso desempenho económico não mudaria radicalmente.

Mas se mantivesse o nível de cobrança de impostos e não os gastasse, teríamos um desempenho muito melhorado.

Economia (com letra pequena) é trabalho, não é dinheiro. Se as pessoas andam a fazer trabalho que não interessa, como é que podemos esperar crescer deitando dinheiro sobre a sociedade?


Mas isto sou eu a falar que não sou economista e dificilmente me farão (faria) ministro...

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

Depois de uns dias a contrariar a hipócrita mensagem das férias cá dentro, numas férias que mais pareceram uma tentativa de expatriamento, tal a procura de uma tábua de salvação externa que me exima da mediocridade e desesperança interna, olho para o dinamismo, disciplina e desenvolvimento encontrado na Alemanha e Dubai e penso como o nosso fado é sermos os novos miseráveis do mundo.
Claro que para S isto é um discurso negativista, mas realista, dado os quilómetros luz que nos separam cada vez mais de economias sãs e com dinamismo. Economias onde grassa a disciplina, a hierarquia, o empenho no trabalho, o dinamismo privado. Um país que se diz de turismo e até aniquilou a única feira popular da capital, um país onde as televisões vivem de telenovelas e futebol, é um país alienado de si próprio, muito elegante nos doutores e empregos de coisa nenhuma. O novo discurso de S sobre a bondade e a facilitação do empreendedorismo, esbate no entanto no que é indubitavelmente o nosso calcanhar de Aquiles: a ignorância instalada sobre as falsas virtudes do gasto público! Quem nesta 3ª República, ouve a 4 República, a República do Realismo?

Manuel Brás disse...

Confundir para reinar...

Nesses sofismas entranhados
na comunicação social
brilham zeros mal desenhados
e de nulo valor facial.

A verdade deturpada
é, de todo, censurável,
com a nação empapada
de informe miserável.

Pedro disse...
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