Por vezes somos levados a escrever “um discurso novo em cima de um assunto velho”. Esta última expressão é de autoria do John Harington que, entre outros atributos, literários e afilhado da rainha Isabel I, teve o condão de inventar a sanita com autoclismo. O panfleto, Metamorfose de Ajax, escrito em finais do século XVI, descreve esta descoberta. Tal facto não significa que a paternidade do "trono" não tenha seja sido, também, atribuída a outras pessoas, e até em épocas anteriores.
O meu propósito não é dissertar sobre a história de tão confortável equipamento, mas sim realçar alguns aspetos menos saudáveis decorrentes do seu uso.
Quando se quer por em evidência uma patologia, não há nada melhor do que usar um caso concreto, de preferência uma figura pública. Aparecem logo nas televisões, jornais e revistas, especialistas a explicar ao povo a situação e quais as terapêuticas mais adequadas.
Em 1978, o então presidente norte-americano, Jimmy Carter, teve de interromper as suas atividades devido a uma brutal crise de hemorroidas. Se fosse um cidadão normal ninguém se interessaria, mas como era presidente, um médico, interpelado sobre a situação, por um jornal de renome, explicou que o ser humano “não foi feito para se sentar numa sanita” mas sim “para se por de cócoras no campo”.
Esta coisa de evitar a “posição de cócoras” tem os seus inconvenientes, nomeadamente o aparecimento de hemorroidas. Vários estudos clínicos apontam para diferentes explicações. O ângulo anorretal, por exemplo, aumenta na “posição de cócoras”, o que favorece a dejeção, a pressão intra-abdominal diminui substancialmente, o tempo de expulsão das fezes é muito mais curto, 50 segundos contra 130 na posição de sentado, o “herói” aguenta apenas um a dois minutos de cócoras, contra os dez minutos de sentado na sanita, isto se não for mais, porque muitos têm o hábito de ler o jornal, ou revistas, o que agrava o tempo de permanência ao transformarem a sanita numa espécie de sofá. O hábito de ler as notícias sentado é perigoso (que eu saiba, ninguém consegue ler de cócoras!). Mesmo que as novidades do dia sejam de ordem a convidar à dejeção, ao exigirem mais esforço podem agravar a situação. E, ultimamente são umas atrás de outras! Mas há mais. Nos últimos anos, a altura das sanitas têm aumentado o que agrava a situação.
Podemos afirmar que os seres humanos estão a violar uma regra de milhões de anos, trocando a “posição de cócoras” pela de sentado. Este conforto não é saudável. Para o efeito, basta analisar a prevalência das hemorroidas que chega a ultrapassar os cinquenta por cento. É óbvio que existem outras causas, tais como: predisposição hereditária, gravidez ou obesidade.
O ideal seria voltarmos à posição original: “pôr-nos de cócoras”, uma expressão que hoje tem um sentido pejorativo. Quando alguém se humilha propositadamente face a outrem dizemos que se pôs de cócoras, um forma de dizer que é cobarde. Talvez a expressão resulte da “fragilidade” de qualquer ser humano apanhado naquela posição. Estou convicto de que o próprio Hércules ou Aquiles sentir-se-iam mais do que vulneráveis se fossem apanhados atrás de uma moita ao respeitar a vontade da natureza.
Existem já aparelhos que satisfazem todos os requisitos, sentado, de cócoras, à turca e que estão a fazer sucesso nalguns países. É uma boa forma de adaptação, porque um a dois minutos naquela posição é um esforço terrível. São precisos joelhos fortes e bons músculos, mas como muita gente está a ficar cada vez mais obesa, além de sofrer problemas músculos esqueléticos, ainda podem correr o risco de ficar “bloqueados”, o que não seria nada agradável. Sendo assim, concluo que “pôr-se de cócoras” é normal, e desejável, desde que seja para respeitar a natureza; o que não é normal, e mesmo pouco saudável, é alguém “pôr-se de cócoras” para obedecer e humilhar-se a outrem.
Anda muita gente a “pôr-se de cócoras”? Ai não que não anda, mas por razões diversas das que estão na base de um fenómeno fisiológico com milhões de anos de evolução.
Quando se quer por em evidência uma patologia, não há nada melhor do que usar um caso concreto, de preferência uma figura pública. Aparecem logo nas televisões, jornais e revistas, especialistas a explicar ao povo a situação e quais as terapêuticas mais adequadas.
Em 1978, o então presidente norte-americano, Jimmy Carter, teve de interromper as suas atividades devido a uma brutal crise de hemorroidas. Se fosse um cidadão normal ninguém se interessaria, mas como era presidente, um médico, interpelado sobre a situação, por um jornal de renome, explicou que o ser humano “não foi feito para se sentar numa sanita” mas sim “para se por de cócoras no campo”.
Esta coisa de evitar a “posição de cócoras” tem os seus inconvenientes, nomeadamente o aparecimento de hemorroidas. Vários estudos clínicos apontam para diferentes explicações. O ângulo anorretal, por exemplo, aumenta na “posição de cócoras”, o que favorece a dejeção, a pressão intra-abdominal diminui substancialmente, o tempo de expulsão das fezes é muito mais curto, 50 segundos contra 130 na posição de sentado, o “herói” aguenta apenas um a dois minutos de cócoras, contra os dez minutos de sentado na sanita, isto se não for mais, porque muitos têm o hábito de ler o jornal, ou revistas, o que agrava o tempo de permanência ao transformarem a sanita numa espécie de sofá. O hábito de ler as notícias sentado é perigoso (que eu saiba, ninguém consegue ler de cócoras!). Mesmo que as novidades do dia sejam de ordem a convidar à dejeção, ao exigirem mais esforço podem agravar a situação. E, ultimamente são umas atrás de outras! Mas há mais. Nos últimos anos, a altura das sanitas têm aumentado o que agrava a situação.
Podemos afirmar que os seres humanos estão a violar uma regra de milhões de anos, trocando a “posição de cócoras” pela de sentado. Este conforto não é saudável. Para o efeito, basta analisar a prevalência das hemorroidas que chega a ultrapassar os cinquenta por cento. É óbvio que existem outras causas, tais como: predisposição hereditária, gravidez ou obesidade.
O ideal seria voltarmos à posição original: “pôr-nos de cócoras”, uma expressão que hoje tem um sentido pejorativo. Quando alguém se humilha propositadamente face a outrem dizemos que se pôs de cócoras, um forma de dizer que é cobarde. Talvez a expressão resulte da “fragilidade” de qualquer ser humano apanhado naquela posição. Estou convicto de que o próprio Hércules ou Aquiles sentir-se-iam mais do que vulneráveis se fossem apanhados atrás de uma moita ao respeitar a vontade da natureza.
Existem já aparelhos que satisfazem todos os requisitos, sentado, de cócoras, à turca e que estão a fazer sucesso nalguns países. É uma boa forma de adaptação, porque um a dois minutos naquela posição é um esforço terrível. São precisos joelhos fortes e bons músculos, mas como muita gente está a ficar cada vez mais obesa, além de sofrer problemas músculos esqueléticos, ainda podem correr o risco de ficar “bloqueados”, o que não seria nada agradável. Sendo assim, concluo que “pôr-se de cócoras” é normal, e desejável, desde que seja para respeitar a natureza; o que não é normal, e mesmo pouco saudável, é alguém “pôr-se de cócoras” para obedecer e humilhar-se a outrem.
Anda muita gente a “pôr-se de cócoras”? Ai não que não anda, mas por razões diversas das que estão na base de um fenómeno fisiológico com milhões de anos de evolução.
4 comentários:
Preocupante, preocupante é que ambas as situações cresçam em paralelo, especialmente a segunda!
Pondo de lado a análise daqueles que por opção de vida estão sempre de cócaras, este post está recheado do melhor humor!
Obrigado, caro Professor.
Pelo que parece estas são outras “modernices” (sanitas e cadeiras) que não são nada saudáveis. Alguns percursos evolutivos nem sempre têm sido benéficos para a humanidade afinal... Os orientais e os índios sempre souberam que a posição de cócoras era a posição mais correcta, inclusivamente para o parto. Ainda hoje os povos orientais dão preferência a essa posição. Eles lá sabem!
Na última vez que fui a Itália, não me recordo se foi em Cortina ou S. Vito, vi uma bacia turca num quarto de banho de um café. Quando abri a porta, fiquei parada a olhar aquela “loiça sanitária” e a pensar: Estou a ver bem? Nunca imaginaria que “nos tempos de hoje” e nos países ocidentais ainda se visse tal coisa. Fechei a porta da mesma forma que a abri. A minha amiga italiana confirmou que ainda existiam estes tipos de instalações sanitárias no país embora já fossem raras.
E esta, caro Prof., é mais uma crónica interessante, informativa e bem humorada! : )
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