Não, não me interessa o que o Eng.º Sócrates dizia em 2011 sobre este assunto, como aliás sobre qualquer outro. Muito menos nesta ocasião. Lembro-me bem destes despiques em vésperas do ato eleitoral desse ano e de como prenunciaram muito do que se seguiu. Este excerto de um debate já esquecido, serve somente para ilustrar uma das razões de todos os estudos de opinião apontarem para o desprestígio da classe política e para a falta de confiança do Povo nos que a integram.
Os políticos, tal como os magistrados e outras classes detentoras de poder, mostram-se sempre muito surpreendidos e agastados com o sítio da rua da amargura para onde são atirados pelos cidadãos. Os portugueses que se pronunciam quando interrogados pelos investigadores, são os mesmos que temos ao nosso lado no trabalho, no café, na família. Ao ouvi-los, confirma-se que a maioria, a larga maioria, não só não confia como desdenha da classe dirigente do País, aquela à qual pertencem deputadas que se declaram pressionadas pelas instâncias locais dos partidos para mudar o sentido de voto em matéria de consciência, mudam-no, e depois ... choram.
Este sentimento largamente dominante na sociedade portuguesa é um sinal permanente, muito preocupante para a sobrevivência da democracia que se mostra incapaz de se reabilitar reformando os sistemas. O eleitoral antes de todos, porque levará inexoravelmente à reforma do sistema de partidos e o sistema de governo por arrastamento .
Mas ainda mais preocupante é a falta de consciência de que a maior quota de responsabilidade no desprestígio dos políticos e na falta de reconhecimento de nobreza na política, lhes cabe, a eles, políticos. Pela incoerência, pelo manobrismo, pelo desprezo a que votam a verdade, pela resistência à renovação, pela preparação medíocre que muitos revelam, pela cobardia intelectual, pela falta de coragem em seguir os ditames da consciência quando esta se afirma sobre a conveniência calculista da atuação partidária.
Verdadeiro exercício de venire contra factum proprium este surdo protesto de alguns políticos contra a ingratidão do Povo de que emanam e que teima em não lhes reconhecer virtudes...
15 comentários:
Para que, aos políticos e a outros órgãos detentores do poder, lhes fosse vedado o direito a comportarem-se de forma contraditória, teria de a democracia ser abolida, ou anulada. Isto levar-nos-ia, ou a uma outra forma de democracia, ou a uma qualquer forma de ditadura.
O problema de Sócrates, é o mesmo de Passos e de todos os outros pós ditadura que já passaram pelos governos; o fazerem de "tudo" ( e este "tudo" inclui ética e não-ética) para manter os lugares de poder. A "coisa" vista por outro ângulo, é semelhante ao que se passa com os atores, os músicos, os escritores, os pintores, os futebolistas, em suma, com as "figuras públicas" que auferem o estatuto Vi Ai Pi. Embora com os políticos que nos governam ou que têm influência nas decisões que regulam a nossa vidinha, a coisa pie mais fino. O Povo teima em não lhes reconhecer virtudes... pudera, pois se eles hoje para conseguir o voto, prometem mundos e fundos e amanhã, depois de eleitos, aprovam impostos e reduções de pensões e benefícios na saúde, na educação, etc. Uns pantomineiros! Como dizia a minha querida avozinha, que Deus tem na Sua Divina companhia. Agora, o que faz verdadeiramente falta à nossa democracia, é que seja criada uma forma democrática de poder destituir do cargo para que foram eleitos democraticamente, todos aqueles que ousem prometer nas campanhas eleitorais uma coisa, e depois de eleitos, façam o seu contrário. Se essa forma for criada, asseguro-lhe que mais ninguém arriscará venire contra factum proprium.
Sócrates & Passos, no calor da crise (2010-11), a mesma (ir)responsabilidade:
"Nós não olhamos para as classes médias a partir dos 1000€, dizendo: aqui estão os ricos de Portugal. Que paguem a crise"
"É nossa convicção não fazer mais nenhum aumento de imposto. Nem directo nem encapotado. Do nosso lado, não contem para mais impostos".
Em Março de 2011: "Já ouvi o primeiro-ministro (José Sócrates) a querer acabar com muitas coisas e até com o 13.º mês e isso é um disparate".
"O que o país precisa para superar esta crise não é de mais austeridade".
Em Junho de 2011: "Eu não quero ser o primeiro-ministro para dar emprego ao PSD. Eu não quero ser o primeiro-ministro para proteger os ricos em Portugal".
"Nós não dizemos hoje uma coisa e amanhã outra"
Nada a fazer.
Já dizia Camões "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"...e, nessa matéria, há para todos os gostos. Acho que já nos habituámos a tal ponto que mesmo que se fale verdade todos dizem que mentem.
Eu sei que é um quarto de hora, mas este vídeo, que inclui o excerto do post, é muito interessante visto a esta distância, incluindo, por volta do minuto 8:40, a afirmação de que o memorando e o PEC IV são, no essencial, o mesmo:
http://www.youtube.com/watch?v=WW5FfhogFiM
Caro Ferreira de Almeida:
Mais um belo (não falo na cara do protaginista...) serviço público que o meu amigo prestou na hora exacta.
Caro Bartolomeu:
Diz que "O problema de Sócrates, é o mesmo de Passos e de todos os outros pós ditadura que já passaram pelos governos; o fazerem de "tudo" ( e este "tudo" inclui ética e não-ética) para manter os lugares de poder".
Mas não. Não se pode meter tudo no mesmo saco. Houve trigo e houve joio, e é preciso separar os materiais. Como as pessoas.
Pode meter-se tudo no mesmo saco, pode, caro Dr. Pinho Cardão!
E sabe porque se pode?
Porque aquilo que os nossos políticos TODOS, prometem ao eleitorado TODO, nunca é cumprido. Serve somente para enganar e levar os crédulos a votar. Aquele "trigo" que o Sr. refere, não é o "joio" que beija as peixeiras, abraça os idosos nos lares e inflama vontades nos comícios e nas passeatas eleitorais pelas ruas das aldeias mais recônditas, onde nunca tinham poisado os chispes e onde só voltarão a poisar quando se quiserem reeleger. Portanto, chame-se o político-governante Sócrates, Passos, ou Manel das Iscas, o problema é o mesmo: prometer o inverso do que sabe irá fazer. E este problema, como já referi, só poderá ser sanado, quando a democracia encontrar uma forma de depor, democraticamente e por maioria de votos, o político que foi eleito democraticamente e por maioria de votos. Trata-se em primeiro lugar de uma questão de equilíbrio de forças e de honrar plenamente a democracia.
Não, nem todos são iguais, caro Bartolomeu.
E o meu amigo sabe que é assim.
Não quero tornar-me impertinente, caro Dr. Pinho Cardão, sobretudo, pela amizade e respeito que o Senhor me merece. Mas uma vez que insiste na sua afirmação, cite, por obséquio, o nome de UM político-governante diferente, desde que no nosso país vigora o regime democrático.
Não há para onde fugir dr. Pinho Cardão.Infelizmente Bartolomeu tem razão. E enquanto não reconhecermos os erros das nossas próprias famílias, não vamos lá.
Era interessante procurar o que disse Manuela Ferreira Leite sobre esta matéria na mesma campanha eleitoral.
Estou convencido que iríamos encontrar pérolas iguais a esta...
Caro Bartolomeu e Caro Carlos Reis e PlexaDamião:
Mnão fujo à questão e indico dois:Cavaco Silva e Sá Carneiro. Valem por si. E seria abusivo compará-los com quaisquer outros, tão acima, e noutro nível, estão.
;) ;) ;)
Quando lhe lancei a "rasteira" - digo, desafio - já calculava que o caro Dr. Pinho Cardão iria citar Sá Carneiro. E, porque não faz parte dos meus princípios fugir àquilo que considero ser justo, não o contradirei na totalidade. Por isso, no que diz respeito à pessoa de Francisco Sá Carneiro, fundador do Partido Popular Democrático, o idealista de um regime verdadeiramente democrático, estou em perfeita sintonia com o Senhor. Já depois... com a Aliança Democrática e no cargo de Primeiro Ministro... nim!
De resto, foi uma surpresa vê-lo nomear o atual Presidente da República, supondo que o tivesse feito, referindo-se aos períodos em que foi Primeiro Ministro. Mas pronto, o Senhor lá saberá porquê.
Claro que sei. E os portugueses também, que o elegeram 5 vezes. Cinco vezes, não foi uma ou duas por engano. São burros? Claro que não.
5 vezes???!!! Está-me a falhar uma... mas pode ser que ainda não fosse nascido. Mas deixe que lhe diga, caro Dr. Pinho Cardão, se a bitola que o Senhor usa para atestar a burrice dos portugueses - no que respeita à escolha dos políticos por quem desejam ser governados - consiste no número de vezes que os elegem, Cavaco Silva não foi o único, desde a democracia. Resta assim aferir se são os portugueses burros, ou se as técnicas de sedução empregues pelos políticos, possuem também poderes hipnóticos. ;)
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