1. A expressão em título está apresentada na forma interrogativa, mas terá sido hoje feita, sem qq duvida ou reserva, pelo PM da Grécia, Alex Tsipras, quando acusou o BCE de estrangular o acesso de Atenas ao financiamento e anunciou, simultaneamente, a intenção do Governo de avançar com leilões de Bilhetes do Tesouro (curto prazo, portanto, para a Grécia o mercado de médio7longo prazo está totalmente fechado) como forma de assegurar a liquidez para sobreviver na confusão que continua instalada naquela excelente República.
2. Acrescentou S. Exa. que, caso o BCE coloque obstáculos ao acesso de Atenas aos "mercados" de curto prazo, estará a assumir uma grave responsabilidade...então regressaremos á incerteza em que vivemos até 20 de Fevereiro, acentuou.
3. Acontece que o limite de € 15 mil milhões de dívida deste tipo estabelecido no âmbito do Programa em vigor - e que acabou de ser prolongado por 4 meses, como sabemos - já foi atingido e o BCE opõe-se ao seu alargamento...
4. Percebe-se a ratio da oposição do BCE: como o Governo grego só consegue colocar esta dívida - e mesmo assim a taxas bastante elevadas para a conjuntura actual - junto dos bancos gregos, e se estes não têm liquidez suficiente, como parece ser o caso, para financiar este apoio ao Estado...
5...a única solução, a jusante, será o BCE alargar ainda mais o apoio de emergência de liquidez (ELA) aos bancos gregos, recentemente ampliado até € 68,5 mil milhões já com alguma relutância por parte do BCE pois este valor excede em muito a quota do Banco Nacional da Grécia nos activos do Eurosistema o que quer dizer que qualquer apoio adicional será risco puro dos outros bancos centrais...
6. O que, logicamente, significará também que, em última análise, seria o BCE a financiar o Governo grego caso este insista na emissão dos famosos BT's, para serem "enfiados pela goela abaixo" dos bancos gregos...
7. Um tema aliciante, a seguir com atenção nos próximos dias, esperemos que os Gregos consigam desenvencilhar-se da corda que os "mauzões" do BCE querem enrolar em volta de seu (já tão) delgado pescoço...
12 comentários:
Caro Tavares Moreira, pelo que li sobre o assunto por aí ao longo do dia o Estado Grego fez ontem ou hoje uma pequena emissão a 6 meses tomada integralmente pelo fundo de pensões dos funcionários Gregos. O que, aliás, parece-me óptima ideia. O presente já está arruinado. Nada como dar cabo também do futuro.
Caro Zuricher,
Também notei essa emissão de dívida que o Fundo de Pensões do funcionalismo público helénico teve o privilégio de "engolir".
Mas, como percebeu, isso não chegou nem para tapar a "cova de um dente", é preciso emitir mais e mais dívida até porque os gregos, segundo a imprensa internacional, estão fazendo greve aos impostos (como forma, indiscutivelmente patriótica, de colaboração no projecto de ressurgimento nacional em curso pela mão deste Ilustres Jovens do Syriza).
Creio que nesse caso, todavia, a coisa está bem pensada: se nem tudo correr bem, o Estado grego poderá, no futuro, começar a pagar as pensões do funcionalismo em YOY (Y Owe You), ou seja em títulos de d´vida pública especialmente fabricados/emitidos para esse efeito, que os funcionários aposentados poderão utilizar para ir às compras...ou melhor, às bichas para as compras, em supermercados.
Parece claro que uma guerra de verdade, opondo a política aos mercados, foi declarada, pelo menos num país; e que o poder supremo das finanças – o FMI, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, que através da sacrossanta dívida organizam a miséria pelo mundo – está sendo contestado e, talvez até derrotado, na Grécia.
Para medir a importância do acontecimento, convém enfatizar a implacável subordinação da política – isto é, de praticamente todos os governos – ao mercado internacional. O que mais pensar se, em quase todos os países, em qualquer eleição, seja presidencial, legislativa ou local, quaisquer que sejam os "vencedores", nada, ou quase nada, muda. É o que podemos chamar, de forma geral, com nuances que não alteram a mise-en-scène, de Comédia Democrática, cujo último ato é sempre o mesmo: os pobres ficam mais pobres e os ricos, mais ricos.
Na Grécia, desta vez sem podermos prever o que acontecerá nas próximas semanas e nos próximos meses, o velho script não funcionou. A política, na voz do SYRIZA e de seus líderes, subiu no palco, sem disfarce, sem gravata, apoiada, impulsionada pelo povo grego abatido, anunciando o fim da comédia, que o povo já havia pago o suficiente, que a sua ruína tinha sido em grande parte organizada especialmente, e há alguns anos, pelo banco Goldman Sachs. Agora é preciso olhar e ouvir os príncipes de Bruxelas, criados dos bancos e da "Troika”; que estão agitados e parecem dizer aos seus interlocutores gregos algo como "Acabou o recreio, chega de bla bla bla, agora é hora de falar sério". Os gregos, que parecem desconhecer os códigos do decoro diplomático, insistem em dizer que é preciso continuar a lhes dar o dinheiro de que precisam – sejamos claros, a lhes reembolsar o que seus interlocutores, Merkel, Cameron, Hollande e Junker, entre outros, lhes roubaram, obedecendo às ordens de Wall Street e da City de Londres – e sem exigir o pagamento da dívida, verdadeiro instrumento de tortura para os povos desobedientes. Escândalo inédito: estes neófitos da política mundial não apenas não renegam as promessas feitas ao povo, como ainda por cima parecem querer cumprir o que prometeram! Convenhamos que os outros líderes europeus, têm razões de sobra para engasgar de raiva.
Michel Plon
Concordo com o Carlos Sério, a culpa é do imperialismo, da alta finança e do grande capital.
Se não fosse o imperialismo, a alta finança e o grande capital, a Grécia, Portugal, Cuba, a antiga RDA, a Argentina, a Coreia do Norte, a Venezuela, etc seriam o paraíso na terra, mas os imperialistas, a alta finança e o grande capital não deixam, malvados.
Caro luis barreiro,
Temos de compreender que estes bravos cavalheiros cuja missão é lutar contra a realidade têm uma vida que não é nada fácil...
Ainda há poucos dias, para justificar a suposta iniciativa da Grécia (entretanto abandonada, como é obvio) de emitir dívida perpétua, este mesmo bravo comentador argumentava, com toda a segurança, que também havia dívida perpétua emitida pela República Portuguesa...quando essa dívida, emitida nos anos 40, foi extinta há talvez uns 30 anos...
Quanto à sua conclusão, não posso estar mais de acordo.
Este sábio postador, usando por norma uma argumentação falaciosa e demagógica, lembrando o velho Dantas, sem contestar os dados com que sempre fundamento os meus comentários, mas enredando-se em comentários palavrosos e sem qualquer argumentação capaz, veio agora, pela segunda vez, falar de um pretenso engano que teria cometido acerca dos títulos de dívida perpétua. Quando à imensidão de dados que confirmam a minha argumentação nem uma única contestação. A única contestação que lhe merece atenção são os títulos de dívida perpétua. Mas até aqui o homem não tem razão. Vejamos:
“Passamos a casos concretos: o Banco Central Europeu (BCE) acaba de anunciar que aceita as quatro obrigações emitidas pelo governo presidido pelo Prof. Oliveira Salazar nos anos 40 (séc.XX), com um prazo de pagamento de oito mil anos. Os quatro títulos de dívida emitidos pelo Tesouro nos anos 1940, 1941, 1942 e 1943 vencem apenas a 31 de Dezembro de 9999, segundo a lista publicada no site do BCE. As emissões perpétuas foram feitas por Salazar para financiar os défices das contas públicas durante a Segunda Guerra Mundial.”
(Junho de 2011)
Pobre governo grego, agora refém dos bancos gregos. Não entendo, mas o homem não ia meter o resto da Europa contra a parede? Não ia sair do Euro ou aderir à Federação russa ou lá o que ele ameaçava?
Isto de se lutar pelo título de inadimplente mais burro do mundo não é fácil mas o Tsipras vai lá sem dificuldade.
Caro Pires da Cruz,
Registo a sinceridade do seu depoimento, relativamente ao resultado do campeonato para atribuição do título de inadimplente com essa especial distinção.
Co o registo, hoje, de mais uma tourada mediática, com Varoufakis a lançar a mais total confusão sobre o que poderá vir a acontecer naquele pobre País, tenho a firme impressão de que a burrice daquela brava gente está, de facto, a atingir níveis outrora impensáveis.
Aproveito para o felicitar, muito sinceramente, na sua qualidade de "Físico teórico que quer mudar a forma de fazer economia", pela interessantíssima entrevista (Ana Gerschenfeld) num dos suplementos do Público, de hoje.
Obrigado. A Ana fez de facto um grande artigo.
Caro Pires da Cruz,
Não discuto a qualidade do trabalho da Ana, o senhor está em muito melhor posição para ajuizar...
O que eu sei é que não se consegue fabricar omeletas sem ovos e a Ana não deverá constituir excepção.
Aliás, verdadeira excepção a essa regra ancestral só conheço a da Grécia, sob este novo Governo, que se mostra capaz: (i) de promover o crescimento apesar do esperado encarecimento de todos os factores produtivos e (ii) de manter uma linha de controlo orçamental com base no crescimento das receitas, estimulando (até agora) a evasão fiscal.
The prevailing view in Europe is that these guys are crazy,” says a senior official involved in talks with the Greeks, “and that the only thing that will bring them to their senses is a near-death experience.” in The Economist
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