No altar da ideologia, o governo do Syriza prepara-se para sacrificar ainda mais um povo inteiro. Sem o apoio dos países do euro, aí incluindo aguns com um PIB per capita inferior ao grego, não se sabe onde o país irá obter os fundos que permitam importar os bens de primeira necessidade, de medicamentos a alimentos, que a economia grega não produz. As bichas do multibanco multiplicar-se-ão por farmácias e supermercados.
E uma eventual saída do euro não só não atenua o mal como o irá agravar. À penúria de bens e consequente subida de preços, juntar-se-á o efeito da desvalorização, tornando a vida dos gregos numa enorme tragédia, com contornos bem difíceis de imaginar.
Coisa que pouco importará aos responsáveis. Varoufakis regressará aos EUA ou à Austrália, de onde também é nacional, e Tsipras arranjará maneira de culpar o mundo pelo desaire, sabendo que há sempre crédulos prontos a venerá-lo.
Oxalá o povo grego, que racionalmente vem mostrando nas sondagens que se quer manter no euro, saiba avaliar o que separa uma necessária e adequada austeridade das irrealizáveis propostas que os seus dirigentes lhe oferecem, mas que só lhes trarão miséria e amargura.
Diziam os troianos temer os gregos, ainda mais quando lhes ofereciam prendas; deve pensar o povo grego temer o Syriza, sobretudo quando lhes promete as prendas que sabe nunca lhe poder dar.
33 comentários:
Caro Pinho Cardão, já é indiferente. Os danos são já tantos e tão vastos que, seja com que governo for, a Grécia não terá qualquer solução nos próximos, largos, tempos. Em menos de seis meses esta gente deitou por terra o trabalho de cinco anos. Já é tudo indiferente neste momento.
Uma vez mais, meu caro Amigo, comunismo, a destruir países e sociedades desde 1917.
Parece-me que o título estaria melhor se escrevesse "A tragédia dos gregos".
Um bom aviso para o futuro próximo dos portugueses. Cá por mim, e atendendo ao que se tem visto,não acredito que resulte.
Em particular, um abraço ao Pinho Cardão, que tem exagerado nas suas férias...
António Freitas Cruz
Estimado António,
Subscrevo.
Mas depois de subscrever, interrogo-me:
Quem são os credores dos gregos? Quem lhes emprestou a pipa de massa com que eles se embebedaram?
Foi o BCE? Foi o FMI?
Quando o BCE e o FMI entraram em cena, se não estou enganado, eles já estavam afundados em crédito até ao cocuruto, ou não?
E depois foram resgatados pelo BCE e pelo FMI. Se não teriam ficado afogados e, com eles, aqueles que lhes concederam o crédito. Ou estou a ver mal?
Por onde andam agora esses credores que, em primeira mão, lhe colocaram os fundos nas unhas, quiçá lhes enfiaram até o crédito pelas goelas abaixo?
Quando o FMI entrou em cena, projectou uma evolução do PIB que Krugman publicou aqui
http://krugman.blogs.nytimes.com/2015/06/25/breaking-greece/?module=BlogPost-Title&version=Blog%20Main&contentCollection=Opinion&action=Click&pgtype=Blogs®ion=Body
Sei que desconfias do Krugman, por isso não te peço que leias o texto mas olhes para o gráfico, que não deve estar falseado.
Parece que depois da embriaguez de crédito as medidas do FMI não ajudaram na ressaca. Ou ajudaram e o gráfico está borracho?
Quanto ao resto, tudo bem. Ou tudo mal, se assim o entenderes.
Caro Rui Fonseca, se as medidas preconizadas nos programas de assistência para a liberalização da economia, para a modernização administrativa, enfim, as medidas destinadas ao crescimento económico tivessem sido aplicadas o gráfico teria o mesmo aspecto? Teria a economia Grega contraído tanto e por tanto tempo?
Não sei Zuricher.
Mas o que acabo de ouvir na RTP1 é que a Grécia aceita que a idade da reforma passe para os 67 anos em 2027 e que os credores (?) pretendem que seja em 2022. E que o governo grego quer passar o imposto sobe os lucros das empresas dos actuais 26% para 29% mas a troica não aceita mais que 28%. O governo grego quer tributar com uma sobretaxa as empresas que tenham mais de 500 milhões de euros de lucro por ano, o que não é acete pelas instituições europeias. Quanto ao IVA parece não haver desacordo.
É por isto que paira sobre a Europa o espectro da implosão?
As diferenças são mais profundas, Rui. Esses são os pontos de menor contenção. Há ainda o problema da Grécia manter a exigencia (que tinha morrido em Março e reapareceu agora em Junho) da reestruturação da dívida e mesmo nos pormenores há varias coisas mais. Aí pela web há cópias das duas propostas. Pode ver e comparar lado a lado.
Não há qualquer espectro de implosão sobre a Europa. Aliás, veja, agora em pre-trading o Euro abriu realmente com um gap down mas não quebrou o suporte em 1.10 que nem sequer é um suporte particularmente forte. Acho que isto só por si é indicio de que o panico será muito inferior ao esperado.
Por fim, e ainda no particular da implosão, já reparou que os cidadãos de vários países não querem dar mais dinheiro à Grécia? Normalmente fala-se dos Alemães mas venho seguindo a coisa com algum cuidado, dia-a-dia, e são mais do que apenas esses. Em todo o caso fiquemos apenas pelos Alemães que hoje numa sondagem online pronunciaram-se maciçamente (93%) contra ser dado mais dinheiro à Grécia. Ok, é uma sondagem online, os resultados refletem as opiniões do leitor daquele jornal específico. Mas, ainda assim, o sentido é precisamente o mesmo doutras sondagens que vêm sendo feitas recorrendo a métodos científicos. Mais do que isso temos o aumento de votação na AfD que foi muito notório nas eleições para a cidade-estado de Hamburgo há uns meses. Sendo que a AfD embora não seja monotemática na sua campanha anda lá perto insistindo precisamente em não ser dado mais dinheiro dos impostos Alemães aos Gregos e outros do Sul da Europa. Lembre-se: os Gregos puderam votar Syriza mas os restantes podem votar em partidos que lhes prometem não esbanjar o dinheiro dos seus impostos. As recentes legislativas na Finlândia mostraram isso e esta questão foi assunto presente na campanha.
Lembre-se, Rui: a construção Europeia pode perfeitamente fazer-se sem a Grécia e até, parece-me, duma saída da Grécia (enfim, se se vier a verificar...) penso que irão sair uma UE e uma moeda única mais fortes, tanto por maior seriedade no cumprimento das suas regras como por ter-se deixado cair o seu elo mais fraco. Nem sequer sei se a sociedade Grega tem lugar no clube Europeu. Mas uma coisa lhe garanto. A construção Europeia não pode ser feita sem a Alemanha e é exactamente isso que acontecerá no dia em que a AfD entrar num governo federal Alemão.
Assim seja, Zuricher!
Caro Zuricher:
De facto, foram 5 meses sem governo, o que deixou tudo pior do que já estava.
Caro Tiro ao Alvo:
Tem toda a razão. Já mudei o título. Muito obrigado pela colaboração!...
Caro António Freitas Cruz:
Trata-se da mesma pessoa que conheci vai fazer 30 anos, com quem convivi numa empresa durante 3 anos e que não vejo há mais de 20 anos? Pois, se é, e gostava que fosse, daqui vai um abraço amigo, extensivo á família.
E, se não é, um abraço também.
Quanto a férias, nada disso. Anda por aí gente que gosta que eu trabalhe...Que hei-de fazer?
Caro Rui Fonseca:
Criticas por terem dado crédito à Grécia e outros criticam por não darem crédito agora. Isto é mesmo preso por ter cão e preso por o não ter...
E concordo com o Zuricher. A Grécia sempre esteve pouco disponível para cumprir e muito disponível para exigir. Até fez chantagem com a Europa, exigindo mais dinheiro para concordar com a entrada de Portugal. E a Alemanha lá entrou...
Por outro lado, a história da Grécia é uma história de defaults, uns a seguir aos outros.
António,
Dizes que "a história da Grécia é uma história de defaults, uns a seguir aos outros."
Admitamos que sim.
Mas isso só torna mais criticável, imperdoável, insano, quem, sabendo desse feitio grego, lhe colocou nas mãos fundos que eles não poderiam vir a pagar.
E passaram a batata quente a estoirar para o BCE e para o FMI. Para os contribuintes ...
E agora degladiam-se políticos de meia tijela por causa de um problema groosso que eles não criaram nem sabem, ou não querem saber, como resolver.
Pagaremos nós.
Caros,
Talvez a Europa não esteja a implodir.
Mas não serei o único a pensar que enquanto os Governos europeus e "tutti quanti" estão "muito certinhos e compenetrados" a discutir se é 2.5% ou 2.7% no excedente, ou 27% ou 28% no IRC, temos o Mediterrâneo a arder.
Talvez seja a altura de começarmos a olhar de frente para os verdadeiros problemas que a Europa enfrenta. E não é a dívida grega que põe em causa a nossa forma de vida.
Para além de tudo o resto - a Grécia já incumpriu totalmente o acordo de 20 de Fevereiro, por exemplo - há ainda um aspecto importante.
A entrada da Grécia na moeda única foi um erro que aconteceu apenas por maluquices políticas. Podemos agora rectificar esse erro. É um motivo mais para deixar as coisas correrem naturalmente o seu curso.
A palavra “reforma” passou a ser um elemento central do braço de ferro entre a Grécia e os seus credores. Talvez fosse possível uma nova redução da dívida, mas só se os gregos aceitarem "reformas". Mas que reformas e com que objetivo? A imprensa tem usado o termo “reforma”, no contexto grego, como se houvesse um amplo acordo sobre o seu significado.
As reformas concretas hoje exigidas pelos credores da Grécia são uma combinação peculiar. E têm como objetivo reduzir o Estado; neste sentido são "orientadas ao mercado". Mas estão muito longe de promover a descentralização e a diversidade. Pelo contrário, trabalham para destruir instituições locais e impor um modelo único de política em toda Europa, em que a Grécia não estaria na retaguarda, mas sim na vanguarda. Neste outro sentido, as propostas são totalitárias – apesar de o seu pai filosófico ser Friedrich von Hayek, o antecessor político é, para dizê-lo cruamente, Estaline.
A versão da moderna Europa do estalinismo de mercado, na medida em que afeta a Grécia, tem três pontas principais. A primeira refere-se às pensões, a segunda, aos mercados laborais, e a terceira, às privatizações. E depois há uma questão dominante, a dos impostos, a austeridade e a sustentabilidade da dívida, à qual podemos voltar depois.
O objetivo do programa de credores não é, portanto, atingir reformas. Trata-se de duplicar a dívida frente ao desastre. Cortes das pensões, cortes salariais e aumento de impostos e as vendas a preço de saldo são oferecidos com o pensamento mágico de que a economia vai recuperar-se apesar do peso dos impostos mais altos, de um poder aquisitivo mais reduzido e do repatriamento para o exterior dos benefícios da privatização. A magia já foi testada durante cinco anos, sem sucesso algum no caso grego. É por isso que, em vez da recuperação prevista após o resgate de 2010, a Grécia sofreu uma queda de 25% do seu rendimento, sem que haja um final no horizonte. É por isso que o peso da dívida passou de cerca de 100% a 180% do PIB, estimado em termos de valor nominal. Mas reconhecer este fracasso, no caso de Grécia, iria minar todo o projeto político europeu e a autoridade dos que o dirigem.
James K. Galbraith
Caro Carlos Sério:
Gosto mais dos seus comentários, embora não concorde com muitos deles, do que de argumentos de autoridade, tantas vezes colossais asneiras.
Acho incrível como os europeus continuam a discutir trocos. A irresponsabilidade dos dirigentes que governam esta Europa só tem paralelo na irresponsabilidade do Siriza. A satisfação com o massacre do Siriza, num momento onde ele já estava por terra demonstra bem, contrariamente às subtis análises financeiras de muitos estimados comentadores, que o que está em causa são opções políticas disfarçadas de cálculos financeiros. Pensar que o futuro da Europa não está em causa com a implosão da Grécia, porque os cálculos estão todos bem feitos está no limite da ignorância. Se assim fosse gostava que ne explicassem usando a merda dos cálculos como é que o Putin gasta o dinheuro todo ba guerra, passa-se muito mal na Rússia e ele tem taxas de aprovação fantásticas. A Economia não passa de um capítulo da política.
Os gregos têm estado a tentar ensinar a Europa Unida a dançar... ao som da cítara. No fim, apesar dos desastres económicos e financeiros, vão acabar todos a dançar e a rir... na praia!
https://www.youtube.com/watch?v=fPWU8hy0McY
Caríssimo Pinho Cardão,
É esse mesmo, o colega e amigo de há 30 anos, esforçados administradores de uma estimável Empresa que, infelizmente, está hoje bem pior naquilo que se lhe vê. Fora isso, e os gregos que por cá queriam (ou querem?) imitar, gostava de saber de dois jovens
benfiquistas de quem me lembro muitas vezes. Já há netos? Por mim já tenho um... bisneto!
Um abraço (Eu sei que não é este o sítio indicado para matar saudades, mas desconheço o e-mail)
Caro Pinho Cardão,
Folgo em saber que aprecia os meus comentários. Há contudo comentários e versões dos acontecimentos e do momento complexo e histórico que a europa do euro vive que merecem a maior atenção e discussão.
James K. Galbraith toca numa questão que é deveras interessante quando fala do totalitarismo europeu atribuindo-lhe a paternidade a Estaline e não a Hayek.
Na verdade, a europa do euro com os líderes da social democracia em parceria com os partidos liberais europeus, aproximam-se de atitudes puramente totalitárias. Eu diria que estamos muito próximos do Fascismo, de uma ditadura fascista europeia, de um totalitarismo em que as pessoas não contam e todos devem obedecer aos interesses e desejos dos “mercados” como modelo único de organização social. Para mim a paternidade é mais de Hitler do que Estaline. Até porque a voz de comando vem exactamente da Alemanha. Esta visão de modelo único está a conduzir a europa ao caos, tal como com iguais políticas e filosofia já lançaram no caos o Afeganistão, a Líbia, o Iraque, a Síria e a Ucrânia.
E levará algum tempo até que os povos europeus se dêem conta como uma classe privilegiada detentora do capital financeiro e económico, constituída por banqueiros, donos de grandes empresas e dos meios de comunicação social, especuladores financeiros, directores de grandes empresas e líderes políticos apenas age em função dos seus interesses de classe e cria e fomenta todo esta desgraça aos povos europeus. A prova está em como em toda a europa do euro, o número de milionários e as suas fortunas aumentaram de modo colossal nestes últimos anos. Em Espanha, por exemplo, as fortunas dos milionários aumentaram desde 2008 em 40% (Informação Anual da Riqueza elaborado por CapGemini y RBC Wealth Management). Em Portugal em 2012, não possuo dados para 2013 e 2014 o aumento foi de 11%.
O carácter desta austeridade sem fim, em que nos dizem que para sair da austeridade é preciso continuar com a austeridade, é um carácter de classe em que os muito ricos querem aprofundar as suas riquezas à custa de todos os outros.
Em democracia este estado de coisas pode funcionar por algum tempo mas não por todo o tempo. Levará algum tempo até que as maiorias dos povos das nações europeias se apercebem das mentiras e falácias que todos os dias lhe lançam aos ouvidos. Mas ninguém se iluda. Esse dia chegará.
Que eu saiba o D. Quixote não fazia ameaças...
Caro Freitas Cruz:
Pois é com enorme prazer que volto ao contacto com o meu amigo. E creio que a partir de gora ele se poderá restabelecer. O M.Rocha tem o número do meu telefone e eu é que já não encontro o dele. Se o meu amigo o obtiver por essa via, telefona-me e o assunto fica arrumado. Se não, arranjarei maneira de o contactar. Basta que o meu amigo me comunique por esta via. E uma surpresa: tenho uma nora de Francelos!...
Abraço extensivo a toda a familia
Quando as dificuldades de um Estado que pesa no PIB do eurogrupo o que a Grécia pesa, põem em causa a moeda única; quando se torna claro que a coesão e a convergência das economias - base fundacional da moeda única - são uma quimera; quando isto obnubila os novos muros da vergonha que vão sendo erguidos no coração da própria Europa; quando nesta Europa um Estado como a Finlândia, com a população de algumas das capitais do centro europeu, tem na mão e ameaça usar o direito de veto contra todas as propostas que não agradem à sua visão de uma UE feita segundo a mundividência do norte; quando os senhores comissários obedecem à voz do dono e aparecem frequentemente a dar satisfações ao eleitorado dos países de onde são oriundos em vez de optarem pelo discurso da solidariedade e da coesão; quando nenhumas das instituições ou dos Estados parece ligar peva à ameaça de o Reino Unido abandonar o projeto europeu (onde, de resto, tem só um pé), não é a UEM que está em causa, é, obviamente, o edifício europeu que se arruina a cada dia que passa.
Caro Ferreira de Almeida, os itens a que alude não são novos. Sempre existiram. E, o que é mais, estranho seria que não existissem. É precisamente por eles e alguns itens mais que nunca acreditei na possibilidade da União Europeia vingar. Era e continua a ser utópico supôr que da noite para o dia as pessoas deixam de ser Portuguesas, Espanholas, Alemãs, Maltesas, Gregas, Francesas, etc, etc, e passam a ser Europeias. E aqui radica o equívoco de base da UE. Que, infelizmente, irá implodir com tal estrondo que nem os cacos se aproveitarão. E é pena. Porque dos cacos poder-se-ia recriar o que foi uma coisa muito boa, a CEE. Hoje em dia tenho dúvidas de que até isso seja possivel.
Em tempos idos tinha previsto a implosão da UE para 2012-2015. Talvez me tenha enganado por algum tempo e a crise financeira paradoxalmente teve como efeito enterrar um pouco as fragilidades estruturais tanto da UE como do Euro mas elas vêm à superfície naturalmente com o tempo.
Por outro lado, caro JMFA, como dizia hoje um comentador da CBS com alguma piada, a saída de um país com o PIB da Grécia, que é metade do Massachussets, do Euro é um filma da categoria de "Apocalipse Not". E a verdade é que o EUR/USD aparece hoje ao mesmo valor que tinha há uma semana quando ainda se acreditava que o acordo aí estava.
Eu concordo com as afirmações do presidente do Eurogrupo e de alguns dos dirigentes europeus que hoje foram falando. Há um limite para lá do qual não se passa e 18 países mostraram-se coesos ao mostrar esse limite. A união monetária está hoje mais forte do que estava na sexta feira e, curiosamente, os mercados mostram isso mesmo. E deixem-nos de colonialismos, os gregos não são nenhuns bicharocos irresponsáveis que tenham que ser os demais a cuidar deles. Fizeram as suas opções e estou certo que as vão assumir.
Quanto aos ingleses, não me preocupam nada. Ao contrário do que muita gente pensa, todos os grandes partidos são favoráveis à UE, principalmente aquele que mais influencia tem hoje, os separatistas escoceses, para os quais a saída da UE era a desculpa perfeita.
Caro Ferreira de Almeida:
Por vezes discordamos, é a vida!..
...E quando os países europeus, alguns com PIB p.c. inferir aos gregos, já contribuíram com 200.000 milhões para a Grécia e são diariamente vilipendiados e acusados de falta de solidariedade...
Caro Tiro ao Alvo:
Fabulosa essa tirada de que D. Quixote não fazia ameaças...
Caro Pedro Almeida:
Os tradicionais partidos políticos gregos e a população habituaram-se a viver à conta da despesa pública, pensando que não haver limites para tal. Agora, o "novo" partido político no poder, com linguagem diferente, quer repetir exactamente a mesma receita, invocando a democracia e o respeito pela vontade do povo grego, mas esquecendo a solidariedade por demais demonstrada e vontade, democraticamente expressa, dos outros povos.
Meu caro Zuricher, concordo consigo quando diz que o que assinalo sempre existiu, mais patente ou mais latentemente, na UE. Sempre por aqui o fui lamentando. Com uma diferença, e decisiva como os acontecimentos vão deixando cada vez mais claro. É que em tempos de vacas gordas, os problemas são relativizados. Quando a dificuldade aperta, vêm à tona, agravados os efeitos pelo acumular corrosivo e, sobretudo, pela perda de consciência dos burocratas sobre a existência de que estão afetados os alicerces. Aliás, a revisão dos tratados foi sempre com o espírito do "porreiro, pá!" que se gritou em Lisboa, mantendo a ilusão - a grande ilusão! - de que a UE é uma democracia e não a representação clara de uma aristocracia política, de resto dominada por políticos sem dimensão e tecnocratas dogmáticos.
Meu caro João Cruz, o problema da UE - e não só da UEM - não é a Grécia. A Grécia (a do passado e a de agora) só põe a nú a extrema fragilidade da Europa e das suas instituições. Repare que a única instituição de raiz democrática da UE, o parlamento europeu que custa aos contribuintes europeus uma fortuna, não tem qualquer voz ativa. E a Comissão revela o que um alargamento temerários já fazia esperar. Parcela de um governo bípede, com os comissários divididos entre a obediência aos seus eleitorados mais do que ao interesse comum europeu, e os chefes de Estado e de governo sem capacidade de resolução política que não seja a de caucionar o que venha do BCE que é sempre bem vindo!
Meu caro Pinho Cardão, não faz mal nenhum em discordarmos. Mas não discordamos, a não ser no que me parece ser o menos importante no enredo da tragédia. O meu Amigo dá muita importância ao Syriza e eu percebo que assim seja. Porém, estou com o nosso Amigo João Pires da Cruz, na parte em que diz que a opção eleitoral dos gregos - formalmente legitima, diga-se - há-de mais tarde ou mais cedo ser resolvida pelos próprios. Com os custos que consciente ou inconscientemente decidiram assumir, digo eu. Em especial, com um custo terrível para os mais pobres e desprotegidos.
O meu ponto de vista é outro. A tragédia não é grega, ameaça ser europeia, e a situação na Grécia é a mera espoleta de uma situação que também por aqui fomos considerando explosiva. Sabe o meu Amigo que quando o dinheiro abunda tende a considerar-se que as soluções para os problemas se compram. Porém, nesta coisa dos Estados ou das entidades supranacionais, normalmente o dinheiro compra rastilho, mais rastilho. E foi o que aconteceu. Durante muito tempo alongou-se o rastilho, não se esvaziou a pólvora do barril.
Penso, pois, que o Syriza é um produto desta Europa. Como Sócrates o foi. Como o é o senhor Hollande. Ou o governo húngaro. Ou o sentimento de uma parte substancial do eleitorado inglês...
Atrevo-me a perguntar ao meu prezado Amigo, sobre a UEM: acredita sinceramente no futuro de uma união monetária quando o espaço económico em que assenta é constituído por economias divergentes e em movimento divergente? E sobre a UE: acredita o Pinho Cardão numa coisa, que não é federação, não quer ser, mas que todos dizem que deve ser, alargada a Estados que estão longe de terem consolidado as suas instituições internas, governado por burocratas e tecnocratas, incapaz de impor políticas comuns, em especial nos domínios que constituem os pilares da União?
Sou capaz de imaginar o sentido da resposta do meu Amigo. E de adivinhar que, quanto ao fundamental, não estamos assim tão em desacordo...
Caro JMFA, eu penso que há, "nesta" construção europeia (como se houvesse outra...) um desvio entre aquilo que é expectável de uma federação de nações democráticas e a realidade. Esse desvio existe no papel que é atribuído à comissão e ao parlamento que em nada correspondem a um governo e a um parlamento, pura e simplesmente porque... não servem para nada. E não vem mal nenhum disso. Cada um dos membros dos conselhos de ministros é eleito pelas suas nações e não falta legitimidade democrática. Estes últimos meses mostraram que houve um esforço verdadeiramente anormal para se manter uma nação dentro da união e, olhe-se de que perspectiva se olhe, a união funcionou. E funcionou apesar do papel ridículo do parlamento europeu com deputados a fingir que são europeus acima das nações e a fazer discursos extraterrestres sobre a grandiosidade do espírito e uma comissão que serve para dar uns favores. A comissão e o parlamento são figurantes, mas não há, na minha opinião, nenhum défice democrático por isso. São simplesmente instituições que se esperava que evoluíssem dentro de uma grande nação europeia. Mas a verdade é que essa grande nação europeia não será, muito provavelmente, necessária para que a união exista, sendo que suficiente não é de certeza.
Não sei se existiu um esforço anormal para manter a Grécia na UE (se é à Grécia que o João Cruz se refere). Até agora isso não esteve em causa. Não estará em causa, penso eu, nos próximos tempos, salvo se se verificar uma radicalização da política grega que vá ao ponto de desrespeitar obrigações fundamentais. Não creio, porém, que os gregos o queiram.
Porém, a afirmação que faz, permite que se perceba que não existe preocupação perante a séria hipótese de um dos fundadores decidir abandonar o barco adornante...
Caro JMFA, a preocupação, que acredito que exista e toda a gente deve ter não pode estar acima da decisão do povo grego. E voltamos à conversa da soberania popular grega. Os USA resolveram a coisa com uma guerra que envolvia fundadores, como a Virginia e o Maryland. Parece-me que bombardear Atenas seria excessivo.
Bem mais a norte (ie, Londres), ja se notam bem os efeitos: muitos sem abrigo, casas de banho dos parques transformadas em "lavandarias", começa a haver receio de levar as crianças aos parques, receio tambem, dos "acampamentos" - até no memorial às vitimas dos atentados de 7/7 - e a tranquilidade, bem no centro, vai - se esfumando...
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