1.
Cumprido um período sabático de cerca
de 10 meses, é tempo regressar ao “trabalho” nesta tertúlia inquebrantável que
é o 4R, pegando num tema sempre caro pelo seu significado quanto à saúde
da economia: o desempenho das contas com o exterior, neste caso até Julho do
corrente ano (informação do BdeP).
2.
No essencial, cabe registar (comparação ao período homólogo de 2015):
(i)
saldo global da Balança de
Pagamentos – Balança Corrente + Balança de Capital – continua positivo, mas diminuiu
de € 1.161,4 milhões em 2015 para € 249,5 milhões;
(ii) saldo positivo da Balanças de
Bens e de Serviços aumentou, de € 1.606,6 milhões em 2015 para € 2.186,3
milhões (efeito do baixo preço do petróleo e do “boom turístico”);
(iii) défice da Balança Corrente agravou-se, de € 152,1 milhões em 2015 para € 522,3 milhões;
(iv)
défice da Balança de
Rendimentos agravou-se, de € 1757,7 milhões em 2015 para € 2.708,7 milhões;
(v)
superavit da Balança de
Capital diminuiu, de € 1.313,6 milhões em 2015 para e 771,8 milhões.
3.
Três notas parecem de especial
interesse em função destes números:
1ª) A Balança de Bens e Serviços (vulgo comercial), enquanto os preços do
petróleo se mantiverem baixos e o “boom” turístico prosseguir – hipóteses
plausíveis, pelo menos no curto prazo – deverá permanecer em zona confortável;
2ª) O rápido agravamento do défice dos Rendimentos, de € 920 milhões em
apenas 7 meses – imputável à crescente presença de investimento estrangeiro e
ao expressivo aumento da carteira de dívida portuguesa (pública, sobretudo)
detida por não residentes – coloca totalmente em cheque o discurso político de
hostilização dos detentores de capital residentes, o qual, se tiver mesmo
consequência práticas, poderá levar a uma “débacle” nesta rúbrica e ao
afundamento da própria Balança Global;
3ª) A redução do superavit da Balança de Capital deverá estar relacionado
com o menor ritmo de investimento, tanto público como privado, fazendo com que
o apelo a fundos estruturais diminua.
11 comentários:
Bem-vindo! Estava a fazer falta.
Caro Dr. Tavares Moreira
Seja bem regressado ao "trabalho".
Dez meses são uma eternidade para quem preza a sua presença e admira a escrita e que nos oferece; sempre recheada de importantes dados que nos permitem perceber a evolução da economia do país.
Pois, bem reaparecido, caro companheiro destas lides. Fazias cá falta. Muita! E, pelos vistos, ao país também. Na tua ausência, agravou-se a balança corrente, agravou-se a balança de rendimentos, diminuíram o superavit da balança de capital e o saldo global da balança de pagamentos. Também aqui, só desgraças...
Portanto, nada de faltas...
Folgo muito em voltar a le-lo por cá. As suas palavras são muito instrutivas e sentia-se-lhes a falta! Bom regresso!
Era mesmo o que o ministro das finanças estava à espera para as contas voltarem a ser boas. Que acabassem os períodos sabáticos! Boa!
Caros Tiro ao Alvo, Bartolomeu, Pinho Cardão e Zuricher:
Registo e agradeço vossa mensagem de boas-vindas.
Caro Pires da Cruz,
As contas externas, para além do seu significado quanto ao desempenho da economia, apresentam uma vantagem sobre as demais, em especial as da execução orçamental: não admitem plásticas contábeis...
Ora, caro Tavares Moreira, o meu caro está a ser um descrente nos milagres que o governo tem levado a cabo, como conseguir um aumento de despesa de 2,3% com um aumento da dívida de 5%. Isso não é para qualquer um!
Caro JPC:
Coisa admirável e pitoresca é que não haja nenhum jornalista da nossa insigne comunicação social que pergunte ao 1º ministro ou ao ministro das finanças, ao ao Galamba ou mesmo ao Trigo Pereira como é que há uma tão grande falta de sintonia (que meigo que eu hoje estou...) entre o aumento da dívida e o valor do défice...
E ainda há quem negue os milagres!...
Caro Pires da Cruz,
Uma tal falta de sintonia entre o aumento da despesa (orçamental, por suposto) e o aumento da dívida pode ter várias explicações - mas carece de ser explicada...
Para ser mais concreto, com um exemplo, o esperado aumento de capital da CGD, na parte que envolve entrada de fundos a realizar pelo Estado (€ 2,7 mil milhões) terá necessariamente impacto na dívida.
Mas poderia não ter impacto na despesa/deficit caso fosse tratado como uma simples aquisição de activos financeiros.
Todavia, considerando que a CGD apresentou prejuízos durante os últimos 5 anos, pelo menos, esse aumento de capital irá ter impacto no défice, sendo tratado como transferência de capital.
Isso será assim em pelo menos € 2,2 milhões, montante dos prejuízos acumulados pela CGD.
Caro Tavares Moreira,
Eu compreenderia isso, se a dívida não tivesse sido reportada antes dos anúncios dos aumentos de capital. De qualquer forma, mesmo que assim fosse, a dívida líquida não teria sido alterada da maneira que foi porque mesmo que se tenha ido buscar o dinheiro para esse fim, só poderia ser contabilizado como investimento depois de se escriturar o aumento de capital de facto. Até lá seria um depósito na caixa.
Capital da caixa que parece ser outro factor de elevada religiosidade podendo até ser chamado de 4º segredo de Fátima ou "porque é que ninguém vem justificar porque é que a CGD aumentava de capital todos os anos sem que o estado fosse buscar um cêntimo de dividendo".
Enfim, todo o estado parece envolto em elevada espiritualidade.....
Caro Pires da Cruz,
Num ponto (pelo menos) tenho de lhe dar razão: as finanças públicas em Portugal encontram-se mergulhadas numa densa névoa, para perceber alguma coisa será necessário utilizar faróis de nevoeiro muito potentes, mesmo assim com elevado risco de não chegar a qualquer conclusão entendível...
Veja só este pequeno detalhe: dizia-se ontem que o défice apurado até Agosto diminuiu, em base de caixa, € 81 milhões em relação ao mesmo período de 2015.
No dia seguinte - hoje - aparecem notícias, provenientes não se sabe de onde, indicando que as dívidas em atraso (+ 90 dias) só no setor da saúde aumentaram € 244 milhões em relação a Agosto de 2015...
Para bom entendedor...
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