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terça-feira, 13 de setembro de 2016

Os muros onde esbarram os valores


A indignação do Ministro dos Negócios estrangeiros do Luxemburgo contra a Hungria soa aos nossos ouvidos como mais do que justificada, música celestial de reafirmação da nossa vergonha coletiva perante tanto desprezo pelos nossos pergaminhos. "Não podemos aceitar que os valores fundamentais da União Europeia estejam a ser massivamente violados", revoltou-se o ministro, levantam cercas contra refugiados de guerra (...) e isso "mancha a reputação da UE". O repúdio adopta um tom horrorizado ao invocar a hipótese de até se vir a abrir fogo contra os refugiados que tentem escalar o muro.
Só estranhamos o silêncio do mesmo ministro perante a já acordada construção de outro muro, esse em território francês, financiado pelos ingleses, esse de quatro metros de altura e um km de comprimento, esse que será rodeado de árvores de um lado e de outro, um longo e alto bosque amigo do ambiente, em vez do inestético cimento e arame farpado, até porque esse muro tão civilizado será liso, lisinho, para que não possa ser escalado pelos desesperados, se for tudo bem feito não será certamente preciso montar guaritas de vigilância, nem apontar armas aos que não se conformem com a barreira.
Ao ouvirmos estes discursos inflamados, desconfiamos que, afinal, os valores europeus dependem exactamente do local onde o muro é construído, e da sua estética. Às vezes  pergunto-me se não haverá limites para o descaramento político.

14 comentários:

rui f. disse...


Não há. Está provado que não há limites para o descaramento.

Mas repugna-me aceitar como atenuantes de um muro de vergonha a construção de outro por falta dela.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Indignados deveriam estar os europeus por a Europa estar a construir muros em lugar de se unir em torno de políticas comuns que defendam os princípios e valores da liberdade que estiveram, aliás, na base da queda do muro de Berlim. Poucos anos passaram e eis a Europa a querer resolver os seus problemas, que são graves não haja dúvidas, levantando muros que variam em função dos "gostos" de cada um. Este caminho não augura nada de bom. Quanto à Hungria não procede bem, já sabíamos.

Bartolomeu disse...

Não conheço os estatutos da fundação da CEE, depois UE. Duvido contudo que neles esteja prevista a situação internacional que se está a viver e ainda, de que forma deveriam comportar-se os países europeus, perante ela.
As imagens e os números que chegam ao nosso conhecimento, compelem-nos a adotar uma postura de solidariedade, por outro lado, deparamos com situações de abuso, roubo, agressão e violação e mais grave, tentativas de atentado, levadas a cabo por refugiados que têm estado a ser acolhidos nos países europeus.
A situação é sensível, estão em causa a defesa de valores humanos e solidariedade que colidem frontalmente com os direitos dos cidadãos europeus á segurança.
Não sei prever se a Europa conseguira manter a sua união e a sua identidade, caso esta situação se mantenha.

Anónimo disse...

Discordando da Suzana (e também da Margarida) parece-me que quanto a esse muro em Calais a primeira coisa a perguntar é porque é que ele é preciso. Nomeadamente porque é que aquela gente ali está. É que se está é porque França os deixou entrar no seu território (ou Itália?) indevidamente. Portanto se calhar é melhor começar a ver o que é que está errado no controlo das fronteiras exteriores de Schengen. Os muros levantam-se porque há países que não estão a cumprir as suas obrigações. É, portanto, muito natural que os outros reajam protegendo as suas sociedades. Os muros costumam ser eficazes.

Não sejamos anjinhos: a política de portas abertas está a atrair gente aos milhões ao continente Europeu. É um barril de pólvora que irá rebentar e, parece-me, mais cedo do que tarde.

A Europa é o único bloco económico com uma política de imigração tão aberta. Nem os EUA, nem a Austrália, Nova Zelândia, Canadá e, enfim, nem falemos do Japão ou da China, nenhum outro sítio tem uma política de imigração como a Europeia. Os Europeus irão pagar o preço.

mensagensnanett disse...

O problema não é os 'globalization-lovers' gostarem de o ser... mas sim... a AGENDA NAZI ESCONDIDA que anda por aí!...
.
-» Há já algum tempo que é perfeitamente perceptível que os Partidos do Sistema (um ex: o partido da senhora Merkel), e muitas outras marionetas da alta finança (capital global), possuem UMA AGENDA NAZI ESCONDIDA:
- começam por falar em ajuda humanitária... depois... é utilizado tudo e mais alguma coisa como arma de arremesso no 'argumento' de que a sobrevivência de Identidades Autóctones é algo que «não faz sentido»...
.
Ora, de facto, apanha-se mais depressa um nazi do que um coxo: nazismo não é o ser 'alto e louro', bla bla bla,... mas sim a busca de pretextos com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros!
Uma coisa são os 'globalization-lovers' que gostam de o ser... uma outra coisa são... os 'globalization-lovers' nazis que andam por aí... buscando pretextos para negar o Direito à sobrevivência das Identidades Autóctones!!!
.
Os 'globalization-lovers', UE-lovers e afins... que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa.
-» http://separatismo--50--50.blogspot.com/.
[o legítimo Direito à sobrevivência das Identidades Autóctones]
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.
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P.S.
A alta finança (capital global) está apostada em dividir/dissolver as Nações... terraplanar as Identidades... para assim melhor estabelecerem a Nova Ordem Mundial: uma nova ordem a seguir ao caos – uma ordem mercenária (um Neofeudalismo).
Andam por aí muitas marionetas... cujo trabalhinho é 'cozinhar' as condições que são do interesse da alta finança (capital global).

Suzana Toscano disse...

Caro Rui f. Não é atenuante nenhuma, tudo o que se disse sobre a Hungria é verdade e é chocante e inaceitável na Europa que dantes conhecíamos, só que é absurdo vir invocar valores e escandalizar-se quem, nas mesmas circunstâncias -milhares de imigrantes à porta - deita mão das mesmas receitas. Não atenua, multiplica, diria eu. E quem tem telhados de vidro atrever-se a atirar pedradas que autoridade pode ter para grandiloquências indignadas?
Não se vê nenhuma solução Margarida, até a Ilha se barricou e do lado de cá que se entendam, se calhar a solução dos castelos era universal e intemporal para os que seguem a pé. Mas ao menos que não se achem uns melhores que os outros o que ainda torna tudo pior porque os tais valores esfumam-se....
Tem razão caro Bartolomeu, se aqui sentíssemos o mesmo problema à porta (houve há dias uma reportagem sobre a vida dos habitantes de Calais, que se tornou um pesadelo e em que se exigia medidas imediatas para lhes devolver a segurança) possivelmente teríamos que construir um muro, não sei, mas o que não podíamos era estar a construir um e a mandar os outros destruir o deles por serem uns desalmados. Não tenho a mínima simpatia pelo governo húngaro, acho-os perigosos e capazes de ir muito longe de tudo o que desejaríamos no nosso sonho de civilização, liberdade e democracia, ao menos para a Europa que habitamos, mas realmente há cada vez menos autoridade para os travar e isso é caminho aberto para prosseguirem com cada vez mais arrogância e desafio.
Caro Zuricher, é verdade tudo o que diz, mas essa mesma pergunta teremos que a fazer a todos os muros e, assim, passamos a aceitá-los como necessários e mesmo indispensáveis. Então, que sentido faz está invectiva acalorada do ministro? Ele não falou, que eu visse, em mudar a política de imigração europeia, aliás a tal "Europa" civilizada farta-se de diabolizar os discursos do candidato Trump quando ameaça construir um muro para impedir a imigração vinda do México. E assim chegamos á conclusão de que o mais grave de tudo é quando já não nos escandalizamos com o que dantes considerávamos escandaloso ou, como dizia Napoleão, todos são virtuosos enquanto não lhes surge a ocasião do vício. Já encolhemos os ombros com o anúncio de um novo muro? Então os muros passam a ser uma solução, e não um crime contra os valores, não há como achar uns bons e outros maus.

mensagensnanett disse...

P.S.2.
Os 'globalization-lovers' nazis que andam por aí (um ex: islâmicos)... não aceitam a existência de outros... outros esses na posse do SEU espaço próprio no planeta (um ex: Identidades Autóctones).

Anónimo disse...

Suzana, o controlo fronteiriço sério e aturado existe em todo o mundo excepto na Europa, tanto nas suas fronteiras interiores como exteriores. Repare que mesmo em África, em países onde tudo funciona mal, é uma coisa curiosa: os controlos fronteiriços são algo que, mais ou menos em todo o continente, funciona razoavelmentezito.

Não consigo perceber se o seu desagrado é contra os muros ou se é contra criticarem-se uns mas nada se dizer sobre outros. Ou em relação às duas coisas, até. A Europa tem uma série de valores que não fazem qualquer sentido. Os tempos actuais não estão para valores, princípios ou histórias da Carochinha afins. Há que ser pragmático e resolver os problemas conforme eles se apresentam. Porque quanto mais se andar a empurrar com a barriga pior será quando os problemas deixarem de poder ser atirados para debaixo do tapete.

Diz a Suzana que receita o actual governo Húngaro. Dá-se é o caso de que é um governo democrático e eleito pela sociedade Húngara. Por algum motivo terão votado nestes que estão e não noutros, não é? Em França, na Alemanha, Dinamarca, enfim, um pouco por toda a Europa, acontece o mesmo e partidos do mesmo pendor estão em crescendo. Será porque cada vez mais gente se apercebe que esse "sonho de civilização, liberdade e democracia" não é outra coisa senão receita certa para graves problemas no futuro?

Já me lê aqui há vários anos, cara Suzana. Quantas vezes no passado me referi ao que está a acontecer agora? Quantas vezes disse que isto iria acontecer? A crise dos refugiados foi apenas a gota que fez transbordar o copo porque o problema, esse, começou a desenhar-se no final da década de '90. Já hoje em dia há milícias populares que atacam estrangeiros nalguns países. Já há comunidades de imigrantes perfeitamente integradas (os chineses em França, por exemplo) a serem alvo de ataques. Tudo porque não se atalhou o problema a tempo, aceitando estrangeiros, sim, mas com conta, peso e medida e obrigando-os a integrar-se. Exactamente o que fazem os restantes países receptores de imigrantes. Será que só quando houver uma imensa mortandade os Europeus vão perceber que os valores Europeus são uma aberração impraticável que não faz mais do que causar conflitos onde eles antes não existiam? Porque é que a Europa tenta ser original e não se limita a copiar o que o resto do mundo faz?

Tudo isto é o resultado de várias décadas de marxismo cultural e está a redundar no que está. Com minha grande pena, ainda a procissão vai no adro. Quando se podia ter resolvido o problema sem problema absolutamente nenhum era até quase crime falar no assunto. As coisas foram andando, andando, andando e chegamos onde estamos. Continua a não se querer resolver o problema. Irá tudo evoluir e, muito a meu pesar, irão acabar a pagar justos por pecadores e essa é a maior tragédia disto tudo. Tudo porque uma certa inteligência publicada Europeia construiu uma série de utopias mentais e castelos de areia ao som de harpas e violinos. Enfim...

Pessoalmente não acho o muro Húngaro uma coisa má. O governo Húngaro fez o que achou adequado para a protecção da sua sociedade e irá referendar a sua actuação agora no início de Outubro. As sondagens indicam uma vitória esmagadora (superior a 70% senão mesmo a 80%!) da actuação do governo Húngaro. O muro em Calais não acho nem bom nem mau. Acho, isso sim, expressão da fraqueza Europeia para lidar com assuntos sérios. Construir um muro para separar imigrantes ilegais é algo que realmente só na cabeça (de vento!) dos Europeus podia caber. Nos EUA, Canadá, Austrália e, em geral, por todo o mundo, seriam todos simplesmente devolvidos à procedência.

Suzana Toscano disse...

Caro Zuricher, se a Europa é contra os muros húngaros, não pode construir um em França a pedido do RU. Se constrói um em França a pedido do RU, não pode arrogar-se o direito de dar lições de moral aos húngaros. Este é o tema e a motivação do meu post, a falta de decoro político do Ministro europeu.
Mas o seu comentário é, como sempre, muito pensado e interessante, há anos que aqui vem contribuir sempre com a grande valia da sua opinião e experiência e confirmo (não seria preciso) que de há muito expressa grande cepticismo sobre como se vem construindo a Europa e fechando os olhos à dura realidade que vai apagando as ilusões das grandes palavras. Sendo, infelizmente, confirmados os seus piores receios, isso não nos deve impedir de analisar os factos à luz do que eram as nossas referências, a fatalidade pode obrigar-nos a conviver com o pior mas isso não significa aceitar o mal como bom. Se a política europeia de abertura de fronteiras levou a isto, também me pergunto se era possível ter seguido uma política diferente, pois essa abertura era parte integrante de um todo e as fronteiras foram marcadas na margem desse largo espaço comum, bem diferente dos países africanos ou dos outros que mantiveram inteira, e não partilhada, a sua soberania. Os imigrantes procuram a Europa rica e social, fogem da desgraça dos seus países, mas também outros países com outras políticas de imigração se viram inundados de fugitivos e acossados, pela fome, pela guerra, por todo o mundo fora, basta ver as hordas de refugiados nos campos improvisados em quase todos os continentes, para não falar só de África. Se a Europa tivesse tido outra política de imigração esta catástrofe não nos teria atingido como está a atingir? Duvido mesmo muito, esta situação, tal como aconteceu em muitas regiões de calamidade no mundo, não era gerível com políticas de continuidade, é uma ruptura total com a antiga organização com que a Europa contava. Talvez, como diz, essa ruptura fosse previsível, devia ser se estivéssemos atentos mas, ainda assim, como teria sido possível "normalizar" com anteedência o que é absolutamente avassalador? Os muros só atrasam, não resolvem, a onda humana esbarra nesse obstáculo enquanto os decisores tentam gerir o problema com o menor caos possível para as suas populações, são um obstáculo e não uma solução. Os muros são um acto de violência, por muito indispensáveis que possam ser, uma forma brutal de obrigar a política a encontrar soluções. Nãopodemos gostar deles, ao menos para que não se eternizem.

mensagensnanett disse...

«...cabeça (de vento!)...»

ahahahahah

Chamemos os bois pelos nomes BANDALHEIRA!!!



Anexo:
NÃO SÃO PARVOS
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São muitos os refugiados que possuem uma agenda nazi escondida: NÃO DEMORA MUITO TEMPO a andarem por aí aos sete ventos a argumentar que a sobrevivência de Identidades Autóctones é algo que «não faz sentido».
Ora, os indivíduos naturalizados não são parvos, isto é, sabem que a sua natalidade é imparável face à dos nativos, e sabem também que foram recebidos, não numa sociedade sustentável [um exemplo: a França nativa], mas sim, numa SOCIEDADE BADALHOCA:
- a sociedade (nativa) não é sustentável (média de 2.1 filhos por mulher), nela existe critica da repressão dos Direitos das mulheres... todavia, em simultâneo, para cúmulo, nela defende-se que... no aproveitar da 'boa produção' demográfica proveniente de determinados países {nota: 'boa produção' essa... que foi proporcionada precisamente pela repressão dos Direitos das mulheres - ex: islâmicos}... É QUE ESTÁ A 'SALVAÇÃO' para resolver o problema do deficit demográfico na Europa!?!?!
.
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P.S.
Os badalhocos armadilharam o futuro das crianças nativas europeias:
- como os nativos não possuem uma taxa de natalidade de 2.1 filhos por mulher... logo... irá acontecer uma SUJEIÇÃO AOS SALVADORES da demografia europeia: os islâmicos.
P.S.2.
Cortar com a bandalheira antes que seja tarde demais:
- http://separatismo--50--50.blogspot.com/.
[o legítimo Direito à sobrevivência das Identidades Autóctones]

Anónimo disse...

Cara Suzana, começo por agradecer as suas amaveis palavras, tão mais relevantes porquanto vêm de alguém que tenho em grande estima. Penhoro os meus agradecimentos. :-) Lamentavelmente terei que partir este meu comentário dado ter ficado demasiado longo. As minhas desculpas mas não consegui condensar mais.

Indo agora à sua resposta, compreendo a sua indignação. O duplo critério do tal senhor que leva à inevitavel conclusão de que, para ele, o problema não são os muros mas sim quem os constrói. Duplo critério muito comum e, infelizmente, cada vez mais dado que a queda na qualidade dos actores políticos manifesta-se em vários aspectos sendo este um deles. Em tempos li algures uma frase que me ficou sempre e cito aqui de memória; "Pessoas grandes falam sobre ideias, pessoas médias falam sobre eventos e pessoas pequenas falam umas sobre as outras". É o caso aqui. Na incapacidade de falar sobre a ideia de muros em si ou, sequer, do evento "construção de muros" não resta ao tal ministro mais do que falar sobre Orbán. É o que há, infelizmente cada vez mais, na política da generalidade dos países Europeus.

É a vida!

O meu cepticismo sobre a construção Europeia advém precisamente da realidade. As palavras são muito bonitas, as utopias imensamente cativantes mas no fim de tudo o que fica é a realidade. E aí não dá certo uma coisa com a outra. Por isto é que nunca acreditei na ideia de Europa. Sempre me pareceu uma impossibilidade física e condenada a prazo. Este assunto da imigração em geral - tudo isto é muito mais vasto do que apenas a questão dos refugiados - é bom exemplo dessa utopia. Não é surpreendente que os maiores oponentes sejam os países do Leste e é normal que sejam. Alguém parou para pensar no que são as sociedades do Leste Europeu? Alguém parou para pensar que são sociedades que durante quase 50 anos estiveram fechadas ao mundo exterior e não sabem o que são estrangeiros? Como é que alguém achava possivel sociedades assim aceitarem, de repente, hordas de estrangeiros, para mais com cultura e religião diferentes, no seu seio? Não fazia qualquer sentido. Tal como nos países da Europa Ocidental não faz na quantidade que está a assumir e os problemas são cada vez mais frequentes. A subida dos votos nos partidos anti-imigração é a reacção normal das populações que apenas nestes encontram representação e resposta aos seus anseios dado os partidos tradicionais, a bem dum execravel politicamente correcto e duns utópicos valores morais, terem-se demitido de representar adequadamente as suas sociedades preferindo tratar os eleitores como grunhos incultos que precisam ser ensinados nas virtudes da tolerância infinita. Muito triste mas é o que tem havido.

Agora na questão das fronteiras, sim, claro que era possivel ter seguido uma política diferente. Sendo que a abolição das fronteiras interiores no espaço Schengen é totalmente independente do controlo das fronteiras exteriores. Pode perfeitamente facilitar-se a viagem nas fronteiras interiores - pessoalmente não me agrada mas ainda sou capaz de compreender o racional por trás da coisa - sem abdicar de manter férreo controlo nas fronteiras exteriores. Que é o que sucede um pouco pelo mundo fora. Na ECOWAS, por exemplo, ou no CARICOM. Não são blocos como a UE, claro que não. Mas funcionam assim. Ou indo ao outro extremo, EUA, Canadá, Austrália, embora tendo diversos estados com regras e leis diferentes entre si mantêm férreo e aturado controlo das suas fronteiras externas. Como, de resto, a generalidade dos países do mundo.

Sim, cara Suzana, claro que era possivel uma política diferente. Houve foi a maluqueira dos valores Europeus a par do execravel politicamente correcto que impediram que isso fosse feito. Os Europeus semearam sozinhos a semente da guerra que irão colher nos tempos vindouros.

Anónimo disse...

E, claro, com outra política, uma política identica à praticada pela generalidade do resto do mundo, nada do que está a acontecer aconteceria. Tudo começa há muitos anos quando se começou a menorizar os estrangeiros, permitindo-lhes até mesmo viver de acordo com as suas culturas quando estas colidiam com a nossa no nosso espaço. Há uns meses, nas notícias, falou-se muito de Molenbeek. Só que não é caso único. Logo ao lado, dentro da cidade de Bruxelas, há outro bairro igual onde o Estado Belga abdicou de exercer a sua autoridade e onde os cidadãos Belgas não contam com as protecções e liberdades que lhes são conferidas pela constituição e pelas leis locais. Ali vive-se doutra forma. Tudo isto aconteceu com a complacência de sucessivos governos. Tudo isto mais grave ainda por passar-se num país que já teve, em décadas idas, uma política de imigração com pés e cabeça que obrigava os imigrantes a efectivamente integrarem-se e impedia fisicamente a criação de ghettos. Tiveram que a desmantelar dado as suas provisões irem contra a utopia moral Europeia. Resultado? Acabaram com bairros inteiros onde o Estado Belga perdeu completamente a mão. Situação semelhante acontece em vários bairros da periferia de Paris e, mais notoriamente, também em Marselha. Ora, tudo isto poderia ter sido evitado se se tivessem seguido as mesmas políticas da Austrália, Canadá, EUA e vários outros países. Na Europa Ocidental salvam-se apenas Espanha - onde algo assim nunca foi permitido, nem sequer em Ceuta e Melilla - e a Suíça. Em Espanha, lamentavelmente, o politicamente correcto, muito lentamente, mas estava a entrar também embora as coisas tenham voltado aos eixos nos últimos tempos. Na Suíça é impensavel, simplesmente.

E isto leva-nos à questão dos refugiados onde, uma vez mais, não era preciso inventar nada. Claro que as sociedades Europeias podiam não se ter visto a braços com tudo o que está a acontecer, com a criminalidade gerada redundando na inevitavel reacção das sociedades de vários países a estes ataques reacção essa que passa já por ataques a imigrantes em geral e não apenas àqueles que as agridem. Quando tudo isto começou escrevi aqui - salvo-erro em resposta a um post da estimada Margarida Corrêa de Aguiar - que o óbvio e evidente, a resposta natural, seria a criação de campos de refugiados na Grécia ou, eventualmente, na Croácia. As sociedades Europeias não têm capacidade para absorver, de repente, milhões de refugiados como está a ver-se. O normal e praticado em todo o lado é que sejam postos em campos e depois podem, alguns, sair de lá, pouco a pouco, consoante vão sendo aceites neste país ou no outro. Que é o que acontece em todo o resto do mundo. Na Europa houve a opção por ser diferente. Deu asneira como era normal que desse. E ainda irá a muito mais dado que continua a entrada de imigrantes, sejam refugiados ou outra coisa qualquer o que continuará a redundar em cada vez maior e mais violenta reacção das populações. Tudo poderia ter-se resolvido facilmente mas como em vez do pragmatismo se optou pelos valores utópicos, pois o que há é o que há.

Por corolário, sim, tudo isto era previsivel e muitos a isto foram aludindo ao longo dos últimos, vários anos. Simplesmente, quando o problema começou não podia falar-se dele no espaço público. Era tabú e os poucos que se atreviam levavam imediatamente o labéu de xenófobos, nazis e tolices afins. Tratavam-se como párias. Sim, podia ter-se evitado tudo o que está a acontecer nas sociedades Europeias e mais o que ainda aí virá se em vez de se ter raciocinado com base no idealismo das harpas e violinos tivesse havido realismo, pragmatismo e saber.

Os muros não são bons, claro que não. São o possivel e isto, o possivel, é o máximo a que podemos aspirar neste assunto. O óptimo não é aplicavel a um assunto destes. A oportunidade para o bom já lá vai há talvez uma dúzia de anos. Agora não resta mais que ir gerindo conforme possivel. Mesmo tendo que lidar com coisas feias como são os muros.

Anónimo disse...

A terminar: os muros são feios, sim, claro que são. Mas muito mais feio será ver deportações em massa ou, pior, ataques armados de milícias de estrangeiros, por um lado e de nativos pelo outro. Infelizmente penso que é isso a que iremos assistir num futuro já não muito longinquo. Ainda que com muito baixa intensidade já é real em vários sítios. Dado nada estar a ser feito para atalhar a questão de fundo tudo isto não pode senão ir crescendo e aumentando a sua intensidade. Mesmo sociedades tolerantes como a Sueca começam a mostrar sinais de cansaço.

É pena, é triste mas é o que há e quando há laranjas faz-se laranjada, quando há limões faz-se limonada e para a frente é que é o caminho.

Suzana Toscano disse...

Caro Zuricher, talvez tenhamos confiado demais na capacidade de planear e controlar todos os acontecimentos e, agora, tudo nos escapa da esquadria, há sempre uma distância incalculável entre o que desejámos e aquilo com que a realidade e a evolução das coisas nos confronta. Para o bem e para o mal, pois também receio muito os iluminados que teimam em moldar a realidade aos seus projectos, nem que seja com violência e guerra.Todas as gerações se confrontaram com novos problemas e novas esperanças, esperemos que a Europa e os seus povos saibam superar este drama com sabedoria e capacidade de entendimento. DIz o Tony Judt, no notável livro sobre a História da Europa no pós guerra, que os países da europa sempre viveram na multiculturalidade, na mobilidade geográfica e que essa foi uma das prinicpais fontes de progresso. O grande erro da 2ª guerra mundial foi a "limpeza" étnica dos países, a redução de cada uma ao seu povo de "origem" e a consequente liquidação de milhões que não se enquadravam nos padrões, ou hordas de "apátridas". E é certo que a divisão "norte-Sul" há muito que é tema de preocupação, com o crescimento de movimentos migratórios imparáveis.
Muito obrigada pela sua interessante participação, como smepre.