1. O desempenho das
contas externas até Outubro revela uma margem de segurança ainda bastante
confortável.
2.
Com efeito, o saldo global das Balanças Corrente
e de Capital apresenta um excedente de € 2.281,8 milhões, inferior em 16% ao do
mesmo período de 2015, que atingia € 2.707,4 milhões.
3. Curiosamente, a diferença entre os saldos globais
em 2015 e em 2016 advém, exclusivamente, da Balança de Capital, posto que os excedentes
da Balança Corrente são quase exactamente iguais: € 1.031,1 milhões em 2015 e €
1.031,7 milhões em 2016.
4. O comportamento da Balança
Corrente em 2016 é resultado (i) de uma melhoria de €
941,7 milhões no excedente da Balança de Bens e Serviços, em boa parte
imputável aos Serviços, com destaque para o Turismo, e (ii) de um
agravamento, de montante quase idêntico, no défice da Balança de Rendimentos (€
941 milhões).
5.
Já no tocante à Balança de Capital, o excedente
em 2016, de € 1.250,1 milhões, é inferior em 25% ao registado em 2015 (€
1.676,3 milhões), provavelmente como consequência do menor investimento, tanto
público como privado.
6.
Que conclusões se poderão extrair deste
comportamento das contas externas?
7. Em primeiro lugar e como logo de início referi, a situação mostra-se confortável, talvez para surpresa dos que poderiam esperar bem pior de uma política que parecia apostar forte no fomento da procura
interna (como aconteceu, por mais que uma vez, nas últimas décadas).
8. Em segundo lugar, que a dinâmica de recuperação das
contas externas verificada nos últimos 4 anos adquiriu uma inércia considerável,
que uma política de moderada expansão da procura interna, como a de 2016,
não é susceptível de por em causa, nomeadamente enquanto persistirem o boom”
turístico e os preços ainda baixos do petróleo.
9.
Finalmente, e este será o aspecto menos
favorável, que a fraca dinâmica do investimento, que se reflecte directamente na
Balança de Capital, terá ajudado também a Balança de Bens.
10. Em resumo e conclusão, não existem
sinais de alarme por ora, vejamos o que 2017 nos reserva.
7 comentários:
Os meus cumprimentos, caro Dr. Tavares Moreira, acompanhados dos votos de um excelente 2017!
Pelo que li e compreendi deste seu e do quartarepública primeiro post, a coisa... a geringonça, está-se a safar bem. Que assim continue e que a vaca consiga voar mais alto.
Um abraço amigo.
Caro Bartolomeu,
Se quiser interpretar o teor deste Post por esse ângulo, está no seu direto, certamente, embora seja aconselhável alguma prudência em tal apreciação: o acelerador da despesa tem de ser gerido com cautela e a inércia que vem dos 4 anos anteriores pode não durar sempre...
Em relação aos seus votos para o Novo Ano, agradeço-os e retribuo-os com o maior gosto.
Boas contas externas é bom porque, como o governo não exporta nada (infelizmente, que tem lá tanta coisa boa para vender para fora) significa que Portugal está bem. Apesar dele. Afinal, o roubo de 400 milhões de euros que o país sofreu para devolver rendimento aos funcionários públicos parece ter sido compensado pelo turismo. O que é justo, já que são duas atividades tão próximas, funcionalismo público e turismo, é justo que sejam aqueles a lucrar com isso. Eu estou desejoso do crescimento de outros sectores dos serviços para poder aumentar outra vez a função pública. Conta a política de baixos salários, bem entendido...
.
Caro Pires da Cruz,
Tê-lo-á dito por graça, admito, mas olhe que Turismo e Função Pública poderão ser mesmo actividades com um grau de afinidade bastante considerável...
Quem sabe se não estará nessa afinidade a racio da correlação entre o aumento da actividade turística e a recuperação dos efectivos na Função Pública?
Votos de um muito bom 2017 para o Ilustre Comentador e sua Família!
Ao que julgo, Marcelo Caetano terá vaticinado o mesmo:
“Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suiça, o golpe de Estado foi o princípio do fim. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa.
Veremos alçados ao Poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República.”
Caro Bartolomeu,
Não o supunha um Caetanista, mas respeito essa opção, como é devido.
A profecia de Marcelo Caetano (que não chegou a ser meu Mestre de Direito Constitucional, pois no ano em que me inscrevi na Faculdade de Direito de Lisboa já ele tinha sido nomeado 1º Ministro, sendo substituído por Miguel Galvão Teles), tem certamente exageros mas também tem elementos aproveitáveis...
Devo confessar que muito apreciei as lições de Direito Constitucional e de Direito Administrativo, da autoria do Professor, que tendo sido um político sem a coragem necessária para cortar com o passado (e teve todas as condições para isso, meu Deus!) foi, na minha opinião, um pedagogo de nível excepcional.
Só não vislumbro a ligação entre essa citação de M. Caetano e o teor deste Post, mas pode ser falta de perspicácia da minha parte...
Sem contradizer a sua opinião, caro Dr. Tavares Moreira, confesso que de toda a Marcelista citação, só não entendi a parte "Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suiça..." Mas o Professor lá saberia porquê.
Confesso-lhe ainda que nunca senti ser Salazarista, Caetanista ou outro "ista" qualquer. Sempre simpatizei com aqueles que pensaram e pensam Portugal e os portugueses, não como uma sua quinta privada com os seus servidores mas, como um pais e um povo com imensas capacidades. Pessoas com sentido honesto de cidadania e com inteligência suficiente para entender, valorizar, distribuir e gerir essas capacidades, colocando-se e colocando-as ao serviço de todos, numa completa e equilibrada "Associação de Homens" que colocam o poder ao serviço e não o usam para dele se servir.
Do seu comentário confesso, não entendi porque afirma que: "...tendo sido um político sem a coragem necessária para cortar com o passado (e teve todas as condições para isso, meu Deus!)" Não percebo porque não consigo identificar todas essas condições que alude. Marcelo Caetano, tanto quanto me recordo, encetou uma política de abertura, lenta mas efectiva, herdou um regime ditatorial em que a PIDE detinha um poder muito forte, numa altura em que as manifestações estudantis contestatárias do regime adquiriram uma regularidade e um impacto na sociedade muito grandes. Marcelo Caetano, naquela citação, demonstra possuir uma visão muito concreta e precisa dos males que poderia causar um "corte radical com o passado". Ele nunca me confidenciou, mas estou convencido que na sua intenção estaria tornar o nosso pais capaz de ombrear com outros países europeus e tornar a sociedade portuguesa mais próspera, gerindo os recursos disponíveis, de forma concisa e precisa.
A ligação da citação, não se acha efectivamente na linha do post mas sim, na continuação do comentário de João Pires da Cruz e da resposta a esse comentário.
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